"Eu acho que o verdadeiro responsável pelo país é quem elegeu a Dilma. Quem elegeu a Dilma? O meu amigo Lula", diz o profissional.
Wanderley Nunes, cabeleireiro de dona Marisa Letícia da Silva e gestor de uma rede de salões de beleza com a marca Studio W, deu declarações ao colunista Reinaldo Bessa da Gazeta do Povo sobre a atual situação do país. Amigo próximo de Lula, o profissional chegou a ter um quarto no Palácio da Alvorada durante o mandato do ex-presidente.
"Eu fico um pouco incrédulo. A cada hora você tem uma péssima surpresa. Por um lado, eu acho bom porque está na hora de moralizar as empresas, o governo, as pessoas que se infiltram no governo só para tirar proveito próprio e não fazem nada", comenta Nunes sobre os acontecimentos dos últimos dias no Brasil.
"Este governo. Eu acho que em todo lugar tem gente que não presta e todo lugar tem gente que presta, mas eu acho que o PT é um dos piores para se fazer uma analogia dos partidos políticos". E continua: "Eu acho o Lula um dos caras mais inteligentes, mais politizados que existem no mundo e acho que ele deveria usar essa inteligência para salvar o Brasil, mas não usou. Estamos retrocedendo 20 anos".
Quando questionado sobre o impeachment, Nunes se diz favorável "cem por cento". E acredita que o juiz Sérgio Moro tem que ser o novo presidente. Já sobre o sítio em Atibaia, Nunes revela que o dono não é Lula. "O sítio eu tenho certeza que é do Jacó Bittar, ex-prefeito de Campinas, que é amigo dele de muitos anos, desde que ele veio para o Brasil".
Ao ser questionado sobre o PT e se o partido vem mesmo sofrendo perseguição, como a sigla alega, Nunes é enfático: "Ele vai ter que pagar pelo que fez. Eu só acho que as pessoas deveriam investigar mais e ter coisas mais concretas para poder explicar para o brasileiro".
A culpa do caos político, segundo o profissional, é do próprio Lula. "Eu acho que o verdadeiro responsável pelo país é quem elegeu a Dilma. Quem elegeu a Dilma? O meu amigo Lula. O PT foi com muita sede ao pote".
"Eu acho que ela é uma mulher sofrida, acho que é uma mulher honesta, mas ela é burra e incapaz", completa sobre a presidente.
Às 16h21 da quarta-feira, dia 16 de março, o juiz Sergio Moro tomou uma decisão que inflamou o país. Na véspera do aniversário de dois anos da Lava Jato, operação da qual se tornou símbolo, Moro escolheu suspender o sigilo da parte mais recente da investigação. Com isso, tornaram-se públicas, entre milhares de outros documentos, as gravações que registraram conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a cúpula do poder petista e com seus assessores e advogados. Horas antes, a presidente Dilma Rousseff anunciara que Lula seria, como se especulava havia semanas, seu novo ministro. Escolhera a Casa Civil. Os indignados com a nomeação de Lula encontraram, nos diálogos divulgados por Moro, o combustível para sua ira. Os que consideram que os integrantes da força-tarefa da Lava Jato e o próprio juiz Moro ultrapassam os limites legais de suas atribuições também. Em poucos minutos, conforme a imprensa noticiava o conteúdo das conversas de Lula – algumas extremamente graves, outras galhofeiras –, panelas começaram a bater. A frente do Palácio do Planalto foi tomada por manifestantes que pediam a renúncia de Dilma. Gritos de “Renúncia, renúncia!” também ressoaram no Congresso. Do lado dos governistas e também de alguns juristas respeitados, argumentou-se que Moro agira ilegalmente.
Moro justificou, em um despacho, sua escolha: “O levantamento (do sigilo) propiciará assim não só o exercício da ampla defesa pelos investigados, mas também o saudável escrutínio público sobre a atuação da Administração Pública e da própria Justiça criminal. A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras”. O juiz Moro atua na primeira instância. Com a iminente nomeação de Lula para o cargo de ministro, a investigação subiria, em tese, ao Supremo Tribunal Federal. Ao ser informado pelos procuradores de que havia uma operação em curso para proteger Lula e atrapalhar as investigações, Moro julgou que o princípio da publicidade era o mais importante naquele momento. É um caminho controverso. Juristas criticaram a decisão do juiz de divulgar o conteúdo da investigação.
Não se pode sugerir que o procedimento seja incoerente com a postura de Moro. O juiz sempre primou pela transparência. Parte dessa opção pela publicidade dos autos vem da inspiração de Moro no Direito anglo-saxão. Os juristas americanos exercem imensa influência no juiz paranaense, e ele nunca omitiu isso. Tanto que, novamente num movimento polêmico, Moro usou um precedente de outro país para explicar sua decisão de abrir as gravações de Lula e defender a legalidade do registro da conversa com Dilma, apesar da prerrogativa de foro da presidente. Diz Moro no despacho em que remete os autos da investigação ao Supremo: “A circunstância do diálogo ter por interlocutor autoridade com foro privilegiado não altera o quadro, pois o interceptado era o investigado e não a autoridade, sendo a comunicação interceptada fortuitamente. Ademais, nem mesmo o supremo mandatário da República tem um privilégio absoluto no resguardo de suas comunicações, aqui colhidas apenas fortuitamente, podendo ser citado o conhecido precedente da Suprema Corte norte-americana em US v. Nixon (Estados Unidos x Nixon), 1974, ainda um exemplo a ser seguido”.
Moro se refere a uma decisão da Suprema Corte americana de 1974, no caso Watergate. Dois anos antes, o jornal Washington Post começara a investigar um assalto em um escritório do Partido Democrata no Complexo Watergate, em Washington. Descobriu-se que assessores do presidente Richard Nixon, do Partido Republicano, espionaram, a partir do furto de documentos e da instalação de escutas ambientais, reuniões dos adversários democratas. Mais grave: com o conhecimento de Nixon. Para provar que Nixon sabia da espionagem ilegal, o promotor do caso pediu que fossem liberadas gravações feitas na Casa Branca. O presidente Nixon alegou que o sigilo de suas conversas deveria ser mantido, por questão de segurança nacional. A Suprema Corte derrotou a tese por 8 votos a 0. A mensagem dos ministros era que nem o presidente é imune às leis e o público tem o direito de saber se algo errado estiver sendo feito “nas sombras”. As gravações foram liberadas e Nixon renunciou.
Moro sempre temeu que algum investigado tentasse fugir de seu alcance obstruindo a Justiça
Outra grande influência de Moro, como é largamente sabido, é aOperação Mãos Limpas, que investigou a corrupção entranhada no governo na Itália na década de 1990 – e, por consequência, dizimou o Partido Socialista Italiano (PSI). Em 2004, quando escreveu o artigo “Considerações sobre a Operação Mani Pulite”, Moro explicitou o que pensa sobre a publicidade de documentos. “Para o desgosto dos líderes do PSI, que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da ‘mani pulite’ vazava como uma peneira. Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no L’Expresso, no La Republica e outros jornais e revistas simpatizantes”, diz Moro. “Apesar de não existir nenhuma sugestão de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigação teria deliberadamente alimentado a imprensa com informações, os vazamentos serviram a um propósito útil. O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva.” Moro prossegue, argumentando que a publicidade “garantiu o apoio da opinião pública às ações judiciais, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem o trabalho dos magistrados”. O magistrado sempre temeu que algum investigado tentasse fugir de seu alcance obstruindo a Justiça. Avaliando que era isso que Lula e seus aliados planejavam, Moro reagiu com a arma jurídica que lhe cabia: a suspensão do sigilo.
O juiz e os procuradores da Lava Jato são de uma geração que quer mudar a aplicação da lei penal, ampliar essa aplicação aos criminosos de colarinho-branco, aos mais poderosos. Eles têm essa ambição e vêm obtendo sucesso nos últimos dois anos, com prisões e condenações de empreiteiros da estirpe de Marcelo Odebrecht. Ao bater na porta dos políticos, passaram a enfrentar uma resistência mais estridente, de gente desacostumada a ver sua autoridade desafiada; que não tem apenas acesso a advogados, mas a palanques, verbas públicas e instrumentos de manipulação dos subterrâneos do poder político. A agenda de Moro e da Lava Jato não é política. É de combate ao crime, dentro das leis. Mas isso não impede que surjam críticas ao trabalho deles. Mesmo entre alguns dos defensores da Lava Jato, há o sentimento de que algumas decisões recentes de Moro são contraproducentes para as próprias investigações.
Nesta sexta-feira, dezenas de milhares de pessoas foram à Avenida Paulista, no coração da capital de São Paulo, para participar do protesto contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Segundo a Polícia Militar do Estado, 80 mil manifestantes compareceram ao local, estimativa semelhante feita pelo instituto Datafolha, para o qual 95 mil participaram do ato. Já os organizadores estimaram o público em 250 mil.
Entre gritos de "não vai ter golpe", os presentes circulavam com roupas vermelhas e bandeiras do Partido dos Trabalhadores (PT) e de movimentos sindicais, além de cartazes de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à Dilma.
A BBC Brasil esteve na Paulista e conversou com os manifestantes para entender o que os levou a estarem ali e se concordavam com as acusações de corrupção feitas contra o governo.
"Estou aqui porque acredito na democracia e sou contra o golpe. É preciso comprovar (os crimes) primeiro, senão o país vai só piorar com o impeachment", disse a assessora de imprensa Nana Caracciolo, de 62 anos.
'Problema histórico'
Ela chegou cedo à avenida com um cartaz em que pedia respeito aos votos que elegeram Dilma, inclusive o dela própria. "Não admito que joguem meu voto no lixo."
Caracciolo acredita que existe corrupção em "alguns âmbitos do governo", mas não acha que Dilma esteja envolvida.
"Uma pessoa como Dilma, com seu histórico, não se venderia desta forma. Temos que defender o Executivo e pressionar o Congresso para aprovar medidas anticorrupção."
Motivação semelhante levou Luanda Santana, de 39 anos, a sair de Campinas, onde mora e trabalha como gerente de um centro cultural, para participar da manifestação. "Vim pelo meu direito de dizer que a democracia passa pelo respeito ao meu voto", afirmou Santana.
"Sempre houve corrupção, é um problema histórico. Não foi uma invenção do PT. Este governo priorizou os direitos dos mais pobres. No Brasil, não houve governo de direita que tenha feito isso. Mas roubaram também."
'Sem escolha'
A advogada Maíra Marrone, de 32 anos, também disse que a corrupção é um problema generalizado e acha que a que existe no governo "está sendo investigada".
"Mas não acredito no envolvimento de Dilma e Lula. Não há provas concretas. Se houvesse, já teriam vindo à tona, ainda mais com o Ministério Público e a Justiça contra eles."
O músico Magrelinho da Silva, de 25 anos, havia acabado de chegar de viagem nesta sexta-feira e foi à Paulista para acompanhar o protesto.
"Vim aqui para ver de perto a esquerda de São Paulo, porque as pessoas que estavam aqui no último domingo não me representam", disse Silva.
Apesar de dizer concordar "totalmente" que há corrupção no governo, um problema que ele considera "histórico e inevitável", o músico defende a permanência de Dilma Rousseff no cargo.
"A gente não tem escolha. Pode não ser o melhor, mas prefiro o governo dela a um de direita."
Políticas sociais
O casal de professores Bárbara Buck, de 32 anos, e Igor Pires, de 36, caminhavam pela avenida com cartazes em que se lia "Fora Cunha golpista", em referência ao presidente da Câmara dos Deputados, que é réu na Operação Lava Jato. Ambos acreditam que haja corrupção no governo.
"(Mas) um governo eleito pelo povo só pode ser destituído pelo povo, porém não aquele (povo) que estava aqui no domingo", opinou Buck. "Quem está aqui foi beneficiado pelas políticas desse governo, enquanto quem é contra acha que está pagando por estas políticas."
O casal Felipe*, de 41 anos, e Marcela Silva, de 28, também tinham entre si um consenso: o fato de ainda não terem uma opinião formada sobre os últimos acontecimentos do país.
Usando coletes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) que estavam sendo distribuídos por militantes na Paulista, eles observavam o protesto, assim como fizeram no domingo, quando compareceram ao mesmo local para participar da manifestação pelo impeachment de Dilma Rousseff.
"Estou em dúvida se o governo é corrupto. Estou buscando informações de ambos os lados para saber", disse Felipe.
"É melhor aguardar", complementa Silva. "Não dá para ter uma opinião, porque não está muito claro. Toda pessoa é inocente até que se prove o contrário."
'Investigação para todos'
Usando um boné do Movimento Sem Terra e com faixas verdes e amarelas pintadas no rosto, a cuidadora de idosos Isilda de Oliveira, de 54 anos, foi à Paulista por acreditar que "a direita está tentando usupar o poder".
"Estamos mostrando aqui hoje que não vamos permitir isso de braços cruzados", disse Oliveira. Ela afirma existir corrupção em "em alguns setores do governo", mas não acredita que isso inclua a presidente nem Lula.
"Uma pessoa forjada na luta não iria se prestar a esse papel. O Lula muito menos. Ele é muito inteligente. Não iria manchar seu legado com esta chácara que estão chamando de sítio", afirmou.
"É lógico que existe corrupção no governo, senão não estariam investigando. Mas precisa investigar todos, inclusive a Polícia Federal."
Já o advogado André*, de 26 anos, carregava um cartaz com críticas à atuação do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas decisões da Operação Lava Jato na primeira instância.
Ele afirmou que não estava na manifestação para defender o PT ou "alguma pessoa específica". "Estou aqui para defender os direitos fundamentais que estudei na faculdade", disse ele.
"Para mim, o último ataque deferido por Moro vai contra as garantias individuais. Quando se começa a agir politicamente desta forma, a Constituição começa a sucumbir."
O advogado destacou não estar certo de que o atual governo é corrupto, mas acredita ser provável, pois "onde há poder, há abusos".
"Mas não podemos demonizar só alguns. Tem que ser tudo apurado dentro da legalidade e democraticamente."
* Os entrevistados pediram para que seus sobrenomes não fossem incluídos
MOSCOU/DUBAI - Todas as 62 pessoas a bordo de um avião de passageiros voando de Dubai para o sul da Rússia morreram quando a aeronave caiu em sua segunda tentativa de pouso no aeroporto de Rostov-on-Don, neste sábado, disseram autoridades russas.
O Ministério de Emergências da Rússia disse que a aeronave, um Boeing 737-800, operada pela companhia de baixo custo Flydubai, que é baseada em Dubai, caiu às 03:40 no horário local. A maioria das pessoas a bordo era de russos.
"A aeronave bateu no chão e se quebrou em pedaços", informou o Comitê de Investigação da Rússia em um comunicado em seu site. "Havia 55 passageiros a bordo e sete membros da tripulação. Todos morreram."
Os dois equipamentos de gravação de voo do avião foram recuperados sem danos, disse o comitê em um comunicado.
"Diferentes versões do que aconteceu estão sendo analisadas, incluindo erro de tripulação, uma falha técnica e as condições de mau tempo", disse o comitê.
O presidente da Flydubai, Ghaith al-Ghaith, disse em uma coletiva à imprensa que era "muito cedo" para determinar a causa do acidente.
Com ida de Lula, sigla antecipa reunião que define apoio. Rompimento pode somar votos ao impeachment
Lula na cerimônia de sua posse, em Brasília. Eraldo PeresAP
A chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Ministério da Casa Civil de Dilma Rousseff, ainda que suspensa por liminar do Supremo Tribunal Federal nesta sexta, deve surtir um efeito contrário ao que a gestão petista esperava. Ao invés de aproximar partidos da base aliada, deverá afastá-los. Mais grave ainda: um dos primeiros que deve deixar a canoa governista é o PMDB. Os dirigentes anteciparam para o dia 29 de março a reunião do Diretório Nacional que definirá se a legenda permanece ou não na administração federal. Em princípio, o encontro ocorreria em 11 de abril, conforme havia sido determinado pela convenção nacional do último dia 12.
Dois caciques peemedebistas afirmaram ao EL PAÍS que a tendência é de entregar os cargos. Hoje o PMDB tem sete ministérios, um deles a contragosto da cúpula do partido e que está sendo questionado nas esferas internas. Um dos fatos que deve interferir em qualquer movimento dos peemedebistas é a pressão das ruas pela queda do Governo Dilma.
“Antes, os protestos eram marcados por quatro bandeiras: Fora Lula, Fora Dilma, Fora PT e Viva [Sérgio] Moro. Agora, é praticamente uma bandeira só, que é o fim do Governo. Ao invés do Lula ajudar, atrapalhou”, ponderou o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Wellington Moreira Franco. A entidade que ele preside é um braço do PMDB. Na visão de Moreira Franco, que foi ministro da Aviação Civil e dos Assuntos Estratégicos no primeiro mandato de Rousseff, não há mais razão para o seu partido continuar no Governo.
O secretário-executivo da legenda, Eliseu Padilha, seguiu com o mesmo raciocínio e acrescentou que uma das razões para a ruptura é as eleições de 2018. “Temos propostas distintas para o país. As premissas do PT e do PMDB não só as mesmas. Queremos ter candidato à presidência e o Lula também disse que deverá concorrer. Não há razão para continuarmos juntos”, considerou Padilha, que também foi ministro da Aviação Civil.
Nos últimos dois dias, a reportagem conversou com onze deputados federais, ministros e senadores do partido. Sete disseram que o divórcio entre PT e PMDB ocorrerá em breve. Dois disseram que ainda é cedo para saber. E dois confiam que a presença de Lula, se confirmada, na gestão federal conseguirá reverter o cenário da crise política. “Ele tem uma habilidade política incomum e é nisso que confiamos para nos ajudar no Governo e no trato com o Congresso, mas principalmente para dar uma injeção de ânimo na economia”, afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia, o deputado federal licenciado Celso Pansera (PMDB-RJ).
As escutas telefônicas divulgadas pelo juiz Sergio Moro, que envolvem Lula, seguida pelas decisões judiciais que suspenderam a posse do ex-presidente na Casa Civil, também devem comprometer o apoio dos peemedebistas ao Governo no Congresso. O grupo governista diz que não saberia hoje quantos votos seus correligionários dariam para impedir o impeachment de Dilma Rousseff. Os opositores, por sua vez, estão otimistas e afirmam que entre 35 e 40 deputados, dos 65 da bancada, estariam dispostos a votar pela destituição da presidenta.
"Em princípio não haverá nenhuma orientação do partido sobre o voto no impeachment. Sabemos que nossos parlamentares votarão conforme suas consciências, mas não deixarão de ouvir os anseios das ruas", ponderou Padilha.
Outro fator que interferiu na decisão dos peemedebistas foi o convite feito ao deputado federal Mauro Lopes (PMDB-MG) para assumir o ministério da Aviação Civil. Lopes foi empossado na última quinta-feira, contrariando uma decisão do partido de que nenhum de seus filiados poderia aceitar cargos na União até que o Diretório Nacional tomasse sua decisão definitiva sobre o apoio à gestão Rousseff. Os principais líderes do PMDB, o vice-presidente, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, não compareceram à posse. Temer foi duro e disse que Lopes afrontou a decisão do partido e reclamou do assédio do Governo. Nos próximos dias, o deputado-ministro deverá ser cassado do PMDB. Ao menos 12 processos internos foram abertos contra ele.
Além do PMDB, o PP e o PRB deverão se afastar de vez da gestão federal. No último dia 16, o PRB anunciou que romperia com Rousseff, prometeu entregar o ministério dos Esportes, hoje ocupado por George Hilton, mas ainda não o fez. Já o PP, diz que analisará o apoio nos próximos dias. Juntos, os dois partidos têm 69 deputados.
Na decisão, o ministro afirma ter visto intenção de Lula em fraudar as investigações sobre ele na Operação Lava Jato. O petista ainda pode recorrer da decisão ao plenário do Supremo.
Além de suspender a nomeação de Lula, Gilmar Mendes também determinou, na mesma decisão, que a investigação do ex-presidente seja mantida com o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância judicial.
O ex-presidente Lula tomou posse nesta quinta-feira (17), pouco antes de 10h40, como novo ministro-chefe da Casa Civil em cerimônia no Palácio do Planalto, ao lado da presidente Dilma Rousseff. Cerca de uma hora depois, o juiz federal Itagiba Catta Preta Neto, da 4ª Vara do Distrito Federal, suspendeu a posse por meio de uma decisão liminar (provisória).
"O objetivo da falsidade é claro: impedir o cumprimento de ordem de prisão de juiz de primeira instância. Uma espécie de salvo conduto emitida pela Presidente da República", afirma Gilmar na decisão.Outras decisões semelhantes, em outras Varas de Justiça, também foram proferidas e cassadas por Tribunais Federais. Com a decisão de Gilmar Mendes, acaba o impasse de decisões divergentes nas instâncias inferiores da Justiça.
"Pairava cenário que indicava que, nos próximos desdobramentos, o ex-Presidente poderia ser implicado em ulteriores investigações, preso preventivamente e processado criminalmente. A assunção de cargo de Ministro de Estado seria uma forma concreta de obstar essas consequências. As conversas interceptadas com autorização da 13ª Vara Federal de Curitiba apontam no sentido de que foi esse o propósito da nomeação", diz o ministro em outro trecho.
Críticas de Gilmar Mendes à nomeação O ministro Gilmar Mendes já havia criticado duramente na última quarta-feira (16) a nomeação do ex-presidente para a chefia da Casa Civil, afirmando que a iniciativa seria uma fuga do petista da investigação da Lava Jato em Curitiba.
Em meio ao julgamento do recurso da Câmara à decisão do rito de impeachment, o magistrado ressaltou que a nomeação do ex-presidente para o primeiro escalão deixa "muito mal" a Suprema Corte.
Já na quinta, o ministro do Supremo também afirmou que a conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva interceptada pela Operação Lava Jato pode caracterizar crime de responsabilidade, o que poderia embasar um processo de impeachment.
“Se houver avaliação de que se trata de medida para descredenciar a Justiça, obstrução de Justiça certamente está nos tipos de crime de responsabilidade. Pode ter outros dispositivos aplicáveis da legislação penal”, afirmou Mendes.
Segundo investigadores, o diálogo sugere que a presidente atuou para impedir a prisão de Lula, que é investigado na operação. Em diversos trechos da decisão de suspender a nomeação de Lula, Gilmar Mendes cita conversas interceptadas no telefone do ex-presidente.
Sobre a conversa entre Dilma e Lula, na qual a presidente diz ao ex-presidente para só usar o termo de posse "em caso de necessidade", o ministro afirma que "a conduta demonstra não apenas os elementos objetivos do desvio de finalidade, mas também a intenção de fraudar."
Investigações De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), Lula é investigado por haver indícios de que ele cometeu os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro oriundo de desvios da Petrobras, praticados por meio de pagamentos dissimulados feitos por José Carlos Bumlai e pelas construtoras OAS e Odebrecht.
Há evidências, segundo o MPF, de que o ex-presidente recebeu valores oriundos do esquema descoberto na Petrobras por meio de um apartamento triplex do Condomínio Solaris, no Guarujá (SP).