O mix juro alto, aumento de tarifas e inflação persistente está roubando o poder de compra dos brasileiros e cobram o preço do setor de comércio. Segundo pesquisa do setor, divulgada nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas no varejo caíram pelo terceiro mês consecutivo, revelando que as famílias estão refazendo as suas contas e cortando gorduras no orçamento. A compra de roupas e calçados (queda de 3,8% em abril), livros e revistas (0,2% menor), por exemplo, está sendo adiada, como mostra o levantamento do IBGE.
O ajuste fiscal também está contribuindo para esse quadro. O governo retirou incentivos promovidos desde 2009 para o setor de eletrodomésticos e móveis, que usufruíram do desconto do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) até 31 de dezembro de 2014. A venda dos dois itens registrou queda de 3,1% no mês e de 16% frente ao mesmo mês do ano passado. Outro segmento que vinha sendo beneficiado pelo IPI menor era o de veículos, que amargou uma queda de 19% no mês e de 16% no acumulado do ano.
Ao todo, na comparação com março, o volume de vendas de abril de dez setores analisados pelo IBGE recuou 0,4%, e caiu 3,5% comparado ao mesmo mês do ano passado. É o pior resultado para o mês em 12 anos. Segundo o IBGE, a redução da renda da população que chegou a -3,8%, em relação a abril do ano passado, teve forte influência no resultado do comércio. O mercado estava mais otimista, ainda que de modo cauteloso. Segundo a agência internacional Bloomberg, os economistas esperavam uma alta modesta de 0,7%. A alta de juros desde o final do ano passado tem funcionado como um torniquete no bolso dos consumidor.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa Selic subiu para 13,75%, a sexta alta consecutiva desde o final de outubro do ano passado, quando as eleições já definiam que Dilma Rousseff continuaria na presidência. A escalada dos juros é o antídoto contra a inflação. Com taxas mais altas a ideia é inibir o consumo para refrear o dragão. Porém, os resultados ainda são limitados, pois a inflação supera os 8%. O valor da Selic, em todo caso, é uma referência para o varejo, que cobra taxas muito mais altas na ponta. Segundo a Confederação Nacional do Comércio, os juros cobrados do consumidor devem chegar a 56,1% até o final do ano. “Tomar dinheiro emprestado está muito caro e infelizmente além do crédito [caro] temos uma inflação muito elevada,pressionada pela alta de combustível e luz”, diz Bentes, da CNC.“Isso reflete o estrago do aumento das taxas de juros. Sempre que eles sobem é a atividade que mais sente na pele”, afirma Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O varejo até ensaia descontos para garantir as vendas. “Mas, itens como móveis, eletrodoméstico, e veículos por mais que tente repassar com desconto, dependem do crédito” , completa Bentes.
Dia dos Namorados magro
Tudo indica que o brasileiro vai se manter retraído na hora de fazer compras ao longo deste ano. Nem mesmo o Dia dos Namorados, uma das datas mais importantes do varejo, incentivaram o consumidor a gastar mais. Segundo a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) os namorados preferiram lembranças mais modestas, o que fez as vendas da véspera do dia 12 de junho recuarem 0,5%, em comparação com o mesmo período do ano passado. Esse comportamento já havia sido percebido no Dia das Mães, que ocupa, junto com o Natal, o período de mais intensidade do varejo. Em maio as vendas haviam caído 1,2%.