sábado, 10 de outubro de 2015

Teori Zavascki aprova acordo de delação premiada de Fernando Baiano Ministro responsável pela Lava Jato no STF homologou acordo nesta sexta. Baiano citou parlamentares com envolvimento em corrupção na Petrobras.

O ministro Teori Zavascki, responsável pelos processos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou nesta sexta-feira (9) o acordo de delação premiada do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, suposto operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras - o partido nega ter vínculos com ele.
A colaboração foi validada pelo Supremo porque Baiano citou o envolvimento de parlamentares com foro privilegiado, que só podem ser investigados com supervisão do tribunal.
A partir da homologação, a Procuradoria Geral da República vai analisar se abre novas investigações ou se inclui as informações em inquéritos já em andamento.
Fernando Baiano é investigado no Supremo no principal inquérito em andamento no tribunal, o que apura se existiu uma organização criminosa com o intuito de fraudar contratos e desviar dinheiro para pagamento de propina a políticos.
Segundo depoimentos de delatores da Lava Jato, Fernando Baiano era interlocutor do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e atuou com ele em desvios de contratos de navios-sonda da Petrobras.

Baiano já foi condenado na primeira instância da Justiça Federal em Curitiba a 16 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sob acusação de receber US$ 40 milhões de propina nos anos de 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios-sonda para a perfuração de águas profundas na África e no México.

Com colaboração com as investigações, ele poderá ter as penas reduzidas. Num dos depoimentos dados durante as negociações para fechar o acordo, Baiano confirmou informações dadas por outro delator, o empresário Julio Camargo, de que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teria recebido propina de pelo menos US$ 5 milhões por contratos de aluguel de navios-sonda pela Petrobras.
Os fatos narrados por Camargo foram a base de denúncia feita pela PGR contra Eduardo Cunha em agosto, por suposta prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

UPP: maioria de PMs critica formação e 66% veem morador descrente Pesquisa da Universidade Cândido Mendes foi revelada neste sábado (10). Especialistas questionam afastamento de UPPs da polícia de proximidade.

O Morro Santa Marta, em Botafogo, na Zona Sul, foi o primeiro a receber uma UPP.  A comunidade é, também, muitas vezes, chamada de "Dona Marta" e  foi o palco principal das cenas do filme Velozes e Furiosos 5. (Foto: Instituto Pereira Passos / César Duarte)Morro Santa Marta é um dos ocupados pela PM. (Foto: Instituto Pereira Passos / César Duarte)
Quando anunciou a expulsão de PMs suspeitos de forjar a cena de um crime no pacificado Morro da Providência, José Mariano Beltrame admitiu que o episódio poderia abalar a imagem das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs). Para o secretário de Segurança Pública, no entanto, prevaleceria a imagem dos bons policiais, e não as exceções violentas ou corruptas. Não é o que mostra pesquisa realizada entre 2010 e 2014 pela Universidade Cândido Mendes sobre as UPPs, onde PMs percebem a descrença de moradores e revelam a própria insatisfação com o andamento do projeto.
O sentimento negativo da comunidade em relação aos policiais das unidades impera para 60,1% dos mais de dois mil policiais entrevistados. O salto desta impressão negativa nestes quatro anos é de quase 32 pontos percentuais.
O descontentamento é ainda mais evidente para os 66% que, no ano passado,  tinham sido xingados por moradores ou para aqueles que sentiram na pele: os 56% que foram alvos de objetos arremessados por moradores.
Realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), a terceira fase do projeto "UPPs: o que pensam os policiais" recebeu a coordenação de Barbara Musumeci Mourão, Leonarda Musumeci e Silvia Ramos. Foram ouvidos 2 mil policiais de 36 UPPs (1.896 soldados e 106 cabos), numa amostra que representaria o conjunto das UPPs e tem margem de erro de 4%.
Morador grava PMs forjando cena do crime no Morro da Providência (Foto: Reprodução / TV Globo)Morador grava PM forjando cena do crime no Morro
da Providência (Foto: Reprodução / TV Globo)
O baque na relação morador-policial pode ter várias causas, para as quais a pesquisa tenta apontar. O medo aumentou para os agentes — 42,4% deles se sentem inseguros ou muito inseguros em seu trabalho. O distanciamento da prometida polícia de proximidade, na qual prevaleceria a conciliação de problemas em vez da adoção de medidas bélicas, também pode ser um problema. Se apenas 5,3% dos policiais tiveram reuniões com moradores, 56,4% já fizeram abordagens.  Sem contar que a maioria dos agentes se queixa das condições de trabalho e da formação: 51,7%.
Há ainda um fator (às vezes até fora da comunidade em questão) que acaba estremecendo a relação, na opinião das pesquisadoras. Cenas como a flagrada no Morro da Providência, de PMs forjando o confronto com um rapaz já morto, acabam sensibilizando toda a população. "Como é que aqueles policiais [de UPPs] aprenderam isto, se tiveram outra preparação? A gente vê que há uma contaminação do que há de pior da polícia convencional", opina a coordenadora da pesquisa Silvia Ramos. E isto, segundo ela, provoca um desânimo generalizado. "Más notícias contaminam", diz.
Política de proximidade
"Menina dos olhos" da política de proximidade, a ronda a pé pela comunidade vem sendo trocada pelo Grupamento Tático de Política de Proximidade. Para as especialistas, o grupamento conhecido pela sigla GTPP ou pelo apelido "bonde" (nas favelas), acaba atuando como um "miniBope" (Batalhão de Operações Especiais). Abordagens e confrontos dentro da comunidade acabam sendo mais comuns, tornando o grupamento o maior alvo de desaprovação.
A "lógica do batalhão comum", que preocupa as especialistas, parece chegar às comunidades. Um dos poucos números que aumenta na pesquisa é o de policiais que se dizem "encaixados" no perfil das UPPs. As pesquisadoras Silvia, Leonarda e Barbara, coordenadoras da pesquisa, se perguntam: será que eles se sentem familiarizados lá por que a UPP mudou e ficou mais parecida com os batalhões comuns?
GNews - UPP da Rocinha (Foto: GloboNews)Ajudante de pedreiro Amarildo de Souza teria morrido em contêiner da UPP Rocinha (Foto: GloboNews)

Investigadores suíços encontram assinatura de Eduardo Cunha em documentos bancários O presidente da Câmara negou possuir contas no exterior

Investigadores suíços encontram assinatura de Eduardo Cunha em documentos bancáriosEduardo Cunha (Crédito: Reprodução/G1 )
Investigadores suíços encontraram a assinatura do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em documentos bancários e de empresas que seriam dele. A nova prova é considerada fundamental nas investigações sobre o suposto envolvimento de Cunha no esquema de corrupção e desvio de dinheiro da Petrobras.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Toffoli refuta tese de jurista e diz que TSE pode cassar Dilma

Washington - O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro José Antonio Dias Toffoli, considerou "absolutamente equivocado do ponto de vista jurídico" o parecer do professor Dalmo Dallari segundo o qual a corte não tem competência para decidir sobre a cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff. 
"Essa competência é dada pela Constituição e pelas leis eleitorais brasileiras", disse Toffoli na manhã desta sexta-feira, 9, em Washington, onde participou de seminário no Atlantic Council sobre o uso de tecnologia nas eleições.
O ministro ficará na capital americana até terça-feira, dia em que visitará a Suprema Corte e se reunirá com o juiz Anthony Kennedy, um dos nove integrantes do tribunal. Quando voltar ao Brasil, ele terá de decidir quem será o relator da ação na qual o PSDB pede a impugnação do mandato de Dilma por abuso de poder político e econômico.
Por 5 votos a 2, o TSE decidiu na terça-feira autorizar a instauração do processo, na primeira vez em que uma ação de impugnação de mandato é aberta contra um presidente da República. O julgamento modificou posição da relatora original do caso, ministra Maria Thereza de Assis Moura, que em fevereiro havia negado a solicitação dos tucanos por considerar que não havia provas suficientes para o início do processo.
A magistrada entendeu que não poderá continuar como relatora da investigação contra a campanha de Dilma. Se fosse aplicado o mesmo critério usado no Supremo Tribunal Federal (STF), a responsabilidade de conduzir o caso ficaria com o ministro que proferiu o primeiro voto da decisão de terça-feira -no caso, Gilmar Mendes, um dos principais críticos do governo no Judiciário.
Mas Toffoli afirmou em Washington que a decisão sobre o relator será dada por ele na quarta ou quinta-feira. "Pelo regimento, essa é uma questão que cabe à Presidência do tribunal definir", declarou o ministro ao Estado. Ele não disse quais critérios usará para pautar sua posição, mas ressaltou que estudará o histórico do TSE em situações semelhantes.
O prazo para conclusão do processo poderá variar de dois a seis meses, dependendo das provas que forem requeridas pelo PSDB e pela defesa de Dilma e do vice-presidente Michel Temer, observou Toffoli. Segundo ele, caberá ao relator decidir se delatores implicados na Operação Lava Jato serão ouvidos na investigação eleitoral instaurada a pedido do PSDB. Quanto a um eventual depoimento da presidente, o ministro disse que, normalmente, essa é uma prerrogativa da defesa.
Professor emérito da Universidade de São Paulo, Dalmo Dallari deu o parecer a pedido de Flávio Caetano, coordenador jurídico da campanha de Dilma à reeleição. No documento, ele sustenta que a corte presidida por Toffoli não tem poderes para afastar a presidente. O artigo 85 da Constituição "dispõe, especificamente, sobre as hipóteses de cassação do mandato do presidente da República e ali não se dá competência à Justiça Eleitoral para decidir sobre a cassação", opinou Dallari.
O parecer tem data de 28 de setembro, mas só foi divulgado na quarta-feira, um dia depois de o TSE ter decidido a favor da instauração do processo iniciado pelo PSDB.

CÚPULA DO FMI E DO BANCO MUNDIAL » Sean Penn: “Governos só funcionam se houver participação dos cidadãos” Empreendedores defendem em Lima que a educação se adapte à ação dos jovens Chefe do Banco Mundial: “Ajudar os pobres é positivo, mas com condições”

Mariana Costa, cofundadora de Laboratoria, Antonio Caño, director de EL PAÍS, y Sean Penn, actor y fundador de J/P Haitian Relief Organization
Mariana Costa, fundadora da Laboratoria, Antonio Caño, diretor do EL PAÍS, e Sean Penn, ator de cinema e fundador da J/P Haitian Relief Organization, nesta quinta-feira em Lima. /BANCO MUNDIAL
“Existem problemas para os quais eu mesmo posso dar a solução. Nem tudo deve ser deixado para o Governo ou para o setor privado”. A afirmação, feita por Mariana Costa, fundadora da Laboratoria, empresa peruana de formação de desenvolvedores da web entre jovens de baixa renda, sintetiza a mensagem principal do encontro de empreendedores e líderes sociais organizado nesta quinta-feira pelo Banco Mundial no Peru. A necessidade de adaptar a educação e a revolução tecnológica permeou o debate. O ator Sean Penn, conhecido também pela sua atuação de caráter humanitário no Haiti, defendeu o uso da tecnologia para se envolver em diferentes iniciativas. “Os Governos só funcionam se houver participação dos cidadãos”, disse ele.
A presença de Sean Penn alterou o ritmo da pauta dos diferentes eventos organizados esta semana em Lima (Peru), que recebe a assembleia anual do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. À sua chegada, aglomerou-se um turbilhão de fotógrafos, e houve até mesmo gritos de admiração. “Apresento a vocês o motivo de toda essa agitação”, disse Antonio Caño, diretor do EL PAÍS e mediador do encontro, antes de expor o trabalho do ator à frente daJ/P Haitian Relief Organization, cuja atuação contribui para melhorar as condições de vida dos haitianos desde o terremoto de 1997. Ela fez mudar também o tom do discurso, normalmente sério, do presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim: “O conselho que tenho a dar a um jovem é que seja ator, ganhe dois Oscar e faça algo revolucionário em um dos países mais pobres do mundo”.
Caño introduziu o debate, realizado em meio a diversas reuniões que tratam da retração da economia mundial, das dificuldades para se diminuir a pobreza e empreender a luta contra a mudança climática, com uma premissa: “Tudo aquilo que se tem dito ao longo destes dias em Lima não terá nenhum sentido se não forem envolvidos os jovens empreendedores”. E Kim aproveitou o mote: “O mundo será muito diferente se os jovens não participarem das decisões. É preciso se comprometer, e se comprometer desde já”.
Allen Blue, fundador do Linkedin, a rede social de referência em questões profissionais, destacou que as novas tecnologias são uma oportunidade para os jovens empreendedores. “Nunca foi tão barato e tão rápido criar uma empresa. Nos Estados Unidos, isso pode ser feito em poucos dias”, assinalou Blue, destacando também a importância de o empreendedor poder se recuperar rapidamente e sem custos exagerados de eventuais fracassos.
A tecnologia tem a capacidade de multiplicar o contato entre os jovens empreendedores de forma ilimitada. “Graças à internet, os empreendedores mais bem-sucedidos do mundo podem se colocar em contato em qualquer lugar do mundo, e isso pode se espalhar de forma inimaginável”, comentou Ashish J. Thakkar, fundador do grupo Mara. Thakkar deixou a escola aos 15 anos para criar a sua primeira empresa, com um capital de apenas 5.000 dólares, em Uganda. “Não sou um bom exemplo para o modelo educacional, mas é cada vez mais importante reforçar a educação informal”.
Mariana Costa foi na mesma direção: “Não é preciso ter um diploma universitário para desenvolver certas habilidades que podem facilitar uma carreira profissional vitoriosa no terreno da tecnologia; basta prover as ferramentas adequadas”.
Caño perguntou, então, ao fundador do Linkedin se a tecnologia não tem sido excessivamente valorizada. “A tecnologia pode mudar o mundo, sim. Devemos levar em conta que se todo o mundo consumisse aquilo que os países desenvolvidos consomem, precisaríamos de quatro planetas do tamanho da Terra para abrigar a humanidade e suas máquinas. Nos últimos anos, porém, surgiram soluções antes inimagináveis, como as que permitem haver transporte público sem condutor. Isso é possibilitado pela tecnologia”.

Entraves burocráticos

Os participantes do painel foram unânimes quanto à necessidade de que os Governos apoiem as iniciativas existentes, sobretudo com regulamentações que não as obstaculizem. “Na América Latina, leva-se meses para abrir uma empresa. Se o Governo não ajuda, que pelo menos não atrapalhe”, disse a mexicana Blanca Treviño, presidenta e diretora-geral da empresa Softtek, referindo-se aos entraves burocráticos.
A corrupção nos países em desenvolvimento é um ambiente que se tornou costumeiro para as jovens empresas. Ashish J. Thakkar foi taxativo a esse respeito: “Fazemos negócios na África há 20 anos, e sempre de forma limpa. Para que haja corrupção, é preciso existir aquele que recebe, mas também aquele que corrompe. Quando nos pediram dinheiro, levamos a história no dia seguinte para um jornal. Pode-se até perder alguns empregos, mas é melhor assim”.
Penn apresentou uma outra maneira de ver o potencial das novas tecnologias. “Esta é a geração mais conectada, mas também a mais desconectada em relação aos problemas do meio ambiente, de temas como o aquecimento global. Antes de voltar para casa e criar um aplicativo, vá à Natureza e se inspire nela”, defendeu o ator, a quem se perguntou, da plateia, se há jovens empreendedores no mundo do cinema. “Bem, o cinema é um empreendimento de alto risco. Sempre foi assim. Mas, graças à tecnologia, tem surgido uma nova geração que faz coisas novas. Tudo mudou no cinema. Agora as pessoas se reúnem em casa para ver filmes, como se fossem participar de um clube de leitura. Eu não, eu sou daqueles que vão ao cinema sozinhos”.

Brasil monopoliza as preocupações na reunião do FMI em Lima A maior potência latino-americana foi uma das protagonistas do fórum FMI projeta queda de 3% do PIB do Brasil em 2015 e destaca crise política

O ministro de Fazenda do Brasil, Joaquim Levy, na quinta-feira em Lima (Peru). / G. GUTIERREZ (BLOOMBERG)
No lotado Teatro Nacional de Lima, o impulsivo jornalista da rede norte-americana CNN Richard Quest perguntou a Joaquim Levy, ministro da Economia brasileiro, sentado ao lado da presidenta doFundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde: “E como seu país vai sair da recessão?” A resposta (“não é uma crise como a de algumas décadas, estamos digerindo, vamos contar com a nossa infraestrutura...”) era menos importante do que a pergunta em si, já que todos, na Reunião anual do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial na capital peruana, estavam se perguntando a mesma coisa: O que está havendo no Brasil? Como o país vai sair dessa?
A maior potência econômica latino-americana — e seu crescente e acelerado desmoronamento — se transformaram em um dos protagonistas deste fórum internacional pelo qual passam — e que são acompanhados — os poderes financeiros do planeta. A própria presidenta do FMI se referiu ao Brasil na coletiva de imprensa e lembrou que o país perderá este ano 3% e que se espera que no próximo ano perca 1%. Então acrescentou que boa parte dos problemas da potência latino-americana não são simplesmente financeiros, mas “de governança”.
Os mercados também estão de olho na crise brasileira. E têm medo. A gestora de fundos Rabeco, por exemplo, prevê um futuro preocupante: “Se as empresas brasileiras não conseguirem encontrar crédito internacional, não o encontrarão tampouco localmente, já que não há volume suficiente para absorver as necessidades financeiras. Então, nos próximos dois meses, não vemos uma solução plausível para a questão fiscal. Existe o risco de uma crise de crédito que pode afetar as empresas do Brasil”.
Em síntese, a “questão fiscal” diz respeito à necessidade dapresidenta Dilma Rousseff, do PT, de que o Congresso, no qual seu partido está em minoria, aprove uma bateria de medidas de ajuste propostas exatamente pelo ministro Levy. Apesar de a presidenta ter realizado uma renovação ministerial para contentar seus aliados no Congresso, as medidas de ajuste continuam sem aprovação.
Enquanto isso, e para aumentar ainda mais a confusão, o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitou na quarta-feira, dia 7, o orçamento do Governo de Rousseff durante 2014. Conforme os juízes, o Executivo da presidenta —que foi reeleita em outubro passado e que Governa desde 2010— maquiou as contas para esconder o déficit público, o que é crime no Brasil. A resolução dos juízes dá força ao pedido de impeachment defendido por um setor da sociedade contra Rousseff. O desenlace jurídico é imprevisível. Muitos especialistas garantem que o processo não acabará em impeachment, apesar de ninguém saber com certeza o que vai ocorrer. O jornalista Richard Quest perguntou isso ao próprio ministro da Economia brasileiro na quinta-feira, dia 8. Levy respondeu sinceramente: “Não sei”.
Horas depois, o ministro reafirmou, em comunicado enviado ao FMI, o compromisso do Brasil com o ajuste fiscal de suas contas públicas, tentando demonstrar otimismo com o futuro do país. "As expectativas do mercado para a balança comercial triplicaram desde nossa última reunião em abril e o investimento estrangeiro direto deve ultrapassar o robusto resultado do ano passado, atingindo 64 bilhões de dólares", diz a mensagem.  

O ministro com o trabalho mais difícil do mundo

O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, conversando com o EL PAÍS antes da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre os problemas específicos do Brasil, garantiu: “O ministro da Economia do Brasil, Joaquim Levy, tem o trabalho mais difícil do mundo”. Ele mesmo demonstrou isso na quinta-feira, dia 8, em uma mesa sobre a Economia Global, compartilhada com a presidenta do FMI, Christine Lagarde, e o governador do banco da Inglaterra, Mark Carney.
Ali, Levy começou a falar sobre infraestrutura, centrado sobretudo em rodovias e linhas férreas, que seu país quer criar para impulsionar a economia. O moderador —o apresentador da CNN Richard Quest— replicou: “Mas se vocês não têm dinheiro!”. Levy, sem se abalar, respondeu que é verdade que o Estado brasileiro não dispõe de dinheiro para as obras, mas que o plano prevê que empresas privadas assumam os trabalhos.
Depois tentou convencer, de seu ponto de vista privilegiado, que essas obras serão rentáveis. E então deu, muito tranquilamente, como se fosse fácil, a receita para devolver a confiança nos investidores (e nos brasileiros): “Dizer a verdade para as pessoas, anunciar os objetivos, traçar um plano e cumpri-lo”.
O que se pode afirmar é que o próprio desenrolar da situação enfraquecerá politicamente ainda mais uma Dilma Rousseff que já conta com um índice de aprovação ínfimo (menos de 10%), e cujos aliados à direita, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), são especialmente volúveis e instáveis. À esquerda, os membros mais socialmente comprometidos do Partido dos Trabalhadores criticam, de seu lado, as medidas de ajuste e austeridade que Rousseff e seu ministro da Economia estão implantando. Tudo isso, é claro, mina a já abalada confiança dos mercados, dos investidores estrangeiros e freia a demanda interna, autêntico motor econômico dos anos anteriores.
O próprio FMI é quem diz isso —mesmo sendo pouco amigo de julgar politicamente os países que examina— em seu relatório sobre a América apresentado no dia 7 de outubro, no qual reserva um espaço para o caos brasileiro. Outro sinal a mais da singular importância que teve o Brasil nesta reunião de Lima: “Houve uma investigação por corrupção de amplo alcance na principal empresa petrolífera do Brasil, a Petrobras. Foram feitas denúncias sobre irregularidades no financiamento da eleição presidencial de 2014 e a avaliação do Tribunal de Contas coloca em dúvida as contas públicas de 2014. Tudo isso detonou uma grandecrise política”. E conclui: “A interação da crise política com a crise econômica levou à incerteza e derrubou a confiança dos consumidores e das empresas a níveis mínimos historicamente”.
O economista-chefe do Banco Mundial, Augusto de la Torre, também se referiu na terça-feira ao Brasil e a sua incerteza política: “Os dados macroeconômicos não explicam uma recessão tão profunda”.

Beltrame vira réu em caso de improbidade administrativa Denúncia de contratos superfaturados na compra de viaturas foi aceita. Secretário de Segurança disse que está à disposição para esclarecimento

O juiz Marcelo Martins Evaristo da Silva, da 7ª Vara de Fazenda Pública, aceitou a denúncia de improbidade adminstrativa contra o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. A informação foi divulgada pela "Veja" e confirmada nesta quarta-feira (14) pelo Tribunal de Justiça do Rio.
Segundo o Ministério Público, Beltrame é responsável por dois contratos supostamente superfaturados na aquisição e manutenção de viaturas da Polícia Militar firmados entre 2007 e 2008.
No primeiro, a secretaria gastou R$ 28,4 milhões para a compra de viaturas e R$ 56,7 milhões com a manutenção. O MP concluiu que o preço da manutenção de cada carro, pelo prazo de 30 meses, daria para comprar dois veículos novos.
No segundo contrato, a secretaria pagou R$ 107,6 milhões pelo carros e gastou R$ 78 milhões na revisão de 779 veículos. Um custo de R$ 3,3 mil por mês para a conservação de cada carro da polícia.
O juiz que aceitou a denúncia indeferiu, no entanto, o pedido do promotor Rogério Pacheco Alves de bloqueio de bens e devolução de cerca de R$ 135 milhões aos cofres públicos. Segundo o magistrado, não há "parâmetros minimamente seguros para dimensionar o prejuízo", o que tornaria "prematura e excessivamente onerosa" a decisão.
Cinco réus
Além de Beltrame, são réus o Governo do Rio de Janeiro, a ex-secretária de gestão de estratégia da Seseg, Suzy Avellar, e as empresas Júlio Simões Transportes e logística e CS Brasil também foram denunciadas. O secretário e os demais serão citados para apresentar contestação, de acordo com a Justiça.
Procurado pelo G1, o secretário informou que está à disposição para "total esclarecimento dos fatos" e aguarda notificação da decisão judicial. Quando foi denunciado, em 2014, Beltrame enviou uma longa nota se defendendo (leia no fim da reportagem). A equipe de reportagem ainda não conseguiu contato com os outros acusados.
O juiz que aceitou a denúncia indeferiu, no entanto, o pedido do promotor Rogério Pacheco Alves de bloqueio de bens e devolução de cerca de R$ 135 milhões aos cofres públicos. Segundo o magistrado, não há "parâmetros minimamente seguros para dimensionar o prejuízo", o que tornaria "prematura e excessivamente onerosa" a decisão.
Segundo o MP, na comparação entre os contratos, os valores cobrados para manutenção das viaturas superou em quase o dobro o valor das próprias viaturas. Além disso, foi cobrada a manutenção dos veículos mesmo que não houvesse necessidade do serviço.
Leia a íntegra da nota enviada por Beltrame em 2014:
"A respeito das acusações do Ministério Público com relação ao primeiro contrato de gestão da frota de carros da Polícia Militar, gostaria de fazer algumas considerações antes que a visão do titular da ação tome conta do juízo das pessoas não acostumadas com o tema.
Em primeiro lugar, a decisão do Estado do Rio de comprar automóveis para sua polícia e incluir o serviço de manutenção é uma prática nova. Até para quem fiscaliza. Portanto, pode causar estranhamento, aliás, como causou ao promotor do Ministério Público.
Carros de polícia são mais do que um simples carro. Além de carregar equipamentos específicos, estes carros têm uma função primordial que é muitas vezes esquecida pelo senso comum. Carro de polícia é também equipamento de segurança para o policial. Numa situação de confronto, de perseguição, de abordagem é a vida do profissional que está em jogo e o uso do carro faz parte do contexto do risco.
O estado brasileiro, e principalmente o Rio de Janeiro, sempre tratou a questão da segurança do trabalho do policial com desleixo, como se fosse o menos importante. Se quisermos profissionalismo e correção na polícia, o carro - e todo o resto - tem de estar funcionando nas condições adequadas ao exercício da profissão.
Não é difícil resgatar na memória - pois o cenário é recente - carros de patrulha caindo aos pedaços circulando pelas ruas da cidade. E, na época, nenhum sinal de indignação dos órgãos de controle. O Rio, a sociedade, o promotor que agora nos acusa, ninguém indagava, à época, aquela penúria. Até hoje lutamos para que o policial tenha todos os seus equipamentos de segurança no mais perfeito estado, sem concessões. É um resgate lento, pois custa caro aos cofres públicos. Segurança Pública, que respeita a democracia, dentro da lei, custa caro.
Mas tais argumentos justificam comprar equipamentos a qualquer preço, com valores absurdos ou fora da realidade do mercado? Claro que não! O que causou estranhamento com os valores dos carros é a visão curta do problema. Precisamos de carros que estejam sempre em condições, se não ideais, bem perto disso. Isso significa deixar o equipamento num nível de conservação muito mais elevado do que acostumamos a exigir.

Um carro de polícia, que roda o dia inteiro, dura em média 14 meses, um pouco mais, um pouco menos. E já a partir do décimo mês, a maioria estará circulando no limite do padrão que consideramos seguro. Há hoje muitos carros das UPPs, por exemplo, comprados fora do contrato de manutenção, que aguardam consertos. Enquanto a burocracia não anda e a solução não chega, o policial vai ficar a pé ou vai  buscar outros meios, que nem nós e nem a sociedade toleramos mais. É contra essa lógica perversa, que afeta o policial e o serviço prestado à população, que estamos lutando. E qual é o custo disso? Ele tem de entrar na conta.
O contrato é agora questionado porque, segundo a tese de acusação, poderíamos comprar três carros (três editais, três licitações) que se degradarão com o tempo, no lugar da gestão da frota, que tem a manutenção do nível de serviços como princípio. O custo x benefício não é só valor de compra. Na lógica antiga de comprar e depois jogar fora, a PM mantinha um batalhão de funcionários apenas para fazer reparos. Isso foi motivo de chacota no passado, além de retirar policiais da atividade fim, num momento em que a população quer sua polícia nas ruas. Esta foi uma economia enorme que o promotor não considerou.
Pelo contrato atual, carros destruídos são repostos, carros em conserto são substituídos. Ao fim do período, 30 meses, toda a frota fica com o Estado. Funciona assim até hoje. Ou seja, hoje há muito mais carros na patrulha de rua do que na lógica anterior. Quando chegamos, em 2007, metade da frota da PM estava parada aguardando conserto! Por esse raciocínio, poderíamos dizer que carros sem contrato de manutenção custam o dobro, pois, na prática, só a metade funciona. Portanto, não foi uma compra que custou o preço de três. Sem manutenção, para ter o resultado na rua dos três carros que o promotor diz que poderíamos comprar, na verdade teríamos de comprar seis carros novos. Pergunto então: o que é mais eficiente?
Há ainda uma série de fatores técnicos que poderia explicar aqui, mas isto vai ficar para a defesa caso a denúncia faça sentido para a Justiça. Reitero que não existe situação perfeita quando tratamos de gestão pública. É uma luta diária para fazer a máquina funcionar. E na hora de fazer melhor, além de cuidar do melhor preço -  há uma série de leis e normas que controlam a ação do gestor - existem outros fatores que precisam ser considerados. Errados são aqueles que acham que, para as questões de Estado, as contas se resumem ao mesmo preço de tabela do consumidor individual."