O responsável por pedir recursos ilegais a um empresário seria Alexandre Braga Cerqueira, secretário executivo da Terceira Secretaria da Casa, indicado por Bispo Renato (foto). Defensor público diz que recursos irregulares também seriam usados para pagar dívidas de campanha
No depoimento que o empresário Afonso Assad, presidente da Associação Brasiliense de Construtores, prestou ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) há cerca de um mês, ele afirma que um emissário da Câmara Legislativa o procurou para cobrar propina. Segundo Assad, essa pessoa falava em nome de deputados distritais. Testemunhas do caso ouvidas pelo Metrópoles revelaram a suposta identidade do homem que seria o responsável por pedir a propina destinada aos parlamentares. Trata-se de Alexandre Braga Cerqueira (foto), secretário executivo da Terceira Secretaria da Casa, indicado por Bispo Renato (PR).
Dívidas de campanha e almoço na churrascariaCerqueira, que recebe R$ 17 mil mensais na CLDF, é funcionário da Casa há 20 anos e tem ligações com o ex-distrital Aylton Gomes, réu na Operação Caixa de Pandora. Mas hoje, responde a Bispo Renato. O distrital evangélico é um dos citados nos grampos de Liliane Roriz (PTB) por envolvimento num suposto esquema de cobrança de propina em contratos da saúde do DF. Cerqueira seria justamente o responsável por “coletar” esses recursos.
Além da propina, a verba destinada pelos deputados distritais para a saúde seria desviada para o pagamento de dívidas de campanha. Quem garante é o defensor público André de Moura. Ele acompanhou seis dos oito depoimentos das testemunhas que relataram a promotores a denúncia gravada pela deputada Liliane Roriz (PTB) em escutas clandestinas. Moura afirma ainda que o esquema funcionaria exatamente nos moldes como pode se inferir dos áudios divulgados desde quarta-feira (17).
Em um desses áudios, o ex-secretário-geral da CLDF Valério Neves afirma que Renato Andrade e Júlio César (PRB), líder do governo na Casa, teriam tentado fazer uma negociação com Afonso Assad. De acordo com o que Neves diz em um dos áudios, o empresário poderia intermediar contratos com a Secretaria de Educação. Mas Assad não teria levado a cabo o “compromisso”. “O Afonso disse que não poderia garantir nada”, diz Valério Neves em um dos trechos.
Segundo Moura, a história contada por Valério Neves é confirmada no depoimento de Assad. Os dois parlamentares, integrantes da bancada evangélica na Câmara Legislativa, teriam procurado o empresário para um almoço. O encontro ocorreu em dezembro de 2015, em uma churrascaria, e, na ocasião, teriam convidado o empresário para entrar no esquema. “Queriam que o Afonso desse uma contribuição para eles pagarem dívidas de campanha”, garante o defensor.
Ainda conforme o relato de Assad ao MPDFT e ao Ministério Público de Contas do DF (MPC-DF), os distritais destinariam R$ 15 milhões para a Educação e outros R$ 15 milhões para a Saúde. “Eles não falaram como seria feita a divisão (no caso de propina), mas o Afonso disse que não pagaria, pois não trabalha com isso, prefere dormir de cabeça tranquila”, completa André de Moura.
A associação de Afonso representa pelo menos 30 empresas que fazem reparos em escolas e hospitais, como a troca de lâmpadas e outros detalhes. Com a negativa de Assad, os distritais teriam decidido destinar quase a totalidade das emendas à Saúde. Apenas R$ 1 milhão ficou para a Educação. “Como esse valor foi para as obras da associação, um emissário procurou o Afonso para cobrar (a propina), mas ele negou mais uma vez, alegando que trabalha de forma séria”, disse o representante da Defensoria Pública do DF. Esse interlocutor seria justamente Alexandre Braga Cerqueira.
O depoimento de Afonso Assad aos promotores ocorreu há cerca de um mês, assim como os das outras testemunhas, incluindo Liliane Roriz e servidores da Câmara Legislativa. “Todas trazem indícios fortes de que a história que Valério (Neves) narrou é verdade”, comenta André de Moura.
Depoimento de servidorSegundo o depoimento de um funcionário da Casa ao Ministério Público do DF, logo após o almoço na churrascaria, os parlamentares, com a ajuda de Cristiano Araújo (PSD), teriam pressionado os servidores da chamada “mesinha” para mudar a destinação da emenda. Com a recusa de Assad, a intenção era colocar os R$ 30 milhões para a saúde, onde já haveria um “esquema” garantido. “De 20 em 20 minutos, eles perguntavam se a emenda estava pronta”, teria dito o servidor ao MPDFT.
Outro ladoO deputado Júlio César (PRB) afirmou que só vai se pronunciar sobre o caso quando tiver acesso ao processo. No momento, ele disse desconhecer as informações. O deputado Bispo Renato Andrade (PR) refutou todas as denúncias, afirmou que Alexandre é servidor da Casa há 20 anos e que se alguém falou por ele, em qualquer negociação, mentiu. “Não tenho qualquer relação com essa emenda. A emenda era da deputada Liliane Roriz (PTB), nem poderia tratar sobre isso com ninguém. Almocei, sim, com o Afonso, assim como almoço com representantes do setor produtivo. Sou presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo, é meu trabalho”, afirmou.
Para o Bispo Renato, toda a história faz parte de uma armação para prejudicar a Mesa Diretora da Casa, e todas as afirmações serão refutadas no momento oportuno. “Apresentaremos aquilo que de fato é verdade. Todo mundo vai ficar de queixo caído quando, no momento certo, isso vier à tona. A armação do grupo deu errado”, disse.
A reportagem tentou falar com Alexandre Braga Cerqueira em três telefones celulares e um fixo, mas ele não atendeu nem retornou os contatos até a publicação desta reportagem. Por meio de um interlocutor, Afonso Assad disse que não quer comentar o caso.