segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Do auge à derrocada: a trajetória de Dirceu em nove pontos

Divulgação / TV Brasil

O ex-ministro José Dirceu voltou a ser preso pela Polícia Federal nesta segunda-feira
Preso novamente nesta segunda-feira, menos de um ano após deixar a cadeia por causa do escândalo do mensalão, o ex-ministro José Dirceu iniciou sua vida política como integrante do movimento estudantil.
Após ser exilado pela ditadura, voltou à legalidade com a Lei da Anistia, em 1979, e se tornou um dos principais nomes do PT. Quando o mensalão eclodiu, era o homem forte do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Confira os principais momentos de sua trajetória:

Movimento estudantil

Mineiro de Passa Quatro (MG), José Dirceu de Oliveira e Silva muda-se para São Paulo em 1961, quando tinha 15 anos. Começa a estudar Direito na PUC-SP em 1964, ano do início da ditadura militar, e torna-se integrante do movimento estudantil.

Prisão na ditadura

Em 1968, Dirceu, presidente da UEE (União Estadual dos Estudantes), é um dos militantes presos no clandestino 30º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), realizado em Ibiúna (SP).
Acaba sendo um dos 15 presos políticos de esquerda libertados sob exigência dos sequestradores do embaixador dos EUA no país à época, Charles Elbrick, em setembro de 1969.

Reprodução
Então líder estudantil, Dirceu (o segundo em pé, da esq. para a dir.), foi preso e exilado na ditadura

Exílio e retorno

Banido do país, Dirceu vai viver em Cuba, mas volta, escondido, duas vezes ao país – entre os anos de 1971 e 1972 e em 1974.
No período, passa por cirurgias plásticas e fica morando em Cruzeiro do Oeste (PR), com identidade falsa.
Com a promulgação da Lei da Anistia, em 1979, deixa a clandestinidade.

Criação do PT

Em 1980, participa da fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT, do qual passa a ser um dos líderes – ocupa cargos como o de secretário de formação política e secretário-geral do diretório de São Paulo.
Conclui o curso de Direto na PUC em 1982 e se envolve nas Diretas Já, campanha que pede eleições diretas para presidente da República.
É eleito presidente do PT, a partir de 1995, por quatro vezes.

Cargos políticos

Sempre atuando na política paulista, Dirceu elege-se deputado estadual em 1986 e, em 1990, chega à Câmara dos Deputados. Assina o requerimento pedindo a abertura da CPI do PC, referência a Paulo César Farias, ex-tesoureiro da campanha do então presidente Fernando Collor.
Em 1994, fica em terceiro lugar na disputa pelo governo de São Paulo, com 14,76% dos votos. Volta à Câmara Federal em 1998 e reelege-se em 2002, ano em que coordena a campanha vencedora de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
Marcello Casal Jr. / Ag. Brasil
Após coordenar campanha vencedora de Lula em 2002, Dirceu virou o homem forte do governo

Homem forte de Lula

Dirceu toma posse como deputado federal em 2003, mas se licencia para tornar-se ministro-chefe da Casa Civil. Fica no cargo até 2005, quando eclode o escândalo do mensalão (esquema que envolvia desvio de recursos e compra de apoio político no Congresso).
Em junho do mesmo ano, é substituído no cargo por Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia. Volta para a Câmara, mas acaba cassado no fim de novembro, por 293 votos a 192, ficando inelegível por oito anos.

Condenação e prisão

Considerado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como chefe da quadrilha do mensalão, Dirceu é condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no fim de 2012.
Em 15 de novembro de 2013, após ter a prisão decretada, ergue o punho em saudação a militantes do PT ao se entregar na Polícia Federal de São Paulo para o cumprimento da pena de sete anos e onze meses em regime semiaberto.
Fabio Rodrigues Pozzebom / Ag. Brasil
Ex-ministro da Casa Civil ficou 354 dias preso em Brasília após ser condenado pelo mensalão

Progressão de regime

Em novembro de 2014, após ficar 354 dias preso, Dirceu deixa o Centro de Progressão Penitenciária do Complexo da Papuda, no Distrito Federal, ao ser autorizado a cumprir o restante da pena em prisão domiciliar em sua casa em Brasília.
Enquanto isso, investigações da Operação Lava Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobras, avançam sob o comando da Justiça Federal no Paraná.

Acusações e volta à cadeia

Pagamentos de empresas investigadas à JD Assessoria e Consultoria, de Dirceu, despertam a atenção da força-tarefa da Lava Jato – a defesa do ex-ministro diz que prestou serviços de consultoria às companhias e, logo, os repasses são legais.
Os delatores Júlio Camargo, Alberto Youssef e Milton Pascowitch citam Dirceu em seus depoimentos. Em 3 de agosto de 2015, menos de um ano após deixar a cadeia pelo mensalão, ele volta a ser preso em Brasília.

Entenda a Operação Lava Jato Investigação apura esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Além da Petrobras, ação apura contratos da Caixa e do Ministério da Saúde.

Deflagrada em 17 de março de 2014 pela Polícia Federal (PF), a Operação Lava Jato investiga um esquema bilionário de desvio e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras. A PF estima emR$ 19 bilhões o prejuízo na estatal. Em balanço divulgado em abril de 2015, a empresa admitiuperdas de R$ 6,2 bilhões com a corrupção no ano passado.
 
Segundo a PF e o Ministério Público Federal(MPF), grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina a diretores e gerentes da Petrobras e outros agentes públicos.
Delatores que fizeram acordo com o MPF disseram que a propina chegava a 3% dos contratos fechados com a estatal, mas investigadores dizem que o percentual pode ser maior.
Mais recentemente, as investigações descobriram irregularidades também em contratos do Ministério da Saúde, da Caixa Econômica Federal e da Eletronuclear.
Em 17 fases até agora, a PF já cumpriu centenas de mandados judiciais, que incluem prisões preventivas, temporárias, busca e apreensão e condução coercitiva – quando o suspeito é levado a depor. Até 24 julho de 2015, o Ministério Público já havia feito 26 denúncias envolvendo 125 pessoas.
As investigações policiais e do MPF podem resultar ou não na abertura de ações na Justiça. O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância do Judiciário, havia aceitado, até o início de julho, denúncia contra 114 suspeitos. Ao todo, 24 ações penais e 5 ações civis públicas foram instauradas na Justiça Federal do Paraná.
São alvos de ações penais as empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, UTC, Mendes Júnior, Engevix, OAS e Galvão Engenharia. Respondem a ações civis públicas a Galvão Engenharia, Galvão Participações, Sanko Sider, Coesa Engenharia, Jackson Empreendimentos, Mendes Júnior Participações, Mendes Júnior Trading e Engenharia e OAS.
17ª fase
Na 17ª fase da operação, deflagrada no dia 3 de agosto, a Polícia Federal prendeu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o irmão dele Luiz Eduardo de Oliveira e Silva e mais cinco pessoas. O ex-ministro é suspeito de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
No mandado de prisão para Dirceu, o juiz Sérgio Moro, que julga ações da Lava Jato na primeira instância, diz que o ex-ministro "teria insistido" em receber dinheiro de propina em contratos da Petrobras mesmo após ter deixado o governo, em 2005.
Dirceu já havia sido condenado no processo do mensalão e cumpria prisão domiciliar em sua casa em Brasília.
O Ministério Público Federal e a Polícia Federal afirmaram, no dia da prisão, que Dirceu participou da instituição do esquema de corrupção da Petrobras quando ainda estava na chefia da Casa Civil, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O ex-ministro "repetiu o esquema do mensalão", porque "temos o DNA, realmente, de compra de apoio parlamentar – pelo Banco do Brasil, no caso do mensalão, como na Petrobras, no caso da Lava Jato", disse procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em entrevista em Curitiba.
Batizada de "Pixuleco", que seria o termo usado pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para falar sobre propina, a 17ª fase tinha 40 mandados judiciais, sendo três de prisão preventiva, cinco de prisão temporária, 26 de busca e apreensão e seis de condução coercitiva, quando a pessoa é obrigada a prestar depoimento.
Trecho do despacho em que Moro solicita a prisão do ex-ministro José Dirceu (Foto: Reprodução)Trecho do despacho do juiz Sergio Moro que solicita a prisão do ex-ministro José Dirceu (Foto: Reprodução)
16ª fase
Contratos firmados entre a Eletronuclear, uma subsidiária da Eletrobras, e empresas já mencionadas na Operação Lava Jato, foram o foco desta etapa, deflagrada nesta terça-feira (28) e batizada de "Radioatividade". Empreiteiras são suspeitas de formar cartel e ajustar licitações para obras da usina nuclear de Angra 3.
As investigações recaem sobre a Engevix e o Consórcio Angramon, que reúne Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa, UTC, Queiroz Galvão, EBE e Techint.
Preso nesta fase, o diretor-presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, é suspeito de receber R$ 4,5 milhões em propina. "A Andrade Gutierrez repassava valores para a empresa de Othon Luiz por meio de empresas intermediárias que atuavam na fase de lavagem de dinheiro", afirmou o procurador do MPF Athayde Ribeiro Costa.
Também foi detido Flávio David Barra, presidente global da AG Energia, ligada ao grupo Andrade Gutierrez. As duas prisões são temporárias, ou seja, têm duração de 5 dias.
Lamborghini do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) é levado apreendido por agentes da PF da Casa da Dinda, residência do senador e antiga residência oficial da época que ele foi presidente, no Lago Norte, em Brasília (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)Lamborghini do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) é levada por agentes da PF da Casa da Dinda, residência do senador e antiga residência oficial da época que ele foi presidente, no Lago Norte, em Brasília (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
Operação Politeia
Em um desdobramento da Lava Jato, a PF cumpriu 53 mandados de busca e apreensão. Agentes entraram nas casas de seis políticos suspeitos de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras: senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL), senador Ciro Nogueira (PP-PI), deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), ex-ministro e ex-deputado Mário Negromonte (PP-BA), ex-ministro e senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e ex-deputado João Pizzolati (PP).
Na casa de Collor, foram apreendidos três carros de luxo: uma Ferrari, um Porsche e uma Lamborghini. O senador disse que a ação foi truculenta e "extrapolou" todos os limites do estado democrático de direito e da legalidade. Ele se disse "humilhado". Já o Senado, em reação à entrada de policiais em apartamentos funcionais de senadores, disse que a medida "beira à intimidação".
O ex diretor da área Internacional da Petrobras, Jorge Luiz Zelada, preso na 15ª fase da Operação Lava Jato, chega ao IML de Curitiba para exame de corpo delito. Zelada é suspeito de ser beneficiário da corrupção na Petrobras (Foto: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)Jorge Luiz Zelada chega ao IML de Curitiba para
exame de corpo delito (Foto: Paulo Lisboa/
Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)
15ª fase
A PF deflagrou a 15ª fase da Operação Lava Jato em 2 de julho, no Rio de Janeiro e em Niterói. Nela, foi preso o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Luiz Zelada.
Segundo o MPF, ele é suspeito de ter recebido propina e enviado o dinheiro para contas no exterior.
De acordo com as investigações, um saldo milionário em contas em Mônaco e na China, além de auditorias internas na estatal e depoimentos de outros suspeitos que firmaram acordo de delação premiada são provas do envolvimento de Zelada no esquema criminoso.
14ª fase
Polícia Federal cumpre mandado na sede da Oderbrecht, em São Paulo (SP), na manhã desta sexta-feira. A ação faz parte da 14ª fase da Operação Lava Jato (Operação Erga Omnes) (Foto: Marcos Bezerra/ Estadão Conteúdo)Polícia Federal cumpre mandado na sede da Oderbrecht, em São Paulo (SP), na manhã desta sexta-feira. A ação faz parte da 14ª fase da Operação Lava Jato (Operação Erga Omnes) (Foto: Marcos Bezerra/ Estadão Conteúdo)
As empresas Odebrecht e Andrade Gutierrez foram alvos da 14ª fase, chamada de "Erga Omnes", expressão em direito que significa que a lei deve atingir a todos por igual.
Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, foram presos preventivamente. Segundo o Ministério Público Federal, as empresas tinham um esquema 'sofisticado' de corrupção, envolvendo pagamento de propina a diretores da estatal por meio de contas bancárias no exterior.
Em nota, a Odebrecht informou que os mandados são "desnecessários", já que a empresa tem colaborado com as investigações. A Andrade Gutierrez também disse que colabora com a PF.
No inquérito relacionado à construtora Andrade Gutierrez, nove pessoas foram indiciadas por crimes contra a ordem econômica, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e fraude à licitação. Entre elas, está o presidente da empreiteira.
Milton Pascowitch é apontado como operador do esquema. Ele teria repassado propina para empresa de José Dirceu (Foto: GloboNews)Milton Pascowitch, preso na Lava Jato 
(Foto: Reprodução/GloboNews)
13ª fase
Apontado como um dos operadores do esquema de propinas da Petrobras, Milton Pascowitch foi preso e levado à sede da PF em Curitiba. Ele já havia prestado depoimento à PF em São Paulo na 9ª fase da operação.
Segundo a PF, Milton presta serviços à Ecovix, empresa do ramo de construção naval e offshore (exploração petrolífera que operam com plataformas no mar).
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a empresa JD Consultoria, de propriedade do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, recebeu mais de R$ 1,4 milhão em pagamentos da Jamp Engenheiros Associados LTDA, que pertence a Milton Pascowitch.
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é interrogado por parlamentares na CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados, em Brasília (Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é interrogado
na CPI da Petrobras (Foto: Luis Macedo/
Câmara dos Deputados)
12ª fase
Com a prisão preventiva do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, nesta quarta-feira (15), começou a 12ª fase da Lava Jato. Ele é investigado por suspeita de receber propina no esquema de corrupção na Petrobras.
A esposa do petista, Giselda Rousie de Lima, teve um mandado de condução coercitiva e foi ouvida em casa. Para a polícia, a fala dela não acrescentou nada à investigação. Há ainda um mandado de prisão temporária contra a cunhada de Vaccari, Marice Correa de Lima.
Desde que surgiram as denúncias, no ano passado, Vaccari tem negado participação no esquema.
Arte - Operação Lava Jato 12 fase João Vaccari Neto (Foto: Arte/G1)
Os ex-deputados federais André Vargas e Luiz Argôlo, presos na Operação Lava Jato, fazem exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) em Curitiba (Foto: Cassiano Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo)Os ex-deputados federais André Vargas e Luiz Argôlo
(Foto: Cassiano Rosário/Futura Press/
Estadão Conteúdo)
11ª fase
A PF deflagrou em 10 de abril a 11ª fase da Operação Lava Jato com sete mandados de prisão
Foram presos os ex-deputados André Vargas (sem partido), Luiz Argôlo (SDD-BA) ePedro Corrêa (PP-PE).
A polícia encontrou indícios de irregularidades em contratos publicitários da Caixa e do Ministério da Saúde.
Segundo a PF, a agência dirigida por Ricardo Hoffmann, um dos presos desta fase, subcontratava empresas fornecedoras de materiais publicitários para campanhas da Caixa e do Ministério da Saúde. No entanto, essas empresas eram de fachada e tinham como sócios o ex-deputado André Vargas e seu irmão, Leon Vargas.
Políticos investigados
Até o ano passado, o foco das apurações estava em empreiteiras e funcionários da Petrobras. Em março deste ano, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu autorizar aabertura de inquéritos para investigar 50 pessoas, entre elas 48 políticos.
Foram citados 22 deputados federais, 13 senadores, 12 ex-deputados e uma ex-governadora, pertencentes a cinco partidos, além de dois dos chamados "operadores" do esquema – o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e lobista Fernando Soares, o "Fernando Baiano".
Em 12 de março, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) abriu inquéritos para investigar osgovernadores do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do Acre, Tião Viana (PT). Os dois foram citados por delatores da Operação Lava Jato como beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras. Eles negam as acusações. No inquérito de Pezão, também serão investigados o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e o ex-chefe da Casa Civil Regis Fichtner.
Pedidos arquivados
A presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, foram citados em depoimentos de delatores, mas tanto a Procuradoria Geral da República quanto o ministro Zavascki, do STF, entenderam que a investigação em relação a ambos não se justificava.
O esquema na Petrobras
As investigações da PF revelaram uma suposta ligação entre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa com o esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef.
Costa admitiu à polícia que recebeu um carro de luxo avaliado em R$ 250 mil do doleiro, mas alegou que o veículo foi dado em pagamento por um serviço de consultoria. Costa disse que já estava aposentado da Petrobras à época do recebimento do carro. No entanto, ele reconheceu que conhecia Youssef do período em que ainda estava na estatal brasileira. O ex-diretor foi preso em 20 de março de 2014 enquanto destruía documentos que podem servir como provas no inquérito.
Em outubro, ao prestar depoimentos à Justiça Federal, Costa revelou o esquema de pagamento de propina na Petrobras que, segundo ele, era cobrada de fornecedores da estatal e direcionada para atender a PT, PMDB e PP. Os recursos teriam sido usados na campanha eleitoral de 2010. Os partidos negam. Segundo Costa, as diretorias comandadas pelos três partidos recolhiam propinas de 3% de todos os contratos.
Segundo o ex-diretor, a operação teve início em 2006, quando se formou um cartel entre grandes empreiteiras para prestação de serviços à Petrobras e para  obras de infraestrutura, como a construção de hidrelétricas e aeroportos.
Político cassado
A apuração da PF também trouxe à tona indícios de ligação entre Alberto Youssef e o deputado federal André Vargas (sem partido-PR). Os dois teriam atuado para fechar um contrato milionário entre uma empresa de fachada e o Ministério da Saúde. Além disso, o parlamentar do Paraná reconheceu que, em janeiro, viajou para João Pessoa (PB) em um jatinho emprestado pelo doleiro.
Vargas alegou que não há irregularidades na sua relação com o doleiro preso pela operação Lava Jato. Pressionado pelo próprio partido em razão das denúncias, Vargas renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara e se desfiliou do PT. Ele também se tornou alvo de processo por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara, que aprovou parecer que pede sua cassação. Em dezembro de 2014, o plenário votou pela cassação.
O deputado Luiz Argôlo (SD-BA) também se tornou alvo das investigações da PF devido à relação com Alberto Youssef. Em relatório, a PF disse que"os indícios apontam que o deputado tratava-se de um cliente dos serviços prestados por Youssef, por vezes repassando dinheiro de origem aparentemente ilícita, intermediando contatos em empresas, recebendo pagamentos, inclusive tendo suas atividades operacionais financiadas pelo doleiro". Argôlo nega as acusações.
Em outubro do ano passado, o Conselho de Ética da Câmara aprovou parecer pedindo a cassação do mandato de Argôlo por considerar ter havido “tráfico de influência, prática de negócios e pagamentos ilícitos”. Mas ele conseguiu terminar o mandato sem que o relatório fosse votado.

Governistas e oposição comentam prisão de José Dirceu Ex-ministro da Casa Civil foi preso nesta segunda na Operação Lava Jato. Líder petista falou em 'golpe'; oposição em 'fortalecimento de instituições'.


prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, na 17ª fase da Operação Lava Jato, repercutiu no meio político nesta segunda-feira (3). Após a prisão de Dirceu, o líder do PT na Câmara, deputado Sibá Machado (AC), falou em “aberração” e tentativa de “golpe”. Líderes da oposição disseram que a nova fase da operação demonstra o "fortalecimento das instituições" e afirmaram que a nova prisão mostra que as investigações chegaram ao alto escalão do PT.
Condenado no julgamento do mensalão Dirceu, que estava em prisão domiciliar, foi encaminhado para a Superintendência da PF em Brasília após Moro ter decretado sua prisão preventiva. No mandado de prisão, o juiz que julga ações da Lava Jato na primeira instância diz que o ex-ministro "teria insistido" em receber dinheiro de propina em contratos da Petrobras mesmo após ter deixado o governo, em 2005.
Veja abaixo o que disseram alguns políticos sobre a prisão de José Dirceu:
Sibá Machado, deputado e líder do PT na Câmara
“É uma perseguição declarada ao PT. O juiz Sérgio Moro trabalha com suposições, vai à imprensa, faz show. E a Polícia Federal acompanhando esse show. Isso está virando uma aberração ao estado de direito. Está caminhando para um golpe político da caneta. Moro trabalha para institucionalizar um golpe e para prejudicar o PT. Existe um olhar diferente para os mesmos fatos. O Dirceu já estava em prisão domiciliar. Não tinha motivo. É uma orquestra para colocar povo na rua. O juiz Moro faz show calculado, pensado, para que isso se desenrole dessa maneira"
Aécio Neves, senador, presidente nacional do PSDB
"O PSDB não comemora nem lamenta as novas prisões da Operação Lava Jato, entre elas a do ex-ministro José Dirceu. O que deve ser louvado neste momento é o pleno funcionamento das nossas instituições. Cabe a nós, como de resto a todos os democratas no Brasil, zelar pelo seu bom funcionamento. Instituições autônomas, independentes e altivas são a garantia do exercício pleno da democracia. Aqueles que cometeram delitos, independentemente da função que ocupam ou ocuparam, devem responder por eles dentro do que determina a lei."
Jorge Viana (PT-AC), senador e 1º vice-presidente do Senado
"Óbvio que é muito lamentável, sob todos os aspectos, termos uma figura que, para nós, é muito importante, como o ex-ministro José Dirceu, passando pelo que ele está passando. Até, de algum jeito, estranhamos, porque ele já estava preso – não sei como funciona bem isso, por uma decisão do próprio STF e agora está preso por outra instância, por outra razão. Temos que respeitar e esperar o desdobrar dos acontecimentos. O que eu acho é que o Brasil precisa encontrar caminhos para enfrentar essa situação toda. Não tem outro caminho senão fortalecer as instituições de combate à corrupção. [...] Ele não faz parte do governo já há muitos anos. Não pode ter vinculação de uma coisa com a outra. [...] Agora tem um questionamento que todos fazem: por que se apura com alguns partidos, algumas figuras e não se apura com outros? É um jogo de cartas marcadas? Acredito que não, porque confiamos todos na Justiça. Mas não pode ficar nenhuma dúvida. A oposição no o Brasil está num papel muito apequenado, não aguenta meia Lava Jato.”
Ronaldo Caiado, senador e líder do DEM no Senado
"Temos que aplaudir essa mais nova etapa da Lava Jato, que não se restringe a intermediários e finalmente começa a chega aos cabeças pensantes, elaboradores de todo esse esquema corrupto dentro do Palácio do Planalto alimentado por 'pixulecos'. Falta pouco agora. Com mais essa prisão do ex-ministro José Dirceu, fica claro que Lula e Dilma levaram para a política nacional o que há de pior em alguns sindicatos do ABC. Implantaram esse método sujo que coloca em risco a nossa jovem democracia".
PT
O PT informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não pretende se pronunciar sobre a prisão de José Dirceu. Na tarde desta segunda (3), sem mencionar o ex-ministro, o partido divulgou a seguinte nota, assinada pelo presidente da legenda, Rui Falcão: "O Partido dos Trabalhadores refuta as acusações de que teria realizado operações financeiras ilegais ou participado de qualquer esquema de corrupção. Todas as doações feitas ao PT ocorreram estritamente dentro da legalidade, por intermédio de transferências bancárias, e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral."
Cássio Cunha Lima, senador e líder do PSDB no Senado
"As mais recentes delações levaram a essa nova prisão. Importante fortalecer as instituições e apoiar as investigações. Há muito o que ser desvendado ainda. Momento exige firmeza e serenidade."
Jaques Wagner, ministro da Defesa
"Eu vou me manter na posição de preocupação de que precisamos ter dois canais paralelos. As investigações seguem, e o país também segue com suas empresas funcionando e com a economia funcionando. O ambiente é que a gente tem que tentar melhorar para estimular investidores e estimular a própria economia a crescer. [...] A sequência da investigação vai ser dar, até que chegue aos tribunais últimos, e vai ter que ter um desfecho, porque tudo tem um desfecho."

Eduardo Cunha, deputado pelo PMDB e presidente da Câmara
Mendonça Filho (PE), deputado e líder do DEM na Câmara

“Para o PT e para o governo, tem um simbolismo muito forte essa prisão. O ex-ministro José Dirceu tem uma história muito ligada ao PT, dirigiu o partido, foi ministro do governo Lula. O PT enquanto governo envolveu o país numa situação muito grave em termos de corrupção endêmica. Agora, essa prisão mostra, por outro lado, o funcionamento das instituições, que espero que continuem trabalhando no quadro constitucional que assegura o direito de defesa, mas também pune os culpados. O PT não aprendeu com o mensalão, porque o Petrolão é o mensalão ampliado. O método adotado pelo partido foi de aparelhar a máquina pública e de se aproveitar dessa estrutura do Estado para fortalecer um projeto de poder, com financiamento ilegal, com desvio de recursos públicos”.
“Eu prefiro não comentar. Tudo que trata dessa parte [Lava Jato], acho que a vida segue, as instituições funcionam e a gente tem que ver o que acontece. Prefiro não falar. Tem as instâncias próprias para esse tipo de debate. Prefiro não comentar.”

17ª fase da Operação Lava Jato - arte (Foto: Arte/G1)

Preocupação do governo é não deixar Lava Jato se aproximar do Planalto

declaração do ministro da Defesa, Jacques Wagner, de que "assim como as investigações seguem, o governo também segue em paralelo" traduz a preocupação do governo: não deixar que a Lava Jato chegue ao Palácio do Planalto.

prisão de José Dirceu, no entanto, é motivo de grande preocupação para o governo e para o PT. Além de ser importante figura no partido, Dirceu sempre foi apontado como um estrategista político importante que norteou os rumos da legenda, mesmo depois do escândalo do mensalão.

Para o governo, a preocupação é com o trabalho de aglutinação de sua base. A prisão é fator de conturbação na política, quando o cenário ideal é o de serenidade para garantir bons resultados nas votações no Congresso. E o enfraquecimento do PT estimula outros aliados a buscarem mais espaço no governo, o que deflagra disputa interna.