segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Quem são as vítimas dos ataques em Paris? Há 2 horas

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Image caption'Morreu fazendo o trabalho que amava', disseram parentes do britânico Nick Alexander
Após os ataques que deixaram pelo menos 129 mortos e 350 feridos em Paris, as identidades das vítimas começam a ser confirmadas. Entre os mortos há pessoas de pelo menos 23 nacionalidades, de acordo com a agência de notícias AFP.
Três brasileiros ficaram feridos, Gabriel Sepe, com tiros nas costas e na perna, Camila Issa, com tiros de raspão nas mãos e pernas, e Daniel Ribeiro, ferimentos leves provocados por estilhaços de vidro. Todos passam bem.
Veja quem são as vítimas:
Djamila Houd, francesa, 41 anos - Era da cidade de Dreux, a 80 km de Paris. O jornal local L'Echo Républicain disse que ela morava em outro lugar mas voltava a Dreux com frequência.
"Com sua morte, toda uma geração de Dreux ficou ferida. Todas as mães de família compartilham a dor da mãe de Djamilla", disse o jornal.
Asta Diakite, francesa - O jogador de futebol francês Lassana Diarra disse em sua conta de Twitter que perdeu uma prima em um dos tiroteios. Segundo o atleta, Asta era como uma "irmã mais velha" para ele.
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Image captionJogador francês (uniforme azul) disputou partida em que explosões foram ouvidas; sua prima foi uma das vítimas dos ataques
Diarra estava jogando na partida entre França e Alemanha no Stade de France na sexta-feira à noite. O local também foi cenário de diversos ataques.
Nick Alexander, britânico - Morreu no Le Bataclan, segundo o Ministério de Relações Exteriores britânico e sua família.
Nick era responsável pela venda de produtos da banda de rock Eagles of Death Metal, que tocava no local.
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Image captionPelo menos 129 morreram nos ataques
"Nick não era só nosso irmão, filho e tio, mas também era o melhor amigo de todo mundo. Era generoso, divertido e muito leal", disse a família em um comunicado.
"Morreu fazendo o trabalho que amava e nos consola saber o quanto seus amigos em todo o mundo o amavam."
Halima, 37 anos, de origem tunisiana - Um das vítimas do ataque ao café-restaurante La Belle Équipe, na rue de Charonne, que matou 19 pessoas. Ela morreu na hora, deixando dois filhos, de 6 e 3 anos. Sua irmã, Hodda, 35 anos, teria sido gravemente ferida no atentado, segundo sua família. O sobrenome delas não foi divulgado.
Halima, Hodda e um de seus irmãos festejavam com amigos um aniversário. “Minha irmã, como todos os membros da família, era totalmente integrada à sociedade francesa”, diz Bechir, um irmão. “Ela foi morta com todos esses inocentes. Os que fazem isso não podem reivindicar suas ações em nome da religião”, diz o irmão.
Patricia San Martín, de 61 anos, chilena - Trabalhava como produtora de eventos da casa de shows Le Bataclan, onde ocorreu o ataque mais sangrento de sexta-feira.
Uma pessoa próxima à família disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que ela estava com sua filha Elsa Del Palce, de 34 anos e com nacionalidades francesa e chilena, que também morreu no ataque.
Segundo o governo chileno, Patricia seria uma exilada e sobrinha do embaixador do Chile no México, Ricardo Nunez.
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Image captionForam confirmadas as mortes de 4 latino-americanos
Luis Felipe Zschoche Valle, chileno, de 35 anos - Estava no show com a mulher, de nacionalidade francesa. Não há informações sobre ela.
Nohemí González, 23 anos- A estudante de El Monte, Califórnia, também estava entre as vítimas, segundo sua universidade. Ela tinha cidadania dos EUA e do México.
Ela estava em Paris para estudar na Escola de Desenho Strate, em um programa de intercâmbio.
Michelle Gil Jaimes - tinha cidadania mexicana e espanhola. O governador do Estado de Vera Cruz tuitou condolências à família.
O presidente do México, Henrique Peña Nieto, confirmou pelo Twitter a morte de dois cidadãos do país.
"Lamento profundamente o falecimento de duas mexicanas em consequência dos ataques perpetrados ontem em Paris", escreveu, sem dar mais detalhes sobre as vítimas.
Thomas Ayad, de 34 anos, francês - Trabalhava para a gravadora Mercury Records. Estava no show com dois colegas que também morreram.
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Image captionHomenagens às vítimas foram feitas em todo o mundo
Em um tuíte, o presidente da Universal Music na França, Pascal Negre, se referiu às duas outras vítimas como Marie e Manu, mas não deu mais detalhes.
Valentin Ribet, francês - A universidade britânica London School of Economics (LSE) confirmou a morte do ex-aluno, que concluiu um mestrado em Direito em 2014.
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Image captionEx-estudante de Direito da LSE trabalhava em escritório de advocacia em Paris
Segundo seu perfil na rede social LinkedIn, ele era um associado no escritório Hogan Lovells e trabalhava com Direito Penal.
Guillaume B. Decheft, francês - jornalista da revista de rock Les Inrocks. Havia escrito sobre o último disco da banda.
Mathieu Hoche, francês - repórter do canal France 24 TV, morreu no Le Bataclan.
"Dado", francês - no Bataclan também morreu um homem conhecido pelo apelido de "Dado", de 44 anos e original de Ceyrat, segundo o canal France 3. Ele trabalhava para o órgão equivalente à Receita Federal.
Cedric Mauduit, francês - funcionário público da Normandia que estava no local com cinco amigos.
Aurélie de Peretti, francesa, 33 anos, estava no Bataclan, segundo a revistaTimes. "Não consigo acreditar que acabei de perder uma parte de mim", disse sua irmã, Delphine.
Quentin Boulanger, francês, 29 anos - era de Rheims e estava no show do Bataclan.
Lola Salines, francesa - a morte foi confirmada por seu pai no Twitter; ele havia usado a plataforma para tentar localizá-la.
Elodie Breuil, francesa - vítima tinha 23 anos e estava no show com seus amigos.
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Image captionMaioria das vítimas foi morta durante um show da banda americana Eagles of Death Metal
Alberto González Garrido, espanhol - tinha 29 anos e morreu no Bataclan.
Elif Dogan, 26 anos - seria um dos três belgas mortos nos atentados.
Milko Jozic, 47 anos - também seria uma dos belgas mortos, de acordo com a imprensa local. O Ministério das Relações Exteriores da Bélgica confirmou a morte de três belgas. A outra vítima teria 28 anos, mas sua identidade ainda não foi confirmada.
Valeria Solesin, 28 anos, de Veneza (Itália) - sua família afirma que ela foi morta do lado de fora do Bataclan, mas a morte ainda não foi confirmada oficialmente.
Manuel Dias, português, 63 anos - segundo o governo português, Manuel havia emigrado e vivia em Paris há muitos anos. Foi morto em uma das explosões perto do Stade de France.
Precilia Correia, 35 anos - tinha dupla cidadania portuguesa e francesa. Foi morta no Bataclan com seu namorado francês.
Amine Ibnolmobarak, marroquino, 29 anos - o arquiteto morreu no bar Carillon, de acordo com um jornal do Marrocos. Ele estaria com sua mulher, que foi gravemente ferida.

Outras vítimas

O Ministério de Relações Exteriores da Suécia disse que um sueco morreu nos ataques e que um ficou ferido.
O governo alemão confirmou que ao menos um cidadão do país está entre as vítimas, segundo o jornal Die Zeit.
Dois romenos foram mortos, segundo informou o governo do país à emissora francesa BFM.
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Image captionBandeira do Brasil em meio à homenagem a vítimas: dois brasileiros ficaram feridos, mas passam bem
Dois argelinos foram mortos, disse a agência oficial APS, citando fontes diplomáticas. As vítimas seriam uma mulher de 40 anos e um homem de 29 anos.

Dois novos terroristas são identificados; um deles entrou na UE pela Grécia


Policiais montam guarda perto da casa de shows Bataclan, em Paris
Outros dois homens-bomba que participaram dos atentados de Paris na última sexta-feira foram identificados, um deles francês e outro com passaporte sírio, que transitou pela Grécia em outubro, anunciou a procuradoria.
A autenticidade do passaporte sírio encontrado ao lado do corpo do homem-bomba no Stade de France ainda precisa ser comprovada, "mas existe uma compatibilidade entre as impressões digitais do homem-bomba e as tomadas durante um controle na Grécia em outubro", afirma um comunicado da procuradoria.
O passaporte está em nome de Ahmad al-Mohammad, nascido em 10 de setembro de 1990 na cidade síria de Idlib.
O governo grego informou no sábado que o indivíduo portador do passaporte encontrado em Paris havia sido registrado na ilha grega de Leros em outubro.
"Chegou à ilha de Leros em 3 de outubro, onde foi registrado de acordo com as regras da União Europeia", afirmou o ministro grego da Proteção aos Cidadãos, Nikos Toskas.
O outro homem-bomba identificado, um dos três autores do massacre na casa de espetáculos Bataclan, é Samy Amimour, um francês com antecedentes judiciais nascido em 15 de outubro de 1987 em Drancy, subúrbio do norte de Paris.
Ele era conhecido pela justiça antiterrorista e foi "indiciado em 19 de outubro de 2012 por associação terrorista para delinquir (projeto de viagem ao Iêmen abortado) e havia sido colocado sob controle judicial", informou a procuradoria de Paris.
Depois de violar o controle no fim de 2013, o francês foi objeto de uma ordem de prisão internacional. Três parentes de Amimour fora detidos e estavam sendo interrogados pela polícia nesta segunda-feira.
Cinco terroristas foram identificados pelas autoridades francesas desde os atentados de sexta-feira, que deixaram pelo menos 129 mortos e 350 feridos, muitos deles em estado grave.

Sete perguntas para entender o 'Estado Islâmico' e como ele surgiu Da BBC Mundo

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Image captionMilitantes são conhecidos por sua brutalidade ao combater seus inimigos
Os ataques em Paris na sexta-feira voltaram a colocar em foco o grupo extremista autodenominado "Estado Islâmico" (EI), que assumiu a autoria dos atentados que mataram ao menos 129 e deixaram mais de 350 feridos.
Com suas táticas brutais, que envolvem assassinatos em massa, sequestros de minorias religiosas e decapitações divulgadas pela internet, o grupo vem gerando uma onda de medo e ódio em todo o mundo.
Mas o que é realmente o "EI"? Quem o financia? E quantos membros têm? A seguir, respondemos a estas e outras perguntas.

1. O que é e o que quer o 'Estado Islâmico'?

O grupo estabeleceu um califado, uma forma de Estado dirigido por um líder político e religioso de acordo com a lei islâmica, a sharia. O 'EI' controla hoje um território que engloba partes da Síria e do Iraque.
Apesar de estar presente só nestes dois países, o grupo prometeu "romper as fronteiras" do Líbano e da Jordânia com o objetivo de "libertar a Palestina" e, para isso, tem pedido o apoio de todo o mundo muçulmano, além de exigir que todos jurem lealdade a seu líder (califa), Abu Bakr al-Baghdadi.

2. Qual é sua origem?

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Image captionEstimativas dão conta de que grupo e aliados controlam ao menos 40 mil km2 no Iraque e na Síria
Para buscar as raízes do 'EI", é preciso voltar a 2002, quando o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, já falecido, criou o grupo radical Tawhid wa al-Jihad.
Um ano depois da invasão liderada pelos Estados Unidos no Iraque, Zarqawi jurou lealdade a Osama bin Laden e fundou as bases da Al Qaeda no Iraque, que se tornou na maior força insurgente dos anos de ocupação americana.
No entanto, depois da morte de Zarqawi em 2006, a Al Qaeda criou uma organização alternativa chamada "Estado Islâmico de Iraque" (Isi, na sigla em inglês).
O Isi foi enfraquecido pelos ataques das tropas americanas e pela criação dos conselhos sahwa, liderados por tribos sunitas que rejeitaram a brutalidade do grupo.
Em 2010, Abu Bakr al-Baghdadi se tornou seu novo líder, resconstruiu a organização e realizou múltiplos ataques. Três anos depois, se união à rebelião contra o presidente sírio Bashar al Assad, junto com a frente Al Nusra.
Abu Bakr anunciou a fusão das milícias no Iraque e na Síria em abril daquele ano e a batizou como "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" (ISIS, na sigla em inglês).
Os líderes da Al Nusra rejeitaram esta fusão. Mas os combatentes leais a Abu Bakr o seguiram em seu empenho jihadista. Em dezembro de 2013, o ISIS se concentrou no Iraque e aproveitou a divisão política entre o governo de orientação xiita e a minoria sunita.
Com a ajuda de líderes tribais, conseguiram controlar a cidade de Faluja. Mas o grande golpe veio em junho de 2014, quando assumiram o controle de Mosul, a segunda maior cidade do país, e continuaram a avançar rumo à capital, Bagdá.
Em julho, já controlavam dezenas de outras cidades e localidades. Neste ponto, o Isis declarou ter criado um califado e mudou seu nome para "Estado Islâmico".

3. Quanto território o grupo controla?

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Image captionPatrímônio histórico vira cinzas em cidades ocupadas pelo 'EI'
Estimativas dão conta de que o grupo e seus aliados têm sob seu controle ao menos 40 mil km² no Iraque e na Síria, quase o equivalente ao território da Bélgica. Mas outros analistas afirmam que são cerca de 90 mil km², o mesmo que toda a Jordânia.
Esse território inclui as cidades de Mosul, Tikrit, Faluja e Tal Afar no Iraque, e Raqqa na Síria, além de reservas de petróleo, represas, estradas e fronteiras.
Ao menos 8 milhões de pessoas vivem em áreas controladas total ou parcialmente pelo 'EI', que faz uma interpretação radical da sharia, forçando mulheres a usar véu, realizando conversões forçadas, obrigando o pagamento de um imposto e impondo castigos severos, que incluem execuções.

4. Quantos membros tem?

Autoridades americanas acreditam que o "Estado Islâmico" tenha cerca de 15 mil combatentes. No entanto, o especialista em segurança iraquiano Hisham al-Hisham estima, no início de agosto, esse número em entre 30 mil a 50 mil.
Por volta de 30% deles o faz por pura convicção, enquanto o restante foi coagido pelos líderes do grupo a entrar nele. Um número considerável de combatentes não é iraquiano ou sírio. A consultoria Soufan, especializada em segurança no Oriente Médio, estima que haja ao menos 12 mil estrangeiros entre seus membros, dos quais 2,5 mil teriam vindo de países do Ocidente nos últimos três anos.

5. Que armamentos usa?

Os membros do "EI" têm acesso a e são capazes de usar uma grande variedade de armas, inclusive artilharia pesada, metralhadoras, lançadores de foguetes e baterias antiaéreas. Em suas incursões militares eles capturaram tanques de guerra e veículos blindados dos Exércitos sírio e iraquiano.
Além disso, o grupo tem um constante abastecimento de munição que mantém seu Exército bem armado. O poder de seus ataques recentes e enfrentamentos com o Exército curdo no norte do Iraque surpreendeu a muitos.

6. Como se financia?

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Image captionGrupo se autofinancia com venda de petróleo e gás, impostos e crimes
O grupo disse ter US$ 2 bilhões (R$ 7,6 bilhões) em dinheiro. Isso faria dele o grupo insurgente mais rico do mundo.
A princípio, seu apoio vinha de indivíduos de países árabes do Golfo Pérsico, como Catar e Arábia Saudita. Ultimamente, consegue se sustentar ao ganhar milhões de dólares com a venda de petróleo e gás dos campos que controla, dos impostos que recolhe em seu território e de atividades ilícitas, como contrabando e sequestro.
Sua ofensiva no Iraque também foi bastante lucrativa, já que obteve acesso ao dinheiro que estava nos bancos das principais cidades que passou a controlar.

7. Por que suas táticas são tão brutais?

Os membros do "EI" são jihadistas que fazem uma interpretação extrema do ramo sunita do Islã e acreditam ser os únicos reais fiéis. Veem o resto do mundo como infiéis que querem destruir sua religião.
Desta forma, atacam muçulmanos e não muçulmanos. Decapitações, crucificações e assassinatos em massa já foram usados para aterrorizar seus inimigos. Os militantes usam versos do Corão para justificar seus atos, como trechos que incitam a "golpear a cabeça" dos infiéis.
O líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, condenou as ações do "EI" em fevereiro passado e advertiu ao califa que a brutalidade o faria perder o "coração e a cabeça dos muçulmanos".

Índios fecham ferrovia da Vale em MG em protesto contra 'morte de rio sagrado' Luis Kawaguti e Ricardo Senra Enviados especiais da BBC Brasil a Conselheiro Pena (MG)

Com o corpo pintado para a guerra, tinta preta no rosto e olhos vermelhos de noites mal dormidas, Geovani Krenak, líder da tribo indígena Krenak, mira a imensidão de água turva e marrom.
"Com a gente não tem isso de nós, o rio, as árvores, os bichos. Somos um só, a gente e a natureza, um só", diz. Ele respira fundo: "Morre rio, morremos todos".
Parte dos 800 km de extensão do rio Doce, contaminado pela lama espessa que escoa há 10 dias de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco, em MG, atravessa a reserva da tribo. Tida como sagrada há gerações, toda a água utilizada por 350 índios para consumo, banho e limpeza vinha dali. Não mais.
Sem água há mais de uma semana, sujos e com sede, eles decidiram interromper em protesto a Estrada de Ferro Vitória-Minas, por onde a Vale, controladora da Samarco e da ferrovia, transporta seus minérios para exportação.
"Só saímos quando tiverem a dignidade de conversar com a gente. Destruíram nossa vida, arrasaram nossa cultura, e nos ignoram. Não aceitamos”, anuncia o índio Aiá Krenak à BBC Brasil.
BBC
Image captionSem água há mais de uma semana, índios decidiram interromper ferrovia em protesto
Procurada, a Vale informa que "continua, com apoio da Funai, as tentativas de negociação com o Povo Indígena Krenak para liberação da ferrovia".
"Cabe ressaltar que a Vale, como acionista da Samarco juntamente com a BHP Billiton, tem atuado ativamente nas ações para atendimento às famílias afetadas pelo acidente do dia 5 de novembro e reitera seu compromisso em se relacionar com o Povo Krenak de modo transparente e participativo, mantendo uma relação construtiva, respeitando suas características próprias e a legislação vigente", disse a empresa por meio de nota.
A empresa afirma que a interdição está impedindo o transporte de água para as comunidades da região do Rio Doce. "Atualmente, cerca de 360 mil litros de água, sendo 60 mil litros de água mineral e 300 mil litros de água potável, provenientes de Vitória (ES), estão nos trens aguardando a liberação da ferrovia para distribuição", diz a Vale no comunicado.
"A empresa repudia quaisquer manifestações violentas que coloquem em risco seus empregados, passageiros, suas operações e que firam o Estado Democrático de Direito e ratifica que obstruir ferrovia é crime."

41 graus, sem água

BBC
Image captionParte dos 800 km do rio Doce, contaminado pela lama espessa, atravessa a reserva da tribo
Sentados ao longo dos trilhos enferrujados, sob o sol de 41 graus, os índios cantam uma música de compasso lento, marcado pelas batidas de cajados de madeira no chão, tudo no idioma krenak.
De cocar amarelo, apoiado por um tronco de madeira, o pajé, homem mais velho das redondezas, chora. Ernani Krenak, 105 anos de idade, se aproxima e traduz a canção para a reportagem da BBC Brasil.
"O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo rio que nos alimenta e banha. O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo nosso rio, pelo rio de todos."
Sua irmã pede a palavra. Dejanira Krenak, de 65 anos, quer lembrar que o sofrimento não é só dos índios. "Não é 'só nós', os brancos que moram também na beira do rio precisam muito dessa água, eles convivem com essa água, muitos pescadores tratam a família com os peixes, diz.
Atrás dos dois, uma índia molha os rostos suados das duas filhas pequenas com uma cuia mal cheia de água de um galão doado por moradores de cidades vizinhas, como Conselheiro Pena e Resplendor.
Segundo os índios, crianças e idosos têm prioridade na distribuição da pouca água limpa estocada.
A família está acampada sob lonas pretas na margem da ferrovia, onde também se espalham barracas de camping e colchões ao relento. Ali, homens e mulheres fumam longos cachimbos, enquanto acendem pequenas fogueiras para aquecer o jantar coletivo.

Rio morto

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Image captionDecisão judicial determinou que índios deixem local em até próxima terça-feira
À BBC Brasil, o professor de recursos hídricos Alexandre Sylvio Vieira da Costa, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, disse que o rio precisará de pelo menos 10 anos para "começar a se estabelecer novamente".
"Todas as plantas aquáticas que dão base ao ciclo biológico do rio morreram com a chegada esse rejeito, composto basicamente de ferro, alumínio e manganês. A água fica mais densa e o oxigênio não consegue se misturar", explicou Costa. "Por isso não sobrou nada. Nem caramujo."
Além do prejuízo na fauna e na flora, sete mortes foram registradas até este domingo. Dez dias após o acidente, pelo menos 18 pessoas ainda estão desaparecidas.
A tragédia ambiental é resultado do rompimento das barragens de Fundão e Santarém, em Mariana, a cerca de 100 km de Belo Horizonte.
As barragens represavam rejeitos de mineração – resíduos, impurezas e material usado para a limpeza de minérios – da Samarco, empresa controlada pela mineradora brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP.
A presidente Dilma Rousseff visitou o local na semana passada e anunciou cobrança de multa de R$ 250 milhões à Samarco.

Decisão judicial

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Image captionEspecialista avalia que rio precisará de ao menos dez anos para 'começar a se restabelecer'
A noite cai, e a quantidade de mosquitos é insuportável.
"Nunca foi assim", diz o índio Geovani Krenak, enquanto a dupla de repórteres gesticula para afastar a nuvem de insetos. "Esses mosquitos vieram com essa água podre, com os peixes que nos alimentavam e agora estão descendo o rio mortos."
A 500 metros dali, dezenas de vagões, carregados de toneladas de minério de ferro que seguiriam para portos no Espírito Santo, estão parados na ferrovia.
A estrada de ferro também tem intenso movimento de passageiros – quem tinha bilhetes de viagem foi orientado a remarcar suas passagens ou aguardar reembolso após 30 dias.
À BBC Brasil, os índios informaram que foram notificados por uma decisão judicial que determina que eles deixem o local em até cinco dias – o prazo expira na próxima terça-feira.
Eles prometem continuar lá – a menos, dizem, que representantes da Vale apareçam para discutir com eles a recuperação do rio sagrado e um esquema de fornecimento de água por caminhões pipa.