segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Líder do PMDB na Câmara defende autonomia de ministros Ao se antecipar à guerra com petistas sobre os cargos de segundo escalão na Esplanada, líder peemedebista e principal negociador com o governo afirma que os chefes das pastas precisam de liberdade para montar as próprias equipes

 Rodrigo Nunes/Esp. CB/D.A Press
Líder do PMDB na Câmara, o deputado Leonardo Picciani, 35 anos, menciona a entrega do Ministério da Saúde como porteira fechada. Seria esse o acordo com o governo. “Certamente, o ministro deve ter autonomia para montar a sua equipe, até para poder se responsabilizar pelo trabalho e o trabalho dar resultado”, diz ele. Picciani chama a ala oposicionista, que ensaia críticas ao convite a dois deputados, como “velha guarda da Mangueira”, e considera que a manutenção de ministérios separados não inviabilizará esse acordo. Quanto ao impeachment, é taxativo: fatos ao mandato anterior não devem ser considerados. “Em casos de quebra de decoro, os fatos prescrevem. O mesmo deve valer para as contas de um presidente da República”, diz. “Quem tem legitimidade para governar é a presidente Dilma”, completa. A seguir, os principais trechos da entrevista.

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O senhor passou os últimos dias negociando o ingresso da bancada do PMDB no governo Dilma. Isso ainda pode mudar?

O partido ingressou quando aprovou a aliança entre o PT e o PMDB na chapa composta pela presidente Dilma e pelo presidente Michel Temer. A bancada se ressentia de na montagem do governo, na ocupação de espaços, ser pouco ou quase nada ouvida. O que buscamos fazer nos últimos dias, ao receber o convite da presidente Dilma para que deputados do PMDB fossem indicados a compor o novo ministério, foi reunir a bancada e discutir o assunto. A maioria absoluta da bancada decidiu apoiar o ingresso dos companheiros no ministério, indicou-se alguns nomes que foram levados à presidente. Se sente parte nesse processo e esperamos que daqui para frente isso seja cada vez mais intenso.

Mas ainda tem uma indefinição sobre essa questão de espaço, tanto é que a presidente não conseguiu fechar a reforma. O senhor acha que, de fato, a presidente sabe que reforma quer?

Sim, o que restam, me parece, são detalhes que, acredito, ela deve solucionar até o seu regresso nesta semana. Ao que me parece, no geral, o desenho está feito na cabeça da presidente.

O velho ditado diz que o diabo mora nos detalhes. Por duas vezes, a presidente indicou disposição de manter aqueles que cederiam o lugar ao PMDB da Câmara.

A informação que nos foi enviada por parte do governo é que o compromisso firmado com a bancada, o convite está mantido e serão escolhidos entre os nomes ofertados à presidente dois deputados do PMDB. Os espaços ofertados foram o Ministério da Saúde e outro na área de infraestrutura que, isso, evidentemente, a presidente não fez a configuração final do ministério. Aguardamos que ela nos transmita a configuração do ministério.

Se o governo insistir em manter os ministérios de Aviação Civil e de Portos separados, o acordo será desfeito?

Não estou discutindo configuração do governo. Isso cabe à presidente Dilma. O critério de indicar dois deputados foi definido pela presidente. Um tinha que ser para Saúde, outro para um ministério na área de infraestrutura, mas não necessariamente juntos. Aliás, acho que a junção não virá, mas o acordo de dois deputados para compor o ministério está mantido. Mas você sabe como é. A “velha guarda da Mangueira” começa a bater bumbo, a reclamar.

Quem é essa velha guarda da Mangueira?

Você sabe quem são, os mesmos de sempre. Quando Geddel Vieira Lima era líder, votou no Serra e, depois, indicou ministro. Foi ministro do Lula depois de ter feito campanha para o Serra. Será natural que, essa semana, esse grupo volte a reclamar.
Como fica o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se realmente for fechado esse acordo com a bancada. Permanece oposição?

O PMDB não está ingressando no governo, sempre fez parte do governo. Tanto que o presidente Eduardo Cunha defende que essa posição seja refeita. É uma posição política dele e deve ser respeitada por todos nós. A convenção, órgão máximo do partido, definiu pela participação do partido no governo. E a bancada, essa semana, reafirmou o seu compromisso.

Mas em vários momentos o PMDB não se sentia no governo…

Sobretudo a bancada da Câmara. Em muitos momentos se sentia afastada por não ter uma interlocução mais próxima ao governo. É justamente isso que se busca solucionar. Esse é o sinal que a presidente Dilma dá nesse momento ao conversar mais diretamente com a bancada e ter uma interlocução mais próxima.

Tirar do PT da Saúde, o ministério com o maior orçamento da esplanada, é um sinal de fragilidade do governo?

Não, acho que é um sinal de compreensão de que existe no cenário político, no Congresso Nacional, uma nova correlação de forças, e que é importante equilibrar essa correlação que estava desequilibrada, o que em gerando de certa forma dificuldades ao governo no parlamento. Ao buscar equilibrar essas relações pode melhorar o cenário.

Há alguma sinalização de que o PMDB terá preferência para indicações no segundo escalão do Ministério da Saúde?

Certamente, o ministro deve ter autonomia para montar a sua equipe, até para poder se responsabilizar pelo trabalho e o trabalho dar resultado.

Isso foi dito na conversa?

Evidentemente, isso está colocado e não vejo essa questão com preocupação.

Houve sempre reclamações de que os ministros do PMDB eram uma espécie de rainha da Inglaterra no governo…

Temos a convicção de que vamos construir isso da forma apropriada. O partido que ocupa o Ministério é responsável pela pasta. Evidentemente, ela conhece o nosso posicionamento e nos conhecemos o desejo da presidente. Então, não vejo como preocupação, tenho certeza de que dará certo.

Há nessa disputa ministerial três polos do PMDB que ensaiam o controle do partido mais à frente?

Não acredito que haja essa disputa pelo controle do partido. Isso é muito cedo para se falar. A convenção só deve ocorrer em março do ano que vem. O PMDB tem conseguido formar consensos. Quando chegar esse momento, saberá formar. Não vejo antecipação de convenção para novembro. Teremos o Congresso que, primeiro, precisa ser marcado. Pelo que me consta, é um congresso da Fundação Ulysses Guimarães, que não é um órgão decisório do partido. Portanto, não tem poder para decidir o posicionamento partidário. O que tem poder é a convenção nacional que é o órgão máximo, uma vez que a decisão e compor a aliança foi definida pela convenção nacional. Então, ela não pode ser modificada nem por um órgão que não é decisório e nem mesmo por outra instância diretiva, mas inferior à convenção nacional.

E o impeachment? A contestação do PT aos ritos apresentados pelo presidente Cunha pode ser uma prévia do apoio que a presidente terá no plenário? O líder do DEM fala em apenas 60 dias de governo Dilma…

Não acho que seja uma prévia. É uma matéria procedimental. Não acredito que seja objeto de disputa em plenário. É uma matéria difícil, complexa, e tem que ser bastante esmiuçada para que se tenha estabelecido aquilo que a lei determina e que o regimento prevê. Com relação à declaração do líder do DEM, não me cabe ser comentarista da declaração de ninguém. Acho um pouco açodada.

O senhor acha que o governo sobrevive?

Deve governar quem ganhou a eleição e salvo se a presidente tenha cometido algum crime no exercício do mandato que é a forma que a constituição prevê como única hipótese de afastamento do presidente da República. Salvo nessa hipótese, ela governará até o final e cabe a todos nós construirmos pontes de diálogo para discutirmos os problemas do país e ver como se supera esse momento de crise que o país atravessa.

Crime durante o mandato exclui as pedaladas, que são do mandato anterior?

O meu entendimento é que (para um processo de impeachment) os fatos são relativos ao mandato presente. Os do mandato anterior estariam afastados. A abertura de processo impeachment é um juízo exclusivo da Câmara dos Deputados por força da Constituição. A jurisprudência da Câmara desconsidera, prescreve fatos de mandatos anteriores. Tanto que a quebra de decoro de deputados, atos praticados no mandato anterior são arquivados, porque se entende que os fatos prescreveram com o mandato que se encerrou. Essa é a jurisprudência da Casa que deve ser aplicada também no caso da análise das contas do presidente da República.

Quando o senhor assumiu a liderança, todo mundo dizia que o Eduardo Cunha mandaria no senhor. Agora, dizem que o senhor está se descolando dele…

Nem uma coisa, nem outra. É um pouco da cultura que a gente tem no país de achar que o jovem vai ser guiado e o mais velho sempre vai mandar no mais novo e nem sempre isso reflete a verdade. Tenho uma excelente relação com Eduardo Cunha. Mas evidente que nem ele manda em mim e nem eu mando nele. Temos posturas políticas independentes. Estou acostumado com isso. Fui candidato aos 22 anos. Diziam que meu pai mandaria em mim. Depois, presidente da CCJ aos 27. Também diziam que eu era muito novo para presidir a Comissão. Na liderança, a mesma coisa.

Na semana em que o governo resolve abrir espaços mais amplos para o PMDB, o partido faz uma propaganda crítica ao governo. E são relembradas frases do possível ministro da Saúde, Manoel Júnior (PB), defendendo a renúncia de Dilma. O PMDB sempre vai ser aliado e provocador? É uma bandeira do PMDB ser ambíguo?

Com relação ao programa, a linha de comunicação é de responsabilidade da direção do partido. Ela deve ser formulada à direção do PMDB de porque se adotou essa linha.

Cuja direção é do vice-presidente da República, Michel Temer…

Portanto... Né? É quem definiu a linha. Essa não é tarefa da liderança e a liderança não tem qualquer influência na linha do programa. Com relação à frases do deputado Manoel, tenho a convicção de que a presidente Dilma está construindo esse processo olhando para adiante. Não há retrovisor de parte a parte. Eu mesmo, não é segredo para ninguém, não votei na presidente. Votei em Aécio Neves, fiz campanha para ele.

E votou contra a aliança na convenção do ano passado?

Votei, nós perdemos.

E agora, como se sente na posição de ajudar o governo? O senhor se arrepende de ter votado no Aécio?

Nem uma coisa nem outra. Eu votei no Aécio porque achava que era importante ter uma certa alternância de poder naquele momento, me identificava com as propostas apresentadas. Aliás, a proposta do Aécio defendia ajustes e cortes de gastos. Então, estou defendendo algo muito similar hoje. Não me arrependo de votar. Mas eu respeito o resultado da eleição. A vontade do eleitor é sempre soberana. Governa quem ganhou a eleição. Exerce o mandato quem foi eleito. Eu fui eleito para exercer o mandato de deputado e, como tal, e líder da bancada, entendo que devo ter uma visão ampla dos problemas do país. Buscar apontar soluções. É fundamental para o país enfrentar a crise é assegurar a governabilidade, ter pontes construídas, sustentação política. É por essa necessidade de o país seguir em frente, encontrar soluções e pelo respeito que se deve ter pela escolha do eleitor e pela manifestação do voto que eu hoje tenho defendido o governo. Quem tem legitimidade para governar é a presidente Dilma.

O senhor foi eleito para líder por um voto. Essa divisão hoje é coisa do passado?

Eu noto que hoje a bancada tem unidade. Eleições disputadas na bancada do PMDB não são uma novidade. Eu quando cheguei aqui no meu primeiro mandato tivemos uma eleição de líder na qual o deputado Eunício foi eleito com dois votos de diferença. O próprio Eduardo Cunha foi eleito líder em uma disputa de dois turnos com o deputado Mabel. Mas buscamos unificar a bancada e hoje nos temos uma unidade muito grande.

E em relação aos votos? Alguns peemedebistas lembraram que o ministro Padilha deu 50 votos no ajuste da Dilma. E no dia em que ela ofereceu a vocês o Ministério da Saúde só conseguiu 38. O PMDB está disposto a dar os votos que o governo precisa?

È preciso contextualizar. A matéria que o partido deu 50 votos e na qual todos os atuamos — demos entre 45 e 50 votos — e demos 56 na qual eu fui relator, da reoneração da folha de pagamentos. Na dos vetos, você precisa contabilizar o número de ausências, o quórum era bem mais baixo. Foram 27. O que ficou mais registrado é que o PMDB, sob a minha liderança, foi o que deu mais votos à manutenção dos vetos, mais que o PT. E muitas das ausências são favoráveis ao governo.

Há relação entre a votação dos vetos e do impeachment?

Essa votação desmascarou o blefe da oposição, que dizia ter 280, 300 votos favoráveis ao impeachment. Colocou apenas 180 no painel em matéria que tinha apelo de servidores e não era só rejeição ao governo. Estão faltando mais de 100 votos nessa conta.

O senhor se elegeu líder com o apoio de Eduardo Cunha, e é filho de Jorge Picciani, um nome muito forte no PMDB do Rio. Como se desvencilhar dos padrinhos fortes e construir carreira própria?

Tenho total tranquilidade de lembrar que o Eduardo Cunha não influenciou na eleição da bancada. Não há como evitar que as pessoas falem. Não posso e não quero mudar de pai. Converso bastante com ele mas tenho total autonomia no exercício do meu mandato. Me dou bem com Eduardo Cunha, é uma figura que tem muitos méritos, chegou de maneira muito robusta à presidência da Câmara. Mas ele tem as suas posições, eu tenho as minhas. A própria vida, as próprias ações falam por si só. Estou no meu quarto mandato.

O PSDB ficou receoso de fechar uma aliança tácita com vocês com medo da Lava-Jato pegar o PMDB, delatores citaram o presidente Eduardo Cunha. Como fica essa questão internamente?

Tenho visto que o presidente Cunha tem conseguido responder essas questões de maneira satisfatória, apresentando dados e matérias comprobatórias que, ao que me parece, o isentam dessas acusações. Com relação às investigações, elas devem seguir o seu curso, devem aprofundar as coisas, apontar as pessoas que se julgar que há indícios para ser investigadas mais a fundo. Aquelas que a investigação comprovar indícios fortes, que sejam denunciadas. E a justiça faça o julgamento de quem tiver que ser julgado. O que temos que comemorar é que vivemos uma excepcional tranquilidade institucional: quem tem que investigar, investiga, quem tem que acusar, acusa, e quem é acusado pode se defender e a Justiça julga e separa quem é inocente de quem é culpado. Isso deve ser comemorado, a tranquilidade institucional, deve ser comemorada. Nenhuma pessoa tem conseguido fazer com que a investigação não avance.

Então o senhor discorda da tese de perseguição do procurador-geral da Republica, Rodrigo Janot, aos presidentes Eduardo Cunha e Renan Calheiros?

Não tenho os mesmos elementos de informação dos dois para falar desse tema. Não me arrisco a dizer se eles têm ou não razão. O que eu quero dizer é que, ao fim desse processo, se houver problemas, eles ficarão claros, caso não se comprovem as acusações que foram feitas. Mas nós temos um longo caminho dentro da lei para percorrer ainda.

E esses arrastões no Rio? Houve ingenuidade ao achar que as primeiras vitórias das UPPs seriam definitivas?

Acho que não, houve a esperança. Nem o governo nem a polícia afirmaram que aquelas vitórias seriam uma solução definitiva. Lembro do Secretário Beltrame dizer que o caminho seria longo, um dia após o outro. Acho que as UPPs obtiveram alguns resultados muito significativos. Se você pegar dados que mostram que algumas daquelas comunidades tinham índices de homicídios dos maiores do país e hoje tem índices menores, inclusive menores que outras que não tinham tanto problema, vê que houve ganhos para a sociedade. Mas é um problema enraizado, grave, grande e que tem de se ter muito pé no chão.

O senhor pensa em ser candidato a prefeito no ano que vem?

Já tive muita vontade, mas em razão desta rotina dedicada à Brasília e à política nacional entendo que não estou totalmente inteirado para ver os problemas da cidade.

Um importante ministro nos disse que a aliança com o PMDB era a bala de prata para assegurar a governabilidade. O governo pode confiar no PMDB?

O PMDB já deu várias demonstrações que o governo e o país podem confiar no PMDB. Mesmo sem a discussão dos cargos. Acho que a questão do Ministério da Saúde é um reconhecimento da importância que o PMDB tem, à bancada que tem dado essas demonstrações de parceria, responsabilidade e sobriedade na sua conduta. E oportunidade de o PMDB tocar uma área importante, complexa, com problemas que não ser resolvem da noite para o dia. O PMDB não tem medo de desafios.

O que significa a vitória dos separatistas nas eleições da Catalunha? BBC Mundo

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Image captionPartidos separatistas conquistaram maior parte do Parlamento catalão, mas não a maioria dos votos
Partidos a favor da independência da Catalunha da Espanha conquistaram a maioria absoluta no Parlamento regional, resultado que foi visto por separatistas como um mandato para seguir adiante com planos de divisão.
O cenário, no entanto, é incerto, já que os independentistas não obtiveram mais de 50% dos votos, o que indica que a maioria dos catalães é contra a separação.
A coalizão separatista Junts pel Sí (Juntos pelo Sim), que havia prometido iniciar um processo que levaria à independência da Catalunha em até 18 meses, conquistou 62 dos 135 assentos do Parlamento. Para ter controle da Casa, precisava ter obtido 68 cadeiras.
Para o líder da coalizão, Artur Mas, "os catalães votaram 'sim' à independência".
Para obter a maioria e formar o governo regional, o Junts pel Sí teria de se aliar a outro grupo que promove a independência, a formação radical de esquerda Candidatura d'Unitat Popular (Candidatura de Unidade Popular, CUP), que obteve 10 assentos. Uma aliança, no entanto, não deverá ser fácil: o CUP anunciou que não integraria um governo com o "Junts pel Sí".
Somados, os votos dos separatistas chegam a 47,9% do total.
Os partidos contrários à separação da Espanha dizem que a maioria dos eleitores rejeitam a independência catalã.
A segunda maior força política no Parlamento local agora é o jovem partido de centro-direita Ciutadans (Cidadãos), que obteve 25 assentos, o triplo do conquistado nas eleições regionais de 2012.
O partido, que se apresentará pela primeira vez nacionalmente nas eleições de dezembro, conquistou votos de cidadãos descontentes com forças tradicionais, como o Partido Socialista da Catalunha (PSC) e o conservador Partido Popular (PP).
O PSC perdeu espaço, ao conquistar apenas 16 assentos. O PP, do primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, teve um desempenho ainda pior: elegeu apenas 11 parlamentares, contra os 19 eleitos em 2012.
A participação do eleitorado, de 77,5%, superou em 10 pontos à registrada nas eleições regionais de 2012.

O que vem agora?

O cenário político complicado sinaliza semanas de negociações. Não será fácil formar uma coalizão, o primeiro obstáculo dos partidos será encontrar pontos comuns.
O "Junts pel Sí" é uma coalizão que envolve legendas de diversos conceitos políticos, incluindo os democratas-cristãos, enquanto a CUP é um movimento radical de esquerda.
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Image captionLíder do "Junts pel Sí", Artur Maslíder, disse que resultado sugere mandato para buscar independência
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Image captionMembros do CUP, partido radical de esquerda contrário a políticas da UE, celebraram bom desempenho de grupos separatistas
Além de indicar que não integraria a coalizão, o CUP mostrou rejeição a Artur Mas, um político conservador, como presidente do governo regional.
A maior decepção para os separatistas seria não conseguir formar um governo com a maioria absoluta que conquistaram. Além disso, terão que enfrentar também o fato de a Constituição espanhola não permitir que regiões se separem.
O plano unilateral de independência do Junts pel Sí inclui a criação de novas instituições catalãs, uma Constituição própria, um Banco Central e um sistema judicial.

Como fica o governo Rajoy?

Uma vitória tão expressiva dos separatistas no Parlamento regional e um desempenho fraco do PP são um revés claro para o governo do premiê, Mariano Rajoy, três meses antes de eleições gerais, disseram analistas.
O governo de Rajoy se opõe à realização de referendos sobre separação - alguns chegaram a ser realizados, mas seus resultados não foram reconhecidos por Madri -, argumentando que violariam a Constituição espanhola, e garantiu que usará todos os recursos legais para evitar o processo de separação da Catalunha.
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Image captionAnalistas viram o resultado expressivo dos separatistas como revés claro para o primeiro-ministro Rajoy
Mas, para alguns, o resultado do fim de semana mostra que o governo central deveria estar mais aberto ao diálogo.
O sentimento separatista aumentou durante a crise econômica espanhola, que levou o desemprego aos dois dígitos. Há temores crescentes que a articulação territorial da Espanha possa afetar a confiança dos mercados e a recuperação do país.
Apesar do resultado, o PP mandou uma mensagem de tranquilidade através das redes sociais, afirmando que seguirá "garantindo a unidade da Espanha".

Do 'enxofre' de Chavez ao sapato de Kruschev, 7 momentos polêmicos na Assembleia da ONU Ángel Bermúdez BBC Mundo

ONU
Image captionOs governos de todo o mundo aproveitam o debate da Assembleia Geral da ONU para apresentar seus temas de interesse (Foto: ONU/Susan Markisz)
A presidente Dilma Rousseff fará o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU nesta segunda-feira, seguindo uma tradição que remonta aos primórdios da organização, fundada há 70 anos.
Em 1947, o então ministro do Exterior brasileiro, Oswaldo Aranha, presidiu a primeira sessão especial da Assembleia Geral e, desde então, cabe a um representante do país fazer o discurso de abertura do evento anual.
Mas o pronunciamento que mais deve chamar a atenção nesta segunda é o do líder cubano, Raúl Castro. Será a primeira aparição no evento de um líder cubano desde a participação de Fidel Castro, seu irmão, na Assembleia Geral de 2000.
Devido ao seu estilo pessoal, a julgar por intervenções de Raúl em outros encontros internacionais, e pela conjuntura diplomática criada pela aproximação do país com os Estados Unidos, é pouco provável que o líder de Cuba faça um discurso de forte teor crítico ou radical.
O evento, na sede das Nações Unidas em Nova York, tem um interessante histórico de discursos marcantes. Veja abaixo uma lista com sete dos mais impactantes deles.

1. Fidel Castro 'sendo breve'

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Image captionCastro prometeu ser breve; discurso durou quatro horas e 29 minutos (Foto: Getty)
Na sua primeira aparição na ONU, no dia 26 de setembro de 1960, apenas 19 meses após a vitória da revolução cubana, Fidel Castro fez um pronunciamento que durou 4 horas e 29 minutos, o mais longo de toda a história da ONU.
As primeiras palavras foram: "Embora nos tenham dado a fama de que falamos muito, não é preciso se preocupar. Vamos fazer o possível para sermos breves".

2. O sapato de Kruschev

ONU
Image captionNikita Kruschev reagiu com fúria e sapato na mão a acusações de que a União Soviética tirou os direitos dos países da Europa Oriental (Foto: ONU/Yutaka Nagata)
Um acessório roubou toda a atenção em um momento em que o discurso deveria ser a estrela.
No dia 13 de outubro de 1960, o primeiro-ministro soviético Nikita Kruschev reagiu com fúria ao discurso do representante das Filipinas, que acusava a União Soviética de ter "engolido" os países da Europa Oriental e ter despojado estes países de seus direitos.
O premiê soviético golpeou com força a mesa onde estava, com os dois punhos, tirou o sapato do pé direito e acertou a mesa com ele.
O historiador William Taubman, autor do livro Kruschev: o homem e sua era, ouviu testemunhos que negam que o então líder soviético tivesse acertado a mesa com o sapato; ele teria apenas tirado o sapato, levantado este ao ar de forma ameaçadora e colocado ele sobre a mesa.
De qualquer forma, desde aquele dia a pergunta mais comum dos turistas que visitam a sede da Assembleia Geral é: onde foi que Krushev deu sapatadas na mesa?

3. Arafat, um revólver e um ramo de oliveira

ONU
Image captionArafat aproveitou a oportunidade para defender as ações armadas da OLP (Foto: ONU)
No dia 13 de novembro de 1974, em sua condição de presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat foi convidado a comparecer diante da Assembleia Geral.
A presença dele na ONU, apenas dois anos após o assassinato de atletas israelenses na Olimpíada de Munique por integrantes da OLP, causou mal-estar entre representantes de Israel e de outros países.
No discurso, Arafat defendeu as ações de sua organização como parte de uma luta armada e pediu a criação de um estado nacional independente para os palestinos.
Uma frase marcou seu discurso: "Venho com um ramo de oliveira em uma mão e a arma de um combatente pela liberdade na outra. Não deixem que o ramo de oliveira caia de minha mão".
Anos mais tarde, a OLP ganharia status de observadora na ONU e a Assembleia Geral reconheceria o direito de autodeterminação dos territórios palestinos.

4. Idi Amin se recusa a falar inglês

ONU
Image captionIdi Amín não apenas se recusou a falar inglês, mas também acusou a Anistia Internacional de calúnia (Foto: ONU/Teddy Chen)
Em 1975, quatro anos depois de chegar ao poder por meio de um golpe de Estado, Idi Amin, líder de Uganda, esteve na Assembleia Geral da ONU.
Mas em vez de discursar, ele passou a palavra a outro representante de seu país, pois se recusava a falar inglÇes, idioma que dominava perfeitamente, alegando ser um idioma "imperialista e colonialista".
O discurso foi lido por seu representante permanente na ONU, em inglês.
No texto, Amin acusou a organização Anistia Internacional de fazer calúnia contra cem países listados como nações que constantemente violavam direitos humanos e alegava que a ONG se alimentava de boatos e "manobras de criminosos desacreditados" que viviam no exílio.
Estima-se que cerca de 300 mil pessoas morreram ou desapareceram durante os anos em que Amin permaneceu no poder.

5. Chávez fareja o diabo

ONU
Image captionO livro indicado por Chávez foi para o primeiro lugar na lista de mais vendidos no site da Amazon (Foto: ONU/Marco Castro)
"Ontem o diabo esteve aqui, neste mesmo lugar, ainda tem cheiro de enxofre nesta mesa, onde tenho de falar", disse o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em um dos discursos de maior destaque na Assembleia Geral de 2006.
A frase de Chávez se referia ao então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e se transformou em manchete em todo o mundo.
Neste discurso, o líder venezuelano também recomendou a leitura do livro O Império Americano: Hegemonia ou Sobrevivência, do intelectual americano Noam Chomsky. A citação do livro fez com que a obra chegasse ao primeiro lugar da lista de livros mais vendidos no site da Amazon.

6. Khadafi e suas reclamações

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Image captionNo meio da longa lista de reclamações, Khadafi acusou os EUA de criar o vírus da gripe suína (Foto: Getty)
Apesar de ter chegado ao poder na Líbia em 1969, foi apenas no ano de 2009 que Muammar Khadafi fez sua primeira aparição na Assembleia Geral da ONU.
Em um discurso de cem minutos, o líder líbio apresentou uma grande lista de reclamações, a maior parte destinadas ao Conselho de Segurança da ONU, que comparou à Al-Qaeda.
"Não deveria ser chamado de Conselho de Segurança, deveria ser chamado de Conselho do Terror", disse.
Khadafi também acusou os Estados Unidos de terem "criado" a gripe suína e colocou em dúvida a versão oficial sobre o assassinato do presidente John F. Kennedy.
Khadafi também chamou atenção fora da ONU; depois de ter vários pedidos negados, ele conseguiu autorização para erguer uma enorme tenda no estilo beduíno em um terreno de Donald Trump - hoje, pré-candidato republicano para as próximas eleições presidenciais americanas - nos arredores da cidade.

7. Ahmadinejad e sua versão dos ataques de 11 de setembro

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Image captionDepois que Ahmadinejad falou sobre sua teoria, 33 delegações abandonaram a sala (Foto: ONU)
Na Assembleia Geral de 2010, o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad apresentou sua "teoria" sobre os ataques de 11 de setembro de 2001 em Washington e Nova York.
"Alguns setores dentro do governo dos Estados Unidos orquestraram os ataques (de 2001) com o objetivo de reverter sua decadência econômica, melhorar sua posição no Oriente Médio e salvar o regime sionista (de Israel)", disse Ahmadinejad.
Diante de seu discurso, representantes de 33 delegações diplomáticas abandonaram a sala, incluindo todos os membros da União Europeia, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Costa Rica.