segunda-feira, 22 de agosto de 2016

GDF tira dinheiro de remédios para pagar empresas terceirizadas


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Rollemberg editou decreto remanejando mais de R$ 22 milhões da área: remanejou dinheiro da compra de medicamentos e manutenção de equipamentos para pagar contratos de vigilância e limpeza após funcionários das terceirizadas cruzarem os braços por falta de salários



A estudante Fernanda Gomide tem 18 anos e foi diagnosticada com fibrose cística quando nasceu. A doença genética não tem cura, e o uso de medicamento é indispensável no combate à bactéria que pode levá-la à morte. Mas, desde novembro, ela e os outros pacientes que precisam da medicação não conseguem a substância por falta de estoque na Secretaria de Saúde. A reposição pode ficar ainda mais complicada, já que o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) editou um decreto remanejando mais de R$ 22 milhões da pasta. O socialista tirou dinheiro da compra de remédios e da manutenção de equipamentos para pagar contratos de vigilância e limpeza.


A situação é mais um capítulo da novela do caos que se transformou a saúde pública no DF. Envolta em um manto de denúncias sem fim sobre corrupção, desvio de recursos e favorecimento a empresas, a área virou caso de polícia, com as recentes denúncias e divulgação de gravações comprometendo a alta cúpula do GDFdeputados distritais e sindicalistas. Esta semana, inclusive, o Palácio do Buriti foi alvo de umaoperação da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap) em buscas de provas sobre uma suposta prática de extorsão por parte de funcionários do governo.
A abertura do crédito suplementar foi autorizada pelo Decreto 37.478, publicado em 13 de julho, no Diário Oficial do DF. Através dele, Rollemberg cancelou R$ 9.825.467, destinados à aquisição de medicamentos. Também retirou a previsão orçamentária para a manutenção de máquinas e equipamentos hospitalares. A manobra ocorreu para que o Executivo destinasse os R$ 22.846.383 para o pagamento dos contratos de vigilância e limpeza da Secretaria de Saúde do DF. Os funcionários responsáveis por esses serviços estavam em greve e retomaram as atividades após o pagamento.
Metrópoles apurou que a Secretaria de Saúde não tem dinheiro de reserva para repor o estoque de remédios, caso seja necessário fazer alguma compra. Da mesma forma, a situação ocorre com a manutenção de equipamentos.
Atualmente, há pelo menos 51 tipos de medicamentos em falta no estoque da Secretaria de Saúde. Segundo a pasta, do total de 835 substâncias oferecidas, há 784 disponíveis. A secretaria não divulga a lista dos que estão sem estoque sob a justificativa de que “ela é formatada em linguagem técnica”.
E, apesar de a reportagem ter enviado vários questionamentos — entre eles, como o GDF comprará remédios e fará a manutenção em equipamentos, já que remanejou o dinheiro —, a assessoria de imprensa da pasta foi lacônica. O órgão se resumiu a responder que “trabalha de maneira planejada, e todos os medicamentos são adquiridos com antecedência, de modo que os estoques não fiquem zerados. Porém, podem haver intercorrências durante o processo de compra. Em alguns casos, a compra é realizada, mas há atrasos na entrega. Também pode ocorrer fracasso no processo licitatório, o que atrasa a compra de um ou mais itens.”
Justiça
Presidente da Associação Brasiliense de Amparo ao Fibrocístico, Fernando Gomide luta, desde novembro, para que o GDF cumpra uma decisão judicial que garante a disponibilização do remédio Colomycin para a filha, Fernanda. Ela está com uma bactéria e precisa da medicação para combater o problema.
A secretaria fala que está comprando, mas não tem o remédio há nove meses. Tenho uma decisão judicial de 2001 que garante o remédio para a minha filha, e o governo está descumprindo. O problema é que nada acontece com eles. Sinto que não temos amparo nenhum"
Fernando Gomide, presidente da Associação Brasiliense de Amparo ao Fibrocístico
Sem a distribuição do medicamento pelo GDF, o jeito é contar com a ajuda das associações de outros estados. “Geralmente, tento conseguir emprestado com eles. Vamos nos virando, mas, quando não consigo, preciso comprar e não é fácil de achar. Chego a pagar R$ 11 mil pelo remédio”, afirma Fernando Gomide.
Organizações Sociais
O governo acredita que conseguirá contornar parte dos problemas na saúde pública local com a terceirização de parte da gestão, que ficaria com organizações sociais — as OSs. A medida, no entanto, é controversa e desperta uma série de críticas.
Um dos principais questionamentos diz respeito a como o GDF conseguirá pagar essas entidades privadas, uma vez que não consegue recursos nem para manter os estoques de remédios abastecidos. O GDF espera desembolsar até R$ 258 milhões no primeiro ano de implementação do modelo misto.

Denúncias inflamam a corrida eleitoral pelo governo do DF em 2018

O caso UTIgates também antecipa o debate sobre a sucessão de Celina Leão na presidência da Câmara Legislativa. Enfraquecimento da distrital, que era forte candidata ao GDF, beneficia seus rivais


 postado em 21/08/2016 07:10
 Otávio Augusto , Helena Mader , Flávia Maia
Hélio Montferre/Esp. CB/D.A Press - 26/6/16

As denúncias que atingiram a cúpula da Câmara Legislativa colocaram sob suspeita alguns dos principais nomes do cenário político do Distrito Federal e esquentaram a eleição pelo comando da Casa, marcada para o início de 2017. O escândalo também deixou em atenção todos os potenciais candidatos a cargos majoritários em 2018, já que o enfraquecimento de Celina Leão (PPS) é um importante elemento na corrida pelo Palácio do Buriti. Mas a definição do quadro eleitoral vai depender dos desdobramentos do caso UTIgates. Celina Leão viu naufragar o sonho de aprovar a emenda que permitiria a reeleição à presidência da Câmara, mas já mobiliza aliados para tentar salvar o mandato e fazer o sucessor. Esta semana, o Ministério Público do Distrito Federal deve ouvir novos depoimentos e realizar diligências para aprofundar as investigações sobre o caso.

O escândalo do suposto esquema de desvio de recursos públicos coloca em xeque a carreira da presidente da Casa, apontada como forte candidata ao governo em 2018, e mexe com o xadrez eleitoral de Brasília a dois anos da próxima disputa. Se o horizonte da política local já estava nebuloso e abalado pela crise institucional brasileira, com o novo episódio, as rixas ganham nova dimensão. A chefe do Legislativo tornou-se um dos símbolos da oposição a Rodrigo Rollemberg (PSB), ganhou projeção com a CPI da Saúde e com a articulação de projetos polêmicos como o do Uber.

Embora Celina tenha dito nos áudios que o seu plano político era concorrer a deputada federal, ela poderia ser uma opção do PPS a cargo majoritário. Liliane Roriz também não escapará ilesa do escândalo. Ela coleciona pedidos de cassação, que não andavam por proteção política. Mas, com a crise, o processo deve ganhar velocidade.












Rodas da Paz reúne 4 mil pessoas em prol do Dia Nacional do Ciclista


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A data, ainda informal, é comemorada em 19 de agosto. Projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados pede a oficialização do dia




Uma corrida pedir que o Dia Nacional do Ciclista seja uma data oficial no calendário brasileiro reuniu cerca de 4 mil pessoas no percurso do Eixo Monumental/ Ponte JK. O evento foi organizado pela organização não governamental Rodas da Paz, que entregou, na Câmara dos Deputados, o texto de um projeto de lei a fim de ratificar o dia 19 de agosto como a data oficial. O dia faz alusão à morte de Pedro Davison, biólogo que perdeu a vida no Eixão em 2006, aos 25 anos, depois de ser atropelado na faixa presidencial.
O condutor do veículo que matou Pedro estava sob o efeito de álcool. Ele foi condenado por homicídio com dolo eventual depois de diversas ações da ONG, que tem como integrantes os pais de Pedro, Pérsio Davison e Beth Davison. “O projeto de lei tramitou na Câmara por dois anos, mas a deputada que entrou com a proposição não se reelegeu. Agora, entramos com um projeto para pedir o Dia Nacional do Ciclista Pedro Davison”, afirmou a coordenadora de comunicação da Rodas da Paz, Ana Júlia Pinheiro.
A corrida começou às 9h, com o evento direcionado para as crianças. Cerca de 420 ciclistas-mirins percorreram 2,5km, com largada do Museu Nacional. Os adultos percorreram 14km, fazendo a a ida e a volta do Museu até a Ponte JK.



Demissão de emissário da propina põe Bispo Renato numa encruzilhada


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Alexandre Braga Cerqueira, secretário executivo da Terceira Secretaria da CLDF, é apontado por testemunhas como interlocutor de distritais na suposta cobrança de propina envolvendo contratos da iniciativa privada com a GDF. Bispo Renato avalia se a demissão do apadrinhado amenizará a crise na Casa ou causará mais problemas



A ventania que levanta poeira na Câmara Legislativa desde a divulgação de grampos clandestinos da distrital Liliane Roriz (PTB) deve ganhar força nesta semana. E, no olho desse furacão que atinge ao menos seis distritais, um deles encontra-se num dilema. Pressionado a exonerar o servidor apontado como emissário da propina supostamente cobrada a mando de parlamentares, Bispo Renato Andrade (PR) ainda estuda o que fazer. Mas qualquer decisão terá consequências imprevisíveis.


Certo é que, se o parlamentar evangélico mantiver Alexandre Braga Cerqueira no cargo de secretário executivo da Terceira Secretaria, corre o risco de ampliar o desgaste da própria imagem caso o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT)encontre provas das irregularidades. Por outro lado, se dispensar o funcionário comissionado que ele mesmo indicou para o posto, o distrital do PR despertará a fúria de Cerqueira, que poderá voltar a artilharia contra os deputados.
Agora, Bispo Rento tenta se desvencilhar do apadrinhado, atribuindo qualquer atitude criminosa à própria conduta do servidor. Por meio de sua assessoria, o distrital evangélico afirmou ao Metrópoles neste domingo (21) que, “caso sejam descobertas ilicitudes ou pedido de propina, Alexandre o fez por conta própria, e não como representante do Bispo Renato Andrade ou de qualquer outro deputado da Mesa Diretora”. A equipe do distrital não falou sobre uma eventual exoneração, mas ressaltou que o parlamentar “tomará as medidas necessárias relacionadas à investigação e também ao servidor.”
Conforme o Metrópoles revelou no último sábado (20), Alexandre Braga Cerqueira é apontado por testemunhas como sendo o responsável por cobrar propinas supostamente a mando de distritais. Os áudios gravados por Liliane Roriz sugerem que um grupo de seis deputados seria o beneficiário do esquema envolvendo a liberação de recursos para a saúde pública. São eles: os integrantes da Mesa Diretora — a presidente Celina Leão (PPS), Raimundo Ribeiro (PPS), Júlio César (PRB) e Bispo Renato —, além de Liliane, que renunciou à vice-presidência no último dia 17, e Cristiano Araújo (PSD).
Desde que o Metrópoles revelou a identidade do suposto interlocutor dos distritais no escândalo, o clima na Câmara Legislativa ficou ainda mais tenso. Agora, a exoneração ou a manutenção de Alexandre Braga Cerqueira no cargo é encarada como um divisor de águas na crise.
Cerqueira, que recebe R$ 17 mil mensais na CLDF, é funcionário da Casa há 20 anos e também tem ligações com o ex-distrital Aylton Gomes, réu na Operação Caixa de Pandora. Hoje, responde a Bispo Renato Andrade.
MICHAEL MELO/METRÓPOLES

Achaque a empresário
Pessoas ligadas à investigação no MPDFT confirmam que Alexandre Braga Cerqueira procurou o empresário Afonso Assad, presidente da Associação Brasiliense de Construtores, para pedir uma “contribuição” após distritais assegurarem a liberação de recursos. Segundo depoimento do empresário ao Ministério Público, o servidor falava em nome de deputados distritais.
O defensor público André de Moura afirma que o depoimento de Assad ao MPDFT e ao Ministério Público de Contas do DF (MPC-DF) é semelhante ao conteúdo de um dos grampos feitos por Liliane. Nesse áudio, o ex-secretário-geral da CLDF Valério Neves afirma que Bispo Renato e Júlio César, líder do governo na Casa, teriam tentado fazer uma negociação com o empresário. De acordo com o que Neves diz, Assad poderia intermediar contratos com a Secretaria de Educação, mas não teria levado a cabo o “compromisso”. “O Afonso disse que não poderia garantir nada”, diz Valério Neves em um dos trechos. Valério deve depor nesta segunda (22) na CLDF.
O depoimento de Afonso Assad ao MPDFT reforça essa versão. O empresário conta que os dois parlamentares o teriam procurado para um almoço. O encontro ocorreu em dezembro de 2015, em uma churrascaria. Na ocasião, Bispo Renato e Júlio César teriam convidado o empresário para entrar no esquema. “Queriam que o Afonso desse uma contribuição para eles pagarem dívidas de campanha”, garante o defensor André de Moura.
Conforme o relato de Assad ao MPDFT e ao MPC-DF, os distritais destinariam R$ 15 milhões para a Educação e outros R$ 15 milhões para a Saúde. “Eles não falaram como seria feita a divisão (no caso de propina), mas o Afonso disse que não pagaria, pois não trabalha com isso, prefere dormir de cabeça tranquila”, completa André de Moura.
Ainda segundo a denúncia investigada pelos procuradores, os supostos desvios gravados por Liliane teriam sido feitos com a sobra orçamentária da Casa de 2015. Em um primeiro momento, os recursos seriam destinados ao GDF para custear reformas nas escolas públicas. De última hora, no entanto, o texto do projeto de lei foi modificado e o dinheiro — R$ 30 milhões de um total de R$ 31 milhões — acabou realocado para a Saúde. O valor foi destinado ao pagamento de serviços vencidos em UTIs da rede pública. O R$ 1 milhão restante foi repassado à educação. Essa destinação de verba teria sido a razão que motivou Cerqueira a procurar Assad para cobrar propina.
Outro lado
Neste domingo (21), a reportagem tentou novamente localizar Alexandre Braga Cerqueira em três telefones celulares e um fixo, mas ele não atendeu nem retornou os contatos até a publicação desta reportagem. Por meio de um interlocutor, Afonso Assad disse que não quer comentar o caso.
O deputado Júlio César (PRB) afirmou que só vai se pronunciar sobre o caso quando tiver acesso ao processo. No momento, ele disse desconhecer as informações. Por meio de nota conjunta, os demais integrantes da Mesa negaram envolvimento com atos ilícitos. A assessoria de Cristiano Araújo afirmou que ele não vai se pronunciar por não saber o conteúdo da investigação que ocorre na Justiça. Valério Neves não foi encontrado pela reportagem.

O que pensa o homem de Temer por trás da reforma da previdência




Tecnocrata crítico do atual sistema brasileiro, Marcelo Caetano foi o escolhido por Henrique Meirelles para comandar a reforma previdenciária do governo interino

por Breno Costa publicado 21/08/2016 14:34, última modificação 21/08/2016 14:46
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Marcelo Caetano (segundo da direita para a esquerda) em entrevista coletiva sobre reajustes de benefícios previdenciários, em julho: para defender sua proposta de reforma da previdência, discursos são sempre fatalistas e trazem a palavra "rombo"
The Intercept Brasil – Previdência é assunto complexo desde o nome. O assunto, espinhoso, refere-se ao sistema brasileiro de aposentadorias e outros benefícios garantidos pelo governo aos trabalhadores e vem ganhando espaço na mídia com a reforma previdenciária, que aguarda seu momento para ser enviada ao Congresso tão logo se conclua o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.
Para comandar esse processo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, escolheu Marcelo Abi-Ramia Caetano, um tecnocrata que critica o modelo distributivo da previdência brasileira, em que a contribuição dos trabalhadores ativos ajuda a manter a aposentadoria dos inativos, e acredita que o ideal seria cada um criar sua própria poupança para a velhice.
  • Revista do Brasil: Mexer com a Previdência Social trará danos sociais dramáticos ao país
The Intercept Brasil debruçou-se sobre artigos, análises, estudos acadêmicos, capítulos de livro e entrevistas concedidas à imprensa por Caetano. Neles, o secretário demonstra ideias muito claras sobre como mudar o sistema de aposentadorias no Brasil, sempre amparado em estatísticas e, principalmente, em comparações com outros países.
Os discursos são sempre fatalistas e trazem a palavra "rombo"
Dificilmente você reconheceria Marcelo Caetano se o visse na rua. Aos 46 anos, o economista fez uma carreira ao longo dos últimos 19 anos como especialista em previdência. É um espécime destacado de tecnocrata. Passou boa parte de sua vida adulta estudando números a respeito do tema em uma sala comum no Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). Vinculado ao Ministério do Planejamento, o instituto reúne ótimos pesquisadores que fazem estudos bastante relevantes, mas que não são obrigatoriamente ouvidos por quem está no comando.
Nos últimos três meses, contudo, Caetano nunca teve tanto poder nas mãos. É em seu gabinete, vinculado ao poderoso Ministério da Fazenda,, de lustradas paredes de madeira, que estão sendo gestados os detalhes das mudanças que Temer quer fazer nas aposentadorias e pensões recebidas pelos brasileiros.
Desde que sua agenda pública passou a ser divulgada, em 20 de julho, Caetano já recebeu, entre outros, representantes dos grupos financeiros J.P. Morgan, Santander, Gap Asset Management e banco BBM – todos potenciais interessados no destino das aposentadorias dos brasileiros diante desse novo governo.
Houve também uma reunião com representantes de "confederações patronais" e de emissários da confederação nacional das empresas de previdência privada e da poderosa Confederação Nacional da Indústria. Não havia, até hoje, porém, registros de qualquer reunião com representantes de sindicatos de trabalhadores.
É um mantra do pensamento econômico liberal culpar a previdência social pela fatia mais grossa dos problemas econômicos do país. Os discursos são sempre fatalistas e trazem a palavra "rombo". Caetano faz parte desse time. Muito se especula sobre a reforma, mas pouco de concreto foi dito. Todos os sinais apontam, no entanto, para uma pancada nos interesses dos trabalhadores que projetam suas carreiras com base nas regras atuais.
The Intercept Brasil verificou que Caetano defende o fim da aposentadoria baseada na quantidade de anos trabalhados, além de acabar com a idade diferenciada para as mulheres se aposentarem. Também empunha a bandeira da interrupção de reajuste para os aposentados com base no salário mínimo, entre outras ideias – todas já encampadas, aqui e ali, por integrantes do núcleo do governo em entrevistas.
Ao Valor Econômico na semana passada, Michel Temer deu a senha do que virá por aí. "As centrais vão acabar não apoiando, seja qual for a reforma. Se não apoiarem, vamos mandar ao Congresso e ver o que acontece".
A expectativa é de que Temer envie sua proposta para o Congresso logo após concluído o processo de impeachment. Será a prova de fogo dele perante os que apoiaram, no mercado, sua subida ao poder e que estão sedentos por um controle maior das despesas do Estado. E também o teste para saber até que ponto ele consegue controlar sua base no Senado e na Câmara pós-Eduardo Cunha.
Na semana passada, diante do aumento das especulações sobre o grau de impacto da reforma previdenciária nas regras atuais, Valor Econômico e Folha de S.Paulo entrevistaram Marcelo Caetano para tentar pistas sobre quais mudanças o governo vai tentar fazer. Ele não disse nada de objetivo em relação ao teor da reforma – mas deixou o recado: ou a reforma é aprovada ou o governo terá de aumentar os impostos.
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Henrique Meirelles, ministro interino da Fazenda e comandante da política econômica da gestão Temer
Mas o secretário já disse e escreveu muita coisa ao longo dos últimos anos, quando ainda estava longe de um cargo executivo na área da previdência. Uma das críticas centrais e mais recorrentes de Caetano ao sistema adotado no Brasil é a possibilidade de aposentadoria por tempo de serviço.
Para ele, somente quem atingisse determinada idade deveria se aposentar, não importando já ter trabalhado por 40 ou 50 anos. Ele apresenta dados estatísticos que mostram que o sistema de aposentadoria por tempo de contribuição provoca um número elevado de aposentadorias precoces (em média, aos 55 anos para os homens e aos 52 para as mulheres).
Com linguagem mais eufemística que os "vagabundos" citados por Fernando Henrique Cardoso, Caetano acredita que o brasileiro tem condição de trabalhar muito mais do que hoje. Foi o que escreveu em 2014, no capítulo de um livro sobre o desenvolvimento do país, publicado pelo Ipea. Para ele, o sistema atual "induz a saída do mercado de trabalho de alguém ainda em plena capacidade para contribuir para a geração de riquezas do país".
Ele já citou ao menos duas vezes como exemplo positivo a reforma feita na Grécia, com adoção de idade mínima de 67 anos para a aposentadoria – 12 anos a mais do que o existente, na prática, hoje no Brasil. Mais que isso, hoje, os homens, ao nascer, têm expectativa de vida de 71,6 anos, e ainda menor nas regiões Norte e Nordeste. Ou seja, num cenário grego, um trabalhador contribuinte receberia, em média, apenas quatro anos e sete meses de aposentadoria.
"Afinal, o que a Previdência tem a ver com a discriminação de gênero?"
O caso das mulheres é objeto de ainda mais crítica do secretário da Previdência. Ele aponta que, com a aposentadoria na idade média de 52 anos, isso significa que "o tempo de recebimento do benefício iguala-se ao de pagamento de contribuições; isso sem contar com o potencial período de recebimento de benefícios de risco, como as pensões por morte, aposentadorias por invalidez e salário-maternidade".
Caetano é contra a regra que permite que as mulheres se aposentem mais cedo que os homens. Sua manifestação mais clara sobre isso veio em artigo publicado na Folha de S.Paulo no final de 2014.
Embora diga reconhecer argumentos em favor da diferenciação, Caetano escreveu que "problemas de mercado de trabalho devem ser resolvidos por meio de políticas laborais, e não previdenciárias". E arremata com uma questão: "Afinal, o que a Previdência tem a ver com a discriminação de gênero?".
Ele vai além e critica indiretamente os políticos que têm receio de mexer nesse vespeiro. "A opção por conceder uma aposentadoria especial para as mulheres é mais cômoda. Agrada ao eleitorado, joga para o futuro a questão da necessidade de financiamento, minimiza a necessidade de elevação dos gastos presentes com creches e ameniza a necessidade de enfrentar questões culturais relativas à divisão do trabalho por gênero".
Essa diferenciação é histórica dentro do Brasil e sempre teve o viés de proteção da mulher, diante de uma cultura de dupla (ou tripla) jornada de trabalho. A diferenciação foi mantida na Constituição de 1988 e na última reforma da Previdência, feita há 18 anos pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mudanças no sistema de previdência rural
O mesmo argumento é usado também para defender o fim das diferenças entre as aposentadorias para os trabalhadores rurais e para os trabalhadores urbanos. "A Previdência rural deveria ter regras parecidas com a urbana? Acredito que sim. Uma coisa é você considerar um problema de mercado de trabalho, outra coisa é considerar um problema de Previdência", afirmou Caetano em entrevista também à Folha em fevereiro deste ano, três meses antes de assumir o cargo no governo.
O sistema rural, que não é uma previdência tradicional, foi criado para abranger cidadãos que vivem e trabalham em regiões que continuam longe das proteções do mercado formal. Hoje, o trabalhador que vive na área rural e que vende sua produção numa feira ou que planta apenas para a subsistência de sua família não contribui da mesma maneira que o trabalhador urbano que tem carteira assinada, ou mesmo o empregado de uma empresa rural, também com carteira assinada.
CC WIKIMEDIA COMMONS / TOPSTER37Agricultor.JPG
Caetano defende também o fim das diferenças entre as aposentadorias para os trabalhadores rurais e urbanos
O trabalhador rural paga uma alíquota referente ao valor comercializado de sua produção. Se ele não vende nada, também não precisa pagar nada. Esse sistema de contribuição lhe garante o direito a receber a aposentadoria do governo cinco anos mais cedo, já que sua expectativa de vida é menor do que a de quem vive na cidade. Para Caetano, essa compensação tem que ser repensada.
No estudo em que sugere pontos centrais de uma reforma previdenciária que necessite de alterações na Constituição, ele aponta, além do fim da aposentadoria por tempo de serviço, a necessidade de acabar com o reajuste das aposentadorias vinculado ao crescimento do salário mínimo ("Não só estamos fazendo o contrário como estamos na contramão do mundo") e uma revisão geral nas regras de concessão de pensão por morte.
A questão da pensão para viúvas e filhos é, entre as mudanças com necessidade de mudança na Constituição, uma das que conta com maior abertura para mudanças. Ainda assim, deve provocar intenso embate, já que pode atingir mulheres de famílias mais pobres.
Para Caetano, o Brasil apresenta regras lenientes para a concessão de pensão por morte. "A não exigência de um período contributivo mínimo, a possibilidade de receber pensão em qualquer idade, a ausência de necessidade de laço matrimonial ou a manutenção do benefício após novo casamento permitem que o número de beneficiários de pensão por morte seja mais expressivo do que noutras nações", afirmou em artigo.
Sistema "distributivo" é ruim
Outro ponto ao qual Caetano se opõe é a adoção da fórmula 85/95, sancionada no governo Dilma Rousseff, que criou uma opção de aposentadoria pela soma do tempo de contribuição e com a idade, o que permite evitar os descontos provocados pelo fator previdenciário. Assim como no caso da aposentadoria feminina, o secretário da Previdência afirma que a medida é eleitoreira.
Em comentário para reportagem da Folha, quando o assunto ainda estava em discussão no Congresso, em 2009, ele disse que "politicamente, o governo poderá dizer que atendeu ao apelo dos trabalhadores, criou uma opção menos rigorosa". Mas ele afirma que a regra não mudaria nada na prática. Mais que isso, no longo prazo, o déficit da previdência cresceria 0,2% do PIB a cada ano.
Na essência de sua visão está a percepção de que o sistema "distributivo", como ele mesmo coloca em seus estudos, é ruim. Em um estudo publicado em 2008 pelo Ipea, Marcelo Caetano e o colega Roberto de Rezende Rocha argumentaram que "o excesso de dispêndios" na Previdência, comparado a outros países, é, em parte, devido "ao componente distributivo da Previdência no Brasil" e também ao "número excessivo de beneficiários".
"Ao contrário da experiência de outros países latino-americanos, o Brasil optou por manter o regime previdenciário na forma de repartição simples, ou seja, não trocou a forma de financiamento para capitalização", escreveu.
Traduzindo, o Brasil não adotou um modelo em que os próprios trabalhadores decidem o quanto poupar para a aposentadoria, geralmente em regimes de previdência complementar. Pela lógica de repartição, atualmente em vigor no país, quem está na ativa contribui para pagar a aposentadoria de outros. No sistema de capitalização, a lógica é totalmente individualista: cada um é responsável por sua aposentadoria.
Transição mais curta
Nenhuma das mudanças planejadas por Caetano, e que podem ser encampadas politicamente tanto pelo ministro Henrique Meirelles quanto por Michel Temer e seu entourage, seria implementada do dia para a noite. Aí é que entram as também polêmicas "regras de transição". E nisso Caetano também tem opiniões que causam urticária em sindicatos. O economista defendeu recentemente uma transição de cinco anos.
Em fevereiro deste ano, em entrevista à Folha, Caetano disse que, "do ponto de vista técnico, seria interessante ter uma transição mais curta, em torno de 15 anos", e ressaltou que isso dependeria "de capacidade política para aprovação". Em maio, pouco antes de assumir o cargo, ele disse ao Valor Econômico que a transição ideal seria entre cinco e dez anos.
O governo deve enviar a reforma ao Congresso nas próximas semanas. A promessa inicial, após a chegada da nova equipe econômica, era enviar tudo em até 30 dias. Já estamos com 90. O aumento do tempo reflete o clima político sensível com o desfecho do processo de impeachment de Dilma Rousseff e as eleições municipais. Do outro lado, contudo, há a pressão de investidores por sinais mais concretos de reformas institucionais.
Além de Marcelo Caetano, também está debruçado sobre a questão o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, de olho mais no aspecto político da questão e como a proposta poderá estremecer a base de sustentação de Temer. Um dos fiadores da subida de Temer ao poder é o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, a principal central sindical apoiadora do governo. Pelo andar da carruagem, a relação entre Paulinho e Temer passará por dias difíceis.

Galeão bate recorde de passageiros e recebe jatos executivos milionários

22/08/2016 06h44 - Atualizado em 22/08/2016 06h44

Nesta segunda, aeroporto recebe maior número de passageiros da história.
Alguns aviões particulares custam o equivalente a R$ 190 milhões.

Káthia MelloDo G1 Rio

Jatos executivos parados no pátio do Galeão no período olímpico (Foto: Káthia Mello/G1)Jatos executivos parados no pátio do Galeão no período olímpico (Foto: Káthia Mello/G1)
A Olimpíada no Rio também bateu recordes no ar. Durante os cerca de 30 dias das chegadas e partidas olímpicas, o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, viu um movimento jamais registrado na sua história.

Aalém de receber aviões de diferentes companhias que nunca haviam pousado na cidade, a chegada de voos dos jatos executivos estiveram em destaque. Passaram pelo Rio aviões particulares milionários, como o Global Express, o Falcon e o Gulfstream, avaliados em cerca de U$ 60 milhões, aproximadamente R$ 190 milhões. Os passageiros tiveram atentimento personalizado na chegada, saída e deslocamentos.
Modelo Gulfstream do Azerbaijão parado no pátio do Galeão (Foto: Káthia Mello/G1)Modelo Gulfstream do Azerbaijão parado no pátio do Galeão (Foto: Káthia Mello/G1)
E nesta segunda-feira (22) será o dia de circulação do maior número de passageiros desde a  inauguração do terminal aéreo: 85 mil pessoas. É movimento de volta para casa de atletas, dirigentes e turistas.
O Galeão também recebe, pela primeira vez, o avião A-380 da Air France, o maior avião de passageiros do mundo.
Lançado em 2005, o A-380 pode transportar entre 520 e 800 passageiros. Ele pousa pela primeira vez na pista do Galeão trazendo passageiros de Paris. Como é tradição, será batizado na pista. O avião volta à noite para Paris levando integrantes do Comitê Olímpico Francês e atletas.
G1 teve acesso ao pátio onde ficaram estacionados os jatos executivos durante os Jogos Olímpicos. Na sexta-feira (19), havia 34 aviões parados. A maioria deles eram estrangeiros. Pelo menos dois, um do México e outro do Azerbaijão, estavam lá desde 3 de agosto.
Interior de um jato executivo que esteve no Rio durante a Olimpíada  (Foto: Divulgação/Líder Aviação)Interior de um jato executivo que esteve no Rio durante a Olimpíada (Foto: Divulgação/Líder Aviação)
Os aviões executivos chamam a atenção dos funcionários que trabalham nessa área do aeroporto. Eles descrevem detalhes, nomes e até valores dos aviões. Muitos, chegam a sonhar em viajar neles e sonham fazendo planos.
"Gostaria de voar para as Bahamas ou S.Marteen em um desses. Já chegava de sunga e mergulhando", disse um funcionário que não quis se identificar.
A reportagem do G1 não pode entrar nos jatos que estavam sem tripulação e nem fotografar os prefixos por causa da segurança.
Super máquinas
De acordo com a Riogaleão, concessionária do aeroporto e a Líder Aviação, operadora oficial da aviação executiva no Galeão, 85% dos voos executivos na Olimpíada eram internacionais.
"Podemos dizer que recebemos 'jatões', aeronaves que fazem voos intercontinentais e que podem, por exemplo, voar direto para Nova Iorque", disse Cynthia Oliveira, diretora de atendimento aeroportuário da Líder Aviação, operadora oficial da aviação executiva no Galeão. 
Nessas máquinas voadoras desembarcaram e embarcaram celebridades nacionais e estrangeiras, chefes de estado e atletas estrangeiros, como o tenista Novak Djokovic. O recorde aconteceu na abertura e no encerramento com um total de 60 de aviões executivos chegando ao Rio. 
O serviço personalizado oferecido também por operadoras nacionais socorreu alguns atletas, como contou Cynthia.
"Recebemos um pedido de um grupo que precisava competir no dia seguinte em outro país. Eles queriam fretar um avião. Tivemos menos de um dia para organizar a viagem e envia-los para a competição e foi um sucesso", contou.
A concessionária e a operadora preferiram não fazer comparações com o movimento olímpico com o que aconteceu na Copa do Mundo, em 2014.
Avião com bandeira mexicana também ficou pousado no pátio do Galeão (Foto: Káthia Mello/G1)Avião com bandeira mexicana também ficou pousado no pátio do Galeão (Foto: Káthia Mello/G1)
"Os perfis dos eventos são muito diferentes. Na Copa do Mundo foram 12 cidades sedes. Recebemos todo tipo de avião, mas eram pequenos. A Copa do Mundo mexe com mais pessoas em momentos muito mais  concentrados. São jogos mais especificos com duas torcidas", disse Carlos Rodriguez, gerente de operações da Riogaleão. 
   
Os custos para receber esse atendimento de primeira classe é um segredo que a operadora preferiu não revelar. "É um pacote por um conjunto de prestação de serviço que envolve limpeza, manutenção,transporte em áreas internas, algumas vezes hotel e até documentação", explicou Cynthia.
 
Recorde de voos

A concessionária que administra o aeroporto do Galeão, montou uma operação especial para receber os passageiros nesta segunda-feira e evitar qualquer contratempo ou atraso.
Serão 46 voos charters, 40 voos internacionais, mais que o dobro de um dia normal e 500 pousos e decolagens. Os voos charters bateram recorde. Na Copa do Mundo, por exemplo, o maior registro de voos desse tipo foi de menos de 10 aviões em um único dia. "Será um dia atípico", diz Carlos Rodriguez, gerente de operações da Riogaleão.
Avião Global Express durante um voo (Foto: Divulgação/Líder Aviação)Avião Global Express durante um voo (Foto: Divulgação/Líder Aviação)
Segundo Rodriguez, para atender o grande fluxo de passageiros o aeroporto se preparou desde 2014. Até sexta-feira (19) ele se orgulhava de não ter tido qualquer registro nas operações do Galeão. Ele disse que o trabalho foi feito para evitar os gargalos em várias áreas do aeroporto. E revelou alguns 'jeitinhos' para evitar filas em alguns setores, como no de  passaportes.  
"Tive casos em que uma aeronave estava antecipado e que a gente ligava para o comandante e dizia: 'comandante, levanta o pé do acelerador porque se o senhor muito cedo vai dar errado. Poupa combustível e vem devargazinho' ", revelou

Rodriguez contou que um dos maiores testes do aeroporto foi entre entre os dias 8 e 18 de agosto, com o Santos Dumont, no Centro, ficou fechado por um período para as provas de vela na Baía de Guanabara. "Nosso funcionamento foi noite e dia", disse
Painel de controle da concessionária Riogaleão  (Foto: Káthia Mello/G1)Painel de controle da concessionária Riogaleão (Foto: Káthia Mello/G1)
Chegar cedo para voar
Nesta segunda-feira, a recomendação para os passageiros é chegar ao Galeão com até seis horas antes para o fazer o check-in internacional e duas horas para o nacional. Rodriguez diz que a operação foi testada para atender à "família olímpica" e aos outros passageiros.
Voluntários da Rio 2016 também vão ajudar na organização e no fluxo das filas. Além disso, a concessionária contratou 135 pessoas adicionais. E o check-in poderá ser feito nos 174 balcões do aeroporto e também no check-in remoto, instalado na Vila dos Atletas.
Segundo o gerente de operações, depois desse teste final será hora de comemorar. "Se Deus quiser, na quarta-feira eu espero ganhar medalha de ouro pela operação no Galeão", diss
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