quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Racismo contra imigrantes no Brasil é constante, diz pesquisador Jefferson Puff - @_jeffersonpuff Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

  • Há 8 horas
Laura Daudén/ Conectas.orgImage copyrightConectas.org
Image captionHaitianos em São Paulo; 'A noção de que o Brasil é um país hospitaleiro, onde todos os imigrantes são bem-vindos, não passa de um mito', disse pesquisador
"A noção de que o Brasil é um país hospitaleiro, onde todos os estrangeiros e imigrantes são bem-vindos, não passa de um mito", diz o pesquisador Gustavo Barreto, após analisar mais de 11 mil edições de jornais e revistas entre 1808 e 2015.
Em tese de doutorado defendida recentemente na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ele concluiu que o racismo na imprensa brasileira contra o imigrante se manteve constante, apesar dos avanços, e que a aceitação é seletiva, com diferenças entre europeus e africanos, por exemplo.
Na tese Dois Séculos de Imigração no Brasil: A Construção da Identidade e do Papel dos Estrangeiros pela Imprensa entre 1808 e 2015, Barreto analisou a cobertura do tema em jornais como O GloboO Estado de S. PauloFolha da Manhã (hoje Folha de S. Paulo), Correio da ManhãO País e Gazeta do Rio de Janeiro ao longo de 207 anos.
Image copyrightBBC Brasil
Image captionGustavo Barreto: discriminação e racismo na imprensa brasileira vêm de séculos
Em entrevista à BBC Brasil, ele explica como os termos são usados de forma diferente na imprensa. "O refugiado é sempre negativo, um problema grave a ser discutido. O imigrante é uma questão a ser avaliada, pode ser algo positivo ou negativo, mas em geral a visão é de algo problemático. Já o estrangeiro é sempre positivo, inclusive melhor do que o brasileiro. É alguém com quem podemos aprender", diz.
Barreto incluiu em seus estudos as hostilidades sofridas em junho por haitianos em um posto de gasolina na região metropolitana de Porto Alegre. E, recentemente, houve em São Paulo uma suspeita de ataque xenófobo contra haitianos, que foram baleados com chumbinho na escadaria de uma igreja.
Barreto também relembrou a estigmatização sofrida por africanos e haitianos no ano passado, quando uma pessoa da Guiné foi identificada como suspeita de estar contaminada pelo vírus ebola, e afirma que o Brasil ainda está longe de promover uma discussão real sobre a imigração.
Image copyrightAgencia Brasil
Image captionImigrantes haitianos no Acre
"Em geral, os novos imigrantes estão sempre sendo vistos como problemáticos na sociedade. As notícias não estão discutindo imigração, problematizando o assunto, e não se vê discussões de política imigratória ou da legislação. O foco não é a solução ou discutir o tema, mas a noção de crise", avalia.
Veja os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil – De acordo com sua pesquisa nos relatos da imprensa brasileira, como o país "pensou" e "problematizou" seus imigrantes ao longo dos últimos 207 anos?
Gustavo Barreto - Houve diferentes momentos, mas o que se manteve por muitas décadas foi a intenção de trazer mão de obra, sempre com uma clara preferência por cristãos, brancos, europeus e trabalhadores.
Até 1870 ocorrem pequenos experimentos isolados, com uma média de chegada de 2 mil a 3 mil imigrantes por ano, e a partir de 1870 começam as grandes levas de imigrantes, com mais de 10 mil por ano, o que ocorre até 1930.
Havia um consenso de que não se podia contar só com os portugueses para popular o país, e o governo implementou políticas de subsídios para estrangeiros. Do governo Vargas em diante, o país passa a selecionar muito mais quem entra, e, décadas depois, passa a prover mais imigrantes brasileiros para o mundo do que os receber.
Mais recentemente, nos últimos dez anos, o Brasil voltou a receber muitos imigrantes, sobretudo bolivianos, haitianos, angolanos, senegaleses, ganenses, portugueses e espanhóis, entre outros.
Duas coisas foram cruciais ao longo do tempo: as questões do trabalho e da raça. Em 1891, o governo decretou que amarelos e negros não poderiam entrar subsidiados pelo Estado. Se entrassem, o dono da embarcação poderia perder o alvará de funcionamento.
Além disso, na imprensa fica claro que os "bons" europeus eram os alemães e italianos, enquanto os provenientes das ilhas dos Açores e Canárias eram "ruins". Durante uma época as elites e formuladores de políticas públicas promoveram ideias eugenistas, segundo as quais uma raça era cientificamente superior à outra, estimulando um embranquecimento da população brasileira.
Image copyrightAcervo do pesquisador
Image captionGazeta do Rio de Janeiro - de dezembro de 1819
BBC Brasil – Quanto ao racismo, é possível identificar avanços? Como tem sido a cobertura da chegada de imigrantes haitianos e bolivianos ao Brasil, mais recentemente?
Barreto - O racismo era algo natural e aceitável no século 19, incluindo o destaque às ideias de supremacia de raças, entre 1870 até o governo Vargas. A partir da Segunda Guerra, os grupos começam a ser valorizados. Judeus, alemães e italianos no Brasil começam a recontar sua história, assim como os japoneses, depois de um momento muito difícil. Após as cartas de direitos humanos, os valores eugenistas já não são mais declarados, o que é um avanço.
Mais recentemente, o país passou a receber um número considerável de bolivianos e haitianos. Mas também chegam portugueses e espanhóis. A imprensa, no entanto, costuma destacar muito os problemas que os haitianos trazem, e rapidamente começa a ser construída uma visão de que eles são um problema. Enquanto isso, os imigrantes europeus recentes são valorizados por sua cultura e contribuição ao Brasil.
Contribuições culturais ou produtivas dos haitianos e bolivianos, que têm uma riqueza cultural enorme, dificilmente viram notícia. O racismo atual se dá pelo não dito, pelo que a imprensa omite. Quando aparecem na mídia estão atrelados a problemas, crises, marginalizações, ou ligados à ideia de uma invasão.
BBC Brasil - Apesar dos nítidos avanços no tratamento aos imigrantes na imprensa brasileira, a pesquisa identificou algum retrocesso na cobertura atual? Algo que chame a atenção?
Barreto - Há reportagens que promovem um retrocesso inacreditável, sobretudo no que diz respeito à construção da ideia de que há nacionalidades mais propensas à submissão, e não ao empreendedorismo.
No passado, após 1850, durante muitos anos a mídia rejeitou a entrada de chineses no Brasil por meio de um discurso que os comparava com escravos, sem iniciativa empreendedora como os europeus. A imprensa dizia que eles não se classificavam para os programas de imigração subsidiada pelo governo porque isso acarretaria em "escravidão amarela".
Hoje, guardadas as diferenças, a imprensa faz algo parecido com os haitianos. De acordo com algumas das reportagens analisadas, há a ideia de que eles vão ser explorados, abusados. Pede-se direitos humanos, e divulga-se uma ideia de que eles vão virar novos escravos. Você vê jornais de São Paulo relacionando diretamente os haitianos à escravidão. Numa matéria de 2014, diz-se que os brasileiros estavam escolhendo os imigrantes haitianos pela canela.
Image copyrightAcervo do Pesquisador
Image captionDiário de Minas: Outubro de 1867
BBC Brasil - Na sua visão, a imprensa brasileira consegue dar conta do tema da imigração, incluindo a discussão de soluções e políticas imigratórias, ou acaba tratando o assunto de forma alarmista, valendo-se de estereótipos?
Barreto - A imprensa parece não se preocupar com a figura do imigrante ou em discutir o tema imigração em toda sua complexidade. Sobretudo dos anos 2000 em diante, o imigrante aparece nas páginas dos jornais brasileiros como explorado, submisso ou relacionado a denúncias de violações de direitos humanos.
Em geral os novos imigrantes estão sempre sendo vistos como problemáticos na sociedade. As notícias não estão discutindo imigração, problematizando o assunto, e não se vê discussões de política imigratória ou da legislação em nenhum momento.
Quando os haitianos chegaram a São Paulo, há algo nítido na cobertura da imprensa. Vê-se um esforço homérico para jogar a Prefeitura, os governos dos Estados de São Paulo e do Acre e o governo federal uns contra os outros. O foco não é a solução ou discussão do tema, mas a noção de crise.
Quando as quatro instâncias decidiram se sentar e organizar os problemas que estavam acontecendo, num encontro nacional sobre refúgio e imigração, a imprensa praticamente ignora, com pequenas notinhas e um dos grandes jornais nem registra.
Outra coisa que chamou a atenção foi o episódio do ebola, no ano passado. Quando ocorre a suspeita de uma pessoa da Guiné contaminada, todos os africanos e haitianos – que são do Caribe, em outro continente – passam a ser suspeitos e gera-se um grande debate nacional sobre a proibição da entrada dessas pessoas no país.
Image copyrightBBC World Service
Image captionFolha da Manã, fevereiro de 1926: "Fechem-se as fronteiras"
BBC Brasil - Suas observações não contrastam com a ideia tão difundida do Brasil como um país hospitaleiro, e do brasileiro como um povo acolhedor, famoso no mundo todo pela simpatia e boa recepção aos estrangeiros?
Barreto - Na verdade entre os pesquisadores do assunto há a noção do "mito da hospitalidade". Há uma diferença entre a maneira como nos vendemos para o mundo e a verdadeira hospitalidade a qualquer estrangeiro ou a democracia racial.
O estudo de como a imigração é retratada no país entre 1808 e 2015 mostra que a hospitalidade é seletiva, mas que essa noção sempre foi difundida, em benefício do Brasil. Esta é uma das minhas principais conclusões na tese, a de que a nossa famosa hospitalidade é um mito.
A partir de 1870, você vê nos jornais a palavra "hospitaleiro" sendo usada para algumas situações, e ao lado os discursos racistas e eugenistas claramente em posição contrária contra outros grupos de imigrantes. O brasileiro também emigra para diversos países, e nossa presença tem aumentado lá fora, mas ainda recebemos um número muito baixo de refugiados, por exemplo. Contribuímos pouco neste sentido.
BBC Brasil - Você citou um editorial do jornal Folha da Manhã, de 1926, entitulado "Fechem-se as fronteiras". Esta seria um pouco a noção de que o Brasil enxergou durante muito tempo a imigração de forma unilateral e seletiva? Ainda vemos este discurso?
Barreto - Sim, o tema do editorial de 1926 é justamente a noção de que o país já teria recebido todos os imigrantes necessários. Já chegaram todos que nós queremos, após a vinda em massa de alemães e italianos, foi cumprida a função da imigração no Brasil. Já ocupamos e populamos o país, e agora as fronteiras devem ser fechadas e quem entrar deverá ser muito bem selecionado.
Hoje em dia a posição continua, mas travestida por outro argumento. A imprensa trabalha com o mito de que somos um país pobre, em desenvolvimento, e não temos condições de receber mais ninguém. Vamos receber somente os melhores e mais úteis. São evidências no discurso da imprensa e na visão da sociedade brasileira que contrastam diretamente com a ideia do "Brasil hospitaleiro, onde todos são bem-vindos".
No contexto atual, de crise econômica e política, há que se observar atentamente a maneira como o imigrante será retratado na imprensa, por ele ser um excelente bode expiatório para os problemas. Não tem grande chance de defesa, não está integrado ao país, é o outro, o diferente, que traz dificuldades.
Desemprego, inflação e crise tendem a tornar a visão dos imigrantes ainda mais negativa.

Grotesco Trump Partido Republicano não deve se contagiar com o discurso do milionário Donald Trump expulsa jornalista mexicano de entrevista coletiva

Donald Trump
O candidato Donald Trump. / SCOTT OLSON (AFP)
O milionário norte-americano Donald Trump já conseguiu seu objetivo de chamar a atenção no processo das primárias do Partido Republicano que acontecerá no mês de julho do ano que vem com a nomeação do candidato dessa formação para as eleições presidenciais de 2016. A expulsão do conhecido jornalista Jorge Ramos de uma coletiva para a imprensa em Iowa é – até o momento – o mais recente episódio no que está se tornando uma longa sequência de explosões, comentários racistas e machistas, além de insultos a jornalistas com que o candidato republicano está impregnando o início de um processo que desperta tanto interesse quanto as próprias eleições.
Há poucos dias Megyn Kelly, da conservadora rede Fox, já havia sido vítima de um dos comentários mais machistas e grosseiros na política norte-americana de que se pode lembrar. E também por fazer perguntas que não agradaram o pré-candidato. Longe de se retratar, Trump continuou insultando a apresentadora nas redes sociais.Esta não é a primeira vez que Trump aproveita essa expectativa para fazer o que sabe melhor: tentar agarrar os holofotes e desrespeitar todos que estão ao seu redor. Ramos, apresentador da rede norte-americana em língua espanhola Univisión, foi maltratado física e verbalmente por fazer uma pergunta que está na mente de todos que escutam Trump falar: como ele acha que vai expulsar 11 milhões de pessoas sem documentação que residem nos EUA, o centro de sua política no caso de se tornar presidente. Na verdade, é sua única proposta concreta conhecida – junto com a construção de um muro na fronteira com o México e a privação do direito de cidadania às crianças nascidas nos EUA, mas filhos de imigrantes.
O que é realmente preocupante é que o comportamento rude do magnata seria apenas uma história lamentável se não fosse porque o radicalismo de seu discurso político disparatado pode influenciar nas abordagens dos outros candidatos republicanos. Mesmo que falte muito para o fim da corrida, Trump lidera de maneira contínua as preferências dos eleitores que se declaram republicanos. Na era da imagem e do imediatismo, os outros candidatos – embora acumulem muitos mais méritos que o rico empresário – podem ficar ofuscados quando comparados com o impetuoso e mal-educado Trump.
A história das primárias norte-americanas, democratas e primárias republicanas, está cheia de personagens bizarros. Até agora, o próprio processo termina servindo como uma forma de depuração. O perigo não está no que faça Trump, por mais condenável e lamentável que seja, mas em como reagem os outros candidatos e o Partido Republicano em seu conjunto frente a essas abordagens. E aqui pode influenciar significativamente o discurso desse filho e neto de imigrantes que agora nega aos outros as oportunidades com as quais seus antepassados se beneficiaram e que permitiram que concorra à presidência. Em Iowa, Trump reproduziu com Ramos sua maneira de entender a política: uma que vai contra tudo o que representam os EUA.

O que pode estar escondido sob a crise econômica do Brasil O país não está vivendo os tempos bíblicos, em que foi necessário um Moisés para libertar o seu povo da escravidão do Egito

O Brasil vive uma crise grave que, segundo diversos analistas, é mais política do que econômica. Por isso mesmo é mais difícil de resolver, embora o país seja rico em recursos naturais, matérias-primas e capacidade criativa. E não está quebrado como a Grécia e aVenezuela.
O problema é sobretudo político. As pessoas comuns sabem disso. Deixaram isso claro em suas últimas manifestações, quando soaram mais os gritos contra os políticos e seus crimes de corrupção que aqueles contra a inflação e o desemprego – ainda que esses dois fantasmas fiquem mais assustadores a cada semana.
Existem muitas explicações para essa dificuldade que o país tem de conjugar a política exercida por seus profissionais com o desenvolvimento de uma economia com grandes possibilidades e capacidades.O que não funciona e parece sem solução é o emaranhamento político num labirinto que parece sem saída, com atores medíocres, mais burocratas que estadistas, que não conseguem recitar os grandes dramas e parecem conformar-se com os resultados de opereta, que mal se encaixam na democracia consolidada e moderna de um país continental como o Brasil.
Talvez a explicação menos considerada, em cujo seio estão muitas dessas dificuldades onde os políticos se afogam e que atrasa a recuperação econômica, seja a tentação latente de sacralizá-los ao mesmo tempo em que lhes é concedida a graça da impunidade, como se deixassem de ser cidadãos como os demais.
Se algo deveria diferenciar as democracias modernas dos antigos regimes totalitários é ter-se livrado do perigo dos messianismos, sejam religiosos ou ideológicos.
O Brasil não está vivendo os tempos bíblicos, em que foi necessário um Moisés para libertar o seu povo da escravidão do Egito. Tampouco vive os tempos das teocracias da Idade Média, quando os reis governavam em nome de Deus – com quem não é possível discutir, só obedecer.
A modernidade é incompatível com dogmas políticos. Os governantes, nas democracias, não são ungidos por Deus e devem responder apenas ao imperativo da Constituição e à vontade de quem os elege livremente. E são proibidos de mentir.
Quanto mais perfeita é uma democracia, menos brilho têm, por exemplo, os seus representantes – que em muitos casos chegam a se confundir nas ruas com as pessoas comuns, sem privilégios ostensivos. Essas democracias maduras não precisam de heróis, nem de messias salvadores da Pátria, nem tampouco de pais ou mães dos pobres.
Deles é exigida somente a capacidade de governar com acerto e justiça, levando em conta sempre, na hora de repartir o orçamento, as necessidades mais urgentes, como a de legislar para reduzir as desigualdades sociais e criar novas possibilidades de crescimento do país.
Pode parecer simples, mas na prática as coisas não são assim tão fáceis. Os que chegam ao poder se esquecem de que não foram colocados no trono por um desígnio divino, e sim pela força do voto popular. Inclusive nos países com Constituições democráticas existe de fato a tentação, alimentada às vezes pela própria sociedade, de sacralizar o poder.
Certos messianismos continuam vivos em vários países da América Latina, com sua nefasta carga antidemocrática e até mesmo ditatorial. Uma mistura de messianismo ideológico e fundamentalismo religioso, fomentado pelas igrejas evangélicas, impede o desenvolvimento de democracias modernas e participativas.
Quando os governantes são divinizados, transformam-se também em indispensáveis e insubstituíveis até o ponto em que qualquer iniciativa de mudança política é vista como diabólica e contra os pobres.
No Brasil, um país com uma Constituição democrática e separação entre a Igreja e o Estado, continua viva a tentação de querer levar Deus até o Congresso ou até os bancos da Justiça, sacralizando a vida pública e com ela seus governantes, embora sejam depois denegridos.
Há até quem defenda hoje no Congresso a inclusão, na Constituição, de que o poder vem de Deus, não do povo. E alguns parlamentares evangélicos profetizam que é vontade expressa de Deus que algum deles chegue um dia à Presidência da República, para governar mais com a Bíblia que com a Constituição.
Somente quando a política se limita à arte de governar com capacidade e ética, sem exageros nem tentações messiânicas, pode-se falar em democracia.
Não existem políticos ungidos por Deus, insubstituíveis e eternos.
O poder deles é temporário. Só o da sociedade é permanente e inapelável. Eles estão a seu serviço, não o contrário.
Ignorar isso é abrir a porta a todo tipo de instabilidade que desemboca, inexoravelmente, em crises econômicas e irritação popular.

Exame de sangue antevê recaída de paciente com câncer de mama Técnica experimental detecta recorrência de tumores oito meses antes de descoberta “Não vamos nos livrar do câncer mas podemos reduzi-lo em 50%”

As técnicas de sequenciamento genético permitiram acompanhar a progressão do câncer por meio de exames de sangue.
Para lidar com alguma chance de sucesso com doenças mais graves como o câncer ou o mal de Alzheimer, se sabe há muito tempo que a chave é identificar a presença da doença quando ela ainda é invisível. Isso é o que está começando a conseguir um grupo de pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer (ICR, na sigla em inglês), em Londres (Reino Unido). Numa pesquisa publicada nesta semana pela revista Science Translational Medicine, é explicado como os pesquisadores desenvolveram um exame de sangue para identificar quais mulheres submetidas a tratamento para o câncer de mama sofrerão uma recidiva.
Os pesquisadores, liderados pelo espanhol Isaac Garcia-Murillas, analisaram 55 mulheres com câncer de mama em estágio pouco avançado que haviam feito quimioterapia e haviam sido submetidas a uma cirurgia. Durante dois anos depois da cirurgia, o sangue das pacientes foi extraído para procurar o material genético do tumor e analisar a evolução de suas mutações. Em 12 das 15 mulheres que sofreram uma recaída, a análise do DNA do tumor encontrado no sangue foi utilizada para prever o que iria acontecer. Essa informação foi obtida oito meses antes que os métodos convencionais de imagem médica fossem capazes de detectar que o câncer estava se espalhando novamente.
O sistema dos pesquisadores do ICR permite observar como se acumulam as mutações nos genes do tumor. O progresso dessas mutações faz com que o câncer seja cada vez mais difícil de combater e a informação sobre esse tipo de teste pode ajudar a tratá-lo enquanto ainda é administrável. Além disso, com esse monitoramento os autores do estudo esperam identificar as mutações mais perigosas para adaptar o tratamento e “impedir ou retardar a recaída de forma substancial”, disse Nicholas Turner, o principal autor do estudo. “No entanto, estamos em uma fase inicial de pesquisa e precisamos de mais estudos antes que o teste possa ser aplicado aos pacientes de maneira convencional”, acrescenta.
Espera-se poder identificar as mutações mais perigosas para prevenir ou retardar recidivas
Embora as técnicas de sequenciamento genético permitam descobrir os restos de DNA tumoral que caem na corrente sanguínea, isso é mais fácil quando a doença está na fase metastática e já invadiu partes do corpo distantes do foco inicial do mal. No caso de câncer da mama, em que 95% dos diagnósticos ocorrem numa fase precoce, quando o tumor ainda está localizado, foram encontradas mais dificuldades para identificar a presença do câncer no sangue e acompanhar sua evolução por meio da análise de seu material genético.

Medicina personalizada

Métodos como o apresentado pelo ICR num estágio inicial de desenvolvimento são passos no que se conhece como medicina de precisão, uma abordagem que procura personalizar ao máximo os tratamentos em vez de buscar soluções gerais que valham, embora apenas pela metade, para muitas pessoas. No início deste ano, vinte hospitais da Espanha começaram a implantar a biópsia líquida para melhorar o tratamento do câncer. Nesse caso, trata-se de procurar, a partir de uma amostra de sangue, se os pacientes com câncer de cólon metastático têm ou não a mutação do gene RAS. Sabe-se que entre 55% e 65% dos pacientes com câncer têm essa mutação e não respondem à terapia com os medicamentos Cetuximab e Panitumumab, que é eficaz para outras variantes genéticas. A informação serve para escolher melhor o tratamento adequado.
Também no início deste ano, uma equipe do Instituto de Pesquisa Biomédica de Barcelona publicou a criação de um exame genético que serve para calcular o risco de um paciente com câncer de cólon desenvolver tumores secundários e atingir a fase metastática. Essa informação, caso esse avanço chegue aos hospitais, permitirá tratar apenas as pessoas que estão em risco e evitar a aplicação da quimioterapia em outros pacientes, cujos tumores não têm o mesmo perfil de risco.

Leilão de linhas de transmissão frustra governo, com ofertas para apenas 4 lotes

Linhas de transmissão de energia elétrica em Caçapava 14/08/ 2015. REUTERS/Paulo Whitaker
Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O leilão de linhas de transmissão realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta quarta-feira frustrou as expectativas do governo, ao receber propostas de investidores para apenas 4 dos 11 lotes ofertados e registrar, nos empreendimentos arrematados, um deságio médio baixo, de 2,04 por cento.
O menor interesse no leilão, em meio a condições mais difíceis de financiamento, inclusive do BNDES, deve atrasar a operação de alguns empreendimentos, uma vez que os lotes não arrematados serão relicitados posteriormente. Também influenciou no resultado a alta do dólar, que cria incertezas nas negociações com fornecedores, além de temores com o processo de licenciamento ambiental.
Nas licitações de transmissão, as empresas apresentam lances com a receita anual que desejam receber para construir e operar as linhas. Nesse certame, os lotes viabilizados representaram apenas 19 por cento do investimento esperado. As concessões foram levadas pela espanhola Isolux, com descontos de 1,49 por cento e 0,12 por cento, pela novata Planova, sem deságio, e pela estatal goiana Celg, que ofereceu uma receita 15,5 por cento menor que o teto estabelecido.
"O resultado foi aquém de nossa expectativa... isso permite que possamos, com base nesse resultado, fazer uma avaliação na Aneel", disse a jornalistas o diretor da reguladora Reive Barros, que admitiu a necessidade de atrair mais investidores para o segmento de transmissão de energia.
"Existe uma oferta muito grande de projetos e uma quantidade pequena de investidores em transmissão, muitos deles com obras em curso e atrasadas, o que pode ser um dos fatores que inibiu (a participação) no leilão", apontou.
Com a falta de interessados, empreendimentos importantes para o sistema elétrico do país demorarão mais para ter a construção iniciada, admitiu o secretário-adjunto de desenvolvimento energético do Ministério de Minas e Energia, Moacir Carlos Bertol.
"Houve lotes importantes que não saíram, como os que estão vinculados com a transmissão da hidrelétrica de Teles Pires e da usina de São Manoel (ambas em Mato Grosso). A maioria dos lotes era para escoamento da geração no Nordeste, de energia eólica... todos lotes ofertados são necessários para o setor", explicou Bertol.

O representante do ministério também afirmou que o atual quadro de crise no país prejudica os investimentos, até por conta da retração no nível de desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que reduziu a participação em financiamentos ao setor.

Suspeito de matar jornalistas nos EUA morre em hospital Vester Lee Flanagan havia atirado em si mesmo quando era perseguido. Ex-funcionário de TV gravou enquanto atirava em repórter e cinegrafista.

Vester Lee Flanagan, suspeito de ter matado a tiros os jornalistas Alison Parker e Adam Wardnos EUA, morreu na tarde desta quarta-feira (26) num hospital, informou o xerife do condado de Franklin, Bill Overton.
"Aproximadamente às 13h30, o suspeito morreu no Hospital Fairfax, no norte da Virgina, como resultado de feridas de bala autoinfligidas", disse.
O suspeito havia atirado em si mesmo enquanto era perseguido e foi transportado para o hospital em uma ambulância. Ele usava na mídia o nome de Bryce Williams.
A repórter Alison Parker, de 24 anos, e o cinegrafista, Adam Ward, de 27 anos, do canal WDBJ-TV, foram atingidos na cidade de Moneta por volta das 6h45 (no horário local) quando estavam no ar.
Segundo as autoridades, após o ataque, Flanagan fugiu dentro de um Mustang para o aeroporto local. Lá ele mudou para um Chevrolet Sonic que alugou no começo do mês. O xerife pediu a ajuda da polícia estadual, que ficou de alerta. Uma policial na rodovia I-66 avistou o veículo procurado seguindo na direção leste e acionou o esquema para tentar parar o veículo.
Williams acelerou e fugiu. Cerca de um ou dois minutos depois o veículo saiu da estrada e bateu. Quando a polícia chegou até o carro encontrou o suspeito ferido após atirar em si mesmo.
Ataque
Flanagan registrou os disparos e postou o vídeo em sua conta no Twitter (veja o vídeo acima). Ele escreveu também que Alison Parker havia feito comentários racistas e que Adam Ward fez uma reclamação contra ele no setor de recursos humanos do canal.
Vester Lee Flanagan II, o atirador (Foto: WDBJ-TV via AP)Vester Lee Flanagan II, o atirador
(Foto: WDBJ-TV via AP)
Também foi ferida no tiroteio a entrevistada Vicki Gardner, integrante da Câmara de Comércio da região. Ela conversava com a repórter no momento do crime. Ela foi atingida nas costas, passou por cirurgia e está em condição estável, segundo disse um porta-voz do hospital. Não havia detalhes sobre seu estado de saúde.
O programa “Entertainment Tonight”,  da redeCBS, publicou no Twitter uma nota divulgada pela família da jornalista Alison Parker: “Isso é sem sentido e nossa família está destruída”, afirma o texto, que descreve Parker como “vivaz, ambiciosa, esperta, engajada, hilária, bonita e imensamente talentosa”.
Atirador havia sido demitido
Em transmissão ao vivo sobre a repercussão do assassinato de seus dois funcionários, o gerente geral da emissora WDBJ7, Jeff Marks, esclareceu que Flanagan trabalhou na empresa e foi demitido há dois anos por problemas relacionados à sua raiva no ambiente de trabalho.
“Depois de muitos incidentes em que ele reagiu com muita raiva, nós o demitimos. Ele não aceitou bem [a demissão], nós tivemos que chamar a polícia para escoltá-lo para fora do prédio”, afirmou Marks no ar.
Imagem dos jornalistas Alison Parker e Adam Ward foi compartilhada em homenagem nas redes sociais: 'como eles devem ser lembrados em vez daquele vídeo terrível' (Foto: Reprodução/Twitter)Imagem dos jornalistas Alison Parker e Adam Ward foi compartilhada em homenagem nas redes sociais: 'como eles devem ser lembrados em vez daquele vídeo terrível' (Foto: Reprodução/Twitter)
Relato de comentários racistas
Segundo o gerente, o jornalista acionou a Justiça contra funcionários da emissora, que ele acusou de terem sido racistas contra ele. “Ele entrou com uma ação, e fez vários tipos de reclamação. Talvez haja uma sobre Alison [Parker, a repórter que Williams acusou, em seu Twitter, de ter feito comentário racista contra ele, e que foi morta a tiros nesta quarta], eu francamente não me lembro. [Foram reclamações] sobre membros da equipe terem feito comentários racistas, ele é afro-americano.”
Marks continuou, afirmando que a empresa abriu procedimentos sobre as reclamações, mas disse que “nenhuma dessas reclamações foi corroborada”.
Uma reportagem do "Huffington Post" mostra que Flanagan havia entrado com um processo pedindo US$ 25 mil da WDBJ por demissão incorreta, horas extras não pagas, discriminação racial e assédio moral por ser identificado como gay. O processo foi rejeitado pela Justiça por falta de provas.
Documentos adjuntados ao processo indicam que no dia em que Flanagan recebeu o aviso de que seria demitido, ele disse "melhor vocês chamarem a polícia porque eu vou fazer uma confusão grande". A polícia foi chamada e Ward teria filmado como Flanagan era escoltado para fora da rdação da emissora. Flanagan disse a Ward que "perdesse essa grande barriga" e desligou sua filmadora.
Mulher coloca flores em um memorial em frente à sede da WDBJ7 em Roanoke, Virgínia, nos EUA. Dois jornalistas da emissora foram mortos durante uma transmissão ao vivo após serem baleados por Vester Flanagan, um ex-funcionário da TV  (Foto:  Chris Keane/Reuters)Mulher coloca flores em um memorial em frente à sede da WDBJ7 em Roanoke, Virgínia, nos EUA. Dois jornalistas da emissora foram mortos durante uma transmissão ao vivo após serem baleados por Vester Flanagan, um ex-funcionário da TV (Foto: Chris Keane/Reuters)
Casa Branca
A Casa Branca afirmou após o crime que o tiroteio foi mais um exemplo de violência armada que “está se tornando comum demais”. O secretário de imprensa da casa Branca, Josh Earnest, disse a jornalistas que o Congresso deveria aprovar uma legislação que tivesse um “impacto tangível na redução da violência por armas no país”.
Dois jornalistas de TV foram mortos com tiros na Virginia quando conduziam uma entrevista ao vivo. O incidente ocorreu em Bedford County. As imagens mostram que, quando os tiros foram ouvidos, a repórter e uma entrevistada se abaixaram assustadas (Foto: Reprodução/WDBJ 7)Dois jornalistas de TV foram mortos com tiros na Virginia quando conduziam uma entrevista ao vivo. O incidente ocorreu em Bedford County. As imagens mostram que, quando os tiros foram ouvidos, a repórter e uma entrevistada se abaixaram assustadas (Foto: Reprodução/WDBJ 7)
Perfil dos assassinados
Alison Parker namorava Chris Hurst, que é âncora do mesmo canal de TV em que ela trabalhava. Em seu Twitter, ele escreveu que os dois planejavam se casar.
"Estávamos juntos há quase nove meses. Foram os melhores nove meses das nossas vidas. Queríamos nos casar. Acabamos de celebrar seu aniversário de 24 anos", disse Chris Hurst. "Ela era a mulher mais radiante que eu já conheci", completou.

Hurst afirmou que Parker trabalhava diariamente com Adam Ward. "Eles eram uma equipe. Estou com o coração partido pela noiva dele." Outro jornalista do canal disse que Ward tinha dito recentemente que planejava deixar o jornalismo e fazer outra coisa.
Parker, que é repórter matutina da rede, começou como estagiária. Ela é natural da Virgínia e passou a maior parte de sua vida na cidade de Martinsville.
Kimberly McBroom, a âncora que estava apresentando o jornal durante o ataque ao vivo, disse à CNN que Parker era uma “estrela de rock”. “Você pedia qualquer coisa àquela garota e ela conseguia fazer.”
Imagens postadas em redes sociais mostram momento em que o atirador aparece no vídeo durante a entrada ao vivo (Foto: Reprodução)Imagens postadas em redes sociais mostram momento em que o atirador aparece no vídeo durante a entrada ao vivo (Foto: Reprodução)