Levantamento revela que tanto o juiz Sergio Moro como o ex-presidente Lula fizeram alegações comprovadamente falsas durante o depoimento da última quarta-feira. Confira
Em pouco mais de 2 horas de pronunciamento, o ex-presidente Lula prestou, na última quarta-feira, esclarecimentos sobre a acusação de ter recebido propina da Odebrecht na forma de um terreno em São Bernardo, onde seria erguida a sede do Instituto Lula, e de uma cobertura vizinha à atual residência do ex-presidente.
Em sua fala final, Lula também criticou Antonio Palocci e sugeriu que seu depoimento prestado na semana passada, no qual falou em “pacto de sangue” do ex-presidente com a Odebrecht, é uma tentativa do ex-ministro de repassar sua responsabilidade à frente por seus ilícitos.
“Vi o depoimento do Palocci, muita gente achou que eu ia chegar aqui com muita raiva do Palocci. Ele está preso há mais de um ano, tem o direito de querer ser livre, de ficar com pouco do dinheiro que ele ganhou fazendo palestra. Se você não quer assumir responsabilidade pelos fatos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros”, disse Lula a Moro.
Contradições e falsas afirmativas
Um levantamento do projeto Lupa — agência brasileira de ‘fact-checking — revela que tanto Sergio Moro como o ex-presidente Lula caíram em contradição e proferiram falsas afirmativas em alguns momentos do depoimento da última quarta. Veja o resultado:
AFIRMAÇÃO FALSA DE SERGIO MORO: “Esse é um processo que envolve essa acusação específica, não tem nada a ver com Brasília, imprensa”
A denúncia feita pelo Ministério Público Federal tem 188 páginas. O documento contém referência a pelo menos 10 reportagens publicadas nos últimos anos. Os procuradores citam diversos trabalhos que mencionam a aparente intenção de Lula de construir uma sede para seu instituto em São Paulo ainda durante seu último ano de mandato presidencial. Na denúncia estão elencados, por exemplo, uma coluna da jornalista Monica Bergamo, na Folha de S.Paulo e uma reportagem da Istoé Dinheiro, que relatava a participação do pecuarista José Carlos Bumlai na compra do terreno. Ainda há citações a notícias dos portais UOL e IG sobre o mesmo tema.Procurado, o juiz Sergio Moro não retornou.
AFIRMAÇÃO FALSA DE LULA: “Não respondi nada. Não falei nada [sobre o depoimento do Palocci]”
Preso desde setembro de 2016, Antonio Palocci disse à Justiça Federal que Lula recebeu o terreno do instituto que leva seu nome como forma de disfarçar propina. Seria parte de um “pacto de sangue” feito com a Odebrecht para levar R$ 300 milhões ao PT. Lula reagiu à fala de Palocci no mesmo dia. O perfil oficial do ex-presidente no Facebook publicou um texto classificando o depoimento como “contraditório” e algo que “carece de provas”. O mesmo texto foi republicado no dia seguinte no portal do Instituto Lula. Entre o depoimento de Palocci e o de Lula, as redes sociais do ex-presidente também compartilharam dois vídeos feitos pela defesa. Neles, são feitas críticas ao depoimento do ex-ministro petista. Procurado, o ex-presidente respondeu por nota que, embora a postagem tenha sido feita em seu perfil oficial, foi “um pronunciamento da assessoria” e “não foi uma fala dele”.
AFIRMAÇÃO VERDADEIRA DE SERGIO MORO: “Eu não fiz denúncia nenhuma [contra Lula]”
Apesar de se comportar como acusador de Lula, como apontou Kennedy Alencar, o juiz Sergio Moro, na prática, não fez nenhuma denúncia formal contra o ex-presidente. As denúncias apresentadas contra o ex-presidente Lula partiram do MPF – não do juiz federal. Segundo as leis brasileiras, a polícia é responsável por abrir um inquérito e investigar a existência de crimes. O MP também promove investigações próprias ou em parceria com a PF e é o responsável por oferecer as denúncias ao Judiciário. Quando o juiz aceita a denúncia, o investigado vira réu e passa a se defender no tribunal. No fim do processo, é o juiz quem decide a condenação e emite uma sentença. Há espaço para recursos em segunda instância e nos tribunais superiores: STJ ou STF.
AFIRMAÇÃO VERDADEIRA DE LULA: “Tirei o Palocci do meu governo em março de 2006 porque saiu na imprensa que ele frequentava uma casa, e ele não soube explicar”
Segundo o Ministério da Fazenda, Palocci deixou seu cargo no governo Lula no dia 27 de março de 2006. Na época, havia a CPI dos Bingos, e o então ministro era acusado de se encontrar com lobistas em uma mansão em Brasília. A testemunha da CPI era o caseiro do local, Francenildo Costa. No dia seguinte ao depoimento dele à CPI, seu sigilo bancário foi quebrado. O MPF apontou o envolvimento de Palocci nessa divulgação ilegal. Depois, o Supremo arquivou o processo contra o petista.
AFIRMAÇÃO VERDADEIRA DE LULA: “Sou motivo de uma outra ação do MP por causa de uma medida provisória aprovada por unanimidade no Congresso”
Lula foi denunciado por corrupção passiva nesta semana, em caso investigado pela Operação Zelotes. Lula, o ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência Gilberto Carvalho e outras seis pessoas foram acusados pelo MPF de produzir uma medida provisória que favoreceria, sobretudo, o setor automotivo do Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Em contrapartida, a acusação diz que lobistas teriam oferecido R$ 6 milhões em propinas para o ex-presidente e intermediários. A MP foi aprovada por unanimidade no Senado, em 25 de março de 2010, e na Câmara dos Deputados, em 16 de dezembro de 2009.
informações da Agência Lupa