Aluguéis em Islington, um dos bairros mais afluentes do norte de Londres, dispararam na última década, incluindo os de imóveis comerciais. Mas ao anunciar o fechamento de sua escola para taxistas - a Knowledge Point, que há quase 30 anos funciona em um endereço na Caledonian Road -, Malcolm Linksey não hesita em apontar quem considera o principal "vilão": o Uber.
Assim como em outras grandes cidades do mundo, o aplicativo é tido pelos taxistas como seu inimigo número um. Em Londres, autoridades de transporte, com o apoio do sindicato dos taxistas (LTDA), entraram com uma liminar na Alta Corte na tentativa de proibir o uso do Uber, sob o argumento de que oferecia competição injusta para os táxis licenciados.
O tribunal deu ganho de causa para o Uber, que opera em Londres desde 2012 e, segundo estatísticas da Secretaria Municipal de Transportes (TFL), contribuiu para um aumento de quase 25% do número de carros que oferecem serviço de táxi circulando pelas ruas da capital.
Isso por si só já seria má notícia para os taxistas de Londres que operam os tradicionais táxis pretos - os únicos autorizados a apanhar passageiros em qualquer área da cidade -, mas o impacto também é sentido também por quem prepara esses motoristas: para conduzir os black cabs, candidatos precisam passar por um rigoroso teste que mistura memória e raciocínio, conhecido comoThe Knowldege (O Conhecimento, em tradução livre). Sem usar o GPS.
Mais especificamente, eles precisam memorizar 25 mil ruas, 20 mil pontos de interesse e uma infinidade de rotas, em exames teóricos e práticos. O teste é tão difícil que exige, em média, quatro anos de estudos, tempo que escolas como a Knowledge Point tentam diminuir.
Sete em cada 10 candidatos não completam o programa. Um estudo científico em 2011 mostrou que o esforço para passar no teste provocou alterações nos cérebros dos taxistas, em que a região do hipocampo, responsável pela memória, estava mais desenvolvida.
Táxi!
"Black Cabs" versus Uber em Londres
1 milhão
Número de usuários registrados no Uber em Londres
25.000 é o tamanho da frota de táxis tradicionais na capital britânica
76.000 é o número de carros de serviços alternativos
20% de queda em 2015 no número de motoristas buscando licenças da Secretaria Municipal de Transportes
Menos estudantes
A popularização de serviços de táxi paralelos que permitem o uso de navegação eletrônica na teoria torna o The Knowledge menos atraente para quem busca trabalhar "na praça". Algo refletido pelas mais recentes estatísticas sobre novos pedidos de licenças para dirigir os black cabs: em maio, um relatório da TFL mostrava queda de 20% na emissão de certificados.
"Eu costumava ter 350 estudantes todos anos, mas no ano passado foram apenas 200. Negócios como o meu estão simplesmente sendo varridos", diz Linksey, explicando ao jornal Financial Times por que decidiu fechar as portas de sua escola para taxistas (a principal da cidade) até o final do ano.
Isso apesar de os ganhos médios anuais de um motorista de táxi tradicional em Londres passarem de R$ 300 mil por ano.
"Os taxistas licenciados estão sofrendo a maior queda de contingente que já vi nos 30 anos em que tenho dirigido, enquanto o Uber ganha centenas de novos motoristas a cada semana", afirma à BBC Steve McNamara, presidente da LTDA, que no final de setembro paralisou o trânsito no centro de Londres com uma carreata do qual participaram 1.500 táxis pretos.
Atualmente, há cerca de 25 mil black cabs nas ruas de Londres e 15 mil carros registrados no Uber, segundo estimativas da mídia britânica. Nesse ritmo, o número dos motoristas "insurgentes" pode em breve ultrapassar o de oficiais, um fenômeno que já ocorreu em Nova York. Até porque, apesar da fama conquistada ao redor do mundo como um símbolo da Cool Britannia, os tradicionais táxis são mais caros e também constam como um dos serviços mais criticados pelo público.
Tanto que mais de 130 mil pessoas assinaram uma petição online em favor do Uber quando a TFL e a LTDA foram à justiça para argumentar que o sistema de cálculo de corridas do aplicativo funcionava como um taxímetro - por lei, apenas osblack cabs podem funcionar com ele, ao passo que serviços paralelos precisam operar com corrida de preço pré-estabelecido.
Outra ameaça para os taxistas é a decisão do prefeito de Londres, Boris Johnson, de tentar impor a todos os motoristas de black cabs a compra de veículos menos poluentes por conta de novas políticas de redução da poluição no centro da cidade a partir de 2018.
O Uber argumenta que não tem como missão causar danos aos serviços tradicionais.
"Uma prova disso é que nossas operações estão abertas para motoristas de black cabs, algo que pode ser interessante para as viaturas que estiverem no fim de uma fila de ponto, por exemplo", diz um porta-voz da empresa. "Além disso, os black cabs continuam tendo privilégios como parar na rua e usar as faixas de ônibus para trafegar nas ruas de Londres."
Em tempos de polarização da política e do debate econômico, o professor da Fundação Getúlio Vargas Luiz Carlos Bresser-Pereira se recusa a se enquadrar em categorias preconcebidas.
Amigo pessoal e ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso (FHC), ele apoiou Dilma Rousseff nas últimas eleições.
É um orgulhoso desenvolvimentista (linha que defende ação ativa do Estado na promoção do desenvolvimento econômico), mas também um defensor do ajuste fiscal que está cortando o orçamento da saúde e educação.
Seu apoio ao governo também não o dissuade de classificar a gestão Dilma como "desastrosa" em muitos aspectos.
Nem de acusar Luiz Inácio Lula da Silva de promover um "populismo cambial" ao manter o dólar a R$ 2 para garantir a eleição de sua sucessora e apaziguar a classe média, que hoje, segundo ele, teria desenvolvido um ódio "profundo" e "irracional" ao PT.
"O dólar a R$ 2 foi o pior legado de Lula, a bomba que ele deixou para Dilma", afirma. "Fala-se no superávit primário, mas até 2012 não tivemos problema nessa área (...) O que arrebentou a economia foi o câmbio, que provocou uma desindustrialização."
Aos 81 anos, Bresser já esteve no PMDB e foi um dos fundadores do PSDB. Foi ministro da Fazenda do governo José Sarney (quando um plano com seu nome falhou no controle da inflação), ministro da Reforma do Estado no primeiro mandato de FHC e de Ciência e Tecnologia no segundo.
Ele falou com a BBC Brasil em seu escritório, em São Paulo, dias antes de receber o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano da União Brasileira de Escritores.
BBC Brasil - Muitos de seus colegas desenvolvimentistas estão criticando o ajuste fiscal. Como vê essas críticas?
Luiz Carlos Bresser-Pereira - São críticas dos desenvolvimentistas populistas ou keynesianos vulgares. Acredito que o Estado deve ter uma intervenção moderada na economia e uma política macroeconômica ativa.
O mercado é uma maravilha para coordenar setores competitivos, mas os baseados em monopólios ou quase monopólios, como o de infraestrutura, precisam de uma intervenção forte e planejada. Mas não há nenhuma razão para eu defender a irresponsabilidade fiscal, que o governo possa gastar dinheiro sempre que quiser. John Maynard Keynes (economista britânico) deve estar rolando na cova de irritação diante dessa irresponsabilidade que a gente vê em nome dele.
BBC Brasil - O governo está cortando onde deveria?
Bresser - Nenhum ajuste corta no lugar certo. Estamos reduzindo o investimento (público), que já estava baixo. O governo está cortando onde pode, no fundo é isso. Defendo o retorno da CPMF: é um imposto pequeno, necessário.
Mas o ajuste é o que tem de ser feito. Por outro lado, não sou a favor desse aperto monetário. Sei que a inflação está alta, mas com essa recessão não precisamos de juros mais altos para segurar os preços – o que, além de ser um empecilho para a retomada dos investimentos, têm um custo financeiro enorme.
O Banco Central está ‘descontando’, como dizem as crianças. Em 2011 fizeram uma redução grande na taxa de juros que não deu certo. A inflação subiu, a Dilma teve que voltar atrás e eles ficaram com a imagem prejudicada junto ao sistema financeiro. Agora, disseram à sociedade brasileira: ‘vocês vão ver’. E estamos vendo.
BBC Brasil - No seu livro A Construção Política do Brasil (Editora 34), o sr. fala das coalizões de classes que se formaram no país. A Lava Jato colocou em evidencia um problema estrutural da relação do Estado com o grande empresariado ou o que revelou foi uma exceção?
Bresser - Não vejo nada de estrutural nisso. É natural que existam estatais e um Estado que faz compras e, nesse quadro, infelizmente, sabemos que a corrupção é grande. Nesse caso, ainda temos um fato adicional: o partido de esquerda no poder fez uma coisa que normalmente os partidos não fazem. Só posso entender isso como uma loucura stalinista que atingiu uma minoria do PT, mas o fato é que algumas pessoas com posição de líderes, especialmente o José Dirceu, inventaram essa história de que era legítimo no capitalismo você financiar um partido com dinheiro de corrupção.
Quando você financia uma campanha específica é diferente. É menor. A coisa ficou muito grande e foi um desastre. E está desmoralizando um partido que tem pessoas admiráveis e que dedicaram sua vida para fazer um Brasil melhor.
Mas uma coisa boa dessa crise é que ela não foi denunciada por políticos, nem pela imprensa, e sim pelo próprio Estado. O Ministério Público já tem liberdade há muito tempo. E a partir de 2004, houve uma série de mudanças que deram à polícia mais autonomia e melhores salários. Hoje, temos órgãos do Estado capazes de defender o Estado. O que mostra que nossa política vai mal, mas o Estado não vai tão mal assim.
BBC Brasil - Mas se há uma ideologia de que um Estado forte deve defender o interesse dos grandes empresários, não se cria muitas oportunidades para associações espúrias?
Bresser - Essa é a tese liberal: o Estado tem de ser pequeno para evitar a corrupção. Mas sabemos que a corrupção dentro das empresas também é grande.
Não sou a favor de um Estado imenso. A grande maioria dos investimentos tem de ser feita pelo setor privado. Agora, o Estado tem um papel social fundamental - e para isso precisa de recursos. Estão querendo até acabar com o SUS (Sistema Único de Saúde), imagine.
O sistema de saúde pública é uma grande conquista da democracia e do capitalismo. O consumo coletivo (de serviços de saúde) não é só mais justo, é mais barato e eficiente. Na Europa, o total gasto com saúde é de 11% do PIB, por exemplo. Nos EUA, onde o serviço é baseado no setor privado, é 17%.
BBC Brasil - O sr. apoiou a Dilma na campanha. Ela prometeu uma política econômica e ao ser eleita aderiu a outra, fazendo cortes até em áreas como educação e saúde. Houve estelionato eleitoral?
Bresser - De nenhuma maneira. A Dilma cometeu erros graves como a irresponsabilidade fiscal, que atribuo ao desespero. Não conseguia fazer o país crescer e, de repente, acreditou na bobagem de fazer uma política industrial agressiva.
Mas, em outubro de 2014, quem estava prevendo que o Brasil entraria em uma gravíssima recessão econômica, com queda de 3% do PIB? Ninguém. Não sabíamos. A economia é uma cienciazinha muito modesta, só é perfeita na cabeça dos economistas ortodoxos. Só se começou a falar em crise em dezembro.
As pessoas dizem que ela (Dilma) passou a fazer o que “a direita quer”, mas a mudança de política mostra algo admirável: ela reconheceu o erro. O que ela é, de fato, é incrivelmente incompetente do ponto de vista político. Em dezembro ela já devia estar sabendo que a situação das contas estava ruim e precisava reajustar o que havia desajustado.
BBC Brasil - Por que a crise chegou a esse ponto?
Bresser - Essa crise está ligada a uma grande insatisfação da classe média tradicional, que nos anos 80 liderou a transição democrática. Tivemos 35 anos de baixo crescimento e (mais recentemente) uma clara preferência pelos pobres. O PT não traiu os pobres, foi coerente nesse ponto, embora também tenha deixado os ricos ganharem muito dinheiro. Então os ricos e os pobres ganharam e a classe media ficou de fora.
Quando o PT começou a se perder, primeiro com o mensalão e depois com o problema da expansão fiscal, começaram as manifestações. Essa classe (média) desenvolveu um ódio profundo ao PT e o governo. Uma coisa irracional, perigosa e antidemocrática.
A democracia é uma forma de governo de pessoas que lutam entre si, mas é uma luta de adversários. De repente nos vimos em uma luta de inimigos. Ainda é um setor minoritário, mas há um setor da sociedade brasileira que radicalizou para a direita e passou a adotar posições pior que udenistas, fascistas.
BBC Brasil - O sr. já tinha defendido essa tese do ódio das elites ao PT. Mas a Dilma tem uma aprovação em torno de 10%. Não é exagero falar que a rejeição vem só da elite e classe média? 90% da população é elite?
Bresser - A Dilma de fato perdeu popularidade em todos os setores. Quando ela percebeu que tinha errado tinha de falar para a imprensa: “Olha, fiz uma reavaliação, algumas coisas não deram certo e vou ter de mudar a política. Peço desculpas por não ter previsto isso antes.”
Em vez disso, depois que ela foi eleita, desapareceu, e só apareceu de novo ao lado do (ministro da Fazenda Joaquim) Levy, já com a política definida e sem explicações. Só reconheceu que errou há um mês. Como disse, ela é muito inábil politicamente. Isso dificulta a sua vida. E a nossa.
BBC Brasil - Como o sr vê o debate sobre o impeachment?
Bresser - Acho que é resultado desse ódio (da classe média ao PT) e do oportunismo de alguns deputados, que se sentem ameaçados por essas investigações (de corrupção). Resolveram contra-atacar.
E o contra-ataque se faz à presidente, porque ela não barrou a Polícia Federal e o Ministério Público (nas investigações). Mas o debate amorteceu. O grande problema do país hoje é se a Dilma consegue levar o ajuste fiscal adiante.
BBC Brasil - Quais seriam as consequências econômicas de um impeachment?
Bresser - Seria um caos danado. Até eu iria para a rua. Nunca vou para a rua, sou um intelectual, mas se houvesse um impeachment com as razões que eles tem aí, pedaladas, TCU, eu iria. Agora, se descobrirem algum crime que a Dilma praticou é outra coisa. Como no caso do Collor.
Acho que as elites brasileiras, e as empresariais principalmente, perceberam que isso (impeachment) não adiantaria nada. Poderia até piorar a crise. Então de um ponto de vista conservador, eles são contra.
BBC Brasil: É uma crise de um modelo de desenvolvimento?
Bresser - A crise é por falta de modelo. Não temos modelo desde os anos 80. Estamos semiestagnados e sem saber o que fazer.
BBC Brasil - Houve um momento em que muitos intelectuais acreditaram que o Brasil estaria criando um novo modelo. A Economist chamou de Capitalismo de Estado, alguns acadêmicos, de um desenvolvimentismo repaginado.
Bresser - De fato houve quem visse um novo modelo e quem tenha se entusiasmado. A própria Economist colocou o Cristo Redentor decolando na sua capa. Foi um grande equívoco. O que houve no Brasil entre 2005 e 2010 foi um boom de commodities, que fez as exportações triplicarem. Isso enganou os economistas da esquerda e da direita.
BBC Brasil - É possível ter um governo um governo de esquerda e um Estado forte com equilíbrio fiscal?
Bresser - Um ajuste fiscal é necessário para por as finanças do Estado em boa forma, uma condição para um Estado forte, capaz. Para que (esse Estado) não quebre, nem dependa de credores. O mesmo vale para o Estado-nação, que inclui o setor privado: você fica devendo para outros países quando tem deficits em conta corrente (que inclui importações e exportações e transferências unilaterais). Em 2014, esse deficit foi de 4,6% do PIB. Uma loucura.
Esse problema começou há algum tempo. Eu participei do governo Fernando Henrique, que é meu amigo, mas descobri que discordava fortemente da parte econômica dele. Foi no governo Itamar (Franco) - sem duvida, com a liderança de Fernando Henrique - que o Brasil estabilizou seus preços. Mas os oito anos do governo FHC foram muito ruins, o crescimento foi baixo. Ele começou dizendo que o Brasil cresceria com poupança externa, ou seja, com deficit em conta corrente financiado com empréstimos (lá fora) ou (atração de investimentos de) multinacionais. Naquela época não havia arcabouço teórico para criticar isso. Fiquei assistindo. Depois passei a fazer a crítica a esse esquema.
BBC Brasil - Como?
Bresser - A questão é que quando o dinheiro entra no Brasil, o câmbio aprecia (o real fica mais forte em relação ao dólar). Mas os investimentos caem, porque sem um câmbio competitivo os empresários não têm acesso a demanda efetiva (os consumidores preferem importados). Portanto, a taxa de investimento depende do câmbio. Mas dizer isso é uma revolução.
Nos países em desenvolvimento há uma tendência à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio que leva o país de crise em crise. Na crise, a taxa cai, depois começa a subir de novo. Até que um dia a dívida começa a aumentar, os credores se preocupam, há um efeito manada e o país quebra. É o ciclo.
BBC Brasil - Ou seja, o sr. está dizendo que se um jantar em São Paulo está mais caro que um em Nova York algo vai mal, uma crise se avizinha?
Bresser - É isso.
BBC Brasil - Que patamar do dólar é ideal para o crescimento?
Bresser - Hoje deve estar perto de R$ 3,8. Já foi R$ 3,6, mas teve a inflação. Mas agora está no lugar certo porque houve uma crise. Não uma crise total, mas uma semicrise. Em 2002, a taxa a preços de hoje foi a R$ 7. Agora foi a R$ 4 - e já está caindo.
BBC Brasil - O sr. é bastante crítico do governo FHC nessa questão. E o governo Lula?
Bresser - Foi um desastre do ponto de vista cambial. Lula recebeu o governo com uma taxa de cambio que seria hoje equivalente a R$ 7 por dólar. E entregou para a Dilma a uma taxa de R$ 2, R$ 2,10. Com isso segurou a inflação, aumentou os salários dos trabalhadores e elegeu sua sucessora. Agora, para Dilma receber essa taxa de R$ 2 foi receber uma missão impossível. Como a Dilma não é o Tom Cruise - é uma mulher corajosa, meio turrona, nem sempre muito brilhante -, fez o que pode. Não conseguiu o desenvolvimento econômico nos primeiros dois anos de seu primeiro mandato e depois foi irresponsável fiscalmente. E aí foi um desastre.
O dólar a R$ 2 foi o pior legado de Lula, a bomba que ele deixou para Dilma. Fala-se no superavit primário (economia que o governo deve fazer para pagar juros da dívida), mas até 2012 não tivemos problema (nessa área). A própria Dilma só se perdeu nos dois últimos anos, quando inventou as desonerações e outras coisas do tipo. A história que contam do déficit estrutural, isso e aquilo, não existia há três anos. O que arrebentou a economia foi o câmbio, que provocou uma desindustrialização.
O Brasil por muito tempo teve um projeto nacional que se resumia nessa palavra: industrialização. Chegamos a ter 28% de participação da indústria no PIB. Hoje é 10%. Foi uma queda brutal e prematura. De duas, uma: ou nossos empresários são todos incompetentes, ou a taxa de câmbio inviabilizou seu negócio.
Brasil - A quem interessa uma taxa sobrevalorizada?
Bresser - Aos rentistas, aos interesses estrangeiros.
Isso é o populismo cambial. Temos o populismo o fiscal, que é o Estado gastar mais que arrecada, e esse cambial. Quem percebeu esse processo primeiro foi o economista argentino Adolfo Canitrot, nos anos 70.
Quando você aprecia o câmbio, todos os rendimentos, salários, lucros e dividendos, aluguéis, tudo vale mais em dólar. Como muitas mercadorias em uma economia aberta têm seu preço impactado pelos preços internacionais, você fica mais "rico". Os eleitores ficam felicíssimos. E é mais fácil para um político a se reeleger. O Fernando Henrique fez isso – e o Lula fez mais.
Mas logo há uma desvalorização (do real), o salário cai de qualquer maneira. Tudo fica mais caro. A classe media perdeu muito com a queda do real. Continua viajando para Miami, mas menos. A quantidade de brasileiros que comprou casas lá... uma tristeza.
A perda da ideia de nação mais essa preferência pelo consumo imediato são dois males da sociedade brasileira que precisam ser repensados. O Brasil só voltará a crescer se fizer essa crítica da taxa de cambio apreciada.
BBC Brasil - Em 2008 o senhor previu o fim da onda neoliberal, mas países que apostaram no desenvolvimentismo enfrentam problemas. Brasil, Venezuela, Argentina… Fala-se em refluxo da esquerda na região.
Bresser - Tivemos uma crise do capitalismo americano em 2008 que expandiu para o europeu. Foi uma crise do liberalismo econômico, porque foi a aplicação de suas teorias que deu nesse desastre com o qual o mundo sofre até hoje. O neoliberalismo continua em baixa, mas isso não significa que caminhamos para um desenvolvimentismo progressista.
Agora, sobre a América Latina, a Venezuela teve um presidente corajoso, com vontade de salvar o país e beneficiado pela alta do petróleo, mas que adotou um populismo violento que está liquidando com a economia local. Antes disso, os liberais sempre governaram a Venezuela e foi um fracasso atrás do outro. Apenas as elites ganhavam. O (ex-presidente Hugo) Chávez pelo menos melhorou o padrão de vida da população. Mas o mal do populismo é muito forte. Ele tinge tanto a esquerda quanto a direita - mas mais a esquerda e os desenvolvimentistas que os liberais.
A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta quinta-feira (12), durante visita a Governador Valadares (MG), que o Ibama vai aplicar uma multa de R$ 250 milhões à Samarco Mineradora.
A empresa, cujos donos são a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, é responsável pelasduas barragens que se romperam há uma semana, causando uma enxurrada de lama que destruiu o distrito mineiro de Bento Rodrigues e avança sobre o Rio Doce, causando prejuízos às cidades por onde passa.
"A multa preliminar é de R$ 250 milhões por dano ambiental e comprometimento da bacia hidrográfica, dano ao patrimônio público e pela interrupção da energia elétrica", afirmou Dilma durante a coletiva.
A presidente disse que os estados atingidos podem também pedir ressarcimento à mineradora. O Ibama confirmou que vai aplicar cinco multas de R$ 50 milhões cada uma.
O juiz Lupércio Paulo Fernandes de Oliveira, da Comarca de Valadares, determinou que aSamarco forneça 800 mil litros de água por dia para garantir o abastecimento do município durante 72 horas, sob pena de multa diária de R$ 1 milhão.
A decisão exige também que a Samarco monitore a qualidade da água do Rio Doce e apresente, em 30 dias, um plano para verificar a persistência de poluentes na água e outro para reparação dos danos causados.
Visita A presidente Dilma Rousseff desembarcou no aeroporto de Governador Valadares por volta das 13h15 desta quinta. Ela chegou à cidade de helicóptero, após visitar Mariana, onde ficam as barragens.
Dilma veio acompanhada dos ministros Aloísio Mercadante (Educação), Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Gilberto Occhi (Integração Nacional).
Também participaram da visita o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, e os governadores de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e do Espírito Santo, Paulo Hartung. Eles vieram com o gabiente de crise, formado por representes da Defesa Civil, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros para amenizar os danos causados.
Depois de Valadares, a presidente seguiu para Colatina (ES), que também passa por problemas de abastecimento de água pela contaminação do Rio Doce.
Quase 270 tartarugas foram resgatadas em uma ação conjunta do ICMBio, IBAMA e CIPA e devolvidas ao Rifo Branco (Foto: Arquivo pessoal/CMBio, IBAMA e CIPA)
Quase 270 tartarugas-da-amazônia foram resgatadas na região do Baixo Rio Branco em Caracaraí, no Sul de Roraima, na noite dessa quarta-feira (11), segundo divulgado nesta quinta (12) pelo Parque Nacional do Viruá, unidade de conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio). Dois homens foram presos em flagrante, multados em R$ 2,6 milhões pelo tráfico dos animais e conduzidos à Polícia Federal. As tartarugas apreendidas, algumas com até cem anos de idade, foram devolvidas ao habitat natural.
Os animais foram apreendidos ensacados, sendo transportados em duas embarcações conduzidas pelos traficantes para a cidade de Caracaraí, onde seriam vendidos por R$ 200,00 cada, segundo os fiscais que participaram da ação. O flagrante ocorreu em um local próximo à foz do rio Ajarani, no entorno do Parque Nacional do Viruá.
“Recebemos a denúncia de que essa quadrilha estaria agindo na região próxima ao parque, e ativamos imediatamente a operação. O flagrante só foi possível porque agimos à noite, no escuro”, explicou Samuel Rodrigues, técnico do ICMBio. “Quando localizamos os suspeitos, seguimos até que estivessem no meio do rio, e só então fizemos a abordagem para evitar que eles fugissem”, relatou.
A região possui grandes tabuleiros de desova de tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa), cujas fêmeas se tornam mais vulneráveis à captura no período reprodutivo, durante a estação seca, quando o nível dos rios baixa e se formam as praias de areia.
Segundo os fiscais, quando elas sobem nas praias para depositarem os ovos, os traficantes as viram de casco para baixo, imobilizando-as para serem recolhidas. Então, são aprisionadas durante vários dias nos chamados 'currais'. “Lá, elas são estocadas amontoadas, sem água nem alimento, até o dia do transporte”, explicou Rodrigues.
Depois de avaliados, as tartarugas-da-amazônia foram devolvidas ao habitat natural (Foto: Arquivo pessoal/CMBio, IBAMA e CIPA)
No entanto, o principal método de captura é ainda mais cruel. Segundo ele, a grande maioria é capturada com o uso dos chamados “capa-sacos”, uma espécie de rede de malha grossa, que pode chegar a 400 metros de comprimento.
“Eles são estirados de uma margem à outra do rio e ficam abertos para que os animais possam entrar. Há casos em que a gente encontra boto, peixe-boi e outros animais, que muitas vezes acabam morrendo porque não podem subir pra respirar”, destaca.
De acordo com o fiscal do Ibama Carlos Dantas, os dois traficantes presos também tiveram embarcações e motores náuticos apreendidos. No caso da multa, o valor foi duplicado, porque os animais seriam comercializados. “O valor é de R$ 5 mil por animal e foi duplicado por haver interesse pecuniário, para comércio”, explicou.
Segunda operação em uma semana A apreensão ocorre uma semana após outra operação que resultou no maior resgate de tartarugas adultas dos últimos dez anos em toda a Região Amazônica, quando foram apreendidas e soltas 383 tartarugas, que estavam sob o poder de duas quadrilhas de traficantes. “Na operação anterior, já tinham sido aplicados R$ 7,5 milhões em multas para outros 8 traficantes”, relatou o fiscal.
As ações do Parque Nacional do Viruá já totalizam 1.960 tartarugas da Amazônia resgatadas de traficantes e devolvidas aos rios da região com vida nos últimos cinco anos. O número é um recorde para toda a Amazônia em referência à apreensão e soltura de tartarugas adultas na região. Apenas neste ano, já são 858 tartarugas adultas salvas graças às ações conjuntas.
Segundo a analista do ICMbio Beatriz Lisboa, o sucesso das operações se deve às parcerias com o Ibama, Cipa, às estratégias de inteligência e ao uso de equipamento próprio do parque.
“Apesar de todas essas apreensões se darem fora dos limites da unidade de conservação, a gestão do Parque Nacional do Viruá tem feito um grande esforço para viabilizar essas ações, pois sem a parceria dos órgãos ambientais a população de tartarugas da região seria drasticamente reduzida em poucos anos", assegura.
As ações de combate ao tráfico de quelônios na região seguem até o final do verão, em abril de 2016. Desde 2011, elas são inteiramente custeadas pelo Parque Nacional do Viruá com recursos do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) do Ministério do Meio Ambiente.
Imagens captadas por um satélite de alta resolução da Airbus Defence and Space, divisão de segurança do Grupo Airbus, mostram a situação de Mariana, na Região Central de Minas, antes e depois do rompimento das barragens de Fundão e Santarém da Samarco, cujos donos são a Vale e a anglo-australiana BHP.
Na primeira imagem abaixo, captada após o rompimento, é possível ver o caminho da lama que devastou o distrito de Bento Rodrigues e seguiu atingindo outros distritos da cidade até chegar ao Rio Doce.
Imagem captada por satélite do grupo Air Bus mostra o rastro de lama deixado pelo rompimento das barragens em Mariana (Foto: Divulgação/ Airbus Defence and Space)
A segunda imagem (veja abaixo) é anterior ao desastre e foi captada em junho deste ano. Nela é possível observar a área de mineração e as barragens ainda intactas.
Imagem captada por satélite do grupo Air Bus em junho de 2015 mostra área de mineração em Mariana e barragens antes do rompimento (Foto: Divulgação/ Airbus Defence and Space)
As demais imagens abaixo mostram o antes o depois do rompimento de forma aproximada, destacando o distrito de Bento Rodrigues, devastado pela lama e a barragem do fundão. As duas primeiras foram captadas pelo DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias e as duas últimas são do gupo Airbus.
Área atingida por rompimento das barragens em Mariana antes e depois (Foto: DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias)
Área atingida por lama despejada de barragens em Mariana (Foto: DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias)
Área de barragens antes do rompimento em Mariana (Foto: DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias)
Lama de barragens destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (Foto: DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias)
Distrito de Bento Rodrigues antes de ser devastado pela lama das barragens (Foto: DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias)
Distrito de Bento Rodrigues atingido por lama antes e depois (Foto: DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias)
Imagem captada por satélite do grupo Air Bus mostra o distrito de Bento Rodrigues devastado pela lama (Foto: Divulgação/ Airbus Defence and Space)
Outra imagem mostra o distrito de Bento Rodrigues antes do rompimento das barragens (Foto: Divulgação/ Airbus Defence and Space)