sábado, 26 de novembro de 2016

Quais irregularidades podem ter sido cometidas no caso Geddel?



Mariana Schreiber
  • 25 novembro 2016
Temer, Calero e GeddelImage copyrightAGÊNCIA BRASIL
Image captionMichel Temer, Geddel Vieira Lima (no alto, à dir.) e Marcelo Calero: acusações de ex-ministro levaram crise para centro do poder no Planalto
O escândalo envolvendo o agora ex-ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) ganhou um novo capítulo com a acusação de que o presidente Michel Temer teria pressionado o então titular da Cultura, Marcelo Calero, a buscar uma solução favorável a ele no caso da obra embargada na Bahia.
Ambos negam a pressão, mas o fato é que a denúncia de Calero, feita em depoimento à Polícia Federal, elevou a crise a outro patamar. Além do pedido de demissão de Geddel, apresentado nesta sexta, o caso segue sob investigação e a oposição deve apresentar um pedido de impeachment de Temer.
Entenda, a seguir, quais são as possíveis irregularidades cometidas pelo presidente e seu braço direito no caso - e suas possíveis implicações.

Quais ilegalidades podem ter sido cometidas?

Calero afirma que Geddel o pressionou a fazer com que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) liberasse a obra de um prédio de luxo que será erguido em uma área tombada de Salvador - no qual ele teria uma unidade.
Ainda segundo o ex-titular da Cultura, o presidente e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, teriam orientado que ele enviasse o caso para a AGU (Advocacia-Geral da União), onde, diz, uma solução favorável a Geddel seria costurada.
No depoimento à PF, Calero afirmou que foi convocado por Temer a comparecer ao Palácio do Planalto e que, durante a reunião, o presidente teria dito que "a decisão do Iphan havia criado 'dificuldades operacionais' em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado".
Caso as acusações sejam comprovadas, Geddel pode ter cometido infrações civis e também criminais, explicou à BBC Brasil o ex-ministro da Controladoria-Geral da União (CGU) Jorge Hage, que comandou a pasta de 2006 a 2014, durante os governos do PT no Planalto.
A CGU é o órgão principal do Poder Executivo que cuida do combate a práticas de corrupção e outras irregularidades.
Uma das leis que teriam sido desrespeitadas por Geddel é a de "conflito de interesses".
A legislação proíbe "atuar, ainda que informalmente, como procurador (facilitador), consultor, assessor ou intermediário de interesses privados junto aos órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios".
Jorge HageImage copyrightJOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
Image captionPara ex-titular da CGU Jorge Hage, pode haver comprovação de irregularidades em condutas de Geddel e até do presidente
Essa lei prevê que o agente que incorrer em conflito de interesses pode ser punido por improbidade administrativa.
Entre as punições previstas está a suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, multa de até cem vezes o valor da remuneração do agente, além de demissão.
O Código Penal descreve o crime de "advocacia administrativa", que consiste em "patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário".
A pena prevista pode chegar a um ano de prisão mais multa.
"De modo que as tipificações são várias e todas elas graves. Agora, tudo isso, estou lhe falando em tese, que não estou na posição de julgar nada", ressaltou Hage.
Para o ex-ministro da CGU, não está claro se Temer teria também incorrido em "conflito de interesses". Em todo o caso, o entendimento que tem prevalecido, explica ele, é que essa lei não se aplica ao presidente.
No caso de Temer, ele está submetido a lei 1.079, que trata das hipóteses de crime de responsabilidade, puníveis por meio de impeachment ou ação penal.
Essa lei prevê como crime de responsabilidade "servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder, ou tolerar que essas autoridades o pratiquem sem repressão sua".
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) já disse que um grupo de parlamentares da oposição pretende protocolar um pedido de impeachment nos próximos dias.
Para que tal denúncia caminhe, no entanto, ela teria que ser aceita pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado de Temer.
Lindbergh FariasImage copyrightAGÊNCIA SENADO
Image captionIntegrantes da oposição, como o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), afirmam que pedirão impeachment de Temer por supostas irregularidades
Para o professor de direito constitucional da FGV-SP Rubens Glezer, a forma das conversas entre Temer e Calero é essencial para configurar se houve pressão indevida pelo presidente.
Isso poderia ser esclarecido caso existam gravações desses diálogos, o que não foi oficialmente confirmado - em nota enviada à imprensa nesta sexta, Calero negou que tenha pedido audiência com Temer com a intenção de gravar a conversa, boato que tem circulado desde que seu depoimento à PF se tornou público.
Segundo o ex-ministro, a informação sobre as supostas gravações teriam sido disseminadas "a partir do Palácio do Planalto".
"A forma como foi feita a conversa muda totalmente se há ou não crime. Por isso o acesso aos áudios daria muita pertinência (à versão). Se houve uma exigência ou mesmo uma solicitação para que o Calero agisse contra a lei, isso é crime de concussão (exigir vantagem indevida para si ou outra pessoa) ou corrupção passiva", afirma Glezer.

Qual a versão dos acusados?

Os ministros citados e o presidente reconhecem ter tratado com Calero sobre o Tema.
Geddel argumenta que não o pressionou e que o fato de ter o apartamento não o impediria de tratar da questão - ele afirma que pelo contrário, isso o credenciava a abordar o tema já que tinha conhecimento do assunto.
Segundo o então ministro, a obstrução da obra prejudicava muitas pessoas que, como ele, compraram apartamentos no empreendimento, que chegou a receber autorização do Iphan da Bahia.
Reprodução de planta do La VueImage copyrightREPRODUÇÃO
Image captionReprodução de planta de playground do edifício La Vue; unidades no local são avaliadas em R$ 2,6 milhões
Segundo a Folha de S.Paulo, porém, a superintendência do Iphan na Bahia autorizou em 2014 a construção do edifício com base em um estudo interno, ainda sem valor legal. A autorização depois foi derrubada pelo Iphan nacional, o que provocou as abordagens de Geddel a Calero.
Temer, por sua vez, disse por meio de seu porta-voz, que "conversou duas vezes com o então titular da Cultura para solucionar impasse na sua equipe e evitar conflitos entre seus ministros de Estado".
O presidente argumentou também que "buscou arbitrar conflitos entre os ministros e órgãos da Cultura sugerindo a avaliação jurídica da Advocacia-Geral da União, que tem competência legal para solucionar eventuais dúvidas entre órgãos da administração pública".
Para sustentar seu argumento, Temer destaca que "havia divergências entre o Iphan estadual e o Iphan federal".
Padilha também nega ter pressionado Calero.

Quais são as possíveis inconsistências na versão do governo Temer?

Para o ex-titular da CGU Jorge Hage, a versão de Temer é "no mínimo, complicada".
Ele observa que, no caso do Iphan da Bahia e do Iphan federal não há conflito entre "diferentes órgãos", porque a instância regional está hierarquicamente abaixo da federal.
"A competência da AGU não tem nada a ver com esse caso. A competência da AGU é quando há um conflito entre órgãos diferentes da administração", disse.
Segundo Hage, a AGU tem poder de intervir quando órgãos distintos, mas com competências semelhantes, estão em conflito - como, em um exemplo hipotético, se CGU e Ministério da Justiça divergissem sobre alguma questão relacionada ao combate à corrupção.
A CGU é justamente o órgão principal do Poder Executivo que cuida do combate a práticas de corrupção e outras irregularidades.
"Não há nada de conflito aí (entre órgãos, no caso do Iphan). Muito menos, por outro lado, seria conflito entre o ministro da Cultura e o ministro da Secretaria de Governo, porque o ministro da Secretaria de Governo não está no exercício de sua função, ele está como particular interessado num apartamento. Não tem nada a ver", observou.
A própria nota que a AGU divulgou na quinta-feira sobre o caso indica que não há conflito dentro do Iphan a ser resolvido. O comunicado diz que a procuradoria do Iphan, órgão ligado à AGU, já havia indicado que a esfera federal tinha poder para derrubar a autorização do órgão estadual.
Segundo a assessoria da AGU esse entendimento foi expresso em parecer que baseou a decisão do Iphan federal, seguindo os trâmites normais desse tipo de análise, antes de qualquer manifestação de Temer sobre o assunto.
"As eventuais questões jurídicas relacionadas ao caso foram examinadas pela própria Procuradoria do Iphan, órgão competente para analisá-las. Tecnicamente, a unidade entendeu que a presidente do Iphan é competente para a anulação de ato da Superintendência estadual e que poderia decidir o caso concreto, conforme os critérios que a área técnica entendesse pertinentes", diz a nota.
Oscar Vilhena Vieira, diretor da Escola da Direito da FGV-SP, considera "natural" que a AGU seja acionada para dar um parecer técnico quando há conflito entre duas instituições públicas. A questão, ressalta, é se o conflito tinha motivação particular. Para ele, a versão do governo fica abalada caso se comprove defesa de interesse privado por agentes públicos
"É uma explicação razoável que é dada (remeter a questão à AGU). A questão é se houve ou não a defesa de um interesse privado. Isso que complica a coisa."
Oscar VilhenaImage copyrightFGV
Image captionPara Oscar Vilhena, da Escola da Direito da FGV-SP, versão do governo fica abalada caso se comprove defesa de interesse privado por agentes públicos
Na avaliação do professor de direito constitucional da FGV-SP Rubens Glezer, parece evidente que não havia conflito de natureza "institucional" a ser arbitrado.
"Não tem um questionamento (legítimo) de um ministro a outro ministro. Ele (Geddel) não teria que se meter naquilo como ministro. Não tinha espaço institucional para esse tipo de conversa", ressalta.
"O que você tem é um agente público tentando fazer com que outro não realize adequadamente sua função em prol do interesse privado."










Cão-bombeiro Ice ganha crachá por atuar como 'voluntário' em hospital

25/11/2016 12h20 - Atualizado em 25/11/2016 12h20

Cachorro participa de projeto terapêutico em hospital de Itajaí.
Acompanhado por sargento, animal circula pelos quartos de pacientes.

Do G1 SC

Ice ganhou crachá de hospital onde particia de projeto terapêutico (Foto: Divulgação)Ice ganhou crachá de hospital onde particia de projeto terapêutico (Foto: Divulgação)
Além de bombeiro e salva-vidas, o cão Ice, do Corpo de Bombeiros de Itajaí, também atua como "voluntário" no Hospital Marieta Konder Bornhausen desde outubro. Nesta semana, ele ganhou um crachá da unidade por participar do projeto terapêutico.
Pelo menos uma vez na semana, os pacientes do hospital recebem a visita do animal que, sempre acompanhado pelo sargento Amorim e uma equipe de enfermagem, faz um roteiro de visitas nos quartos autorizados pelos internados.
Cão-bombeiro ganhou inclusive um crachá personalizado (Foto: Divulgação)Cão-bombeiro ganhou inclusive um crachá
personalizado (Foto: Divulgação)
De acordo com a direção da unidade, como é treinado, Ice não usa coleira ao circular dentro do hospital e ganhou, inclusive, um crachá de identificação com seu nome e função.
Ainda segundo a direção, mesmo com pouco tempo de atuação, a presença do Ice já surtiu efeitos positivos entre os pacientes.
"Tivemos diversos relatos, inclusive de pacientes que têm cachorros e sentem falta deles e, com a presença do Ice, encontram um conforto. Além dos demais, que dizem sentir mais esperança na recuperação durante o tratamento. Ele dá mais ânimo", diz a nota divulgada pelo hospital.
Para a entrada do Ice na unidade, foi realizado um protocolo, exigido pelo Comissão Central de Infecção Hospitalar (CCIH). Além das vacinas em dia, foi necessário um atestado veterinário para comprovar o quadro de saúde do cachorro.
Pacientes relatam ter mais esperança no tratamento após a chegada do cãozinho (Foto: Divulgação)Pacientes relatam ter mais esperança no tratamento após a chegada do cãozinho (Foto: Divulgação)
Direção do hospital disse que pacientes já apresentam melhoras após a chegada do Ice (Foto: Divulgação)Direção do hospital disse que pacientes já apresentam melhoras após a chegada do Ice (Foto: Divulgação)
Ice circula pelos quartos acompanhado de um sargento e uma equipe de enfermagem (Foto: Divulgação)Ice circula pelos quartos acompanhado de um sargento e uma equipe de enfermagem (Foto: Divulgação
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Líderes mundiais lamentam a morte de Fidel Castro


Confira o que algumas personalidades mundiais tem falado sobre o falecimento do líder




MUNDO ADEUSHÁ 27 MINSPOR NOTÍCIAS AO MINUTO

O líder cubano Fidel Castro morreu nesta sexta-feira (25), aos 90 anos, em Havana. A notícia foi divulgada por seu irmão, o presidente Raúl Castro, em pronunciamento na televisão estatal.


Confira o que algumas personalidades mundiais tem falado sobre o falecimento do líder: 
Na madrugada deste sábado (26), o presidente do México Enrique Peña Nieto escreveu: "Fidel Castro foi um amigo do México, promotor de uma relação bilateral baseada no respeito, no diálogo e na solidariedade."
Em outro post nas redes sociais, Peña Nieto escreveu: "Lamento a morte de Fidel Castro Ruz, líder da Revolução Cubana e referência emblemática do século XX".
A famosa blogueira cubana Yoani Sanchez postou a imagem do presidente Raúl Castro fazendo o pronunciamento sobre a morte do irmão na televisão estatal. Ela escreveu: "#Cuba Rául Castro no momento de informar a morte de Fidel Castro."
O Presidente do Equador, Rafael Correa, também publicou no Twitter. "Foi-se um grande. Morreu Fidel. Viva a Cuba! Viva à América Latina!", escreveu.
Em mensagens publicadas no 'Twitter', o presidente da Venezuela Nicolás Maduro, disse que o líder cubano e o venezuelano Hugo Chávez "deixaram aberto o caminho" para a libertação dos povos.
O chefe de Estado venezuelano indicou ainda ter falado já com o seu homólogo cubano, Raúl Castro, a quem transmitiu "solidariedade e amor ao povo de Cuba face à partida do Comandante Fidel Castro".
O presidente de El Salvador, o ex-comandante guerrilheiro Salvador Sánchez Cerén, declarou-se muito triste com a morte de Fidel."Com profunda dor, recebemos a notícias do falecimento de um querido amigo e eterno companheiro, comandante Fidel Castro", escreveu Sánchez Cerén no Twitter.
O presidente da França, François Hollande, disse que Fidel Castro soube representar, para seu povo, "o orgulho da rejeição à dominação exterior ". O francês também disse que o líder "encarnou a revolução cubana" em "suas esperanças e desilusões".
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, rendeu homenagem a Fidel Castro, o "símbolo de uma era", segundo o Kremlin.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou que sente uma "profunda dor" pela morte de Fidel Castro, a quem chamou de "gigante da história da humanidade"."Quero expressar nossa profunda dor. Realmente dói a partida do comandante, do gigante da história da humanidade", disse Morales, por telefone, à rede de televisão "Telesur".

Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, morre aos 90 anos

26/11/2016 03h30 - Atualizado em 26/11/2016 09h02

Cuba declarou 9 dias de luto oficial pela morte de Fidel Castro.
Líder da Revolução Cubana foi figura internacional polêmica por décadas.

Do G1, em São Paulo

Fidel Castro foi um dos personagens da política internacional durante mais de seis décadas  (Foto: Adalberto Roque/AFP)Fidel Castro foi um dos personagens da política internacional durante mais de seis décadas (Foto: Adalberto Roque/AFP)
O ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, morreu à 1h29 (hora de Brasília) deste sábado (26), aos 90 anos, na capital Havana. A informação foi divulgada pelo seu irmão Raúl Castro em pronunciamento na TV estatal cubana.
"Com profunda dor compareço para informar ao nosso povo, aos amigos da nossa América e do mundo que hoje, 25 de novembro do 2016, às 22h29, faleceu o comandante da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz", disse Raúl Castro.
"Em cumprimento da vontade expressa do companheiro Fidel, seus restos serão cremados nas primeiras horas" deste sábado, prosseguiu o irmão.
As cinzas serão enterradas em 4 de dezembro, na cidade de Santiago de Cuba, após percorrerem o país numa caravana de 4 dias. Cuba declarou 9 dias de luto oficial pela morte de Fidel Castro.
Figura controversa
Visto como um grande líder revolucionário por uns, e como ditador implacável por outros, Fidel foi saindo de cena progressivamente ao longo da última década, morando em lugar não divulgado e fazendo aparições esporádicas nos últimos anos.
As últimas imagens de Fidel Castro são do dia 15, quando recebeu em sua residência o presidente do Vietnã, Tran Dai Quang. Antes, ele foi visto em um ato público foi no dia 13 de agosto, na comemoração de seu 90º aniversário. A festa reuniu mais de 100 mil pessoas. Na época, Fidel apresentou um semblante frágil, vestido com um moletom branco e acompanhado pelo seu irmão Raúl e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Despedida
Em abril, durante o XVII Congresso do Partido Comunista de Cuba, Fidel reapareceu e fez um discurso que soou como uma despedida, onde reafirmou a força das ideias dos comunistas.

"A hora de todo mundo vai chegar, mas ficarão as ideias dos comunistas cubanos, como prova de que neste planeta se trabalha com fervor e dignidade, é possível produzir os bens materiais e culturais que os seres humanos necessitam, e devemos lutar sem descanso para isso", afirmou Fidel Castro na ocasião.

Desde que ficou doente, em julho de 2006, e cedeu o poder ao seu irmão Raúl Castro, o líder cubano se dedicou a escrever artigos, assim como livros sobre sua luta na Sierra Maestra e a receber personalidades internacionais em sua residência, no oeste de Havana.
Doença e saída do poder
Na noite de 31 de julho de 2006, Fidel Castro surpreendeu Cuba e o mundo com o anúncio de que cedia o poder ao irmão Raúl, em caráter provisório, depois de sofrer hemorragias. Foi a primeira vez que saiu do poder.
Sem revelar qual doença o afetava, Fidel admitiu que esteve à beira da morte. Perdeu quase 20 quilos nos primeiros 34 dias de crise, passou por várias cirurgias e dependeu por muitos meses de cateteres.
Em dezembro de 2007, o comandante cubano já havia expressado em uma mensagem escrita que não estava aferrado ao poder, nem obstruiria a passagem das novas gerações, mas em janeiro foi eleito deputado e ficou tecnicamente habilitado para uma reeleição – o que não ocorreu.
Desde março de 2007, já afastado do cenário público, sendo visto apenas em vídeos e fotos, Fidel Castro se dedicava a escrever artigos para a imprensa sob o título de "Reflexões do Comandante-em-Chefe".
Fidel deixou o poder definitivamente em fevereiro de 2008. Em um texto publicado no jornal estatal “Granma”, ele anunciou sua renúncia.
O ex-presidente de Cuba Fidel Castro participa da cerimônia de encerramento do 7º congresso do Partido Comunista Cubano em Havana (Foto: Omara Garcia/AIN/Reuters)O ex-presidente de Cuba Fidel Castro participa da cerimônia de encerramento do 7º congresso do Partido Comunista Cubano em Havana (Foto: Omara Garcia/AIN/Reuters)
Trajetória
Fidel nasceu em 13 de agosto de 1926, na província de Holguín, sul de Cuba, e foi batizado durante a infância de Fidel Hipólito. Sua mãe trabalhava para a mulher de seu pai, o bem sucedido latifundiário espanhol Ángel Castro.
Apenas quando Fidel era adolescente seu pai se separou da primeira mulher e assumiu a família com a mãe de Fidel, Lina Ruz Gonzalez, com quem teve outros cinco filhos. Nesta época, Fidel foi assumido oficialmente pelo pai e recebeu o nome de Fidel Alejandro Castro Ruz.
Apesar de não ter sido registrado pelo pai na infância, Fidel cresceu estudando em escolas particulares e em meio a um ambiente de riqueza bastante diferente da pobreza do povo cubano.
Bastante inteligente, o jovem era mais interessado nos esportes do que nos estudos. Mesmo assim, o líder cubano iniciou seus estudos na Universidade de Havana em 1945, onde conheceu o nacionalismo político cubano, o anti-imperalismo e o socialismo, e se formou em direito em 1950.
Em 1948, Fidel viajou para a República Dominicana em uma expedição para tentar derrubar o ditador Rafael Trujillo, que foi fracassada.
Ao voltar para a faculdade, ele se juntou ao Partido Ortodoxo, fundado para acabar com a corrupção no país.
Casamentos
No mesmo ano, Fidel se casou com Mirta Diaz Balart, de uma rica família cubana. Eles tiveram apenas um filho, Fidelito. O casamento com Mirta acabou em 1955. Durante a união, ele teve um relacionamento com Naty Revuelta, com quem teve uma filha, Alina Fernández-Revuelta. Em 1993, ela fugiu da ilha se fazendo passar por uma turista espanhola. Alina pediu asilo nos Estados Unidos e passou a fazer fortes críticas a seu pai.
Com sua segunda mulher, Dalia Soto del Valle, Fidel teve outros cinco filhos homens cujos nomes começam com a letra "A": Alexis, Alexander, Alejandro, Antonio e Ángel.
Além da filha Alina, uma das irmãs de Fidel, Juanita Castro, também se mudou para os EUA, no início da década de 1960.
A amizade entre Castro e Chávez era antiga (Foto: ENRIQUE DE LA OSA / POOL / AFP)A amizade entre Castro e Chávez era antiga (Foto: ENRIQUE DE LA OSA / POOL / AFP)
Revolução
Durante o casamento, Fidel teve contato com as famílias ricas de Cuba, e se candidatou a um posto no parlamento. Entretanto, o golpe do general Fulgêncio Batista derrubou o governo da época e cancelou as eleições.
Junto com outros membros do Partido Ortodoxo, Fidel organizou uma insurreição. Em 26 de julho de 1953, cerca de 150 pessoas atacaram o quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, em uma tentativa de derrubar Batista. O ataque falhou e Fidel foi capturado. Após julgamento, ele foi condenado a 15 anos de prisão. Entretanto, o incidente o tornou famoso no país.
Em 1955, Fidel foi anistiado, e fundou o movimento 26 de Julho, de oposição ao governo. Nessa época, ele se encontrou pela primeira vez com o revolucionário Ernesto ‘Che’ Guevara e se exilou no México.
Em 1957, junto com Guevara e mais 79 expedicionários, chegou a Cuba a bordo de um navio e tentou derrubar o presidente, mas foi surpreendido pelo Exército e derrotado. Fidel, seu irmão Raúl e Che conseguiram escapar e se refugiaram na Sierra Maestra, onde travaram combates com o governo.
Em 30 e 31 de dezembro de 1958, as vitórias revolucionárias assustaram Batista, que fugiu de Cuba e foi para a República Dominicana. Aos 32 anos, Fidel conseguiu o controle do país.
Reforma para o comunismo
Um novo governo foi criado, e Fidel assumiu como primeiro-ministro em 1959, após a renúncia de Jose Miro Cardona. Nesta época, foram iniciadas as relações com a então União Soviética.
O líder passou então a sua reforma para o comunismo. Em 1960, Fidel nacionalizou a indústria açucareira de Cuba, sem pagar indenizações. Três anos depois ele estatizaria as fazendas, ampliando a reforma agrária.
Em 1961, o governo proclamou seu status socialista. Houve uma fuga em massa dos ricos do país para Miami, nos Estados Unidos, que rompem as relações diplomáticas com Cuba.
Fidel com Che Guevara, em foto de 1960 (Foto: AP Foto/Prensa Latina via AP Images)Fidel com Che Guevara, em foto de 1960 (Foto: AP Foto/Prensa Latina via AP Images)
Crise com os EUA
Em abril, Castro formalizou Cuba como um estado socialista. No dia seguinte, cerca de 1,3 mil exilados cubanos apoiados pela CIA atacaram a ilha pela Baía dos Porcos, em uma tentativa de derrubar o governo.
O ataque foi um fracasso – centenas de pessoas foram mortas e quase mil capturadas. Os EUA negaram seu envolvimento, mas revelaram que os exilados foram treinados pela CIA. Décadas depois, o país confirmou que a ação vinha sendo planejada desde 1959.
O incidente fez Castro consolidar seu poder. Em maio do mesmo ano, ele anunciou o fim das eleições democráticas no país e denunciou o imperialismo americano. Che Guevara assumiu o Ministério da Indústria.
Em 1962, os EUA ordenaram o bloqueio econômico total à ilha, isolando o regime, uma política que se seguiu até a atualidade.
Fidel passou a intensificar sua relação com a União Soviética, aceitando financiamento e ajudas militares. Em outubro de 1962, o país concebeu a ideia de implantar misseis nucleares em Cuba, gerando uma crise com os EUA e quase uma guerra nuclear.
Dias depois, o premiê soviético concordou em remover os mísseis com o comprometimento americano de não invadir Cuba. Castro foi deixado de lado nas negociações.
Camilo Cienfuegos era um dos colaboradores mais próximos de Castro (Foto: Prensa Latina/AFP)Camilo Cienfuegos era um dos colaboradores mais próximos de Castro (Foto: Prensa Latina/AFP)
Governo
Em 1965, Che deixa o país para expandir a revolução. Dois anos depois, ele foi assassinado na Bolívia, deixando Fidel como único rosto da revolução.
Ainda em 1965, Fidel se posicionou como líder do Partido Comunista cubano. Pouco a pouco, ele começou uma campanha para apoiar a luta armada contra o imperialismo na América Latina e na África.
Apesar do comprometimento dos EUA de não invadir a ilha, houve ataques de outras formas, como o bloqueio econômico e centenas de tentativas de assassinato contra Fidel ao longo dos anos. Fidel chegou a dizer que se escapar de tentativas de assassinato fosse um esporte olímpico, ele teria ganhado medalhas de ouro.
Durante seu governo, Fidel investiu na educação – foram criadas cerca de 10 mil novas escolas, e a alfabetização atingiu 98% da população. Os cubanos têm um sistema de saúde universal, que reduziu a mortalidade infantil para 11 a cada mil nascidos vivos.
Execuções e prisões
Entretanto, as liberdades civis foram confiscadas. Sindicatos perderam o direito de realizar greves, jornais independentes foram fechados e instituições religiosas perseguidas. Castro removeu seus opositores com execuções e prisões, além do exílio forçado.
Centenas de milhares de cubanos fugiram do país ao longo das décadas, muitos seguindo para a Flórida, bastante próxima da costa da ilha. A maior saída ocorreu em 1980, quando o governo anunciou a autorização de saída, e 125 mil pessoas deixaram Cuba – 15 mil delas se jogaram ao mar amarradas e canoas, pneus e botes.
Em 1986, instituições de defesa dos direitos humanos realizaram em Paris o “Tribunal de Cuba”, onde ex-prisioneiros da ditadura deram seu testemunho. Entidades calculam que cerca de 12 mil pessoas morreram nas mãos do governo.
Em 1989, com a queda do muro de Berlin, a União Soviética retira seus 7 mil militares da ilha e acaba com a ajuda comercial à Cuba.
Em 1996, Cuba bombardeia dois aviões civis pilotados por exilados cubanos em Miami, retomando as tensões com os EUA. No ano seguinte, Fidel apontou seu irmão, Raúl, como seu sucessor.
Em 2002, os EUA criam uma prisão para suspeitos de terrorismo em uma base militar Guantánamo, no território cubano. O então presidente George W. Bush inclui o país na lista dos que apoiam o terrorismo.
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O ex-presidente de Cuba, Fidel Castro (centro), participa de festa de gala celebrando seu aniversário de 90 anos, acompanhado de seu irmão, Raúl (ao fundo) e do presidente da Velezuela, Nicolas Maduro (direita), no teatro Karl Marx em Havana (Foto: Ismael Francisco/Cubadebate/AP)O ex-presidente de Cuba, Fidel Castro (centro), participa de festa de gala celebrando seu aniversário de 90 anos, acompanhado de seu irmão, Raúl (ao fundo) e do presidente da Velezuela, Nicolas Maduro (direita), no teatro Karl Marx em Havana (Foto: Ismael Francisco/Cubadebate/AP)
Segredos
Desde que caiu doente e entregou o poder provisoriamente a Raúl, Fidel deixou claro que sua doença era um assunto delicado e não um assunto de domínio público.
"Devido aos planos do império (EUA), meu estado de saúde se converte em um segredo de Estado a respeito do qual não se pode ficar constantemente divulgando informações", afirmou.
Os segredos em torno do ex-dirigente são guardados com tanto afinco que não se conhecia nem mesmo o local onde Fidel se recuperava.
Conta-se que, durante anos, Fidel jamais dormiu duas noites no mesmo lugar.
Ele circulava por Cuba em uma caravana com três carros Mercedes Benz pretos idênticos, e a presença dele nas cúpulas realizadas no exterior nunca está 100% confirmada antes de sua chegada.
Até a ideologia comunista dele foi objeto de mistério nos primeiros anos da revolução.
Diferentemente de outros líderes mundiais, a vida privada de Fidel não comparece aos jornais.
O único dos filhos dele que ocupou um cargo público é Fidel Castro Diaz-Balart, o "Fidelito", um engenheiro nuclear que trabalhou como assessor científico do Conselho de Estado.
Fidel nunca abandonou suas ideias sobre estratégia militar. Em 1953, quando organizou o ataque contra o quartel Moncada, em Santiago de Cuba, sua primeira e desastrosa ação militar, quase todos os seus companheiros só ficaram sabendo do objetivo da investida no último minuto.
Linha do tempo, Fidel Castro (Foto: Arte/G1)