quarta-feira, 13 de julho de 2016

Justiça define futuro político do clã Roriz nesta quarta-feira (13/7)


Daniel Ferreira/Metrópoles

Julgamento de recurso no TJDFT pode encerrar a participação da família na vida pública. Joaquim Roriz e Jaqueline já estão inelegíveis, mas voltam ao banco dos réus em ação que também envolve as filhas Liliane e Weslliane, além do neto Rodrigo



O sobrenome Roriz, antes sinônimo de um poder que extrapolava os limites geográficos do Distrito Federal, pode chegar ao fim de uma trajetória política que por décadas influenciou a capital da República. Nesta quarta-feira (13/7), a 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) julga recurso da defesa do ex-governador Joaquim Roriz sobre o processo que condena ele, as filhas Weslliane, Jaqueline e Liliane por improbidade administrativa. O neto do patriarca, Rodrigo Domingos Roriz, também é alvo da ação.


A previsão é de que o julgamento comece às 13h30. Se três desembargadores forem unânimes em negar a apelação da defesa, os cinco integrantes do clã podem ficar inelegíveis por 10 anos. O ex-governador e a filha do meio, a ex-deputada federal Jaqueline, já são considerados fichas sujas e não podem disputar cargo eletivo. Única com mandato atualmente, a deputada distrital Liliane pode perder o posto.
Todos são julgados no processo em que Joaquim Roriz, enquanto era governador, teria facilitado um empréstimo de R$ 6,7 milhões do Banco de Brasília (BRB) à construtora WRJ Engenharia em troca de 12 apartamentos no Edifício Monet, em Águas Claras. Os parentes dele teriam sido beneficiados.
O julgamento terá quatro desembargadores, mas só três votarão sobre o recurso de decisão em primeira instância, proferida pelo juiz Jansen Fialho de Almeida, em julho de 2015. No documento, o magistrado determina a perda de função pública de todo o clã, caso ela exista; e condena ao pagamento de multa civil no valor de três vezes do patrimônio adquirido ilicitamente, entre outras sanções.
Confira 14 fatos que você precisa saber sobre o clã Roriz
Joaquim Roriz
É fundador do PT
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Acredite se quiser, mas o maior protagonista de disputas com o PT no DF ajudou a fundar a legenda em Goiás em 1980. A carreira política de Roriz, no entanto, começou bem antes. Em 1968, elegeu-se vereador e, 10 anos depois, deputado estadual por Luziânia, sua cidade natal. Em 1982, garantiu vaga na Câmara dos Deputados e, quatro anos mais tarde, foi eleito vice-governador de Goiás pelo PMDB. Assumiu a prefeitura de Goiânia, como interventor, em 1987. A história de Joaquim Roriz com Brasília começou em 1988, quando foi indicado por José Sarney para assumir o Governo do DF. Depois, comandou o Palácio do Buriti em outros três mandatos e foi eleito senador.

Criou 13 cidades
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Joaquim Roriz é acusado por muitos de ter promovido o inchaço populacional no DF. Enquanto ocupou o cargo de governador, ficou famoso por distribuir lotes, o que gerou uma migração desordenada para a capital da República. Durante as gestões dele, foram criadas 13 cidades: Riacho Fundo 1 e 2, Itapoã, Águas Claras, Sobradinho 2, Sudoeste, Varjão, Jardim Botânico, Santa Maria, Paranoá, São Sebastião, Samambaia e Recanto das Emas.

Foi pai de um menino e perdeu uma irmã
Um dos episódios mais tristes vivenciados pela família Roriz foi a morte prematura do único filho homem do casal. Hemofílico, o pequeno Pedro faleceu aos 5 anos depois de sofrer uma hemorragia. Em 1º de janeiro de 2000, outra tragédia abalou a família. A hélice traseira de um helicóptero da PM matou a professora Íris Luzia Roriz, irmã do então governador do DF e mãe de Dedé Roriz. Durante o triste episódio, Íris carregava uma santa nas mãos, que havia buscado para uma procissão organizada pelo então governador Roriz.
Dividiu o GDF com um KubitschekEm 1988, o então presidente da República, José Sarney, nomeou Roriz governador “biônico” do DF. Dois anos mais tarde, ocorreu a primeira eleição direta para o GDF, e Roriz venceu a disputa, com Márcia Kubitschek como vice-governadora. Márcia era filha de Juscelino Kubitschek.
Tropeçou nos anões do Orçamento
A condenação, no TJDFT, por improbidade administrativa no esquema que envolve os apartamentos em Águas Claras e o caso da Bezerra de Ouro (veja abaixo) não são os únicos escândalos que envolvem o nome de Joaquim Roriz. No início da década de 1990, ele foi citado no caso dos Anões do Orçamento. O delator da fraude disse que encontrou Roriz na casa do então deputado João Alves, onde teriam sido oferecidos recursos para a aprovação de emendas. A acusação nunca chegou a ser provada.
Ministro-relâmpago de Collor
Entre 15 de março e 29 de março de 1990, foi ministro da Agricultura e Reforma Agrária no governo Collor, renunciando ao cargo para disputar o Governo do Distrito Federal. Dezessete anos mais tarde, uma nova renúncia: desta vez, do cargo de senador, para escapar de um processo por quebra de decoro parlamentar que poderia torná-lo inelegível.
De nada adiantou renunciar. Está inelegível
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Responsável por colocar fim à carreira de Joaquim Roriz, o escândalo da Bezerra de Ouro — no qual o ex-governador era acusado de desvio de recursos públicos e favorecimento ilegal — apenas recentemente rendeu condenação judicial. Depois de ser absolvido em primeira instância, Roriz acabou condenado, em 15 de novembro de 2015, pela 1ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios. A decisão foi unânime. Na Justiça Federal, ele foi considerado inocente em denúncias criminais sobre o caso.

Secou um alambique
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Uma das atrações da Palmas, fazenda do clã, sempre foi um alambique, que produzia cachaça das boas, dizem os admiradores da bebida. Depois que Roriz adoeceu — ele tem problemas renais crônicos e submete-se a hemodiálise diariamente —, a família achou por bem acabar com a produção para desestimular o consumo do ex-governador. Durante muito tempo, ele ainda conseguiu driblar a vigilância de dona Weslian, sua mulher, pedindo a assessores que disfarçassem a pinga em garrafas de água e até xícaras de café. Enquanto o alambique estava na ativa, a família costumava presentear visitas com garrafas de cachaça.


Dona Weslian
Teve mais votos que Magela, Abadia e RollembergA possibilidade de Joaquim Roriz se tornar inelegível criou um fenômeno das urnas nas eleições de 2010, e uma senhora que nunca havia disputado cargo eletivo conseguiu ultrapassar a impressionante marca dos 440 mil votos. Dona Weslian, como é conhecida, chegou ao segundo turno, quando perdeu para Agnelo Queiroz (PT). Os votos que ela recebeu superaram os de figuras tarimbadas da política local em outras disputas pelo GDF, como Maria de Lourdes Abadia, que teve 315,6 mil votos em 2006; e Rodrigo Rollemberg, com 83,3 mil votos em 2002. Não é ré no processo que terá recurso julgado nesta quarta (13) no TJDFT.
Não entende de debate, mas é especialista em marmelada
Naqueles já distantes meses de campanha em 2010, Dona Weslian protagonizou cenas hilárias e demonstrou que o que lhe sobrava em carisma faltava em tino para discutir propostas com os adversários. Tanto que foi autora de uma pérola que entrou para a história das eleições no DF, quando, em um debate na Rede Globo, disse: “Eu quero defender toda aquela corrupção”. Dona Weslian não teve os ingredientes necessários para assar os rivais na arena política, mas governa como ninguém os utensílios necessários a preparação de quitutes. Cozinheira de mão cheia, é conhecida por executar receitas com maestria. Domina pratos salgados, mas sua especialidade são os doces, com predileção por marmeladas.
Liliane e Jaqueline
Não se bicam
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Irmãs costumam disputar o amor e a atenção dos pais desde pequenas. Com Liliane e Jaqueline Roriz, essa cisma foi sempre fermentada. Aposta do pai como herdeira do espólio político da família, Jaqueline teve apoio incondicional do ex-governador para conquistar vaga de distrital e, depois, ser eleita deputada federal. A preferência acabou gerando ciúmes entre as irmãs. Em 2014, Jaqueline teve a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa. Com isso, a caçula, Liliane, atual vice-presidente da Câmara Legislativa, acabou sendo a opção do patriarca para tentar manter o nome da família.

Brigaram por causa de CelinaUm dos principais embates que as duas tiveram foi em torno da hoje presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS). Jaqueline acreditava que Celina tinha mais traquejo que a própria irmã Liliane para concorrer à vaga de distrital e defendeu que o pai apoiasse a agregada em vez de respaldar a candidatura da filha caçula.
Weslliane
O negócio dela é administrar a Palma…
quijoQUIJO

Nunca quis saber de política e é quem toca os negócios da família Roriz. À frente da Empresa Agropecuária Palma Ltda, fazenda que processa e vende vários alimentos derivados do leite, ela é quem mais conhece da crise que a família enfrenta nos negócios.

…E os problemasEntre os quais, um débito que motivou a Justiça, em 2013, a penhorar metade das ações da Palma. A medida foi uma forma de pressionar os donos da fazenda a pagar uma dívida com um fornecedor arrastada durante duas décadas e estimada, naquela época, em R$ 14,4 milhões.  
Colaboraram Lilian Tahan e Luiz Prisco
  

EXCLUSIVO: o DCM joga novas luzes sobre o Escândalo do Banestado. Por Renan Antunes de Oliveira.

Moro, FHC, Richa: personagens de uma história malcontada
Moro, FHC, Richa: personagens de uma história malcontada
Por Renan Antunes de Oliveira
Se alguém suspeita de parcialidade da Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário na caça aos corruptos deve comparar a Lava Jato com o quase esquecido Escândalo Banestado para tirar sua conclusão.
Foi o escândalo da hora na Era FHC, entre 1996 e 2003, também nas mãos do juiz Sérgio Moro, mas sem a pirotecnia do Petrolão.
Um retrato da época mostra que nem todo delegado federal é um caçador de petistas.Que nem todo procurador do MPF investiga corruptos em nome de Deus. E que o juiz premiado não teve o mesmo apetite justiceiro diante dos poderosos do tucanato.O Escândalo do Banestado serviu de modelo para as grandes operações midiáticas Mensalão e Petrolão da Era Lula-Dilma e é o melhor exemplo do pior das três instituições, cinco se incluídos Legislativo e Imprensa.Nele, apurou-se que 124 bilhões de dólares foram levados e lavados no exterior. Nele, estavam envolvidos grandes empresas (Globo) e políticos expressivos.Mas estranhamente a CPI do caso deu em nada.E o Judiciário, no primeiro grande caso nas mãos de Moro, jogou pesado com laranjas, prendendo apenas chinelões.O procurador Celso Três e o delegado José Castilho levantaram a tampa do esgoto e se deram mal – suas carreiras acabaram quando denunciaram tucanos e seus aliados. Castilho e Três viraram críticos das instituições em que trabalham. A experiência pioneira deles foi desprezada pela cúpula.Hoje seus nomes ainda são respeitados entre a maioria dos colegas. Mas seus exemplos de seriedade, honestidade e competência não empolgaram as novas gerações. Muitos viram que agir como eles é ruim para a carreira. Ninguém duvida: suas carreiras estagnaram por apontar culpados com longa folha de serviços prestados à elite que domina o país há séculos, o verdadeiro centro do poder.
Esta é a história deles.
Castilho
Castilho
Delegado Castilho: “Lava Jato vai pegar Renan, Jucá, Cunha e Temer”
“Tenho convicção que a Lava Jato pegará Renan (Calheiros, presidente do Senado), Jucá (Romero, senador), Cunha (presidente afastado da Câmara) e até o Temer (Michel, presidente da República)”, disse o delegado federal José Castilho Neto, 56, em entrevista ao DCM.
Castilho é referência dentro da PF. Tem fama de competente e incorruptível.
Está na geladeira desde que conduziu o inquérito do Escândalo do Banestado, no governo tucano de FHC – rombo de 124 bilhões de dólares que bota Mensalão e Petrolão no chinelo.
Castilho diz que “a Lava Jato não está só atrás de petistas, como parece. Ela busca atingir a corrupção no núcleo do poder da República, agora é a vez de ir atrás dos outros”.
Acredita nisso “porque é a PF e o MPF que estão comandando a luta contra a corrupção, o juiz Sérgio Moro só se manifesta com base nas ações e pedidos destas duas instituições”.
Castilho está na geladeira da PF desde 2003, quando esteve no auge, na transição de FHC para Lula. O posto dele em Joinville é considerado menor: “É o meu exílio profissional”.
Ele acredita que foi posto lá porque “denunciei na TV o envolvimento de gente da cúpula do governo FHC no caso Banestado”. Castilho afirma que “a linha divisória entre a impunidade da classe dominante e período de vigência da lei foi o caso Banestado”.
Ele é considerado precursor no uso das técnicas de investigação adotadas pelas equipes da PF. Castilho já tinha trabalhado com o juiz Moro no Banestado, onde rastreou contas internacionais de empresários e políticos. Foi o primeiro a prender o doleiro Alberto Youssef, o delator zero do Petrolão.
Castilho revela mágoas por ter sido afastado na transição do governo FHC para Lula “pela panelinha que comanda a PF”, mas acha que a vida é assim, “é a dinâmica do poder”.
Ele atribui sua queda e exílio em Joinville (depois de outros postos menores ainda) porque “fiz a denúncia pública dos nomes de gente poderosa cujas contas no exterior foram reveladas, entre eles Jorge Bornhausen, José Serra, Sérgio Motta e do operador de FHC, Ricardo Oliveira”.
Castilho lembra que estava em Nova York trabalhando no rastreamento quando foi chamado de volta e afastado da operação. Foi quando ele procurou a mídia para fazer as denúncias.
Encontrou um paredão, porque entre as empresas que usaram o recurso ilegal de enviar dólares para o exterior estavam Rede Globo, Editora Abril, RBS e Correio Braziliense.
Seu momento de glória foi fazer a denúncia na Record, num programa nas altas horas, audiência quase zero – digite o nome do delegado e veja no You Tube. Em 2003, o caso Banestado rendeu uma CPI que deu em pizza.
Castilho foi a estrela dela, levando um livrão verde com a lista dos nomes de 3 mil pessoas com contas em dólar no esquema, entre mandantes e laranjas. Ele brandiu o livro no ar no plenário da Câmara, sem sucesso: “Havia gente poderosa envolvida, tinha gente lá de dentro, é claro que iriam abafar e foi o que fizeram”.
Ele diz que no início do governo Lula foi trazido de volta ao lado bom da carreira por iniciativa de José Dirceu. “Mal eu comecei a mexer, fui outra vez afastado, definitivamente”. Castilho sorri quando explica sua versão: “Acharam que eu era petista, mas não sou nada. Sou contra a corrupção. Acho que o pessoal do PT aprendeu como se fazia no Banestado e preferiu não mexer no esquema”.
O Banestado sumiu da mídia quando começou o Mensalão. E o Petrolão substituiu o Mensalão.
Castilho diz acreditar que “o pessoal (da PF) que hoje atua na Lava Jato é movido não por sua preferência política, como muitos acreditam, porque cada um tem a sua, mas sim por uma imensa vaidade. É a mídia, é querer aparecer, estar na vanguarda, tudo pura vaidade”.
Para Castilho o episódio em que Moro jogou no ar a gravação do tchau querida “foi um erro”. Aí, pensou um pouco e elaborou uma frase mais light: “Muito antes de eventuais desvios (do juiz) há um mar de descumprimentos legais”.
Castilho disse que a PF foi modernizada na Era Lula e cresceu muito. “Ganhamos verbas, carros, tudo, mas o foco eram prefeitinhos e pequenos casos regionais”, lamentou.
Ele acredita que “por muito tempo a maior operação da PF foi a ‘cortina de fumaça’, qualquer coisa que não chegasse ao núcleo do poder”.
Castilho acha que “no governo FHC não havia interesse em ir fundo, porque era um governo corrupto. Depois, a PF modernizada foi atrás dos prefeitinhos. Só agora é que o foco está em derrubar o núcleo no poder, seja de que partido for”.
Ele admite que “mesmo assim o que se vê é uma mira certeira em partidos de esquerda e outros que deram sustentação a um governo de centro-esquerda”.
Castilho se sente orgulhoso de ter contribuído no combate contra a corrupção. Ensina às novas gerações de delegados que “dinheiro não some, alguém fica com ele” e que o caminho “é sempre seguir a trilha dele”.
O delegado disse que fez sua parte “deixando uma longa lista de criminosos de colarinho branco que continua em ação, mas que já foram identificados. Está tudo num arquivo digital na Divisão de Ações contra Ilícitos Financeiros, que deixei lá”. Segundo ele “ali está o mapa da corrupção, estranhamente abandonado”.
Com sua experiência, sabe que seria mais útil se pudesse voltar ao núcleo de elite da PF.
Aceita, no entanto, o destino: “Minha rotina é perigosa, mas é a mesma de muitos policiais. Acordo cedo, boto uma pistola na cintura e saio com minha equipe para caçar traficantes. Alguém tem que fazer este trabalho.”
Três
Três
Procurador Celso Três: “Conspiração da Justiça derrubou Dilma”
O procurador federal Celso Antônio Três (55), membro do grupo anticorrupção do MPF, é um crítico da Lava Jato: “Janot (Rodrigo, procurador geral) e Sérgio Moro fizeram uma conspiração da Justiça contra a política para dar o golpe que derrubou a presidente Dilma”.
Ele fala com a autoridade de ter sido o primeiro procurador federal a seguir a trilha de volumosa quantia de dinheiro desviado do Brasil para o exterior – o Escândalo Banestado em 2003. Um trabalho de investigação monumental, sem os recursos que o MPF tem hoje.
Em entrevista ao DCM o procurador afirmou que “é inconcebível essa intromissão da Justiça na política. É evidente que o que vai ficar na história não é essa coisa ridícula da pedalada fiscal, mas sim a existência de uma conspiração. A divulgação da gravação da conversa Dilma-Lula foi uma ilegalidade, e isto é inaceitável vindo de um juiz”.
Celso critica, também, a prisão do senador Delcídio Amaral. “A Constituição é clara quando diz que um senador só pode ser preso em flagrante delito e por crime inafiançável.”
Para o procurador “se houve alguma transgressão foi da própria Justiça, que cometeu ‘um crime de hermenêutica’ ” (de interpretação da lei) – esta é a palavra usada de forma irônica dos juristas para criticar o sistema: “Eles foram torcendo a lei até achar um jeito de enquadrá-lo e forçar a delação”.
Assinalou que “outra coisa grave é querer condenar políticos por receber doações legais. Se está na lei, não é vantagem indevida. Esta história de que um parlamentar pode ser condenado se o dinheiro veio de um desvio (no caso, da Petrobras) é bobagem, porque precisa se provar que ele tenha participado da origem do desvio”.
Celso Três fala com a experiência de ter sido entre 1996 e 2003 o nome mais importante do MPF, por sua atuação firme e corajosa no Caso Banestado.
Com base na atuação dele o MPF passou a criar grupos especializados em crimes financeiros . O Judiciário também criou varas idênticas, sendo a primeira delas a do juiz Sérgio Moro. Banestado, Mensalão e Petrolão se ligam porque muitos dos procuradores e o juiz Moro trabalharam em todos eles.
Três vê na Lava Jato “uma excrescência jurídica e com claros atropelos da Constituição”. Ele trabalhou com alguns dos integrantes do MPF que hoje estão na força-tarefa da Lava Jato e acredita que “existe uma natural exacerbação que parece de boa fé, mas inaceitável. É ridículo um procurador invocar Deus” (referindo-se, sem citar, ao chefe da equipe de procuradores, Deltan Dallagnol).
O procurador disse ainda que “mais atropelos vêm aí, como aquele pacote de 10 medidas anticorrupção enviado ao Congresso. Não é tarefa do MPF, e além do mais tem erros grosseiros no item das nulidades, só vai piorar as coisas se for aprovado”. Três disse também que “a Justiça tem efeito indevido na política, mas o Brasil é movido por tsunamis”.
Três comandou o inquérito das contas CC5 do Caso Banestado. O modelo de investigação quebrou o sigilo de milhares de pessoas e empresas, flagrando as irregularidades.
Ele ainda hoje mantém cópia dos volumes do inquérito em seu gabinete. Gosta de exibi-los aos interessados. “Nunca se pôde fazer justiça porque o governo FHC tinha altos membros envolvidos. Parte do dinheiro serviu para compra de votos para a reeleição dele, outro escândalo da época”, lembra, manuseando os documentos.
“Nós do MPF tivemos que desmembrar cada ação por domicílio fiscal dos suspeitos, o que se tornou um pesadelo. O Banco Central e a PF nunca colaboraram efetivamente, até atrapalhavam as investigações, visivelmente por ordem do Executivo. Por causa disso os principais mandantes nunca foram presos”.
Celso diz que “os efeitos do caso Banestado até hoje são sentidos. O atual governador do Paraná, Beto Richa, tinha despachado para o exterior 1 milhão de dólares, sem comprovar a origem do dinheiro”.
Ele exibe documentos e mostra que o Banco Araucária (do ex-senador e governador biônico catarinense Jorge Bornhausen) enviou para o exterior 2,4 bilhões de dólares.
“Nossa experiência de combate à corrupção serviu como modelo para a Lava Jato. Não pudemos avançar porque a CPI deu em pizza. E um dos entraves foi quando flagramos a Rede Globo e a RBS mandando dinheiro para fora”.
A carreira de Três declinou depois que ele fez as denúncias da mídia para a mídia – nunca foi indicado para nenhum prêmio. Pior: só recebeu ameaças de morte. Foi movido para outras comarcas.
Lotado em Santa Catarina no ano 2000, iniciou um processo que o botou na geladeira de vez: tentou quebrar o monopólio da RBS (repetidora da Globo) no estado. Ele sustenta que a empresa “monopolizou a imprensa em SC, controla rádio, jornais e TVs, ferindo a Constituição”.
O caso ainda está pendente de decisão do TRF4, em Porto Alegre. Celso Três é procurador em Novo Hamburgo, no interior do Rio Grande do Sul.
ENTENDA O ESCÂNDALO DO BANESTADO
O que é: maior caso de evasão de divisas do Brasil.
Quanto: 128 bilhões de dólares. Quase 420 bilhões de reais ao câmbio atual.
Quando: 1996 a 2003.
Onde: epicentro em Foz do Iguaçu (PR), com raio de ação em todo Brasil, Nova Iorque e Bahamas.
Origem do nome: o caso foi descoberto na agência do Banestado, em Foz do Iguaçu.
Investigados: 3 mil pessoas, empreiteiras, mídia, bancos e casas de câmbio.
Condenados: 26 laranjas, nenhum político ou empresário poderoso.
Legado: o modelo de investigação internacional reinventou o papel do Ministério Público Federal, criou as bases da moderna Polícia Federal para investigar crimes financeiros, obrigou o Judiciário a criar varas especializadas como aquela que Sérgio Moro comanda, forçou o Executivo a reequipar a PF e o MPF, e serviu de modelo para a Lava Jato.
Personagens: Procurador do MPF Celso Três e delegado da PF José Castilho Neto.
COMO FOI
Mídia envia dinheiro ao exterior e boicota escândalo
Políticos e empresários usaram doleiros e laranjas para remeter dinheiro para paraísos fiscais entre 1996 e 2003, burlando o sistema legal de remessa pelas contas internacionais conhecidas como CC5 (por isso também conhecido como Escândalo das CC5). O MPF em Foz do Iguaçu descobriu a fraude porque a agência local do Banestado enviou para a agência de Nova York cerca de 30 bilhões de dólares – o total com outros bancos chegou aos 124 bilhões.
A movimentação era demais naquele final dos anos 90 e levou o até então desconhecido procurador Celso Três a começar a investigação. Como o MPF não tinha técnicos e supercomputadores, quem deu início ao rastreamento de contas pela internet foi um motorista do órgão. Apaixonado por computadores, ele usou um PC apreendido de contrabandistas para descobrir a fraude.
O procurador formou dupla com o delegado federal José Castilho Neto para levar a investigação aos Estados Unidos, seguindo a trilha do dinheiro enviado para o exterior. A investigação identificou dezenas de doleiros, entre eles o mesmo Alberto Youssef delator da Operação Lava Jato, e cerca de 3 mil laranjas (pessoas comuns, usadas por políticos e empresários para enviar dinheiro em seus nomes).
Foram flagrados com remessas ilegais os políticos Jorge Bornhausen, José Serra, Sérgio Motta (já falecido), Ricardo Oliveira (operador nas campanhas de FHC e José Serra) e até o jovem Carlos Alberto Richa (Beto Richa), hoje governador do Paraná, que remeteu 1 milhão de dólares. Quase todos eram da cúpula do governo FHC. O doleiro Youssef foi preso e tornou-se delator pela primeira vez. O trabalho do procurador e do delegado deu base para a abertura de uma CPI, em 2003.
A mídia promoveu boicote depois que foram apresentados documentos de remessa ilegal de dinheiro pela Rede Globo, Editora Abril, RBS e Correio Braziliense. No front político, a investigação do Banestado morreu na CPI. No front jurídico, o MPF e a PF foram esvaziados, perdendo poderes. Ainda em 2003, quase no final, um novo juiz assumiu o caso: Sérgio Moro. Mas as investigações não avançaram.
O procurador e o delegado foram afastados. A investigação foi desmembrada, numa decisão que depois se mostrou equivocada ou, quem sabe, muito bem calculada para chegar aonde chegou: a nada. Cada laranja deveria enfrentar processo em seu domicílio fiscal, em dezenas de comarcas pelo Brasil. Houve 91 prisões de ”peixes miúdos”, do quais só 26 foram efetivamente fisgados. Muitas das ações ainda estão dormindo nos tribunais. Parece que a Justiça se desinteressou depois que o Mensalão (2004) pintou na mídia. É um pesadelo logístico saber quantas ações do caso Banestado já caducaram.

Theresa May assume nesta quarta cargo de premiê do Reino Unido

13/07/2016 06h33 - Atualizado em 13/07/2016 06h37

Ela será a 1ª mulher a ocupar o posto desde Margaret Thatcher.

Caberá a ela liderar a saída britânica da União Europeia após a Brexit.

Do G1, em São Paulo

Theresa May assume cargo de premiê britânica nesta quarta-feira (13) (Foto: Kirsty Wigglesworth/Reuters)Theresa May assume cargo de premiê britânica nesta quarta-feira (13) (Foto: Kirsty Wigglesworth/Reuters)
O Reino Unido deve voltar a ter uma mulher como premiê a partir desta quarta-feira (11) após 26 anos. Theresa May, atual ministra britânica do Interior, de 59 anos, substituirá David Cameron à frente do Partido Conservador. Ela fica no cargo até 2020 com a missão de implementar o "Brexit", a saída do Reino Unido da União Europeia.
May, que se autoproclama feminista, será a primeira mulher a assumir o cargo desde a saída de Margaret Thatcher, em 1990. Segundo o jornal "The Guardian", ela é vista em Westminster como uma negociadora firme.
David Cameron participará nesta quarta, pela última vez como premiê, de uma sessão de perguntas na Câmara dos Comuns. Depois seguirá, no período da tarde, até o Palácio de Buckingham para entregar sua carta de renúncia à rainha Elizabeth, segundo a BBC. Ao Daily Telegraph, ele disse: “Eu deixo o cargo hoje. Espero que o povo veja um país mais forte. Eu tive o privilégio de servir esse país que eu amo”, afirmou.
Cameron havia anunciado que deixaria o posto de Primeiro Ministro após a opção que defende a saída do Reino Unido da União Europeia ganhar o referendo. A secretária de Estado de Energia, Andrea Leadsom, concorrente de May a sucessão do partido, anunciou na manhã desta segunda-feira a desistência na disputa. Após a decisão de Leadsom, Cameron anunciou a data de renúncia para quarta-feira (13).
Trajetória
Filha de um vigário da Igreja Anglicana,Theresa May nasceu em 1 de outubro em 1956, em Eastbourne, sul da Inglaterra. Ela estudou geografia na Universidade de Oxford, onde conheceu seu marido, Philip May, com quem é casada há 36 anos – o casal não tem filhos.
Antes de ingressar na carreira política, May trabalhou no Bank of England, chefiou a European Affairs Unit e foi consultora financeira da Association for Payment Clearing Services.
Em 1997, ela foi eleita para o Parlamento. Em 2002, se tornou a primeira mulher a ser presidente do Partido Conservador. Desde 2010, May está à frente do Ministério do Interior, pasta que, entre 2010 e 2012, dividiu com o Ministério para a Mulher e Igualdade.
Considerada uma das vozes modernizadoras da legenda conservadora, May apoia a igualdade de sexos e o casamento gay, embora em 2002 tenha votado contra conceder a essa minoria o direito de adoção.
A ministra britânica do Interior, Theresa May, chega a Downing Street para reunião com o primeiro-ministro David Cameron em Londres, na segunda (27) (Foto: Leon Neal/AFP)A ministra britânica do Interior, Theresa May, chega a Downing Street para reunião com o primeiro-ministro David Cameron em Londres, na segunda (27) (Foto: Leon Neal/AFP)
May é conhecida por ter um posicionamento crítico à imigração. Entre seus planos estão "recuperar o controle do número de europeus que entram" no país, e ela não garante que os imigrantes de países da UE que vivem no Reino Unido possam ficar em território britânico assim que for implementado o "Brexit".
Os conservadores a definem como "uma mulher extremamente difícil", que recebeu elogios por deportar o clérigo radical Abu Qatada e por se negar a extraditar aos EUA o pirata cibernético Gary McKinnon, que invadiu os computadores do Pentágono.
May recebeu críticas por sua falta de carisma e por descumprir sua promessa de reduzir a cada ano em 100 mil o número de imigrantes nas ilhas britânicas.
Apesar de sua postura de oposição ao Brexit durante a campanha do referendo, ela se mostrou disposta a respeitar a vontade dos cidadãos: "Brexit significa Brexit. Não haverá um segundo referendo, nem tentativas de permanecer na UE", garantiu.
Fotos mostram a nova premiê Theresa May e a 'Dama de Ferro' Margaret Thatcher, primeira-ministra que deixou o cargo em 1990 (Foto: Leon Neal e Gabriel Duval/AFP)Fotos mostram a nova premiê Theresa May e a 'Dama de Ferro' Margaret Thatcher, primeira-ministra que deixou o cargo em 1990 (Foto: Leon Neal e Gabriel Duval/AFP)

terça-feira, 12 de julho de 2016

PF diz que Cunha negociou MP com a Andrade Gutierrez e Odebrecht

12/07/2016 09h19 - Atualizado em 12/07/2016 11h25

Medida Provisória 627 é investigada pela Operação Zelotes.

Relatório de conversa no WhatsApp foi anexado a inquérito da Lava Jato.

Samuel NunesDo G1 PR

Eduardo Cunha durante sua defesa no Conselho de Ética da Câmara (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)Eduardo Cunha foi o relator de uma medida provisória investigada na Operação Zelotes
(Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
A Polícia Federal acredita que o deputado Eduardo Cunha e o presidente afastado da construtoraAndrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, negociaram parte do texto de uma medida provisória investigada pela Operação Zelotes. De acordo com um relatório da PF, anexado a um inquérito da Operação Lava Jato, Azevedo e Cunha trataram diretamente sobre um trecho da medida, que tratava do lucro de multinacionais brasileiras obtido no exterior.
Segundo as conversas obtidas pela Polícia Federal, no celular de Azevedo, a construtora Odebrecht pode ter participado das negociações.

Questionado sobre a suspeita, Cunha afirma que a medida provisória foi discutida com diferentes setores.

A medida provisória 627, que foi transformada em lei em 2013, é investigada pela Operação Zelotes. Nessa investigação, a polícia apura a possibilidade de a medida ter beneficiado montadoras de veículos instaladas no Brasil.
No inquérito da Lava Jato, porém, o relatório aponta a ingerência das duas construtoras, Andrade Gutierrez e Odebrecht, no texto que seria aprovado.

À época, Eduardo Cunha ainda não vislumbrava a Presidência da Câmara dos Deputados. Dessa forma, ele foi destacado como relator do texto. Já as duas empreiteiras foram investigadas a partir da 14ª fase da Lava Jato, deflagrada em junho de 2014. Na ocasião, os presidentes das duas empresas foram detidos.
Nas mensagens, Azevedo pergunta a Cunha se ele acertou com o governo duas mudanças propostas pela CNO. Segundo a PF, a sigla significa provavelmente Construtora Norberto Odebrecht. "Esse ponto 1 eu acertei mas tem de ser em segredo. O segundo não", respondeu Cunha.
A conversa entre o deputado e o empreiteiro aconteceu no dia 1º de abril de 2014. Conforme o relatório, no dia 30 de julho do mesmo ano, Cunha volta a mandar mensagens para Azevedo.

Ele passa os números de uma conta bancária, que seria para a campanha do ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB) ao governo do Rio Grande do Norte. No dia 31, Cunha manda mais uma mensagem: "Fez Henrique????".
Polícia Federal não aponta ligações entre a negociação sobre a medida provisória e o pedido de Cunha para a doação para a campanha de Henrique Eduardo Alves. Tampouco cita qual valor teria sido depositado.
“Com relação à MP 627, várias matérias foram discutidas, não só com os setores, como também com o Governo, através de troca de e-mails. Quanto a passar dados de contas de Henrique Alves, não há nada além de uma solicitação transparente de doação legal”, afirmou o deputado Eduardo Cunha.

A Andrade Gutierrez afirmou que colabora com a Justiça. “A Andrade Gutierrez mantém o compromisso de colaborar com a Justiça. Além disto, tem feito propostas concretas para dar mais transparência e eficiência nas relações entre setores público e privado.”
A Odebrecht informou que não irá se manifestar.