domingo, 6 de setembro de 2015

"Rollemberg é filmado durante reunião com PMs e confirma Organizações Sociais na Saúde do DF"

INDÍGENAS NO BRASIL » “Foi uma guerra, um massacre” Indígenas guarani-kaiowá ocuparam 5 fazendas em disputa no Mato Grosso do Sul e entraram em confronto com fazendeiros; um índio foi morto por um tiro

Indígena na sede da fazenda Primavera, ocupada. / DAVID MAJELLA
Às margens da rodovia que corta o município de Antônio João, no Mato Grosso do Sul, cinco homens do Exército, armados, olhavam atentamente o interior dos veículos que passavam na última sexta-feira. Camionetes da Força Nacional e carros das Forças Armadas circulavam pela estrada e um helicóptero militar rondava no céu. O cenário, que parecia o prenúncio de uma guerra, dava pistas da gravidade a que chegou o conflito por terras no Estado. Seis dias antes, Semião Fernandes Vilhalva, um guarani-kaiowá de 24 anos, foi assassinado em plena luz do dia em uma fazenda. Levou um tiro na cabeça, ao procurar o filho de cinco anos na beira de um riacho.
Carregado morro acima já sem vida pelos próprios indígenas, o rapaz se tornava a mais nova vítima de uma longa disputa por terras que opõe índios e fazendeiros. No mesmo dia, dezenas de outros indígenas, incluindo mulheres e crianças, ficaram feridos a pauladas ou por tiros de bala de borracha, que deixaram marcas pelo corpo, vistas pela reportagem. No centro da cidade chegaram boatos de que, como vingança, eles incendiariam diversas casas. A pacata Antônio João, de 8.612 habitantes, entrou em pânico.
Os índios reivindicam desde o final dos anos 1990 a ocupação da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, de 9.317 hectares (o equivalente a nove mil campos de futebol), hoje dividida por cinco fazendas de criação de gado, três delas dos filhos de Pio Silva. Silva, segundo os guarani-kaiowá, os expulsou da área na década de 1950 ao lado de outros quatro homens, depois de comprarem os lotes do próprio Governo do Mato Grosso do Sul. Seus herdeiros dizem que só havia uma família de índios na área.
No último dia 22, um sábado antes do da morte de Vilhalva, os guarani-kaiowá deram início ao maior processo de ocupação de todos esses anos. Primeiro entraram na fazenda Primavera, uma das cinco que reivindicam. Em seguida, ocuparam as outras quatro áreas.Segundo os indígenas, com a chegada dos novos donos, muitos índios passaram a trabalhar para os fazendeiros e receberam uma área perto das fazendas, chamada de Vila Campestre. No final da década de 90, com o espaço já pequeno para as famílias em crescimento, decidiram retomar o terreno das fazendas para fazer uma nova aldeia, e entraram em confronto com os fazendeiros. Desde então, ao menos três índios já morreram, entre eles Durvalino Rocha, cunhado de Vilhalva, em 2005. A história que se repete em ao menos outras 80 áreas do Mato Grosso do Sul, um Estado com forte vocação agrícola e que é palco dos piores conflitos do tipo no Brasil. A espera de uma resolução para o conflito, muitos grupos improvisam aldeias na beira de estradas. Sem atendimento médico, 2.112 índios morreram nos últimos 13 anos por causas evitáveis no Estado, conforme mostrou levantamento do EL PAÍS sobre a saúde indígena.
No sábado seguinte, dia 29, cerca de sessenta camionetes deixaram a sede do sindicato rural de Antônio João. Seguiam os passos de Roseli Ruiz, presidente da associação e mulher dos filho mais velho de Pio Silva, herdeiro da fazenda Barra, uma das últimas ocupadas pelos índios. O grupo contava ainda com Dácio Queiroz, também filho de Pio, dono de outra fazenda invadida, a Fronteira, e com políticos, como o deputado federal pelo DEM Luiz Henrique Mandetta, um dos integrantes da comissão que discute a PEC 215, uma proposta de emenda à Constituição que quer mudar a forma como a demarcação de terras indígenas é feita no país.
O séquito de camionetes percorreu por cerca de 10 minutos a rodovia, entrou pela estrada de terra e parou em meio a freadas bruscas, que levantaram poeira, perto da casa principal da fazenda Barra. Foram recebidos por homens, mulheres, adolescentes e crianças aos gritos, com paus e arco e flecha nas mãos. Os índios relatam que, depois de alguma discussão, os homens dispararam tiros para o alto e armas com balas de borracha em direção a eles –o que os fazendeiros negam. Em meio a uma intensa correria, motos de indígenas acabaram incendiadas, outra delas foi furada por tiros. Um índio foi cercado e atacado com um pedaço de pau que abriu sua testa. O confronto se estendeu para a fazenda Fronteira, logo ao lado. Crianças se perderam. Entre elas, o filho de Vilhalva. Não demorou muito e o rapaz apareceu morto. A Força Nacional, uma espécie de tropa de elite do Governo federal formada por policiais militares de vários estados, demorou uma hora para chegar, afirmam os índios.
"O que aconteceu foi um massacre, uma verdadeira guerra", diz uma liderança que não quis se identificar por medo de vingança. "Estava com meu neto de um ano no colo. Ele foi atingido por balas de borracha e chegou a desmaiar", conta Leni, outra das indígenas do movimento. Fazendeiros afirmam que foram atingidos por pauladas e que há marcas de bala em seus veículos.
O processo de demarcação da terra já foi autorizado pelo Governo federal, mas acabou barrado no Supremo Tribunal Federal em 2005. Desde então, o ministro Gilmar Mendes, relator do processo que afirma que o tema é "muito complexo", ainda avalia se a área deverá ir para os índios ou para os fazendeiros. “Nós esperamos pacientemente por dez anos a Justiça resolver a questão. Mas decidimos agir para não esperar a vida toda”, diz Kuña Poty, de 47 anos, que agora vive na sede da Primavera. Roseli e Dácio conseguiram recuperar suas casas após a confusão e suas famílias voltaram para as fazendas, onde foram alocados homens do Exército e da Força Nacional. Os índios continuam no restante da área.

Negociação

Após a morte de Vilhalva e toda a atenção que a questão ganhou na imprensa, deputados tentaram acelerar a aprovação da PEC 215 no Congresso. A proposta, que já ganhou um relatório final da comissão que a analisa e deve ser encaminhada para a votação ainda neste ano, dará à Câmara o poder de aprovar as demarcações de terra -uma prerrogativa hoje do Executivo-  e permitirá a indenização de terras demarcadas. Em uma Casa lotada de parlamentares ruralistas, isso deverá dificultar que os índios consigam qualquer nova área que reivindicam.
O Governo, por sua vez, decidiu tentar negociar. Na semana passada, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, esteve na capital do Estado, onde se reuniu com fazendeiros e com indígenas. Em meio a uma discussão tensa, que teve até bate-boca com uma produtora rural, Cardozo propôs que os índios selecionem cinco áreas em litígio para a demarcação urgente e prevê como solução a indenização aos fazendeiros. Um problema, visto que pela legislação o Governo pode apenas pagar pelas benfeitorias feitas na terra e não pelo terreno, que já seriam dos índios e, portanto, da própria União. Os fazendeiros não aceitam receber menos, já que pagaram pelas terras de boa-fé.
A proposta de Cardozo é vista com ceticismo por ambas as partes. Há dois anos, após a morte em 2013 de um índio terena no município de Sidrolândia, também no Mato Grosso do Sul, uma mesa de negociação foi formada pelo ministério, com a mesma proposta. Depois de inúmeras negociações, não se chegou ao acordo esperado. “São mentiras, mentiras e mentiras. O Governo está sem credibilidade. A verdade é que, se eles quisessem resolver a questão já teriam resolvido”, reclama Roseli. Seu cunhado não quis falar com a reportagem.
Enquanto o impasse não é resolvido, os índios garantem que não sairão das áreas ocupadas. Nos próximos dias, pretendem começar a montar barracas e, num futuro próximo, criar uma roça em meio a área desmatada para o pasto do gado. O clima de guerra promete continuar.

Dono de cão que faz 'vigília' recebe visita em porta de hospital em Itatiba Paciente foi liberado pelos médicos e ganhou carinho de bicho de estimação. Cachorro aguarda alta do vendedor, que sofreu infarto, desde domingo (30).

 O vendedor Olívio Yamamoto, que está internado desde domingo (30) na UTI de um hospital de Itatiba (SP), após sofrer um infarto, afirma teve a vida salva pelo seu cachorro. Desde que ele foi hospitalizado o animal está na porta do hospital, à espera do dono.
O vendedor estava indo para Itatiba (SP) quando começou a passar mal e foi para o hospital, com o cachorro no carro. Lá, foi diagnosticado com princípio de infarto e não pôde sequer sair para deixar o cão em casa.
Cão recebeu carinho de dono internado em hospital (Foto: Gustavo Consoline/TEM Você)Cão recebeu carinho de dono internado em
hospital (Foto: Gustavo Consoline/TEM Você)
Yamamoto conta que só chegou ao hospital porque o animal, batizado de "Negão", o manteve acordado enquanto dirigia. "Eu não conseguia dirigir direito porque estava com muita dor, meu olho até 'saltava' para fora. Então ele uivava bastante e batia no meu ombro desperado", lembra.
Ainda emocionado em saber que o animal o espera na porta do hospital, o vendedor ao mesmo tempo chora e dá risada ao falar do animal. "Estou emocionado de verdade, porque eu gosto demais dele. É muito brincalhão. É meu melhor amigo". Agora o comerciante já faz planos para se divertir com o animal após receber alta no hospital. "Assim que tiver alta, vamos viajar para uma praia ainda em setembro", conta.
Paciente pede em carta para cuidarem do cão (Foto: Reprodução/TV TEM)Paciente pede em carta para cuidarem do cão
(Foto: Reprodução/TV TEM)
Na quarta-feira, impossibilitado de dar entrevista, ele escreveu uma carta. Nela o vendedor contou que o cão foi adotado por ele durante uma viagem a Bragança Paulista (SP) e é um grande companheiro do vendedor desde então. "Já fomos várias vezes para Minas Gerais para pescar, correr no campo e nadar junto", lembra.
Comoção
Desde sua internação, "Negão" perambula pelo estacionamento do local, à espera do dono. A história sensibilizou os funcionários que, de maneira improvisada, separaram um canto com comida e água.
O médico Wagner Tegon Filho diz que a presença do bichinho de estimação na porta do hospital é importante para a recuperação do paciente. "O cachorro estando mais próximo do paciente deixa ele mais otimista e responsivo ao tratamento para se recuperar e sair dessa."
A história de amizade entre o cão e o homem se espalhou pela cidade. Maria Cecília Tsae, dona de um café que fica bem ao lado do hospital comenta que o animal está sofrendo. “Ele senta chorando bem na porta da entrada da emergência. Acho que ele sente o cheiro do dono”, comenta.
"Deveria existir mais essa ação entre nós seres humanos. Uma amizade sincera, pura. Onde nos preocupássemos com o próximo", reflete o pastor Samuel Guimarães. De acordo com informações do hospital, o paciente não tem previsão de alta. Ele e o cachorro moram sozinhos e não têm mais ninguém na "família".
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Cão perambula pelo estacionamento do hospital, à espera do dono (Foto: Reprodução/ TV TEM)Cão perambula pelo estacionamento do hospital, à espera do dono (Foto: Reprodução/ TV TEM)
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Presidente do BC da China prevê estabilidade no mercado financeiro 'Correção nas bolsas chinesas já quase terminou', diz Zhou Xiaochuan. Afirmações visam tranquilizar a cúpula do G20, reunida na Turquia.

Presidente do banco central da China, Zhou Xiaochuan, responde a questão durante coletiva de imprensa à margem do 18o Congresso do Partido Comunista da China, em Pequim.  (Foto: Reuters)O presidente do Banco Central da China,
Zhou Xiaochuan (Foto: Reuters)
O presidente do Banco Central da China (PBOC), Zhou Xiaochuan, afirmou que o "processo de correção" nas bolsas chinesas já quase terminou e previu "estabilidade" no mercado financeiro a partir de agora.
Zhou tentou assim enviar uma mensagem de tranquilidade na cúpula do G20 em Ancara, depois que seus membros manifestassem suas preocupações sobre a situação na China, conforme publicou neste domingo (6) o órgão emissor em seu site oficial.
Em encontros com ministros de Finanças e governadores de bancos centrais das 20 principais economias do planeta, Zhou lembrou as medidas implementadas pelo governo para deter a queda das bolsas e garantiu que estas políticas ajudaram "a prevenir riscos sistemáticos".
Com relação ao iuane, Zhou assinalou que a moeda chinesa está perto de se estabilizar e insistiu que não há razão para uma desvalorização persistente.
A situação da economia chinesa centrou o debate do G20 na Turquia, que terminou com um comunicado do grupo dos 20 neste sábado no qual as principais economias se mostraram esperançosas em poder acelerar o crescimento econômico global, apesar de que suas expectativas anteriores não tenham se cumprido.

Refugiado em São Paulo: “Meu filho poderia ter sido Aylan. Tivemos sorte” Família de 15 sírios divide casa em São Paulo há três meses e falam do horror da guerra Economista quer enviar dinheiro ao irmão para evitar que ele arrisque fuga pelo mar

Família síria refugiada divide casa em São Paulo. / RAQUEL CUNHA
Arriscar a vida na fuga ou ficar e morrer. Ao ver pela televisão a comovente imagem do menino Aylan Kurdi, cujo corpo foi arrastado até uma praia turca após uma tentativa fracassada de fugir com a sua família em direção a Europa, o sírio Abdul sentiu tristeza, mas ao mesmo tempo alívio e gratidão. “Poderia ter sido meu filho, a minha família tentando fazer aquela travessia, mas tivemos a sorte de ter conseguido chegar até o Brasil de forma segura.” Há 3 meses, ele e mais 14 parentes, entre eles 6 crianças, saíram de um bairro cristão de Hamah, a menos de meia hora da cidade de Homs – um dos epicentros da guerra síria – em direção ao Líbano para conseguirem um visto que os permitira voar em direção ao Brasil. Ao chegarem a São Paulo, pediram asilo como refugiados e hoje vivem todos em uma casa de 3 quartos na Parada Inglesa, no norte da capital paulista.
Desde que chegaram, os familiares de Abdul tem lidado com uma realidade mais difícil do que imaginavam, porém melhor do que a do destino que estaria reservado para eles caso optassem em continuar na Síria. “Não tínhamos mais trabalho, a cidade sofria bombardeios constantes e as crianças já não tinham como ir para a escola. E o meu marido também já tinha sido chamado para se apresentar as forças de Bashar al-Asad. Foi um alívio sair de lá”, conta Sarah Farrouh, de 26 anos, que prontamente agarra o celular para mostrar o que sobrou da casa dos pais após um dos últimos bombardeios. As imagens mostram como uma bomba atingiu o quarto do casal, que sobreviveu ao ataque com alguns ferimentos. “Quero muito que eles saiam de lá, mas não temos recursos para ajudá-los no momento”, explica a jovem.A escolha desta família tem se tornado mais comum entre os sírios. Apesar da distância entre os dois países, o Brasil é hoje a nação que mais concedeu asilo a refugiados sírios na América Latina. A busca pelo país veio crescendo desde 2001,quando o conflito começou e, desde então, o Brasil já recebeu 2.077 sírios que pediram refúgio, segundo dados da Agência da ONU para refugiados (Acnur). Um dos principais motivos para a procura do país é a forte presença de uma comunidade sírio-libanesa desde o século passado, mas também a facilidade de se conseguir asilo. Em 2013, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) adotou uma resolução para desburocratizar a emissão de vistos para cidadãos sírios e outros estrangeiros afetados pela guerra e interessados em solicitar refúgio no país. As facilidades expiram no fim deste mês, mas o Governo brasileiro já sinalizou que elas devem ser prorrogadas.
Uma bomba atingiu o quarto do casal,. Arquivo pessoal.
Ela e o marido montaram uma lanchonete com especialidades árabes em São Paulo. Apesar de terem algo para viver e os documentos brasileiros, algumas barreiras ainda tomarão mais tempo para serem superadas. O idioma, a dificuldade de validar o diploma de economista dela e de conseguir um fiador para poder alugar uma casa para os dois são algumas delas. Sarah esperava também economizar mais dinheiro para enviar aos parentes que continuam vivendo em uma Síria. Ela só conseguiu chegar ao Brasil com ajuda de uma parente radicada a cinco anos nos Estados Unidos e agora teme não poder ajudar o irmão que planeja cruzar de barco o mar mediterrâneo e depois seguir para a Alemanha. O país deve receber até 10.000 refugiados, após acordo entre autoridades para que imigrantes possam cruzar fronteiras.
Para o representante do Acnur no Brasil, Andrés Ramírez,  a situação dos refugiados sírios está cada vez mais grave. “Apesar dos pedidos de refúgio terem aumentado muito no Brasil, o número ainda é pequeno quando você olha o tamanho do problema. Hoje temos mais de quatro milhões de refugiados sírios e só 5% estão saindo da região”, explica. A maioria deles se encontram nos países vizinhos: na Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito. “As pessoas querem continuar inseridas em uma cultura similar, em um lugar perto para poder voltar. Antes de tomar uma decisão drástica como a de cruzar o oceano, essas pessoas tentam se deslocar pela região”, completa Ramírez.
Poderia ter sido meu filho, a minha família tentando fazer aquela travessia, mas tivemos a sorte de ter conseguido chegar até o Brasil de forma segura
Ainda que seja uma decisão difícil, a Cáritas de São Paulo tem recebido pedidos de ajuda de pessoas que permanecem na Síria e nos países da região, em condições de sobrevivência e segurança muito precárias e que desejam refúgio. No Brasil, a entidade atendeu só neste ano 810 sírios, dos quais, 507 eram recém-chegados ao país.

Trabalho e a Síria pela televisão

A inserção no mercado de trabalho ainda é uma das maiores dificuldades. No caso dos refugiados que vivem na casa da Parada Inglesa, a maioria conseguiu emprego em diferentes áreas: um deles trabalha em uma construtora, outros vendem doces típicos e uma das mulheres é auxiliar de salão de beleza. Eles, no entanto, ainda não conseguiram colocar todas as crianças nas creches ou escolas e aguardam o pedido que fizeram para participar do programa do Bolsa Família.
A casa, ainda que não seja pequena, obriga aos moradores a deixar de lado o conforto e a privacidade. Na sala da entrada, apenas duas camas, uma ao lado da outra sem qualquer divisória, abrigam dois recém-casados e uma família de quatro pessoas. A cozinha é o ponto de encontro diário. É onde geralmente recebem notícias do conflito sírio por meio da televisão. O pequeno Basam, de seis anos, tem os olhinhos fixados em um episódio do Chaves, mas cumprimenta a reportagem do EL PAÍS com um sorridente “oi, tudo bem?”. Ele já aprendeu algumas palavras em português na escola estadual que frequenta. Começa um noticiário e logo aparecem imagens de um tiroteio no Rio de Janeiro. “Parece a Síria”, diz Bassan. Armas, perseguição e sangue ainda estão guardados na memória como sinônimos do país em que nasceu.

OEA pede a Maduro que tranquilize colombianos que vivem na Venezuela


O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, discursa em Tegucigalpa, Honduras, no dia 8 de agosto de 2015
O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, pediu neste sábado ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que tranquilize os colombianos que vivem na Venezuela, com a reunificação das famílias separadas pela crise bilateral.
Durante uma visita à fronteiriça cidade colombiana de Cúcuta, onde chega a maior parte dos afetados pela crise, Almagro se dirigiu a seu "amigo" Maduro, dizendo que é muito importante que o governo venezuelano acalme dos milhões de colombianos que vivem na Venezuela.
A atual crise entre Colômbia e Venezuela foi desatada há cerca de três semanas, depois que Maduro fechou a fronteira e deportou pelo menos 1.355 colombianos.
Almagro, que viajou para verificar a situação humanitária decorrente das expulsões, pediu durante uma coletiva de imprensa que a chanceler colombiana, María Ángela Holguín, que os dois países trabalhem pela "reunificação" das famílias separadas na fronteira.
"É importantíssima a definitiva reunificação familiar. Nós pedimos à Colômbia a sistematização dos casos pendentes de reunificação familiar (...) e pedimos à Venezuela a mais rápida solução para esse flagelo, para esse esse problema", disse Almagro.
"A OEA vai atuar na dimensão humanitária e dos direitos humanos, apoiando-se nos instrumentos que tem: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos ou visitas, como esta", explicou.
A crise fronteiriça começou em 19 de agosto com o fechamento da fronteira por Maduro, depois de um ataque a militares venezuelanos durante uma operação anti-contrabando, que o mandatário atribuiu a "paramilitares colombianos".
A tensão aumentou há pouco mais de uma semana, quando os dois países chamaram seus embaixadores para consultas.

G20 considera insuficiente o crescimento mundial e promete coordenar sua política econômica


Autoridades do G20 posam para a foto oficial do encontro, em Ancara
O G20 considerou insuficiente neste sábado o crescimento global, num contexto de preocupação com a desaceleração econômica na China, mas comprometeu-se a coordenar sua política monetária e cambial.
"O crescimento global está abaixo de nossas expectativas. Estamos empenhados em tomar medidas decisivas para garantir que o crescimento continua no bom caminho e estamos confiantes de que a recuperação econômica vai acelerar", afirma o documento, ao qual a AFP teve acesso.
"Nos comprometemos a adotar medidas decisivas para que o crescimento se mantenha encaminhado e confiamos que a reativação econômica se acelerá", afirma o documento.
Também se comprometeu a "abster-se de qualquer desvalorização competitiva" em resposta a temores de uma guerra cambial desencadeada pela recente desvalorização do iuane chinês.
"Reiteramos nosso compromisso de avançar para sistemas de câmbio determinados pelo mercado e a flexibilidade das taxas de câmbio", ressaltou o projeto de declaração final.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, afirmou a jornalistas que o crescimento global é "ainda muito moderado e desigual" e que o único índice "bastante alto é o de desemprego".
Os Estados Unidos, que insistem muito para que a expressão "desvalorização competitiva" apareça no texto final, também recebeu atenção do G20, embora com palavras veladas.
- Fed sob vigilância -
Os países do G20 se comprometeram a "avaliar e comunicar cuidadosamente suas iniciativas, sobretudo no contexto de decisões importantes de política monetária e outras, a fim de minimizar os efeitos secundários, reduzir as incertezas e promover a transparência".
A mensagem parece se dirigir ao Federal Reserve, o banco central dos EUA, que mantém os mercados e os países emergentes ansiosos pela data em que voltará a subir a taxa de juros, após anos de expansão monetária.
Muitos mercados emergentes enxergam com preocupação um possível aumento dos juros nos EUA, que levaria os investidores a colocar os capitais em mercados seguros na esperança de rendimentos maiores que os atuais.
O G20 pede aos governos e aos bancos centrais que evitem o uso exclusivo dos juros como incentivo do crescimento, aplicando também políticas fiscais capazes de estimular o dinamismo econômico e de criar empregos.
"Depender exclusivamente de instrumentos de política monetária não conduzirá a um crescimento equilibrado", adverte.
O Banco Central Europeu (BCE) voltou a assegurar na semana passada que não foi fixado qualquer limite para apoiar a economia europeia e, de forma geral, as políticas monetárias nunca foram tão generosas no mundo.
O rascunho da declaração final é o resultado de um equilíbrio sutil entre os otimistas -Estados Unidos e em menor medida a Europa- e os prudentes, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os países emergentes.
- Os emergentes em crise -
O anfitrião das reuniões do G20, Turquia, que o presidente Recep Tayyip Erdogan deseja transformar em uma das dez maiores economias mundiais antes de 2023, está em recessão assim como Brasil e Rússia.
A taxa de câmbio turca acaba de chegar a um novo mínimo em relação ao dólar, que vale agora três liras turcas.
O rascunho do documento promete dar um maior protagonismo aos países pobres nas decisões que buscam impedir que as multinacionais evadam impostos, prática conhecida como "otimização fiscal".
O G20 encarregou a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) de comandar essas negociações, mas várias ONG e ativistas como o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz criticaram que esse tipo de decisão fosse tomada por um grupo tão pequeno.
A organização também pretende impedir o financiamento ao terrorismo, facilitando, por exemplo, os procedimentos de congelamento de bens.
O G20, que representa cerca de 85% da economia mundial, convoca os países ricos a "ampliar seus esforços de financiamento" na luta contra a mudança climática, tendo em vista a conferência internacional que será realizada no final do ano em Paris.
A crise migratória enfrentada pela Europa também entrou na pauta de discussão das autoridades financeiras.
O vice-primeiro-ministro turco Cevdet Yilmaz adiantou que a questão fará parte da agenda da próxima cúpula de chefes de Estado e de governo do G20, em novembro em Antalya.