domingo, 24 de julho de 2016

TCU condena 6 ex-gestores do Cespe e da UnB por desvio de recursos

24/07/2016 12h29 - Atualizado em 24/07/2016 21h52

Análise apontou repasses irregulares e ressarcimento de despesas pessoais.

Eles foram multados e terão que ressarcir União; cabe recurso da decisão.

Mateus RodriguesDo G1 DF

Entrada do Instituto Central de Ciências, na Universidade de Brasília (UnB) (Foto:  Luis Gustavo Prado/Divulgação)Entrada do Instituto Central de Ciências, na Universidade de Brasília (UnB)
(Foto: Luis Gustavo Prado/Divulgação)
O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou seis ex-gestores do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), ligado à Universidade de Brasília (UnB), por desvio de recursos praticado entre 2001 e 2005. Segundo o tribunal, os administradores receberam pagamentos por serviços não comprovados e pediram ressarcimento para pagar despesas privadas. Cabe recurso.
Entre as despesas pessoais custeadas com dinheiro público, segundo o TCU, estão mensalidades de cursinho, multas de trânsito, contas telefônicas privadas e até a compra de persianas para instalação em endereço particular.

No acórdão do julgamento, o TCU aponta que pelo menos quatro dos seis gestores já foram exonerados e destituídos dos cargos em 2010, após processo disciplinar instaurado pelo Ministério da Educação. O relatório é do ministro Vital do Rêgo e foi aprovado em plenário no dia 13 de julho.
Em nota, a administração superior da UnB afirmou que "não compactua com qualquer tipo de irregularidade" e que realizou esforços nos últimos anos para regularizar a gestão do Cespe. Em 2014, o centro de seleção foi transformado em organização social e celebrou um contrato de gestão com a UnB.
Parte das justificativas apresentadas pelos réus foi aceita, e três deles foram inocentados. Os seis gestores considerados culpados foram condenados a ressarcir a União e pagar multas entre R$ 3 mil e R$ 40 mil.
Fachada do Cespe, no campus da Asa Norte da Universidade de Brasília (Foto: Google/Reprodução)Fachada do Cespe, no campus da Asa Norte da Universidade de Brasília (Foto: Google/Reprodução)
Pagamentos irregulares
As condenações mais "pesadas" foram aplicadas a Romilda Guimarães Macarini, diretora-geral do Cespe entre janeiro de 1994 e novembro de 2005. Segundo o TCU, ela foi a responsável por autorizar pagamentos irregulares entre 2001 e 2005 ao então presidente da Fundação Universitária de Brasília (Fubra), Edeijavá Rodrigues Lira, e a uma das diretoras do órgão, Maria Heldaiva Bezerra.
No processo, a defesa do trio afirmou que os pagamentos foram regulares e que os serviços foram prestados devidamente. Segundo os advogados, os diretores receberam remuneração adicional porque trabalharam fora do horário previsto em contrato. Os comprovantes não foram apresentados e, por isso, o TCU rejeitou o argumento.
De acordo com o corpo técnico do tribunal, "nota-se a ocorrência de pagamentos iguais em diversos períodos, em sequência e uma vez por mês", de modo equivalente a um salário adicional – proibido por lei e pelos regimentos dos próprios órgãos. As contas dos três gestores no período foram julgadas irregulares.
Romilda também foi acusada e condenada por emitir pagamentos irregulares para si mesma, por "serviços extraordinários" que, na verdade, faziam parte das atribuições regulares da direção do Cespe.
Junto com a ex-supervisora do Núcleo de Pessoal do Cespe Maria Osita Gomes Bezerra, Romilda também foi condenada por procedimentos administrativos que desrespeitaram "a
legalidade e formalidade do processo administrativo" – preenchidos pela metade e sem informações importantes, de acordo com o TCU. Em defesa, ambas alegaram que os processos eram insignificantes e tinham falhas "aceitáveis" frente ao volume de processos do Cespe.
Condenações
Por estar envolvida na maior parte das acusações, Romilda foi a única condenada a perda de direitos. Pela decisão do TCU, ela fica inabilitada "pelo prazo de oito anos para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da administração pública federal".
A ex-diretora geral do Cespe também terá que ressarcir os cofres públicos em R$ 148.301,90, relativos aos pagamentos irregulares a Edeijavá Lira, e em R$ 83.719,62, referentes aos valores pagos a Maria Heldaiva sem comprovação dos serviços. Os valores recebem juros e correção monetária, mas a responsabilidade pelo ressarcimento será dividida com quem recebeu o dinheiro.
Além de Romilda, os ex-diretores do Cespe Crea Antônia de Almeida Faria, Raimundo Cosmo de Lima Filho e a ex-supervisora Maria Osita Gomes foram considerados culpados por irregularidades como "contratações indevidas de parentes, contratações diretas com inobservância da Lei 8.666/1993, omissão no exercício das atribuições inerentes ao seu cargo, manutenção de espaço físico para o funcionamento de escritório de representação do Cespe sem amparo legal, dentre outras".
As multas aplicadas pelo TCU variam de acordo com a participação e responsabilidade de cada gestor nos atos considerados ilícitos. Romilda terá de pagar R$ 55 mil; Crea e Edeijevá, R$ 10 mil cada; Maria Heldaiva e Raimundo Cosmo, R$ 5 mil, e Maria Osita, R$ 3 mil.

PRB, PSDB, PSOL e PT oficializam candidatos à Prefeitura de São Paulo

24/07/2016 14h45 - Atualizado em 24/07/2016 16h02

Russomanno, Doria, Erundina e Haddad tiveram nomes homologados.

Primeiro turno será realizado no dia 2 de outubro.

Gabriela Gonçalves, Márcio Pinho e Vanessa FajardoDo G1 São Paulo

Celso Russomanno (PRB), João Doria (PSDB), Luiza Erundina (PSOL) e Fernando Haddad (PT) tiveram suas candidaturas oficializadas neste domingo (Foto: G1/Nelson Antoine/FramePhoto/Estadão Conteúdo)Celso Russomanno (PRB), João Doria (PSDB), Luiza Erundina (PSOL) e Fernando Haddad (PT) tiveram suas candidaturas oficializadas neste domingo (Foto: G1/Nelson Antoine/FramePhoto/Estadão Conteúdo)
PRB, PSDB, PSOL e PT oficializaram neste domingo (24) os nomes dos seus candidatos nas eleições para a Prefeitura de São Paulo. O PT terá o prefeito Fernando Haddad concorrendo à reeleição. O PRB terá o deputado federal Celso Russomanno. O PSDB lançou o empresário João Doria. E o PSOL terá a deputada federal e ex-prefeita Luiza Erundina.
O primeiro turno das eleições municipais de 2016, que elegerão em todo o país prefeitos e  vereadores, será realizado em 2 de outubro, primeiro domingo do mês. O segundo turno, somente em cidades com mais de 200 mil eleitores, está marcado para 30 de outubro, último domingo do mês.
O prazo para os partidos registrarem suas candidaturas termina no dia 15 de agosto. A propaganda eleitoral em rádio e televisão será de 26 de agosto a 29 de setembro.
PT oficializa Haddad
Fernando Haddad e Gabriel Chalita participam da convenção do PT com a presença do ex-presidente Lula (Foto: Gabriela Gonçalves/G1)Fernando Haddad e Gabriel Chalita participam da convenção do PT com a presença do ex-presidente Lula (Foto: Gabriela Gonçalves/G1)
O Partido dos Trabalhadores (PT) oficializou neste domingo (24) a candidatura de Fernando Haddad à reeleição para prefeito de São Paulo e anunciou o nome do ex-secretário municipal de educação Gabriel Chalita (PDT) como candidato a vice.
O anúncio foi feito durante a convenção do diretório municipal do partido na Quadra do Sindicato dos Bancários, no Centro de São Paulo.
"É uma disputa dura, é uma disputa difícil. Nas eleições municipais só se olha para São Paulo", disse Haddad em discurso. "São Paulo é um país."
Sobre a escolha do vice, Haddad falou: "Chalita é uma figura conhecidíssima, campeão de votos para deputado federal, muito bem votado para prefeito em 2012. Já tinha me dado apoio no segundo turno e agora acompanha a chapa para demonstrar que a gente quer unidade da cidade em benefício de quem mais precisa".
O ex-presidente Lula participou do evento para apoiar a reeleição de Haddad. "É possivelmente a eleição mais difícil em São Paulo", disse Lula. "Nós sempre tivemos problemas com a elite de São Paulo. É nesse clima que temos que provar que nossa força de vontade, garra e causa podem fazer a diferença."
A presidente afastada Dilma Rousseff enviou uma carta em apoio ao Haddad. Ela diz que "a vitória de Haddad é a vitória da democracia".
Compareceram também a atual vice-prefeita, Nádia Campeão, Ciro Gomes, o presidente do PT, Rui Falcão, e os presidentes dos partidos PCdoB, PR, PDT e Pros.
PRB oficializa Russomano
Celso Russomanno discursa durante lançamento de sua candidatura à Prefeitura de São Paulo (Foto: Vanessa Fajardo/G1)Celso Russomanno discursa durante lançamento de sua candidatura à Prefeitura de São Paulo (Foto: Vanessa Fajardo/G1)

O Partido Republicano Brasileiro (PRB) oficializou a candidatura do deputado federal Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo. O candidato a vice na chapa ainda não foi anunciado. O PRB fez coligação com os partidos PSC, PTN e PEN.
"Pretendemos administrar São Paulo com serviços públicos de qualidade. E de que eu vou para rua e faço, ninguém aqui tem dúvida", disse Russomanno.
"Quero estar cercado de bons políticos e ótimos técnicos. Mas o papel do prefeito é ser o zelador da cidade, não o síndico. Porque é o zelador que vai na ponta e vê o cano estragado."
Russomano disse que não teme ter a candidatura impugnada por causa de um processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) de peculato (desvio de dinheiro público). "Eu não tenho nenhuma insegurança jurídica. Assim como o meu, existem outros 116 casos análogos ao meu e todos foram aprovados. O ato 72 permite que o assessor parlamentar tenha mais de uma atividade."
Na convenção, realizada em um salão de eventos na Penha, Zona Leste de São Paulo, também foi feita a homologação de 83 pré-candidatos a vereadores da coligação.
Participaram o ministro da Indústria, Marcos Pereira, e o senador e presidente nacional do PRB, Eduardo Lopes, entre outros políticos.
PSDB lança Doria
João Doria é anunciado candidato do PSDB às eleições para a Prefeitura de São Paulo (Foto: Marcio Pinho/G1)João Doria é anunciado candidato do PSDB às eleições para a Prefeitura de São Paulo (Foto: Marcio Pinho/G1)
A convenção municipal do PSDB em São Paulo confirmou neste domingo (23) o nome do empresário João Doria para a disputa ao cargo de prefeito da capital em outubro. Seu vice será o deputado federal Bruno Covas (PSDB).
A coligação de Doria é fornada por oito partidos. Além de PSDB, PSB e DEM, também fazem parte da coligação PTC, PMB, PHS, PV, PPS, PP, PRP e PTdoB.
Doria foi apontado como o nome do partido para as eleições deste ano após vencer as prévias do partido. Ele foi o primeiro colocado no primeiro turno. No segundo turno, o candidato Andrea Matarazzo se retirou da disputa e deixou o partido para se filiar ao PSD.
O evento teve a presença do governador Geraldo Alckmin, principal patrocinador político de Doria, do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, do ministro das Cidades, Bruno Araújo, do senador Aloysio Nunes, Antonio Imbassahy (BA), líder do PSDB na Câmara dos Deputados, e do governador Marconi Perillo (GO).
Vários caciques do PSDB paulista, porém, estiveram ausentes, caso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro das Relações Exteriores, José Serra. Também não compareceram o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman e o senador José Aníbal, que foram abertamente contrários à candidatura de Doria e denunciaram um suposto abuso de poder econômico nas prévias partidárias ao Ministério Público Eleitoral.
Doria minimizou as ausências e afirmou que Serra está em viagem internacional e que FHC não costuma comparecer a convenções, mas apoiará a candidatura.
"Vamos unir cada vez mais. Quem une 11 partidos ao seu lado tem a capacidade de agregar valores em seu próprio partido", disse.
Outro nome da cúpula do partido, o senador Aécio Neves também esteve ausente. Ele mandou um vídeo pedindo unidade ao partido.
PSOL oficializa Erundina
Luiza Erundina é oficializada ao lado de Ivan Valente como candidata do PSOL às eleições para prefeito de São Paulo (Foto: Reprodução/Facebook/Luiza Erundina)Luiza Erundina é oficializada ao lado de Ivan Valente como candidata do PSOL às eleições para prefeito de São Paulo (Foto: Reprodução/Facebook/Luiza Erundina)
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) oficializou neste domingo (24) a candidatura da deputada federal Luiza Erundina nas eleições para prefeito de São Paulo. Ela vai compor a chapa com o deputado federal Ivan Valente como candidato a vice.
"Queremos fazer de São Paulo uma cidade das pessoas, invertendo prioridades e dando poder de decisão ao povo. Contra o vale da tudo da politica tradicional, acreditamos que sim, os sonhos podem governar", disse Erundina.
"Temos que fazer uma campanha pedagogica, para ensinar a política e resistir ao golpe e aos retrocessos. Eu não ficarei no gabinete, vou andar por toda a cidade. Vou ser a prefeita que conversa com as pessoas; irei até os problemas."
A convenção municipal do PSOL foi na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Água e Esgoto e meio ambiente do Estado de São Paulo, na Zona Norte.
"A possibilidade de estarmos no segundo turno, com o conhecimento que a população de São Paulo tem de Erundina, é muito grande", afirmou Ivan Valente. Luiza Erundina foi prefeita do município de São Paulo entre 1989 e 1993, eleita na época pelo PT.

Os brasileiros que foram separados à força de pais com lepra e lutam por reparação

24/07/2016 17h54 - Atualizado em 24/07/2016 18h03

Filhos de ex-pacientes de hanseníase lembram como política de Estado sobre a doença levou a danos irreparáveis em suas vidas.

Lais ModelliDa BBC Brasil

Bebês retirados pelo estado de pais, que eram pacientes de hanseníase, e eram enviados a educandários  (Foto: Acervo Jaime Prado)Bebês retirados pelo estado de pais, que eram pacientes de hanseníase, e eram enviados a educandários (Foto: Acervo Jaime Prado)
Helena Bueno Gomes nasceu em 1961 em uma cadeia da região de Pirapitingui, em Itu, no interior de São Paulo. No dia seguinte, foi separada de sua mãe, que nunca conheceu.
Quatro décadas depois, descobriu que seus pais eram pacientes de hanseníase e internos da colônia do Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes, um dos maiores leprosários brasileiros do século 20.
Também conhecidos como asilos e sanatórios, os leprosários eram grandes espaços onde ficavam as pessoas com a doença. O objetivo era isolar totalmente os pacientes da sociedade. O preconceito contra a lepra é histórico - até a década de 1940, o tratamento era desconhecido.
"Muitos anos depois, percebi que nasci em uma cadeia dentro do Hospital, para onde eram mandados os pacientes que não obedeciam às ordens das autoridades na colônia", explica Helena.
A regulamentação dos leprosários aconteceu na década de 1920, com a criação da Inspetoria de Profilaxia e Combate à Lepra e Doenças Venéreas. Estes espaços passaram a ser organizados como uma cidade, com escolas, praças, dormitórios, refeitórios e até delegacias, prisões e cemitérios. Chegaram a existir cerca de 40 leprosários em todo o Brasil.
Em 1949, o isolamento forçado dos hansenianos em leprosários virou lei federal, que vigorou até 1986.
A legislação permitia separar os filhos dos pacientes que engravidassem dentro das colônias. Ainda bebês, eram enviados em cestos à educandários e preventórios, espécie de creches de filhos considerados órfãos, mesmo tendo pais vivos.
Helena e sua irmã, a única parente que conhece, foram enviadas, no dia do nascimento, a diferentes educandários em São Paulo e, depois, a Carapicuíba, cidade da região metropolitava da capital paulista.
Foto de 1968 mostra a entrada do antigo leprosário de Bauru, no interior de SP  (Foto: Acervo Jaime Prado)Foto de 1968 mostra a entrada do antigo leprosário de Bauru, no interior de SP (Foto: Acervo Jaime Prado)
"Havia um homem que se dizia meu tutor. Ele explicou que meus pais não poderiam cuidar de mim porque estavam doentes", conta Helena.
Segundo ela, esse mesmo homem passou a deixá-la em casas de diferentes famílias, onde tinha de trabalhar como empregada doméstica e com frequência sofria violência e discriminação.
Com 13 anos, Helena resolveu fugir da casa em que vivia. "Fiz amizade com a vizinha, de maneira escondida. Essa mulher me disse que, se um dia eu quisesse fugir, ela me daria abrigo. Então eu liguei para ela e disse 'eu não aguento mais'", lembra.
No dia combinado, Helena acordou antes da família e, carregando a certidão de nascimento e um ursinho de pelúcia, pulou o portão.
"O ursinho ficou para trás, enroscado no portão. Mas corri o máximo que pude e consegui chegar na casa da mulher".
Até passou alguns anos fugindo do Estado. "Ligavam para essa mulher e faziam ameaças. Quase todo dia tinha um carro parado na rua, observando a casa. Eu nunca podia sair. Quando completei 18 anos, foi o dia mais feliz da minha vida. Eu estava livre".
Em visita histórica, Getúlio Vargas conheceu o leprosário de Bauru em 1938  (Foto: Acervo Jaime Prado)Em visita histórica, Getúlio Vargas conheceu o leprosário de Bauru em 1938 (Foto: Acervo Jaime Prado)
Separação entre pais e filhos
Maior de idade, Helena começou a pesquisar o seu passado. Em 2011, conheceu o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, o Morhan, e se deu conta que fazia parte dos 40 mil bebês que foram separados de pacientes, segundo dados estimados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Com Eloísio Ermelindo da Silva, 48 anos, filho de um casal interno da colônia de Pirapitingui, a quebra dos laços familiares o levou a ser morador de rua por 25 anos.
"Horas depois de nascer em Itu, fui encaminhado para uma creche em São Paulo e fiquei lá até os seis anos, sem ter contato nenhum com meus pais", conta.
Ao receberem alta, os pais de Ermelindo conseguiram sair da colônia e foram morar com os filhos. Depois de se separarem, contudo, a mãe de Ermelindo, por não conseguir se reintegrar à sociedade, voltou para a colônia de Pirapitingui, onde vive até hoje.
"Meu pai foi morar com outra mulher e os filhos. Com a morte dele, minha madrasta não me quis mais. Fui morar na rua e depois em um orfanato, onde só podia ficar até os dez anos", lembra.
Aos 14 anos, Ermelindo foi encaminhado para a Febem e lá viveu até os 18 anos. Liberado, passou a viver como morador de rua, na Praça da Sé.
"Eu lia os jornais na praça e, em 2011, descobri que existia o Morhan e que eles fariam uma audiência pública em Sorocaba para os filhos separados".
Ermelindo conseguiu ir de São Paulo para Sorocaba, catando papelão e pedindo carona, e se apresentou aos membros do Mohran. "O Artur [coordenador do Mohran] me recebeu e me deu dinheiro para comer naquele dia. Desde então, eu venci a cocaína, saí das ruas e tenho minha casinha".
Memória da dor
Tanto Ermelindo como Helena fazem parte do Mohran e lutam para que suas histórias e a de seus pais não sejam esquecidas.
"Hoje estou fazendo um projeto com o governo, o 'Visitando a colônia', em que visitaremos todas as colônias do Brasil", conta o ex-morador de rua. "Existe muito filho com sequela mental e muito filho que nem sabe da sua história, que foi vendido inclusive para fora do país. É por tudo isso que o governo precisa ser responsabilizado".
Em 2010, os filhos separados dos pais se reuniram para discutir uma proposta de indenização pelo preconceito e perdas dos vínculos familiares que sofreram, assim como o direito a tratamento psicológico e o reconhecimento de crime pelo Estado.
O grupo pede urgência na ação do governo por se tratar de pessoas com idades entre 50 a 80 anos. Segundo o coordenador nacional do Morhan, Artur Custódio, há um anteprojeto de lei, que ainda não foi enviado ao Congresso.
Os leprosários brasileiros
O primeiro leprosário que surgiu no Brasil foi na época colonial, em 1714, no Recife. A partir daí, os estados que mais concentraram grandes colônias foram São Paulo e Minas Gerais.
"Como havia o desconhecimento nas formas de transmissão e mecanismos de controle, o primeiro ato foi a proibição do contato do paciente com o não paciente. Isso perdurou por muitos anos", conta a historiadora Laurinda Rosa Maciel, consultora do Ministério da Saúde para assuntos sobre a história da hanseníase no Brasil.
"O que se esperava era que, à medida em que a ciência e a indústria de medicamentos avançassem, essas barreiras caíssem, mas todas as mudanças de mentalidades são muito demoradas", explica
Segundo o sociólogo Luiz Antonio de Castro Santos, professor aposentado do Instituto de Medicina Social da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a solução do governo para controlar a hanseníase no século 20 se deu no campo da "polícia médica".
Isso, diz, consistia no trabalho de inspetores de saúde que eram treinados em detectar possíveis portadores e isolavam os doentes, ou aparentemente doentes, de maneira impositiva - tudo para eliminar o suposto risco de contaminação.
"A lepra surge como 'questão de Estado' e é declarada política de asilo e institucionalização dos enfermos desde 1902", explica o sociólogo. "Era uma leitura que conduzia a medidas de excessiva precaução e policiamento dos corpos e relacionamentos do paciente."
Foto de arquivo de Jaime Prado, que hoje é funcionário do hospital Lauro de Souza Lima, o antigo leprosário de Bauru  (Foto: Acervo Jaime Prado)Foto de arquivo de Jaime Prado, que hoje é funcionário do hospital Lauro de Souza Lima, o antigo leprosário de Bauru (Foto: Acervo Jaime Prado)
Trauma
Em 1940, Nivaldo Mercurio foi internado arbitrariamente no Asylo Colônia Aymorés, em Bauru, hoje um importante hospital de dermatologia.
Anos antes, os pais e os irmãos já haviam sido mandados para diferentes leprosários. Além de se separar da família, Nivaldo, hoje com 90 anos, lembra que o Departamento de Profilaxia mandou queimar a casa em que viviam - e com todos os pertences.
A experiência de ter vivido em um leprosário foi tão traumática que, no dia em recebeu alta, Nivaldo ficou mudo por 31 anos. Um dos poucos ex-pacientes de leprosário ainda vivos no Brasil, o aposentado nunca mais conseguiu se reintegrar à sociedade por causa do preconceito e vive até hoje em uma casa dentro da área em que era a colônia.
A exemplo do relato dele, há muitos depoimentos em estudos e entrevistas de pacientes dos leprosários que comparam esses lugares com "campos de concentração".
Mas para a especialista Laurinda Maciel a comparação deve ser evitada.
"Não podemos analisar a criação dos leprosários e de uma política excessivamente rigorosa sem, antes, compreender de que tempo, de que sociedade e de homens estamos falando. Não podemos com os olhos de hoje, que sabemos ser uma doença de baixa contagiosidade e de longuíssima incubação, julgar ações dos homens no passado", afirma.
O sociólogo Luiz Antonio de Castro Santos lembra que leprosários existiram em outros países no mesmo período.
"Nos Diários de Motocicleta, em 1952, o então estudante de medicina Che Guevara e seu companheiro relatam a visita a um leprosário no Peru. Escreveu Chê: 'sentamos ao seu lado, jogamos futebol com eles. O benefício psicológico de essas pobres pessoas serem vistas como seres humanos normais é incalculável e o risco de ser contaminado, incrivelmente remoto'."
Até hoje, não existem números oficiais precisos que informem quantos pacientes passaram pelas colônias de leprosários, assim como o número de filhos que foram separados de seus pais.
Boom na Era Vargas
Entre 1920 e 1950, foram inaugurados quarenta asilos-colônias em todo o Brasil - 80% deles foram criados no governo de Getúlio Vargas.
Segundo Laurinda Maciel, o governo do então presidente foi o primeiro a criar um Ministério da Saúde. Antes, os problemas coletivos da área eram tratados pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
"Até 1930, o Brasil não era federativo e cada Estado ou região, a depender de seus desejos em investir mais ou menos nas questões de saúde, tinham liberdade para tal", explica Laurinda.
A pesquisadora conta que os investimentos não eram feitos no combate à hanseníase até a década de 1920 por ela não ser uma doença epidêmica.
"A hanseníase era uma doença endêmica. Ou seja, é aquela doença devagar e sempre, e ninguém morre dela, mas morre de febre amarela ou varíola, que são epidêmicas".
A cura da hanseníase no mundo foi descoberta na década de 1940. "Mas obviamente que essa cura é muito controversa: havia casos de recidiva, a potência destes medicamentos não era tão precisa e seus efeitos também eram controversos", explica.
A mudança no tratamento do hanseniano, na forma ambulatorial empregada até hoje, somente se daria no Brasil na década de 1980, quando passou a empregar a poliquimioterapia, que consiste no uso combinatório de três medicamentos, a depender do caso.
Mas de acordo com Castro Santos, o avanço no tratamento do hanseniano não promoveu, até hoje, a erradicação da doença no Brasil, principalmente nos estados do Norte. Ele aponta como razão o preconceito associado à hanseníase, a exemplo como ainda ocorre com os portadores de vírus como o HIV e vítimas de males como a tuberculose.
"Estigmatizados, inclusive pela família, os portadores do bacilo da hanseníase não buscam tratamento, ou o abandonam. Portanto, se faz necessária a presença constante de programas de educação em saúde que tornem a prevenção e a superação do estigma pontos centrais nas campanhas", afirma o sociólogo.
A maior mudança no tratamento dos hansenianos a partir da década de 1980, para Luiz Antonio, se deu com a retirada do caráter policial ao problema da lepra - além de discriminado, o portador do bacilo era criminalizado.

MP dos Portos: Gleisi Hoffmann vai dançar com a vassoura no baile da PF...

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Saiu na coluna de Jorge Bastos Moreno, em O Globo:
“Foco
Na delação de Gim Argolo, o foco é justamente as negociatas que envolvem o trâmite das medidas provisórias. Por falar nelas, a PF está investigando a polêmica MP dos Portos. Lembram?”
Bem: a pequena nota do Globo não é do tipo decifra-me ou te devoro. Vamos decifrá-la…
***
No dia 9 de julho passado, a Mônica Bergamo deu:
“CUBA NA MIRA
O governo de Michel Temer abrirá auditoria sobre uma das principais obras dos governos de Lula e Dilma Rousseff: o Porto de Mariel, em Cuba, que foi construído pela Odebrecht.
FORÇA TAREFA
O Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle já prepara uma equipe para auditar os contratos do porto. O BNDES também entra na mira, já que a obra foi feita com recursos oriundos da instituição.
ZERO
A pasta acredita que não teria havido retorno em prestação de serviços para empresas brasileiras já que, em Cuba, quase tudo está nas mãos do Estado, ou tem o governo como sócio majoritário.”
***
Ou seja: a Odebrecht vai dançar em Cuba e em Santos.
Vou te explicar o que está por detrás disso. Antes de explicar, te digo quem vai dançar com a vassoura no baile da PF:  Gleisi Hoffmann
O ponto principal é que houve uma mega alteração na Medida Provisória dos Portos, para permitir o porto da Odebrecht, que já tinha sido construído, começar a operar.
1) A Odebrecht comprou um terreno fora da área do porto, ali por volta de 2005 (mais detalhes abaixo). Não era permitido fazer um porto em terreno privado. A Odebrecht fez o Embraport, um grande terminal de contêineres, ficando com 66,7% do capital (o restante é do DP-World, Dubai Port, cujo chairman é Sultan Ahmed Bin Sulayem). 
A associação com o DP – World ocorreu por volta de 2008. As empresas nada investiram de capital próprio: do R$ 1,8 bilhão de investimento, R$ 663,3 milhões são do BNDES, via Caixa Econômica Federal. Juros? Os mais baixos do país: do Fundo de Investimentos do FGTS, o FI-FGTS, no máximo 3% ao ano. E US$ 786 milhões vieram do Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID, devidamente garantido pelo Governo. Aparentemente, não sobrou nada para o DP – World investir.
O porto foi inaugurado em julho de 2013. Já tinha sido financiado com dinheiro oficial, construído e inaugurado quando a presidente Dilma Rousseff assinou, em agosto/setembro de 2013, a lei 12.815, que autorizou a construção de portos em terrenos particulares. Foi feito nos termos da nova lei, mas muito antes que houvesse a lei.
2 – Além de mostrar que é boa de previsão (já que comprou o terreno, projetou o porto, obteve empréstimos oficiais para construí-lo, fez a obra toda e o inaugurou antevendo que algum dia – que, para sua sorte, chegou rapidamente – tudo acabaria se tornando legal), a Odebrecht demonstrou sua capacidade de multiplicação de investimentos: aterrou parte do canal, ampliando seus terrenos, e removeu áreas de mangue, de importância vital para a sobrevivência da vida marinha.
Detalhe interessante: este é o maior investimento do BNDES na área de portos, 18% de sua disponibilidade total para todos os portos de todo o país. E o investimento foi feito num projeto que só se tornou legal depois de ter iniciado suas operações.
3) Historiando: quem primeiro pensou em construir seu porto próprio fora da área do porto de Santos foi  a Coimex, que, em 2003 e 2004, queria ali erguer, na margem esquerda do canal, um terminal de fertilizantes. A Odebrecht, contratada para fazer a obra, se interessou em ficar com tudo quando a Coimex entrou em dificuldades. E, com a ajuda da influência de Beto Mansur, inicialmente como prefeito, depois como deputado federal, realizou seu objetivo. Não apenas conseguiu um porto sem colocar capital próprio como ainda foi remunerada, com parte dos empréstimos, para construí-lo.
Bonito, hein, Gleisi Hoffmann ? Está metida até o pescoço nas investigações apontadas por Jorge Bastos Moreno. Ela é irônica, mordaz. Acha que pode dar pernada de anão na grana pública. Vejam essas linhas do G1, de 15 de março de 2013. Pura piada de mau gosto da loirinha tunada a buril de esteticista:
“A ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirmou nesta sexta-feira (15) que a MP dos Portos não vai privatizar o setor, mas sim mudar o modelo para tornar as licitações "mais baratas e atrativas”. A medida, que tramita em uma comissão especial no Congresso, tem sido alvo de críticas de trabalhadores portuários, que alegam que a mudança nas regras vai fragilizar a classe.

Lutador da Nova Zelândia revela sequestro por 'homens fardados' no Rio

Lutador disse que foi sequestrado e obrigado a sacar dinheiro em caixas eletrônicos




JUSTIÇA RELATOHÁ 18 MINS
POR NOTÍCIAS AO MINUTo


Jay Lee é lutador de jiu-jistu da Nova Zelândia. Ele contou nas redes sociais que sofreu um sequestro relâmpago por homens com farda policial no Rio.


De acordo com o relato do lutador neste domingo (24), ele foi obrigado a entrar em um carro e a rodar por caixas eletrônicos para sacar dinheiro.
"O que fizeram de bom ontem? Eu fui sequestrado. Go Olympics! #Rio2016", escreveu Jay Lee no Twitter.
O lutador de jiu-jitsu não compete na Olimpíada, pois o esporte não está entre as modalidades.
De acordo com o relato de Jay Lee, o crime teria ocorrido no sábado (23) quando ele estava a "cerca de 20 minutos do Rio". O lutador disse que voltava de uma competição em Resende, Sul Fluminense.
Lee contou como o crime aconteceu: "Então, ontem [sábado] eu fui sequestrado no Brasil. Não por algumas pessoas aleatórias com armas, mas por policiais em serviço com uniforme completo. Fui ameaçado de prisão se eu não entrasse no carro particular e os acompanhasse até dois caixas eletrônicos para retirar uma grande soma de dinheiro para suborno", escreveu.
"Eu não tenho certeza o que é mais deprimente, o fato de essas coisas estarem acontecendo com os estrangeiros tão perto dos Jogos Olímpicos ou o fato de que os brasileiros têm de viver em uma sociedade que permite que essa brande besteira diariamente. Este lugar é bem e verdadeiramente f... em todos os sentidos da palavra que se possa imaginar, completou o lutador.
O site neozelandês ZN Heral explica que Lee está no Brasil há cerca de um ano com o finalidade de aperfeiçar a técnica no jiu-jitsu brasileiro, considerado o melhor do mundo.
De acordo com o G1, até a publicação desta reportagem, as polícias Civil e Militar não haviam se posicionado sobre o crime relatado.

Homem que ameaçou explodir bomba se entrega à polícia em Salvador "o homem afirmou que faz o exame há 18 anos, sem ser aprovado."

Após quatro horas de negociações, o suspeito se entregou e não foram encontrados explosivos



JUSTIÇA OAB - UNIJORGEHÁ 2 HORAS
POR FOLHAPRESS


Um homem ameaçou explodir uma bomba durante o exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) neste domingo (24) em Salvador. A prova seria realizada na Unijorge (Centro Universitário Jorge Amado). O prédio foi evacuado e a polícia já está no local. Três mil pessoas estavam presentes na hora da ameaça.


A Polícia Militar da Bahia informa que o homem entrou em uma das salas, pouco antes do início da prova. Antes do exame começar, informou que carregava uma bomba e que iria explodir o prédio. Não houve registro de explosões.
Após a ameaça, o homem isolou-se na mesma sala em que faria a prova, que fica no sétimo andar. A polícia negociou a saída dele e, após quatro horas, o homem se entregou à polícia por volta das 16h52. A informação foi confirmada pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia
Segundo testemunhas, o homem afirmou que faz o exame há 18 anos, sem ser aprovado.
O G1 informou que, de acordo com a SSP-BA, não foram encontrados artefatos explosivos ou armas de fogo com o rapaz. 
Ainda segundo a SSP-BA, o homem vai passar por atendimento  médico e depois será  encaminhado ao Departamento de Repressão e Combate  ao Crime Organizado (Draco), onde será  ouvido. 
Pessoas saindo correndo após ameaça de bomba em prova da OAB
A pedagoga Joana Matos, 38, que estava na mesma sala do suspeito, afirma que usava um colete por baixo da roupa e carregava uma mochila.
Faltando dez minutos para o início da prova, ele levantou e disse que os candidatos tinham 11 minutos para deixar o prédio antes de explodi-lo.
"Foi um pânico total. Todos saíram correndo, houve muita confusão", afirma a pedagoga, que fazia o exame da OAB.
A professora Leonísia Fragoso, 30, estava o mesmo andar em que houve a ameaça. Segundo ela, enquanto os candidatos corriam, o homem gritava: "estou dando chance [deles fugirem]".
"Foi insano. Vi pessoas sendo pisoteadas, perdendo seus pertences que ficaram pelo caminho", afirma.
Na fuga, a estudante Carime Souza, 28, deixou todos os pertences como celular, bolsa e carteira na sala. O autônomo Fernando portela, 32, feriu-se no braço após ser imprensado na parede durante a saída dos candidatos do prédio.
Presidente da OAB na Bahia, Luiz Viana Queiroz classificou o ato como "atípico" e "lamentável". E confirma que a prova foi suspensa na Bahia.
"A coordenação nacional vai adotar medidas para que nenhum candidato seja prejudicado", disse Queiroz. A Fundação Getúlio Vargas, que organiza o exame, também confirma a suspensão da prova.
Em nota, a Unijorge confirma o incidente e diz que não há mortos, feridos ou reféns no prédio da faculdade.
A secretaria de segurança da Bahia informa que uma equipe do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) negocia a rendição do homem. Com informações da Folhapress.