O Homem De R$ 1
Bilhão
Poucos
entendem como o ex-corretor de imóveis e hoje senador Gim Argello
conseguiu ampliar seu patrimônio em 10 mil vezes em pouco mais de 25
anos
Sérgio
Pardellas e Hugo Marques
“Deus queira que um dia aconteça de eu ter R$ 1 bilhão”
Gim Argello, senador (PTB-DF)
Na primeira semana deste
mês, o senador Gim Argello (PTB-DF) desembarcou na antessala da
Presidência do Senado exibindo um indisfarçável sorriso no rosto.
Diante dos olhares de expectativa de parlamentares do PMDB, entre os
quais os senadores Renan Calheiros (AL) e Wellington Salgado (MG),
Argello justificou tamanha felicidade: “Alcancei meu primeiro
bilhão de reais”, disparou, para a surpresa dos colegas. Aos 47
anos, Argello personifica o milagre de Brasília. A capital federal
não possui indústrias, grandes multinacionais nem de longe é o
coração econômico do País. Mas é uma cidade onde as pessoas usam
a proximidade com o poder como trampolim para o mundo dos grandes
negócios. Esse é o caso do senador do PTB, que, depois do escândalo
do mensalão do DEM, desponta entre os prováveis candidatos ao
governo do Distrito Federal em 2010. À ISTOÉ, em entrevista rápida,
Argello nega o que vem afirmando aos colegas senadores. Argello
iniciou a carreira empresarial há 25 anos, como corretor de imóveis.
Tinha um patrimônio que não chegava aos R$ 100 mil, ou seja, 10 mil
vezes inferior ao que ele anda alardeando pelos corredores do Senado.
Graças à bem-sucedida atividade de corretagem, ele conseguiu
multiplicar seus bens por três em menos de uma década. Mas foi com
a política que viu seu patrimônio crescer de forma meteórica.
Desde que foi eleito deputado distrital pela primeira vez em 1998,
Argello não parou de acumular bens. Em 2006, o parlamentar declarou
à Justiça Eleitoral patrimônio que somava R$ 805.625,09. Mas só a
sua casa de 872 metros quadrados, na Península dos Ministros, área
mais nobre de Brasília, localizada próxima à residência do
presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), está avaliada em R$ 5
milhões. Segundo apurou ISTOÉ, o senador do PTB também é
proprietário de rádios, jornais e uma franquia da Empresa dos
Correios e Telégrafos Setor Comercial Sul (SCS). Dona de uma extensa
carteira de clientes, a agência dos Correios, de acordo com
especialistas do setor, ostenta um faturamento anual de cerca de R$
100 milhões, o mais alto entre as 27 franquias da ECT no Distrito
Federal.
A maioria das empresas
que Argello controla está registrada no nome de parentes e
assessores. Desde 2007, por exemplo, há registros na Junta Comercial
de sociedade de um de seus filhos, Jorge Affonso Argello Júnior, nas
empresas Grid Pneus e Garantia Pneus e Serviços Automotivos. O
capital integralizado da Grid é de R$ 1,6 milhão, e o da Garantia,
de R$ 2,8 milhões. A Gris, segundo Argello, já teria sido vendida
por Jorge Affonso. Em 2007, ele desembarcou no Senado timidamente,
como suplente de Joaquim Roriz , que renunciou ao mandato. Em pouco
tempo conquistou a confiança de Calheiros e Sarney. Num atestado de
força política, o petebista emplacou o assessor técnico de seu
gabinete parlamentar, Ivo Borges, numa das cinco diretorias da
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Como líder da
bancada do PTB, com sete votos decisivos para o governo no Senado,
Argello também se aproximou da ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff, a quem costuma chamar de “chefa”. A amizade com Dilma
foi conquistada durante caminhadas matinais ao lado da ministra, que
mora no mesmo bairro do senador. Argello orientou seu jardineiro a
avisá-lo sempre que Dilma se preparava para caminhar. Quando ela
despontava no horizonte, Argello começava sua sessão de
alongamentos, que só terminava quando Dilma cruzava com ele.
O rápido
enriquecimento de Argello também lhe rendeu pendências na Justiça.
Ele responde a processo
no STF por lavagem de dinheiro, crimes contra o patrimônio,
apropriação indébita, ocultação de bens, peculato e corrupção
passiva. O processo tramita em segredo de Justiça, e não se conhece
em detalhes o teor da acusação sobre operações financeiras que
Argello não conseguiu identificar. O senador do PTB também foi
acusado de envolvimento num esquema de mudança de destinação de
lotes na Câmara Distrital. Pelo esquema, áreas rurais
desvalorizadas são transformadas em áreas residenciais e áreas
para restaurantes viram disputados lotes para postos de gasolina.
Esse esquema também teria funcionado nos condomínios de Brasília,
pendentes de legalização. A empresária Rosa Lia Fenelon revelou à
ISTOÉ que Argello exigiu 100 terrenos em sua propriedade, o
Condomínio Pousada das Andorinhas, para legalizar toda a área na
Câmara Legislativa, à época em que era deputado distrital. “Tive
de passar 100 lotes para pessoas indicadas por Argello. Fui
extorquida”, acusa Rosa. Quando procurada por Argello, em 2001,
Rosa estava vendendo os terrenos a R$ 30 mil cada um. Hoje, é
impossível comprar um lote por menos de R$ 300 mil na região. Rosa
afirma que todos os terrenos foram entregues a assessores e parentes
do senador. “A gente não consegue legalizar nada em Brasília se
não for através da corrupção”, lamenta, explicando que Argello
foi pessoalmente à sua casa para cobrar o dízimo. O senador
desmente as acusações e diz que nunca fez negócios com Rosa e
nunca autorizou ninguém a falar em nome dele com a empresária.
Sobre seu suposto patrimônio bilionário, desconversa. “Deus
queira que isso um dia aconteça”.
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