quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Chomsky desmascara a “Guerra ao Terror” Como Washington continua a alimentar - mesmo após os atentados de Paris - grupos extremistas que simula combater. Qual o papel da Rússia. Por que a candidatura presidencial de Bernie Sanders importa. Entrevista a C.J. Polychroniou. 31 de Dezembro, 2015 - 10:52h

Noam Chomsky, março de 2015 - Foto do Ministério da Cultura da Argentina/flickr
Entrevista de Noam Chomsky a C.J. Polychroniou*, publicada, em 3 de dezembro de 2015, no Truthout . Tradução deCamila Teicher para Outras Palavras.
A “guerra ao terror” transformou-se agora numa implacável campanha bélica global. Enquanto isso, as verdadeiras causas do surgimento e da expansão de organizações assassinas como o Estado Islâmico (EI) continuam a ser convenientemente ignoradas.
Após o massacre de Paris, em novembro, importantes países ocidentais, como França e Alemanha, estão a unir-se aos Estados Unidos na luta contra o terrorismo fundamentalista islâmico. A Rússia também se prontificou a se juntar ao clube, por ter as suas próprias preocupações quanto à propagação do fundamentalismo islâmico. Na verdade, os russos vêm travando a sua própria “guerra ao terror” desde o colapso do Estado soviético. Paralelamente, alguns dos fortes aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, o Qatar e a Turquia, estão a apoiar direta ou indiretamente o EI, porém esta realidade também é convenientemente ignorada pelas forças ocidentais que combatem o terrorismo internacional. Só a Rússia ousou recentemente classificar a Turquia de “cúmplice dos terroristas” por ter abatido um caça russo que teria violado o seu espaço aéreo. (Vale lembrar que os caças turcos violam o espaço aéreo grego frequentemente há anos: 2.244 vezes somente em 2014.)
A “guerra ao terror” faz sentido? É uma política eficaz? E qual é a diferença entre a sua fase atual e as duas anteriores, ocorridas durante os mandatos de Ronald Reagan e George W. Bush? Além disso, quem realmente beneficia com a “guerra ao terror”? E qual é a relação entre o complexo militar-industrial americano e a produção da guerra? Noam Chomsky, crítico mundialmente renomado à política externa dos Estados Unidos, expôs seus pontos de vista sobre essas questões numa entrevista exclusiva com C.J. Polychroniou.
Obrigado por conceder esta entrevista. Gostaria de começar por escutar a sua opinião sobre os últimos acontecimentos na guerra contra o terrorismo, uma política que vem desde os anos do governo Reagan e que foi transformada subsequentemente numa doutrina de “cruzada” [islamofóbica] por George W. Bush, com um custo inestimável de vidas inocentes e efeitos profundos no direito internacional e na paz mundial. A guerra contra o terrorismo parece estar a iniciar uma fase nova e talvez mais perigosa, à medida que outros países entram na briga com agendas e interesses políticos distintos daqueles dos EUA e de alguns dos seus aliados. Em primeiro lugar, você concorda com essa avaliação da evolução da guerra contra o terrorismo e, se sim, quais são as prováveis consequências económicas, sociais e políticas de uma guerra global e permanente ao terror, especialmente para as sociedades ocidentais?
As duas fases da “guerra ao terror” são bem diferentes, exceto num aspeto crucial. A guerra de Reagan degenerou rapidamente em conflitos terroristas e homicidas, e essa é precisamente a razão pela qual foi “desaparecida”
Noam Chomsky: As duas fases da “guerra ao terror” são bem diferentes, exceto num aspeto crucial. A guerra de Reagan degenerou rapidamente em conflitos terroristas e homicidas, e essa é precisamente a razão pela qual foi “desaparecida”. As suas guerras terroristas tiveram consequências terríveis na América Central, no sul da África e no Médio Oriente. A América Central, o alvo mais direto, até hoje não recuperou, e essa é uma das principais razões – raramente mencionada – para a atual crise de refugiados. O mesmo vale para a segunda fase, redeclarada por George W. Bush 20 anos depois, em 2001. Os ataques diretos devastaram grandes regiões e o terror tomou novas formas, especialmente com a campanha global de execuções (com drones) de Obama, que rompe novos recordes nos anais do terrorismo e - assim como outros exercícios similares - provavelmente gera mais terroristas devotos do que mata suspeitos.
A opinião pública mundial vê os Estados Unidos como a maior ameaça à paz por uma ampla margem.
O alvo da guerra de Bush era a Al-Qaeda. Uma série de intervenções militares - no Afeganistão, Iraque, Líbia, entre outros – conseguiu difundir o terror jihadista, antes restrito a uma pequena área tribal no Afeganistão, a praticamente todo o mundo, do oeste da África ao Médio Oriente e seguindo até ao sudeste da Ásia. Foi um dos feitos políticos mais notáveis da História… Paralelamente, a Al-Qaeda foi substituída por elementos muito mais cruéis e destrutivos. Atualmente, o Estado Islâmico é o recordista em brutalidades monstruosas, mas os outros candidatos ao título não ficam muito atrás. Essa dinâmica, que vem já de vários anos, foi estudada num importante trabalho do analista militar Andrew Cockburn, no seu livro Kill Chain [“Cadeia de Mortes”]. Ele documenta como, ao matar um líder sem resolver a raiz e as causas do fenómeno, essa figura costuma ser substituída muito rapidamente por alguém mais jovem, mais competente e mais cruel.
Uma das consequências dessas façanhas é que a opinião pública mundial vê os EUA como a maior ameaça à paz por uma ampla margem. Muito atrás, em segundo lugar, está o Paquistão, provavelmente engrandecido pela opinião dos indianos. Outros acontecimentos desse tipo já registados podem até mesmo criar uma guerra mais generalizada com um mundo islâmico inflamado, enquanto as sociedades ocidentais se sujeitam à repressão interna e à redução dos seus direitos civis e se colocam sob o fardo de enormes gastos, realizando assim os maiores sonhos de Osama Bin Laden e agora do EI.
Nas discussões sobre as políticas norte-americanas relacionadas com a “guerra ao terror”, a diferença entre as operações oficiais e as operações clandestinas quase desapareceu. Enquanto isso, a identificação de grupos terroristas e a seleção de atores ou Estados que apoiam o terrorismo não só parece ser totalmente arbitrária; em alguns casos, os acusados identificados questionam se a “guerra ao terror” é realmente uma guerra contra o terrorismo ou se, na verdade, é uma cortina de fumo para justificar políticas de conquista global. Por exemplo, embora a Al-Qaeda e o EI sejam indiscutivelmente organizações terroristas e assassinas, o facto de que alguns aliados dos EUA, como a Arábia Saudita e o Qatar, e até mesmo países-membros da NATO, como a Turquia, tenham apoiado ativamente o grupo é ignorado ou muito minimizado tanto pelos decisores políticos quanto pelos grande média dos EUA. O que você opina sobre isso?
Tudo isso também se aplica às versões de Reagan e Bush da “guerra ao terror”. Para Reagan foi um pretexto para intervir na América Central, no que o bispo salvadorenho Rivera y Damas, sucessor do arcebispo assassinado Oscar Romero, descreveu como “uma guerra de extermínio e genocídio contra uma população civil indefesa”. Foi ainda pior na Guatemala e muito grave nas Honduras. A Nicarágua era o único país que contava com um exército para se defender dos terroristas de Reagan; nos outros países, as próprias forças de segurança pública eram os terroristas.
No sul da África, a “guerra ao terror” foi o pretexto para apoiar crimes do regime de Pretória no seu país e no resto da região, com um saldo de vítimas terrível. Afinal, tínhamos que defender a civilização contra o que chamávamos de “um dos principais grupos terroristas” do mundo, o Congresso Nacional Africano de Nelson Mandela… O próprio Mandela permaneceu até 2008 na lista de terroristas criada pelos EUA. No Médio Oriente, o conceito de “guerra ao terror” levou ao apoio à invasão assassina do Líbano por Israel e muito mais. Com Bush, foi o pretexto para invadir o Iraque. E assim por diante.
O que está a acontecer na “história de horror síria” é indescritível. As principais forças de oposição ao EI em terra parecem ser os curdos, assim como no Iraque, onde figuram na tal lista americana de terroristas. Em ambos os países, eles são o principal alvo dos ataques da aliada norte-americana da NATO, a Turquia, que também apoia a célula da Al-Qaeda na Síria
O que está a acontecer na “história de horror síria” é indescritível. As principais forças de oposição ao EI em terra parecem ser os curdos, assim como no Iraque, onde figuram na tal lista americana de terroristas. Em ambos os países, eles são o principal alvo dos ataques da aliada norte-americana da NATO, a Turquia, que também apoia a célula da Al-Qaeda na Síria, a Frente Al-Nusra. Isso tudo parece ser quase igual para o EI, embora eles estejam empreendendo uma disputa de território. O apoio dos turcos à Al-Nusra é tão extremo que, quando o Pentágono enviou algumas dezenas de soldados que havia treinado, a Turquia teria alertado a Al-Nusra, que os aniquilou instantaneamente. A Al-Nusra e o seu íntimo aliado, o Ahrar al-Sham, também recebem apoio da Arábia Saudita e do Qatar, aliados dos EUA, e, ao que parece, é possível que estejam a receber armamento de última geração da CIA. Há registos de que eles usaram armas antitanque TOW, fornecidas pela agência norte-americana de espionagem, para causar importantes derrotas ao exército de Assad, possivelmente incitando os russos a intervirem. Além disso, a Turquia parece continuar a permitir que os jihdistas transitem pelas suas fronteiras com a Síria.
A Arábia Saudita, particularmente, é uma das maiores apoiantes dos movimentos jihadistas extremistas há anos, não só financiando-os, mas também difundindo as suas doutrinas islâmicas radicais com escolas corânicas, mesquitas e clérigos wahhabistas. Com muita imparcialidade, Patrick Cockburn descreve a “wahhabização” do islamismo sunita como um dos aspetos mais perigosos desta era. A Arábia Saudita e os Emiratos têm forças militares imensas e sofisticadas, porém quase não se envolvem na guerra contra o EI. Atuam no Iémen, onde estão a gerar uma enorme catástrofe humanitária e, muito provavelmente, como dito antes, estão a gerar futuros terroristas para serem nossos alvos na “guerra ao terror”. Enquanto isso, essa região e a sua população estão sendo dizimadas.
Para a Síria, a única pequena esperança parecem ser as negociações entre os vários elementos envolvidos, exceto o EI. Isso inclui pessoas muito terríveis, como o presidente do país, Bashar al-Assad, que não vão cometer suicídio político espontaneamente e, portanto, deverão estar envolvidas nas negociações, caso a espiral rumo à autodestruição nacional seja contida. Em Viena, passos estão a ser dados – embora com hesitação – nessa direção. Há mais coisas que podem ser feitas em terra, mas, para isso, é fundamental a mudança para o caminho da diplomacia.
O papel da Turquia na chamada guerra global contra o terrorismo deve ser visto como um dos gestos mais hipócritas nos anais modernos da diplomacia. Vladimir Putin não mediu palavras depois que o caça russo foi abatido, taxando a Turquia de “cúmplice dos terroristas”. O petróleo é a razão pela qual os EUA e os seus aliados ocidentais fazem vista grossa ao apoio de certas nações do golfo pérsico a organizações terroristas como o EI, mas qual é a razão para não questionar o apoio da Turquia ao terrorismo fundamentalista islâmico?
Foto de Alisdare Hickson/flickrFoto de Alisdare Hickson/flickr
A Turquia sempre foi um importante aliado da NATO, de enorme relevância geoestratégica. Durante os anos 1990, quando realizou algumas das maiores atrocidades de que se tem conhecimento na sua guerra contra a população curda, tornou-se o principal recetor de armas norte-americanas (além de Israel e Egito, uma categoria à parte). Essa relação passou por alguns momentos de conflito, especialmente em 2003, quando o governo acatou a posição de 95% da população e se recusou a se juntar aos EUA no ataque ao Iraque. A Turquia foi energicamente condenada por essa incapacidade de entender o significado de “democracia”. Paul Wolfowitz, aclamado pelos média como “o idealista-chefe” do governo Bush, repreendeu as forças militares turcas por permitirem que o governo adotasse essa posição indecorosa e exigiu que se desculpassem. No entanto, em geral, essa relação se manteve bem próxima. Recentemente, os dois países chegaram a um acordo sobre a guerra conta o EI: a Turquia concedeu aos EUA acesso às suas bases militares próximas à Síria e, em troca, prometeu atacar o grupo – mas, em vez disso, atacou seus inimigos curdos.
Embora este talvez não seja um ponto de vista aceite por muitos, a Rússia, ao contrário dos EUA, parece conter-se no uso da força. Supondo que você concorda com essa afirmação, na sua opinião, qual seria a razão disso?
Eles são a parte mais fraca. Não têm 800 bases militares em todo o mundo, não poderiam intervir em todos os lugares como os EUA vêm fazendo ao longo dos anos nem realizar algo como a campanha global de execuções de Obama. Também foi assim durante toda a Guerra Fria. Eles podiam usar as forças militares perto das suas fronteiras, mas não poderiam ter realizado algo como as guerras na Indochina, por exemplo.
A França parece ter se tornado o alvo preferido dos terroristas fundamentalistas islâmicos. Como isso se explica?
Na verdade, são muitos mais os africanos mortos pelo terrorismo islâmico. O Boko Haram está acima do EI, no ranking das organizações terroristas globais. Na Europa, a França tem sido o principal alvo em grande medida por razões que remetem à guerra da Argélia.
O terrorismo fundamentalista islâmico como o promovido pelo EI foi condenado por organizações como Hamas e Hezbollah. O que o EI deseja realmente, e o que o diferencia das outras chamadas organizações terroristas?
Devemos ser cuidadosos com o que chamamos de “organizações terroristas”. Os partidários do antinazismo usaram o terror, assim como o exército de George Washington, tanto que uma grande parte da população fugiu por medo do seu terror - sem falar na comunidade indígena, para a qual ele era o “destruidor de cidades”. É difícil encontrar um movimento de libertação nacional que não tenha usado o terror. O Hezbollah e o Hamas foram formados em resposta à ocupação e aos ataques de Israel. No entanto, independentemente do critério que usemos, o EI é bem diferente. Eles estão a tentar cunhar um território para controlar e fundar um califado islâmico. Isso é muito diferente do que fizeram os demais.
Após o massacre de Paris em novembro deste ano, Obama afirmou, numa conferência de imprensa com François Hollande, o presidente da França, que “o EI deve ser destruído”. Você acha que isso é possível? Se sim, como? Se não, por que não?
Um dos objetivos do EI é levar os “cruzados” a uma guerra com todos os muçulmanos. Nós podemos contribuir com essa catástrofe ou podemos tentar atacar as causas do problema e ajudar a criar condições nas quais a sua monstruosidade seja vencida pelas forças da própria região. A intervenção estrangeira é uma praga há muito tempo e provavelmente continuará a ser
É claro que as potências ocidentais têm a capacidade de matar todas as pessoas que estão nas áreas controladas por eles, mas nem isso destruiria o EI ou outro movimento ainda mais cruel que possivelmente se desenvolveria no seu lugar, devido à dinâmica que já mencionei. Um dos objetivos do EI é levar os “cruzados” a uma guerra com todos os muçulmanos. Nós podemos contribuir com essa catástrofe ou podemos tentar atacar as causas do problema e ajudar a criar condições nas quais a sua monstruosidade seja vencida pelas forças da própria região.
A intervenção estrangeira é uma praga há muito tempo e provavelmente continuará a ser. Existem propostas sensatas de como proceder nesse sentido, como, por exemplo, a de William Polk, um excelente académico do Médio Oriente com uma vasta experiência não só na região como também nos mais altos níveis de planeamento governamental dos EUA. O seu projeto tem apoio significativo das mais cuidadosas investigações sobre o poder de atração do EI, principalmente a de Scott Atran. Infelizmente, as probabilidades de que essas recomendações sejam ouvidas são mínimas.
A economia política bélica dos EUA parece estar estruturada de tal forma que as guerras seriam quase inevitáveis, algo de que o presidente Dwight Eisenhower aparentemente estava muito consciente quando alertou, no seu discurso de despedida, sobre os perigos de um complexo militar-industrial. A seu ver, o que será necessário para que os EUA se afastem do jingoísmo militarista?
Certamente, alguns setores da economia beneficiam com o “jingoísmo militarista”, mas não acho que essa seja a causa principal. Há considerações geoestratégicas e relativas à economia internacional muito importantes. Os benefícios económicos - somente um dos fatores - foram discutidos na imprensa empresarial de maneiras interessantes durante o início do período pós-Segunda Guerra Mundial. Eles entenderam que os gastos governamentais maciços tinham salvado o país da Grande Depressão e muitos temiam que, se esses gastos fossem restringidos, o país afundaria novamente na crise. Uma discussão informativa na revista Business Week (12 de fevereiro de 1949) reconheceu que os gastos com o social poderiam ter o mesmo efeito “propulsor” observado com os gastos militares, mas afirmava que, para os empresários, “há uma enorme diferença social e económica entre a propulsão do bem-estar e a propulsão das forças armadas”. Isso “não altera de facto a estrutura da economia”. Para o empresário, é só mais um negócio. Mas os gastos com bem-estar e obras públicas “alteram a economia: geram novos canais próprios; criam novas instituições; redistribuem a renda”. E podemos dizer ainda mais: os gastos militares quase não envolvem a população, mas os gastos com o social sim, além de terem um efeito democratizador. Por razões como essas, os gastos militares são muito mais priorizados.
Aprofundando um pouco mais nessa questão da relação entre a cultura política dos EUA e o militarismo, qual é a probabilidade de que o aparente declínio da supremacia norte-americana na arena global transforme os seus futuros presidentes em belicistas?
Os EUA atingiram o auge do seu poder após a Segunda Guerra Mundial, mas o declínio veio rapidamente; primeiro com a “perda da China” e, mais tarde, com o ressurgimento de outras potências industriais e o processo agonizante de descolonização e, nos últimos anos, com outras formas de diversificação do poder. As reações podem tomar muitos contornos. Um é o triunfalismo e a agressividade ao estilo Bush. Outro é a reticência ao uso de forças terrestres ao estilo Obama. E existem muitas outras possibilidades. O sentimento popular, que é algo que podemos ter a esperança de influenciar, é muito pouco considerado.
A esquerda deveria apoiar Bernie Sanders nas primárias do Partido Democrata?
Sim. A sua campanha está a ter um efeito benéfico. Levantou questões importantes que normalmente são omitidas e deslocou ligeiramente os democratas para uma direção mais progressista. As chances de que ele vença no nosso sistema de eleições compradas não são grandes e, mesmo que chegasse a ser eleito, seria extremamente difícil para ele fazer qualquer mudança significativa nas políticas. Os republicanos não vão desaparecer e, graças à divisão arbitrária dos distritos eleitorais e a outras táticas, eles provavelmente controlarão o Congresso com uma minoria de votos por alguns anos e é possível que tenham uma forte presença no Senado. É certo que vão bloquear qualquer pequeno passo numa direção mais progressista, ou mesmo mais racional. É importante reconhecer que esse já não é um partido político normal.
A campanha de Bernie Sanders está a ter um efeito benéfico. Levantou questões importantes que normalmente são omitidas e deslocou ligeiramente os democratas para uma direção mais progressista
Como bem observaram os respeitados analistas políticos do American Enterprise Institute, o antigo Partido Republicano agora é uma “insurgência radical” que abandonou a política parlamentar por motivos interessantes que não podemos explorar aqui. Os democratas também se deslocaram para a direita e a sua essência hoje não se distingue da dos republicanos moderados do passado – apesar de que algumas das políticas de Einsenhower o colocariam mais ou menos onde está Sanders no espectro político. Sanders, portanto, provavelmente não teria muito apoio do congresso e teria pouquíssimo apoio no âmbito estatal.
Nem preciso dizer que as hordas de lobistas e doadores abastados dificilmente seriam seus aliados. Até os ocasionais passos de Obama numa direção mais progressista foram bloqueados em sua maioria, embora possa haver outros fatores envolvidos, talvez racismo; não é fácil explicar em outros termos a ferocidade do ódio que ele evocou. Mas, em geral, no caso improvável de Sanders ser eleito, as suas mãos estariam atadas - ao menos, ao menos… (aquilo que sempre interessa no fim das contas) ao menos que os movimentos populares se desenvolvessem, criando uma onda que ele poderia surfar e que poderia (e deveria) impeli-lo para além de onde ele é capaz de ir sozinho.
Isso nos leva, acho eu, à parte mais importante da candidatura de Sanders: a mobilização de um número enorme de pessoas. Se essas forças puderem manter-se para além da eleição, em vez de se dissiparem depois que o show terminar, poderiam tornar-se o tipo de força popular de que o país tanto precisa para lidar de forma construtiva com os enormes desafios que vêm pela frente.
Esses comentários dizem respeito às políticas internas, que são as áreas em que ele se tem concentrado. As suas conceções e propostas de política externa parecem-me muito similares às ideias convencionais dos democratas liberais. Nada particularmente novo é proposto, a meu ver, e nisso incluo alguns pressupostos que, na minha opinião, deveriam ser seriamente questionados.
Uma última pergunta: o que você diria àqueles que mantêm a visão de que acabar com a “guerra ao terror” é ingénuo e equivocado?
Fácil: por quê? E uma pergunta ainda mais importante: por que vocês acham que os EUA deveriam continuar a fazer enormes contribuições para o terrorismo global a pretexto de uma “guerra ao terror”?
* C.J. Polychroniou é economista político/cientista político; lecionou e trabalhou em universidades e centros de investigação da Europa e dos Estados Unidos. Os seus principais campos de interesse são a integração económica europeia, a globalização, a economia política dos Estados Unidos e a desconstrução do projeto político-económico do neoliberalismo. Colabora regularmente com Truthout, de cujo projeto Public Intellectual é membro. Tem vários livros publicados e artigos divulgados em diversos periódicos, revistas, jornais e websites populares de notícias. Muitas das suas publicações foram traduzidas para idiomas, como croata, francês, grego, italiano, português, espanhol e turco.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Não precisamos de 30 minutos de fogos de artifício se o preço para isto é tão alto para tantos animais


 
Dezembro e Janeiro são os meses em que aumenta o número de cães abandonados, somado a esse número há os cães que fogem devido aos fogos de artifício. São meses onde o descaso e a negligência com os animais se intensificam. A beleza dos fogos perde sua grandeza e fica extinta diante da imensa dor que causa a tantos animais, diante dos cães que fogem desesperados. Perde sua grandeza pelos traumas emocionais, pelas quedas, convulsões, atropelamentos, pelo aprisionamento indesejado, pelas alterações do ciclo reprodutor, pelas mortes causadas por enforcamentos nas próprias coleiras, pelas mutilações, brigas, ataques, pelo pavor, pelos afogamentos, pelas paradas cardiorrespiratórias. São tantos os danos
que os animais podem sofrer.
 
Foto: imagens Google

Embora seja uma época tão tocante para os seres humanos, há também uma realidade extremamente tocante e marcante para outros seres, os animais, e aqui neste contexto vou me restringir a cães e gatos, porque é exatamente neste período em que há uma forte chamada a uma reflexão interior, é que os abandonos se intensificam. Contraditório, mas real.

É uma época profundamente marcante na mão contrária da felicidade, respeito e dignidade para muitos animais, para aqueles que são abandonados as centenas nas ruas, simplesmente porque iriam atrapalhar a "tão iluminada” confraternização das festas, ou porque alterariam um período de viagens, ou apenas por serem considerados seres descartáveis.

É muito triste vê-los nas ruas restritos a própria sorte e podendo sofrer diversos tipos de abusos. Uma época tão marcante para os cães, pela fome, medo, frio, dor, saudades, tristeza que sentem ao serem abandonados. Tão marcante pelo pouco espaço e frieza dos canis de um abrigo.  Tão marcante pelo pavor que sentem quando são levados para eutanásia. Tão marcante pelos gritos de desespero ou tristeza absoluta por tantos anos confinados em um pequeno canil.
 
Tão marcante pelos gritos de desespero ou tristeza absoluta por tantos anos confinados em um pequeno canil. Foto: imagens Google.

Tão marcante pelas correntes que restringem seus movimentos. É tão estranho e difícil de explicar, como pode em um mesmo período, haver celebrações, confraternizações, sonhos, esperanças, alegrias, e também, paralelo a isso, abandonos, dor, tristeza e tanta insensibilidade com aquele animal tão puro, leal, amigo, pleno de amor e totalmente crédulo e indefeso. Como é incrível o ser humano e habilidoso para conseguir em um mesmo momento celebrar a vida, enquanto uma outra vida é abandonada de forma tão indiferente.

Também há que abordar a questão dos fogos de artifício, que é um drama e risco para a vida de tantos animais, não somente cães,mas também para outros que são prejudicados por isso.

A beleza dos fogos perde sua grandeza e fica extinta diante da imensa dor que causa a tantos animais, diante dos cães que fogem desesperados. Perde sua grandeza pelos traumas emocionais, pelas quedas, convulsões, atropelamentos, pelo aprisionamento indesejado, pelas alterações do ciclo reprodutor, pelas mortes causadas por enforcamentos nas próprias coleiras, pelas mutilações, brigas, ataques, pelo pavor, pelos afogamentos, pelas paradas cardiorrespiratórias. São tantos os danos que os animais podem sofrer.

Como não pensar nisso. Não precisamos de 30 minutos de fogos de artifício se o preço para isto é tão alto para tantos animais. É preciso reavaliar costumes, valorizar vidas, salvar vidas, cuidar, acolher, e tentar reverter esta triste realidade em que estão inseridos os animais.

Para essa virada do ano ficam os votos. Mais consciência. Menos abandonos e mais Adoções responsáveis.
Menos indiferença, Mais compaixão, Respeito, dignidade e Liberdade para todos os animais.

Por: Andrea Grabois

Governo não terá superávit na economia em 2016, segundo economistas O primeiro sinal nesse sentido foi o déficit recorde em novembro e a perspectiva de que ele persistirá em dezembro

 postado em 30/12/2015 08:56
Na avaliação de economistas, dois dados divulgados nessa terça (29/12), pelo governo indicam que o próximo ano será de desequilíbrio nas contas públicas, o que tende a comprometer, mais uma vez, o cumprimento da meta de superávit primário (a economia para o pagamento de juros da dívida).

O governo se comprometeu a poupar em 2016 o equivalente a 0,5% do Produto interno Bruto (PIB). "Vai ficar muito difícil para novo ministro cumprir a meta de superávit fiscal de 2016. Acho que ano vem vamos voltar a ter déficit", diz o economista José Luis Oreiro.

O primeiro sinal nesse sentido foi o déficit recorde em novembro e a perspectiva de que ele persistirá em dezembro. Oreiro lembra que o resultado de dezembro deveria até ser melhor. "Sempre temos no fim do ano as receitas não recorrentes: vem aí, por exemplo, a distribuição de lucros do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", diz.

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No entanto, o cenário vai mudar caso o governo leve adiante a proposta de pagar as chamadas "pedaladas fiscais" (artifícios contábeis que protelam o pagamento de gastos e dão a impressão de que o resultado das contas públicas é melhor do que o real).

"Com o pagamento das pedaladas, o resultado de dezembro vai ser pior, muito pior. Serão R$ 50 bilhões só de pedaladas e, assim, teremos um déficit primário da ordem de R$ 60 bilhões." Oreiro considera esse sacrifício positivo, pois liquida os passivos. No entanto, a medida não trará alívio para o próximo ano.

"Em 2016 vai ser pior tanto do lado da receita quando da despesa", diz o economista. Ele lembra que a economia permanecerá em recessão e a receita vai cair ainda mais. "Na melhor das hipóteses, a queda da receita vai acompanhar a queda do PIB", calcula.

O segundo dado negativo foi a presidente Dilma Rousseff ter sacramentado o reajuste do salário mínimo em 11,6% a partir de primeiro de janeiro. "O reajuste do mínimo vai elevar despesas trabalhistas e assistenciais, principalmente as da previdência", lembra Fábio Klein, analista de finanças públicas da Tendências Consultoria Integrada. As despesas da previdência respondem por quase metade dos gastos obrigatórios (que são engessados e nos quais o governo não pode mexer).

Na avaliação de Felipe Salto, economista e especialista em contas públicas, a regra deveria ser revista. "É preciso rediscutir as indexações", diz. "Além do mais, a dívida pública crescente combinada com a inflação descontrolada anulam os aparentes efeitos positivos do aumento. Basta ver o dado da massa salarial: queda de mais de 12% (entre novembro deste ano e o de 2014)."

Para os economistas, o governo poderia ter atenuado o impacto, neste momento de aperto fiscal e recessão, revendo o reajuste ou alterando a data em que ele entra em vigor, de janeiro para maio, como era antes.

Por que os economistas erraram em prever o tombo da economia brasileira em 2015? Visto lá de janeiro, o ano parecia passar longe de um cenário tão recessivo como o atual

O real desvalorizou frente ao dólar cerca de 50% durante 2015.  EFE
A economia brasileira deve fechar 2015 com um crescimento de 0,55% e uma inflação de 6,6%, bem próxima ao teto da meta. Já o dólar terminará o ano sem ultrapassar a barreira dos três reais. Não, você não leu errado. Essas eram as estimativas de dezenas de instituições financeiras levantadas pelo Banco Central e divulgadas no primeiro boletim do tipo, o semanal Focus, de 2015, com as previsões para o ano. Pena que faltou combinar a expectativa com a realidade. Visto lá de janeiro, o ano de 2015 parecia passar longe de um cenário tão recessivo como o de hoje, porém a poucos dias do fim do ano já é mais fácil acertar a pontaria. Tanto o Banco Central como os analistas de mercado coincidem que o tombo da economia brasileira será grande: um recuo do PIB de, no mínimo, 3,6% e a uma inflação encerrando 2015 acima dos 10%.


A bola de cristal dos economistas do mercado financeiro, no entanto, costuma mesmo falhar. Nos últimos cinco anos, as previsões colhidas com um ano de antecedência se revelaram bastante mais otimistas do que o resultado real. Com exceção do ano 2010, todas as estimativas do crescimento do país foram superestimadas. Em 2012, por exemplo, os economistas falavam em um avanço de 3,3% da atividade econômica, mas ele acabou sendo bem menor: um pífio crescimento de 0,9%, que revelou uma diferença de 2,4 pontos percentuais entre a expectativa e a realidade. O mesmo aconteceu nas projeções do câmbio. Acertar a pontaria do valor do dólar foi difícil. Em 2013, por exemplo, a estimativa era de que a moeda norte-americana fechasse cotada a 2,08 reais, mas ela foi a 2,34.
Dessa vez, a bola de cristal parece ter se esfumaçado ainda mais. As previsões para 2015 se revelaram particularmente mais erradas na opinião do economista Luis Eduardo Assis, ex-diretor de política monetária do Banco Central. “Acho que houve uma subestimação dos efeitos da Operação Lava Jato, uma dificuldade de antever os desdobramentos da crise política e uma espécie de superestimava da capacidade do ministro Joaquim Levy de fazer um ajuste fiscal. Tudo isso gerou um otimismo que acabou não prevalecendo. As incertezas fizeram o dólar subir muito mais e o câmbio pressionou a inflação”, explica.
Por que é tão difícil ter um bom palpite sobre o futuro econômico do país? A resposta é simples para Assis. “Não há uma metodologia que assegure esses valores e o que os economistas fazem sempre é arriscar e muitos tendem a seguir os palpites da maioria”. Dos indicadores, a inflação seja talvez a mais fácil de prever para o próximo ano, sugere Assis. “Neste ano, tivemos um choque de câmbio e de energia elétrica na faixa de 50% o que pressionou o IPCA. Dificilmente, vamos ter uma nova desvalorização cambial, com um dólar a 6 reais por exemplo. Nem um novo aumento na conta de luz vai ser anunciado. Por isso, acredito que as previsões estão certas quanto à queda da inflação em 2016, mas falar em um valor exato é impossível”, explica.
O economista chefe do banco Santander, Mauricio Molan, acredita que os erros das previsões são comuns devido aos fatores surpresas ao longo do ano. “Em 2015 o erro veio particularmente da diferença entre a teoria e a prática”, diz. No fim do ano passado, a meta de superávit primário (economia para pagamento da dívida pública) era de 66,3 bilhões de reais e acabou sendo cortada pela metade, agora em dezembro, quando o Planalto fechou uma proposta 30,5 bilhões de reais. No papel, segundo o economista, Joaquim Levy entrou no Ministério da Fazenda para fazer um ajuste agressivo, colocar a dívida do país em uma trajetória estável e preparar o terreno para 2016 de retomada de crescimento. “Mas as dificuldades enfrentada por Levy, a recessão mais profunda e a crise política instaurada que gerou uma falta de coalizão frustraram as expectativas deste ano. O próprio ajuste de câmbio foi decorrência desse impasse político”, explica.
A divergência, maior que a habitual, entre as previsões entre o início e o fim do ano se deu em grande parte pela perda de credibilidade no rumo da economia brasileira e a queda de popularidade da presidenta Dilma Rousseff, opina Fernando Sampaio, economista da LCA. “O investidor perdeu a confiança, sabíamos que seria um ano ruim, mas acabou sendo catastrófico”, diz. Sampaio também avalia que os desdobramentos da Lava Jato pesaram na queda do PIB. “Ela travou o setor de construção e todos os principais players também ficaram travados, emperrando o crédito também. A operação foi um ingrediente a mais de um processo maior que é a crise política”, explica.
Se não bastasse a maré de más notícias ao logo do ano, a cereja do bolo chegou no apagar das luzes de 2015 com a notícia do rebaixamento da nota do Brasil pela agência Fitch. Ela foi a segunda das três grandes agências de risco a tirar o grau de investimento do Brasil, o que pode significar uma provável saída de recursos investidos no Brasil, já que alguns fundos de investimento exige o selo de pelo menos duas agências para manter suas aplicações. Poucos dias depois após o rebaixamento, Joaquim Levy, deixou o cargo de Ministro da Fazenda e no seu lugar assumiu Nelson Barbosa, criando ainda mais incerteza sobre o cenário econômico.
Para 2016, as últimas projeções revelam que a economia brasileira ainda manterá uma trajetória bem negativa. O Banco Central, que costuma ter uma previsão mais otimista fala em uma queda de 1,9% da atividade econômica, enquanto os analistas de mercado financeiro desenham um tombo bem maior de 2,8% a 3% do PIB. Já os preços devem ceder um pouco e a inflação deve baixar para 6,2%, segundo o BC. O câmbio deve se manter acima dos quatros reais.
No entanto, o que a história nos mostra é que todos esses valores são mera especulação. Se fazer previsões para o próximo mês, em meio as incertezas da crise política econômica e brasileira, já é tarefa árdua para os economistas, imagine para todo o ano. “Temos projeções muito mais pessimistas que as dos últimos tempos para 2016. Talvez, os economistas errem todos outra vez e o próximo ano seja melhor que o esperado”, diz Assis. Tomara.

Fábio Gondim desabafa: “Agora entendo por que os secretários de Saúde ficam seis meses no cargo e as empresas, décadas”

Gabriel Jabur/Agência Brasília


Ao falar ao “Metrópoles” sobre a recomendação para suspender contratação emergencial, secretário de Saúde critica Ministério Público e Tribunal de Contas do DF



De acordo com o secretário de Saúde, Fábio Gondim, 2016 não vai ser muito diferente deste ano para quem procura atendimento na rede pública do DF. Ao falar sobre a recomendação do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) de suspender uma contratação emergencial, sem licitação, no valor de R$ 18 milhões, o titular da pasta não economizou nas críticas: “Quando não é o Tribunal de Contas é o Ministério Público. A gente não consegue fazer nada para melhorar o atendimento. Agora, entendo por que os secretários de Saúde ficam seis meses no cargo e as empresas, décadas”.

Gondim disse que a administração da Saúde no DF virou um “negócio de louco” em função das ações do MP e do TCDF. Ele citou como exemplo a licitação para substituir a empresa que fornece alimentação para os pacientes dos hospitais da rede pública. “Quando a gente quer mudar, não consegue”, completou, destacando que há 42 anos a mesma empresa atua no setor.
Em relação ao contrato emergencial sem licitação, o secretário de Saúde não justifica porque houve demora na contratação. Mas garante que com o suporte de uma empresa na área de logística na gestão dos estoques de medicamentos e insumos haveria uma economia de pelo menos R$ 140 milhões por ano nos cofres públicos, já que atualmente a perda chega a 20% com armazenamento e transporte inadequados. E destaca que neste caso o próprio TCDF aprovou a contratação emergencial e o Ministério Público recomendou a suspensão.
Para amenizar as críticas, Gondim destaca que respeita as duas instituições e que é possível construir um caminho em conjunto: “Em nenhum momento estou questionando a legitimidade e a seriedade do trabalho dos órgãos fiscalizadores. Mas a minha percepção é a de que precisamos encontrar juntos – governo e órgãos de controle- um caminho, respeitando sempre a legalidade, como venho fazendo, e também conseguir melhorar o atendimento à população, primando pelo gasto responsável das verbas públicas”.
Sem expertise
Segundo ele, hoje a secretaria não tem expertise para fazer a administração dos estoques, que abastecem 300 unidades da Saúde. “Qualquer empresa com o nosso porte, administrando mais de R$ 700 milhões em insumos, tem um senhor sistema de gestão. Nós não temos e isso representa perda. Precisamos de ajuda para guardar, transportar, gerenciar…”, justificou, ressaltando que a Saúde do DF está em estado de emergência e que esse tipo de contratação é prevista em lei.
Questionado pelo Metrópoles se as rusgas com o Tribunal de Contas e o Ministério Público podem resultar na sua saída do cargo, o secretário disse que não está disposto a sair, mas admitiu que ser titular da pasta não é uma tarefa fácil.
Se você não faz é processado por omissão. Se você faz, é processado por improbidade administrativa. Não tem saída."
Fábio Gondim, secretário de Saúde
Passando dos limites
De acordo com Gondim, os questionamentos do TCDF e do MP tornam a administração do GDF “inviável” e “está passando dos limites”. Servidor concursado do Senado e especialista na área de orçamento, planejamento e gestão, Gondim foi escolhido pelo governador Rodrigo Rollemberg (PSB) para administrar um orçamento de R$ 7,5 bilhões.
Além de ter um perfil de gestor, contou pontos a favor dele o fato de não ser médico e de não estar comprometido com o corporativismo dos sindicatos que representam as categorias da área de sáude. Ele é o segundo secretário a assumir o comando da pasta no atual governo.
Em relação à recomendação do MP, Fábio Gondim disse que só resta “acatar”, embora destaque que os recursos com a suposta economia de R$ 140 milhões “farão falta mais para frente”.
O MPDFT considerou que a contratação emergencial é uma tentativa de terceirização ilegal e recomendou que os recursos sejam usados para atender a demandas essenciais, como compra de medicamentos, insumos e materiais hospitalares.
Segundo os promotores, enquanto sobram recursos públicos para pagar despesas sem licitação para terceirização de serviços que deveriam ser realizados pela própria secretaria, faltam medicamentos básicos para tratamento de doenças cardíacas e remédios para dor utilizados por pacientes oncológicos, cuja indisponibilidade pode rapidamente levar pacientes a óbito e ao sofrimento, como a oxicodona, cujo preço unitário é de R$ 5,26 e cujo desabastecimento está relacionado à questão orçamentário-financeira.

30/12/2015 21h32 - Atualizado em 30/12/2015 21h32 Moradores de Mariana esperam respostas sobre reconstrução Samarco ainda não apresentou plano definitivo para afetados de distritos. Vilarejos foram destruídos após rompimento da barragem de Fundão.

Do G1 MG com informações do Jornal Nacional
Paracatu de Baixo, distrito de Mariana, em Minas Gerais, um mês e 25 dias depois da tragédia... A imagem do que um dia foi um vilarejo tranquilo ainda choca. Para muitos moradores, vai ser a primeira passagem de ano longe de casa e sem saber, realmente, quando vão poder reconstruir suas vidas.
“A gente espera que seja bom o ano novo, com toda dificuldade, com toda tragédia, a gente espera que seja bom. Que seja melhor”, disse o aposentado José Gonçalves.
Ele morava em uma casa há quarenta anos. Hoje, está na casa do filho, que ficou de pé. “A gente ampliou o galpão, garagem, gramado, fizemos um tanque de peixe, tinha bastante peixe. Como diz, leva uma vida para fazer e em poucos minutos a lama acabou com tudo”, lamenta.
Enquanto espera uma resposta da mineradoraSamarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton, sobre a reconstrução dos vilarejos, o produtor rural Livaldo Marcelino tenta tocar a vida.
“Até hoje não resolveu nada ainda. Decidiu nada. Eu espero é que eles consertem esse negócio aí, né, arrumem as casas de todo mundo, né”, diz.
Quase dois meses depois do rompimento da barragem, a mineradora Samarco ainda não apresentou um plano definitivo de moradia pras famílias afetadas, como pediu o Ministério Público.
A empresa fez um acordo e vai pagar R$ 20 mil a cada família que perdeu casas e R$ 100 mil aos que perderam parentes, além das indenizações que ainda estão sendo discutidas. A Samarco também alugou casas pra quem perdeu tudo. Só quatro famílias preferiram ficar em hotéis. Cada família também recebe um salário mínimo, mais vinte por cento desse valor por dependente.
Sobre a reconstrução dos distritos, a Samarco declarou que está negociando uma solução definitiva com moradores, prefeituras, Ministério Público e outros órgãos. O MP marcou uma audiência para o dia 20 de janeiro, com objetivo de discutir um plano de reassentamento.

30/12/2015 14h26 - Atualizado em 30/12/2015 17h23 Tesouro Nacional diz que quitou todas as pedaladas fiscais neste ano Pagamento total no ano em obrigações devidas somou R$ 72,4 bilhões. Valor inclui todos débitos com BB, FGTS e BNDES, informou governo.

O governo federal anunciou nesta quarta-feira (3) que concluiu o pagamento de todas as "obrigações" devidas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ao Fundo de Garantia  por Tempo de Serviço (FGTS) e ao Banco do Brasil. Os valores referem-se às chamadas "pedaladas fiscais" - atrasos de pagamentos que levaram o Tribunal de Contas da União (TCU) a rejeitar as contas do governo federal de 2014.
Segundo informou a Secretaria do Tesouro Nacional, foram pagos nos últimos dias R$ 55,8 bilhões, referentes a atrasos de pagamentos aos bancos por conta de benefícios sociais, subsídios e operações de crédito rural e ao programa habitacional Minha Casa Minha Vida até o fim do ano de 2014.
"Quando enviamos o PL ao Congresso Nacional, estimamos um montante de obrigações, que depois percebemos ser menores", informou o secretário interino do Tesouro Nacional, Otávio Ladeira, a jornalistas.
Segundo ele, portanto, o valor passível de desconto da meta fiscal será de R$ 55,8 bilhões neste ano, e não os R$ 57 bilhões anunciados anteriormente. Com isso, o limite da meta fiscal de 2015 passa a ser de R$ 118,65 bilhões, ao invés de R$ 199,9 bilhões para as contas do governo federal.
Na última segunda-feira (28), o Tesouro já tinha anunciado que pretendia concluir o pagamento integral das "pedaladas fiscais" ainda neste ano.
R$ 72,4 bilhões em 'obrigações'
Incluindo "obrigações" de 2015, como "adiantamentos" concedidos ao FGTS e valores "devidos" ao Banco do Brasil, ao BNDES e à Caixa Econômica Federal, que o governo alega que não são consideradas "pedaladas", o valor total pago neste ano somou R$ 72,4 bilhões, acrescentou o Tesouro Nacional. O TCU, porém, abriu um processo em outubro para investigar se as pedaladas continuaram neste ano.
"O pagamento de todas as obrigações neste exercício era medida necessária para fins de cumprimento da meta de resultado fiscal, uma vez que, a partir de determinação do TCU [Tribunal de Contas da União], houve mudança no momento em que se daria a apropriação das referidas obrigações na apuração das estatísticas fiscais, pelo Banco Central. Assim, todas as obrigações da união com bancos públicos e fundos estão imediatamente contabilizadas como despesas primárias e integrarão as estatísticas fiscais", informou o Tesouro, em nota à imprensa.
Entenda as pedaladas
As chamadas “pedaladas fiscais” consistiram no atraso dos repasses da União para bancos públicos do dinheiro de benefícios sociais e previdenciários. Essa prática fez com que instituições financeiras como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil usassem recursos próprios para honrar esses compromissos. A oposição alega que estas operações se caracterizaram como "empréstimos" à União, o que é vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, mas o governo nega que, tecnicamente, elas possam ser classificadas desta maneira.
Por conta das pedaladas fiscais, o plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou em outubro, por unanimidade, parecer do ministro Augusto Nardes pela rejeição das contas do governo federal de 2014. Esta foi a segunda vez na história que o TCU recomenda ao Congresso a rejeição das contas de um presidente. Também por conta das pedaladas, entre outros pontos, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, autorizou, no início de dezembro, abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Segundo informações do governo, do total de R$ 72,4 bilhões das obrigações devidas, R$ 70,9 bilhões dos valores foram feitos com recursos da conta única do Tesouro Nacional, sendo R$ 21,1 bilhões com recursos das emissões de títulos realizadas anteriormente, sem a necessidade de emissão de novos papéis, e que R$ 49,8 bilhões com "demais fontes" da conta única. Informou ainda que o valor restante de R$ 1,5 bilhão, devido ao BB, em virtude de um programa denominado "equivalência de produto", será acertado por meio da emissão direta de títulos sem a necessidade de realização de novos leilões.
De acordo com o Tesouro Nacional, as obrigações devidas representam crescimento da dívida pública líquida e bruta em igual proporção. Com isso, a dívida bruta brasileira, que fechou novembro em 65,1% do Produto Interno Bruto (PIB), patamar elevado na comparação com outros países, deverá subir em cerca de 1 ponto percentual do PIB no mês de dezembro. O Tesouro Nacional avalia que a emissão destes títulos não representará impacto inflacionário, uma vez que o Banco Central "enxugará" o mercado por meio da emissão de novos títulos públicos.