segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Mãe de Belfort fala sobre filha desaparecida: "mais amargo que a morte"

A mãe falou sobre o drama da família e as esperanças de encontrar a filha, irmã de Vitor Belfort




BRASIL DRAMA HÁ 12 ANOSHÁ 1 HORA
POR NOTÍCIAS AO MINUTO


A jovem Priscila Belfort, irmã do lutador de MMA Vitor Belfort, desapareceu no dia 9 de janeiro de 2004.


A reportagem do R7 conversou com Maria Jovita Vieira, mãe de Priscila e Vitor. Ela contou que o caso está parado pois não há provas consistentes sobre o desaparecimento.
Jovita lembra que no dia em que Priscila desapareceu, ela havia deixado a filha no trabalho, no centro do Rio de Janeiro, depois a jovem saiu para almoçar e não voltou mais.
Doze anos se passaram e o caso ainda não foi solucionado. "A polícia me diz que existe 50% de chances dela estar viva e 50% dela estar morta. Então, você fica no zero a zero novamente. O desaparecimento de um familiar é mais amargo que a morte, é desumano. É um problema que existe e bate sem hora marcada na porta de qualquer família, seja ela pobre ou rica", lamenta a mãe de Vitor Belfort.
IML
A reportagem conta que o mais recente drama na vida da família Belfort está ligado à falta de nitrogênio usado para periciar ossadas que estão paradas desde 2013 no Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro. Segundo Jovita, a família aguarda recursos do governo do Estado do Rio para a compra do material.
"Ouvi dizer que faltam R$ 33 mil para a compra de 50 litros do produto. E você não pode fazer exame de DNA em ossos sem nitrogênio. A Polícia Civil diz que uma licitação já foi feita, mas aguarda recurso do governo para a compra do material. O governo diz que não tem o dinheiro. O estado gasta como gasta e tem a cara de pau de dizer que não tem essa quantia ridícula. Mesmo que não haja ossos da Priscila, vai ter de várias outras pessoas", diz a mãe.
Jovita também contou que a modelo Joana Prado, casada com Vitor, teria e oferecido para juntar o dinheiro e pagar o nitrogênio, mas a mãe de Priscila não aceitou, pois quer lutar pelos seus direitos.
DESAPARECIMENTO
A mãe também fala sobre a possibilidade de morte e explica que quer "fechar um ciclo". "Nós estamos preparados para a morte, mesmo que isso seja uma dor horrível. Eu vivo um final de túnel que nunca chega e se Priscila por acaso estiver morta, eu quero dar um enterro, quero fechar um ciclo".
Questionada pela reportagem do R7 sobre o que pode ter acontecido com a filha, Jovita responde: "Inventa aí uma história louca na sua cabeça. Em 12 anos, eu já tive muitos pensamentos. Já achei isso, já achei aquilo".
A mãe também cogita a possibilidade de Priscila ter sofrido algum mal súbito. "A Priscila pode ter sofrido algum mal súbito, ficou sem memória e está por aí perambulando, sei lá, mas pode ter acontecido. A gente está sempre escolhendo esse final: que a gente vai encontrar a Priscila com vida".
NAMORO DE PRISCILA
A mãe também revela que quando Priscila sumiu ela namorava um rapaz há três meses. A família dele nunca quis saber sobre o caso e nunca se disponibilizou a ajudar, contou Jovita.
Além disso, o rapaz chegou a ser investigado pela polícia. "Eu sempre quis que ele fosse mais investigado do que foi. E nunca foi. Inclusive, depois que foi ao ar o Linha Direta [programa investigativo da Globo], ele deu uma outra informação. Eu pedi até para ele ser chamado novamente e nunca o chamaram para depor. Isso é uma coisa que a polícia me deve", destaca.
Outro episódio foi a existência de uma denúncia relacionada ao rapaz. "Houve uma denúncia também exibida no Fantástico, de uma tal de Elaine, que a turma dela tinha pego a Priscila e tinha a matado por causa de uma dívida de tráfico com o namorado, e nada disso também foi investigado", afirma a mãe de Priscila.
ESPERANÇA
Jovita guarda até hoje as lembranças da filha e revela que por quase oito anos consecutivos, sonhava com Priscila. "Tinha sonhos que a gente sempre estava andando na praia. Tive um sonho em que ela dizia: ‘Mãe, continua investigando, foram essas pessoas que me pegaram'. Tem um ano e meio que eu não consigo sonhar. É reconfortante, porque nos sonhos eu sinto o cheiro dela, sinto a textura de seu cabelo. Existem dias, acordada, que a presença dela é tão forte que eu fico arrasada de não tê-la aqui por perto", lamenta.
A mãe guerreira diz que não perdeu as esperanças e sonha em encontrar a filha. "Eu espero que os porteiros aqui da casa da minha mãe toquem o interfone e digam que estão subindo com uma encomenda especial. É ver Priscila chegar aqui nessa porta. Limpa, suja, do jeito que for. É isso que eu espero. Daria tudo para escutar ela me chamando de novo".

domingo, 31 de julho de 2016

PARENTE VENDEU POR R$ 8,5 BI UM CAMPO DO PRÉ-SAL QUE VALE R$ 22 BI

Executivos da Odebrecht devem concluir depoimentos em 15 dias

Cerca de 30 funcionários devem ser ouvidos pelo Ministério Público




POLÍTICA LAVA JATOHÁ 51 MINS
POR NOTÍCIAS AO MINUTO

Em cerca de duas semanas, a Odebrecht deve passar à etapa de negociar os benefícios de cerca de 30 executivos que aceitaram fazer delação premiada. Os funcionários da empresa serão ouvidos pelo Ministério Público Federal.


Segundo informações da coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo deste domingo (31), as investigações sobre supostos esquemas de corrupção da empresa seguem também noDepartamento de Justiça dos EUA.
Uma força-tarefa do MPF investiga envolvimento da empresa em sistema que teria usado empresas offshore em nome de terceiros e contas secretas no exterior, além de repasses de propinas à Petrobras.

Letícia Sabatella precisa ser escoltada após sofrer agressão em protesto

Nas imagens, alguns manifestantes aparecem perseguindo a atriz, que teve que ser escoltada pela Polícia Militar

Letícia Sabatella é hostilizada por manifestantes e precisa ser escoltada


A atriz Letícia Sabatella, que é favorável ao governo petista, publicou um vídeo no Instagram em que aparece sendo agredida verbalmente durante uma manifestação pró-impeachment, que aconteceu na cidade de Curitiba, no Paraná, neste domingo (31).


Nas imagens, alguns manifestantes aparecem perseguindo a atriz, que teve que ser escoltada pela Polícia Militar.
"Não fui provocar ninguém, passava pela praça antes de começar a manifestação e parei pra conversar com uma senhora. Meu erro. Preocupa esta falta de democracia no nosso Brasil. Eles não sabem o que fazem", escreveu.
Após o ocorrido, a atriz publicou uma foto do protesto e voltou a criticar os manifestantes.
"Meu teatro Guaíra. Com cartazes que pedem intervenção militar. Queria entender o que aquela senhora me falava , o ponto de vista sobre isso. Mas eles não falam por argumentos. Eles deixam o ódio gritar mais alto", postou.

Moradores do Jardim Botânico terão de pagar de novo por lotes


Rafaela Felicciano/Metrópoles

Tribunal de Justiça do DF decide que área da Etapa 2 pertence à Terracap, que vai vender os terrenos por meio de venda direta aos atuais ocupantes



A Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) conseguiu uma vitória importante: a Justiça decidiu que as terras onde foram erguidos quatro conjuntos habitacionais do Jardim Botânico, com 1.225 lotes, são de propriedade da empresa. Com a decisão, o Governo do DF recebeu sinal verde para fazer a venda direta dos terrenos. Isso quer dizer que quem comprou uma área na região terá que pagar novamente para permanecer no local. Não cabe mais recurso.

Segundo reportagem do jornal Correio Braziliense, a decisão do Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do DF e Território (TJDFT) atinge os moradores de cinco condomínios: Estância Jardim Botânico, Jardim Botânico 1, Jardim Botânico VI, Mirante das Paineiras e Jardim das Paineiras. A disputa na Justiça começou em 2008, quando a Terracap tentou registrar a área e não conseguiu em função de ações de impugnação movidas por moradores da região.
Os condomínios fazem parte da Etapa 2 do Jardim Botânico. Agora, a Terracap aguarda apenas a publicação do acordão da decisão para fazer o registro da área e a venda direta dos terrenos. Os lotes cujos proprietários não quiserem pagar vão a licitação. Segundo a reportagem, para fazer a avaliação dos terrenos, as construções realizadas não serão levadas em consideração, apenas a chamada “terra nua”. Porém, benfeitorias de infraestrutura como água, energia, asfalto e calçamento serão consideradas.
Com a venda direta aos atuais ocupantes, a estatal do GDF espera reforçar o caixa com cerca de R$ 250 milhões. O Setor Habitacional Jardim Botânico é composto por três etapas, além da que foi alvo da decisão judicial. A 1, com 440 lotes residenciais, foi regularizada por meio de venda direta em 2007. Outras duas estão em fase de implementação.
Na próxima semana, a Terracap vai convocar os síndicos e as associações de moradores da região para uma reunião. Na ocasião, deverá apresentar os critérios e o cronograma para a venda direta.

VENEZUELA Maduro manda empresas cederem funcionários para trabalhos no campo

Governo venezuelano determina que as empresas públicas e privadas ponham funcionários à disposição do Estado por 60 dias



Nicolás Maduro, em uma imagem de arquivo. JUAN BARRETO (AFP) / VÍDEO: REUTERS-QUALITY
Governo venezuelano determinou a todas as empresas, públicas e privadas, que coloquem seus funcionários à disposição do Estado para o trabalho de desenvolvimento agroalimentar do país durante 60 dias, prazo que pode ser prolongado por mais outros 60 dias, segundo decreto publicado nesta semana. A única condição é de que os funcionários designados tenham as “condições físicas e técnicas” para exercer as funções necessárias. O Governo irá bancar o pagamento do salário-base e a “estabilidade” do trabalhador que for escolhido para “prestar” serviços, com o objetivo de “reforçar a produção” nas áreas rurais. As empresas, por sua vez, continuarão a bancar os encargos sociais dos funcionários cedidos.




A base para a aplicação desse novo regime de trabalho está no decreto de Estado de Exceção e de Emergência Econômica imposto pelo Governo de Nicolás Maduro este ano para enfrentar a carestia na Venezuela e que permite a adoção de medidas extraordinárias.
A Venezuela, país que possui a maior reserva petrolífera do mundo, não conseguiu suportar a queda dos preços do petróleo. O abalo econômico não encontrou apoio sólido em um país dependente das importações, regido por um controle estrito do câmbio e restritivo em relação às empresas. O custo dessa situação se traduziu em umadramática escassez de produtos básicos.
Para os opositores do Governo, a mitigação dessa crise passa pela colaboração internacional. Em abril, o Parlamento –único poder controlado pela oposição—decretou uma “emergência alimentar” no país. A Anistia Internacional, por sua vez, recomendou às autoridades venezuelanas que peçam ajuda humanitária aos demais países. Maduro, para quem os problemas financeiros da Venezuela decorrem de uma “guerra econômica” travada pela oposição, empresários e governos estrangeiros contra o chavismo, se opõe a qualquer intervenção externa.
Enquanto isso, o presidente do país lançou mão, como recurso extremo, do decreto de estado de exceção, criando a chamada “grande missão abastecimento soberano e seguro” que transfere para as Forças Armadas o controle da distribuição e produção de alimentos, e, agora, toma a decisão de obrigar os funcionários dos setores público e privado a, eventualmente, mudar de trabalho.
O empréstimo obrigatório de mão de obra para as empresas agrícolas, porém, pode se mostrar inútil. O Estado da Venezuela tem uma dívida que ultrapassa os 400 milhões de dólares com os fornecedores de insumos agrícolas, segundo estimativa da Confederação de Associações de Produtores Agropecuários (Fedeagro).
Ao mesmo tempo, enfrenta processos em tribunais internacionais. No começo deste mês de julho, os antigos proprietários da Agroisleña recorreram ao Centro Internacional de Acerto de Divergências Relacionadas a Investimentos (em Washington) para entrar com uma ação contra o Estado venezuelano por este não ter indenizado a companhia espanhola quando esta foi expropriada em 2010.
A empresa, que fornecia insumos agrícolas para a maioria dos produtores, foi expropriada pelo então presidente Hugo Chávez por, supostamente, especular com os preços da venda de sementes para plantações. “Agora você vai ver o que será essa nova instituição nas mãos do povo. Vamos baixar os preços dos fertilizantes, os preços das sementes, trabalhar com o povo, com aqueles que realmente precisam, sem exploração”, afirmou Chávez na época. A Agroisleña se chama, hoje, Agropatria e é administrada pelo Governo.
A polêmica medida provocou um pronunciamento imediato da Anistia Internacional, que, em nota, qualifica a sua adoção como trabalho forçado. “Tentar enfrentar a forte falta de alimentos na Venezuela obrigando as pessoas a trabalharem no campo é como usar band-aid para tentar curar uma perna fraturada”, diz Erika Guevara-Rosas, diretora da organização para as Américas.

Feijão mais caro

Em um supermercado na região oeste de Caracas, mais de uma centena de venezuelanos aguardam desde a madrugada da quinta-feira a iminente chegada de alimentos a preços tabelados pelo Governo. Há na loja uma gôndola lotada com pacotes de feijão vermelho, mas que não são comprados, pois o quilo custa mais do que 3.000 bolívares, o equivalente a 20% do salário mínimo do país.
A inflação, a mais alta do mundo, já consumiu ferozmente o aumento de 30% dado ao mínimo em maio por Maduro. Naquele mesmo mês, a escassez de alimentos atingia 82%, segundo levantamento da empresa Datanálisis. “As pessoas fazem fila para comprar o que conseguirem encontrar”, diz Judith Soto, que costuma frequentar um supermercado em San Bernardino, em Caracas.
Enquanto muitos transformaram a busca por produtos com preços tabelados em uma prática cotidiana, outros, com poder econômico mais alto, recorrem aosbachaqueros (atravessadores) para comprar alimentos escassos a preços exorbitantes.




Loja do MST em São Paulo expõe solução agrária, ecológica e alimentar

Inauguração do Armazém no Campo reuniu visões de resistência, igualdade e busca por qualidade de vida. Evento contou com a presença de Haddad, Suplicy, Trajano, entre outros 400 visitantes
por Gabriel Valery, da RBA publicado 31/07/2016 07:08, última modificação 31/07/2016 11:51
LUCAS DUARTE DE SOUZA/RBA
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Moradores da região, Celso e Sônia aprovam Armazém, idealizado a partir do sucesso da 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária
São Paulo – Bananas, alface, couve, agrião, saúde e boas políticas. São Paulo ganhou neste sábado (30) a loja Armazém do Campo. A iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) traz produtos orgânicos, livres de agrotóxicos, vindos da reforma agrária e da pequena agricultura. É uma forma de combater o "momento do câncer", definiu o produtor rural José Wilk, o Lico.
O evento de inauguração reuniu cerca de 400 pessoas na loja, sediada no bairro de Campos Elísios, região central da capital paulista. Lico fez questão de conhecer os novos consumidores. Entre eles estavam o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), Ana Estela Haddad, o ex-senador Eduardo Suplicy, os coordenadores do MST, João Pedro Stédile e Gilmar Mauro, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, os jornalistas José Trajano e Paulo Henrique Amorim, entre outros.
"Temos uma epidemia de doenças na sociedade, que nunca culpa o alimento. Quando você pesquisa a fundo, existem provas de que os venenos dos alimentos aceleram o câncer que viria um dia, ou cria em quem não deveria ter", afirmou Lico. Boulos concorda com a sentença do agricultor e vê no Armazém um local simbólico de avanços sociais: "A agroecologia faz um contraponto fundamental ao que representa o agronegócio, que envenena os alimentos das famílias brasileiras, e ao conservadorismo crescente".
A boa presença do público repete o sucesso das feiras de orgânicos. A própria experiência do Armazém surge de um desses eventos, a 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária, no Parque da Água Branca, realizada no ano passado. "As pessoas compraram bastante lá, e muitas passaram a perguntar e pedir para o pessoal do MST por mais feiras do tipo, o que nos motivou", explicou o coordenador responsável pela loja, Rodrigo Telles, filho de assentados no Paraná.
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Gilmar: agricultura já foi vista como lugar de quem não estudou e ainda rende expressões pejorativas. Está mudando
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O coordenador Rodrigo e o agricultor Lico: preço justo para produtor e consumidor
Gilmar Mauro observa um movimento de mudança na visão da sociedade sobre agricultura e trabalhadores rurais. "É uma alteração de paradigma, muito em razão dos problemas que a sociedade urbana vive, como a dificuldade de ter uma alimentação saudável. A agricultura já foi vista como lugar de quem não estudou. Inclusive, expressões pejorativas são utilizadas até hoje, como 'mandar para a roça', 'plantar mandioca', 'resolver pepino', 'pisar do tomate'. Essa questão histórica está mudando e nós, trabalhando para construir qualidade de vida", disse.
Mauro acredita que o Armazém é parte da construção de uma nova cultura no país. "Queremos políticas públicas para a reforma agrária, mas também, queremos políticas que apontem para uma perspectiva de pesquisa e construção de insumos agroecológicos. Queremos debater com a sociedade o tipo de comida que a humanidade quer, que tipo de uso queremos da terra, do solo, da água e dos recursos naturais. Para fazer o que o capital faz hoje com o meio ambiente, não precisa de reforma agrária. Esse modelo causa impactos gravíssimos para toda a humanidade", afirmou.

Boas políticas

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Eduardo Suplicy ao lado de Fernando Haddad. 'Resgatamos o conceito de área rural em São Paulo', destacou o prefeito
Lico passou por um longo caminho até chegar ao Armazém. "Antes de chegar à produção, eu morava em uma favela em Jundiaí (na Grande São Paulo). Morava com minha família em uma casa muito pequena, éramos 12. Um dia um rapaz chamado Luiz, do MST chegou até nós falando sobre as possibilidades de mudar de vida através da reforma agrária. Fomos para um acampamento para lutar por terras improdutivas e torná-las produtivas. Estudei por quatro anos, adquiri conhecimento e respeito pela terra e consciência política para viver no campo. Comecei a produzir com a ideia: por que comer alimentos envenenados se podemos criar com qualidade?"
O jornalista Trajano elogia o movimento. "É muito interessante o que está acontecendo. O MST faz um trabalho magnífico, de emocionar. Cada conquista como essa é um passo adiante na resistência. É fundamental que as pessoas tenham acesso aos produtos da agroecologia feitos em assentamentos", afirmou.
Para o prefeito Haddad, são escolhas políticas que promovem as mudanças. "Temos um trabalho já feito e um pela frente. Pessoalmente, lembro a primeira vez que tive contato com algo neste sentido, com um projeto que obriga a implantação de alimentos oriundos da agricultura familiar na merenda escolar", disse em relação à Lei 11.947/09, que determina que no mínimo 30% dos alimentos das merendas escolares de todo país seja fruto da agricultura familiar. O projeto faz parte do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), desenvolvido durante o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Haddad apontou também para duas iniciativa de sua gestão que considera importantes. "Resgatamos o conceito de área rural em São Paulo através do Plano Diretor Estratégico (PDE), criando e estimulando a agroecologia familiar e o ecoturismo nos extremos da cidade. Também sancionamos uma lei que obriga a substituir todos os produtos da merenda escolar por produtos orgânicos. Começamos a fazer isso de forma gradual. Se você comparar e ver que por aí estão distribuindo merenda seca para as crianças, nós estamos na direção oposta e correta", afirmou, em alusão à distribuição de bolachas e sucos para estudantes secundaristas, inclusive para aqueles do ensino integral, pela gestão estadual do governador Geraldo Alckmin (PSDB) .

Vitrine da resistência

O evento ganhou tempero político. Palavras como "resistência" e "contraponto" foram ouvidas muitas vezes. O casal de moradores do bairro vizinho de Santa Cecília, Celso e Sônia Favarito, entrou no clima. "Acompanhamos o belo trabalho do MST e sempre buscamos produtos orgânicos de qualidade. Precisamos desse tipo de iniciativas, especialmente na maré do conservadorismo e reacionarismo que vivemos. É a reação popular ao capitalismo predatório", disse Celso.
Stédile, ao microfone, tratou de acentuar. "O novo paradigma da reforma agrária é a solidariedade. Ela não é só camponesa, é popular e de resistência. Também de resistência nestes tempos sombrios de governo golpista", afirmou, criticando a conduta do presidente interino, Michel Temer (PMDB), que promove o desmonte de políticas públicas na chefia chefia do Executivo enquanto tramita no Senado o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Sua fala despertou o coro de "Fora, Temer".
Paulo Henrique Amorim, reiterou: "As forças políticas que elegeram Dilma sofreram uma derrota muito grave com o golpe em curso. Espero efetivamente que essas forças se reorganizem para reverter esse panorama, e a liderança do Stédile é um dos pontos centrais exuberantes da resistência".

Agroecologia x agronegócio

Para Rodrigo Telles, apesar do momento político complicado, o levante da agroecologia é efetivo e duradouro. Segundo ele, o Armazém receberá alimentos oriundos de assentamentos e da agricultura familiar de todo o país. "Vamos trabalhar de três formas diferentes. Temos a loja de produtos orgânicos, um espaço de distribuição e venda para o atacado e o café, com salgados e doces feitos com ingredientes encontrados na loja”, disse o coordenador do espaço. E os preços, como ele garante, são pensados com uma margem mínima, para manter o negócio sem exorbitar no lucro nem promover competição predatória.
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Loja serve bebidas, doces e salgados feitos com produtos agroecológicos
"Sempre estamos em contato com todos diretamente. Vemos o que o produtor acha correto, o que achamos certo e assim começamos a pensar no valor. Em um segundo momento, pensamos no consumidor. Queremos que todos tenham acesso", explica Lico, assegurando que mesmo pessoas de renda baixa possam comprar, sem prejuízo ao agricultor.
A reportagem comparou preços praticados em grandes supermercados com os oferecidos pelo Armazém do Campo. O alface, por exemplo, sai nas grandes redes por R$ 6,20, em média. Na loja do MST, por R$ 4. O abacaxi orgânico, quando encontrado em supermercado, custa por volta de R$ 14; no Armazém, foi comprado por R$ 6. A dúzia da banana de R$ 7 no mercado saiu por R$ 6 na nova loja.
Lico explica que a questão do preço pode variar de acordo com a época do plantio. "Tentamos trabalhar muito com rotação de culturas, porque alguns produtos não dão o ano todo. Sempre procuramos obedecer as leis da terra. E às vezes alguns produtos não vingam em determinadas épocas. Mas sempre estamos estudando técnicas, como a adubação verde, para conseguir o máximo de produtos a maior parte do ano."
:: O Armazém do Campo fica na Alameda Eduardo Prado, 499, Campos Elísios 
:: Inicialmente, deve funcionar de segunda a sexta das 8h às 19h (aos sábados, das 9h às 18h)
:: De acordo com Telles, existe a intenção de estender o atendimento também para os domingos em breve