domingo, 14 de junho de 2015

EUA investigam contrato da Nike com a CBF Empresa teria dado US$ 40 milhões em despesas não previstas

Imagem da sede da CBF, no Rio de Janeiro (foto: EPA)
Imagem da sede da CBF, no Rio de Janeiro (foto: EPA) SÃO PAULOZLR
(ANSA) - O Departamento de Justiça dos Estados Unidos investiga um acordo de patrocínio de US$ 160 milhões entre a empresa de material esportivo Nike e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
    A informação foi publicada neste sábado (13) pelo jornal norte-americano "The Wall Street Journal". A investigação faz parte do processo que apura indícios de corrução na Fifa, entidade que gerencia o futebol mundial.
    De acordo com a reportagem, após a assinatura do contrato, em 1996, a empresa pagou US$ 40 milhões em despesas de marketing que não estavam previstas no acordo inicial. O valor foi depositado em uma conta bancária na Suíça, em nome de uma empresa brasileira de marketing esportivo.
    No dia 27 de maio, o Departamento de Justiça indiciou nove executivos da Fifa e cinco parceiros da entidade, sob a acusação de associação criminosa e corrupção. O caso envolve suspeitas de pagamento de propina no valor US$ 151 milhões. A partir da acusação, o Ministério da Justiça norte-americano e a polícia da Suíça prenderam sete membros da Fifa, incluindo o ex-presidente da CBF, José Maria Marin. (ANSA)

Fonte: Agência Brasil
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Esquerda concretiza reviravolta no poder municipal na Espanha O PSOE e aliados do Podemos fazem pactos nas capitais onde foi possível fechar acordos

Juan Carlos Monedero, Jesús Montero, secretário do Podemos de Madri, Pablo Iglesias e Íñigo Errejón assistem à posse de Manuela Carmena. / CHEMA MOYA (EFE)
A esquerda concretizou, por enquanto quase sem sobressaltos, a histórica reviravolta no poder municipal na maioria das capitais das províncias espanholas, como consequência das eleições realizadas no dia 24 de maio. Neste sábado, 8.122 prefeitos tomaram posse em todo o país, sem incidentes.
Na Espanha, os prefeitos são confirmados pelos conselheiros, eleitos pela população no último dia 24. Eles precisam ter a maioria dos votos e, por isso, as alianças entre os partidos é necessária.
Entre os novos eleitos para as prefeituras as que mais chamam a atenção são a de Madri, Manuela Carmena, e a de Barcelona, Ada Colau, que simbolizam uma mudança que nesses casos têm como protagonistas os movimentos cidadãos e candidaturas populares que obtiveram o apoio do PSOE. As duas mulheres são o símbolo da mudança de poder que os novos partidos pretendem estender às eleições gerais e que se iniciou há pouco mais de um ano com airrupção do Podemos na vida política espanhola.Em todas as capitais nas quais era possível, foi realizado um acordo entre o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e as candidaturas de movimentos cidadãos, vinculados ao Podemos, para que prefeitos de esquerda chegassem ao poder. Fica para mais tarde a possível exceção e dúvida de Oviedo, município deAsturias, pendente de que se concretize o acordo entre socialistas e a candidatura vinculada ao Podemos. Caso contrário, a cidade seguirá nas mãos do Partido Popular (PP), com Agustín Igrejas como prefeito.
Durante sua posse, Carmena fez um discurso com menção “aos que sofrem e aos que vivem com angústia” para que saibam que ela vai trabalhar para “melhorar sua situação". E definiu as pessoas concretas com dificuldades como a prioridade de sua gestão na capital.
"Queremos governar escutando, que nos chamem pelo primeiro nome. Temos que mudar os métodos de atuação. Sobram os discursos e os bastões de comando. Temos que agir", defendeu Carmena na presença de dirigentes do Podemos como Pablo Iglesiase Iñigo Errejón, e do líder do Equo Juan López de Uralde, formações que apoiaram sua candidatura.
O PP, pensando nas eleições gerais, reagiu ao histórico dia lamentando que não se permita que a lista mais votada – que é a sua, na maioria dos casos – governe. E acusou o PSOE de haver se radicalizado para pactuar com a extrema esquerda com o objetivo de retirar os populares das instituições públicas.
O PP terá 17 prefeitos de capitais de província, frente aos 43 eleitos nas eleições municipais anteriores. Antes, apenas 11 em toda a Espanha escapavam de seu controle. A partir de sábado, o PP governará em Málaga, Múrcia, Ourense, León, Salamanca, Cáceres, Badajoz, Granada, Jaén, Albacete, Almería, Cuenca, Teruel, Guadalajara, Logroño, Burgos e Santander.
Cinco dessas cidades foram conquistadas graças ao partido Ciudadanos: Guadalajara, Granada, Jaén, Almería e Burgos. Em Almería, estava previsto, até sábado, que o Ciudadanos ia apoiar o PSOE, mas sua abstenção deu a prefeitura ao PP, que reelegeu Luis Rogelio Rodríguez-Comendador, mesmo sem a maioria absoluta. A posição do Ciudadanos nessa cidade da Andaluzia foi a grande surpresa do dia.
O PSOE passa de governar em nove capitais para 16: Lugo, Valladolid, Segóvia, Toledo, Cidade Real, Córdoba, Sevilha, Huelva, Alicante, Castellón, Teruel, Lérida, Huesca, Soria, Palma de Mallorca e Las Palmas.
Todos eles governam com acordos entre dois ou três com as candidaturas vinculadas ao Podemos e a outros partidos de esquerda. No caso de Valladolid, o novo prefeito socialista, Óscar Puente, assumiu o poder em coalizão com a Esquerda Unida (IU). Os demais serão governos de minoria.
Em Palma de Mallorca o acordo com o MÈS consiste em alternar dois anos à frente da prefeitura para cada partido, mas, por enquanto, tomou posse o candidato socialista.
A novidade foram as cinco capitais espanholas nas quais assumiram prefeitos de candidaturas de esquerda graças à união de Podemos, Ciudadanos e PSOE durante a votação que realizada pelos partidos. São elas: Madri com Manuela Carmena, Barcelona com Ada Colau, Zaragoza com Pedro Santisteve, A Coruña com Xulio Ferreiro e Cádiz com José María González.
Nessa mudança de poder municipal se destaca também o avanço do Partido Nacionalista Basco (PNV) que, apenas por governar Bilbao, passa a controlar também a cidade de San Sebastián. Em Vitoria, no entanto, não se sabe o que vai acontecer. Gorka Urtaran, também do PNV, se juntou ao Partido Socialista de Euskadi – Euskadiko Ezkerra (PSE-EE) e ao EHBildu para evitar a reeleição de Javier Maroto, do PP. No entanto, os socialistas anunciaram que votarão em branco para facilitar que Maroto seja prefeito de Vitoria em resposta à ruptura de um acordo prévio por parte do PNV que impediu que o PSE-EE conseguisse a prefeitura da cidade de Andoain (na província de Guipúscoa, também no País Basco). Um vereador do PNV descumpriu o pacto realizado pelos chefes executivos dos dois partidos e não apoiou a candidata socialista, Maider Lainez, dando a vitória ao EHBildu.
A mudança no poder põe um fim à força política de prefeitos históricos do PP como Rita Barberá em Valência, Javier Leão de la Riva em Valladolid e Teófila Martínez em Cádiz, entre outros. Representa também a derrota de candidatos notórios do partido como Esperanza Aguirre em Madri.
Nas próximas semanas os presidentes das comunidades autônomas tomarão posse, o que também indicará uma reviravolta nesse poder territorial e um retrocesso do PP nas instituições públicas.

Bomba mata autoridade afegã e comandantes do Taliban morrem em ataque aéreo

CABUL (Reuters) - Um chefe distrital afegão e outras três pessoas morreram quando o carro no qual viajavam passou por uma bomba instalada na estrada neste domingo, o último de uma onda de assassinatos conduzidos por insurgentes do Taliban.
Um ataque aéreo também matou o "governador" do Taliban para a província oriental de Kunar. Os Estados Unidos e seus aliados continuam a alvejar líderes insurgentes após a retirada da maioria das tropas internacionais depois de 13 anos de guerra.
O porta-voz da polícia para a província de Takhar, Abdul Khalil Asir, disse que o chefe do distrito de Eshkamish e três agentes de segurança foram mortos na madrugada deste domingo.
"Eles estavam indo visitar um posto de controle que tinha sido atacado por talibans durante a noite... quando seu carro foi explodido", disse Asir.
O porta-voz do Taliban, Zabihullah Mujahid, reivindicou a autoria do atentado, que aconteceu um dia depois que insurgentes mataram 17 policiais em outro ataque na província meridional de Helmand.
Também neste domingo, a agência de inteligência interna do Afeganistão disse que o comandante sênior do Taliban, conhecido como governador da província oriental de Kunar, foi morto junto a outros dois comandantes num ataque aéreo.
 

DAVID HARVEY | GEÓGRAFO BRITÂNICO “O que aconteceu em junho de 2013 no Brasil ainda não acabou” Estudioso crê que protestos podem gerar forças à esquerda, mas teme sectarismos


A multidão de jovens que se aglomerava na última terça-feira na porta do Sesc Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, poderia dar a impressão de que alguma grande banda descolada se apresentaria em breve. Mas a grande atração do dia era o geógrafo marxistaDavid Harvey (Kent, 1935), professor de antropologia da Universidade da Cidade de Nova York (Cuny), que veio ao Brasil para participar do Seminário Internacional Cidades Rebeldes, promovido pela Boitempo Editorial. Na programação, quatro aulas de introdução a sua obra ministradas pelos principais nomes da geografia, do urbanismo e da filosofia do Brasil, como Raquel Rolnike Erminia Maricato.
Apresentando a edição traduzida de sua obra “Paris, capital da modernidade”, que chega agora às livrarias brasileiras, o próprio Harvey tomou o palco naquela tarde para apresentar sua análise de como a exclusão promovida pela urbanização de massa nas cidades desencadeia o descontentamento e as revoltas populares. E, como em alguns casos, a consequência se dá nos cenários políticos. Foi assim na Paris de 1848, analisada por ele em seu livro, na Baltimore de 1968 pós-morte do líder negro Martin Luther King, também estudada por ele, e na “pandemia de revoltas populares” vividas nos últimos anos em países como Espanha (com o movimento dosIndignados), Turquia (com os jovens em defesa do parque Gezi) e o Brasil, com as revoltas de junho de 2013, que teve seu auge há exatos dois anos neste dia 13, quando o ato, em São Paulo, foi reprimido violentamente pela polícia, deixou centenas de feridos, e incendiou os protestos pelo país.
Dois dias depois de sua palestra, um otimista Harvey conversou com o EL PAÍS sobre esses movimentos e suas consequências.
Pergunta. Na sua palestra você fez um paralelo entre os distúrbios de Baltimore após a morte de Luther King, em 1968, e os ocorridos em 2015, após a morte de Freddie Gray pela polícia. Como esses episódios tão distantes no tempo são semelhantes?

Mas a distinção de classe sempre esteve lá e a camada mais pobre da sociedade americana continua sendo negra ou hispânica. Não é por acaso que elas ainda vivem sob os mesmos tipos de condição, de repressão e isolamento. Em alguns aspectos, vivem em situação pior que a que viviam no final dos anos 1960 porque os trabalhos industriais, decentes, desapareceram agora. Então, quando uma nova fase de distúrbios aconteceu em 2015, o que vimos foi uma revolta dessa população contra sua condição de vida. O que é verdade em todos os eventos urbanos que vimos ao redor do mundo recentemente é que o gatilho da revolta, em muitos casos, é a morte de jovens negros pela ação policial. Mas a situação não tomaria as dimensões que tomou não fosse a existência desse amplo senso de descontentamento e alienação, que está bastante espalhado na comunidade. Todo esse descontentamento aparece após um incidente como esse. Então, não é possível dizer que é por causa desse incidente que a revolta acontece, mas por causa das condições de vida daquela população naquele momento histórico.Resposta. Em 1968, basicamente, estávamos lidando com a situação do surgimento do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. O movimento de massa que havia lá era organizado de uma forma muito poderosa. No final dos anos 1960, isso começou a ficar muito perigoso para a estrutura política de poder e o perigo foi aumentando porque estava emergindo uma conexão entre a marginalização racial e a distinção de classe. E, quando você coloca raça e classe juntas, é como uma dinamite. Foi isso que os Panteras Negras fizeram e eles eram, basicamente, perseguidos e mortos. Malcolm X e Luther King foram mortos. De forma muito simplificada, uma força política muito poderosa foi suprimida. A resposta, em algum nível, foi que alguma pressão teve que ser retirada da repressão sofrida pelos negros. Então, seguimos por um número de anos em que a classe média negra, educada, pode desabrochar. É uma minoria, mas ainda assim importante. E chegamos ao ponto de termos um presidente negro saindo disso.
P. Esse gatilho da violência policial apareceu em diversas outras ocasiões. Aqui no Brasil, na Turquia, na Espanha. Os protestos começam pequenos, segmentados, a polícia age com violência e eles se tornam algo grande. Por que?
As pessoas se sentem trancadas em sua parte da cidade e há essas comunidades muradas onde elas não podem ir. Muitas pessoas sentem que a cidade está sendo tirada delas
R. É muito difícil dizer porque acontece. A maioria de nós, inclusive eu, ficamos bastante surpresos com o que aconteceu, por exemplo, emFerguson, no Missouri, onde um protesto de rua é seguido por uma força policial que parece que está invadindo o Iraque. E que, de fato, usou o equipamento militar do Iraque na rua, contra uma população civil que está simplesmente protestando, de forma legítima. O que acontece é que há uma intenção crescente de militarizar o descontentamento popular. E receber o descontentamento popular com repressão. Isso é legitimado, cada vez mais, por essa retórica antiterrorismo, essa mentalidade antiterrorista de que todos que não estão agindo em conformidade com o sistema são potencialmente terroristas. Há essa mentalidade e a tendência de usar a força policial, e usá-la instantaneamente, para conter o descontentamento. O movimento Occupy, de Nova York, que era muito pequeno e, em muitas maneiras, até inocente, foi recebido por uma feroz repressão policial. E todos ficaram se questionando porque. No Brasil, assim como em Istambul, a violência da resposta policial se tornou parte do problema e criou uma guerra urbana, entre as forças militares e os manifestantes, que também se tornaram cada vez mais sofisticados para lutar batalhas de rua.
P. Essa resposta pode ser um sinal de que os Estados não estão conseguindo compreender o que de fato está acontecendo?
R. Acho que há uma distância em relação ao povo e aos sentimentos do povo. Parte do que está movendo a raiva da população é a sensação de que não há de fato uma democracia, canais reais de consulta e de engajamento ao processo político. O Estado e um pequeno grupo de líderes de negócios poderosos tomam decisões sobre a construção de um novo estádio de futebol, ou outros megaprojetos. Há um sentimento de alienação do processo político. E isso constrói uma importante base para a frustração e a raiva. Pessoas alienadas tendem a ser muito passivas até que alguma coisa aconteça e elas se tornem bravas. E aí se começa a ver protestos desse tipo, seguidos dessa repressão. Vimos isso em muitas cidades.
P. As próprias condições de vida e o processo de urbanização também contribuem?
R. Acho que como residente de uma cidade, eu sempre gostei de me sentir confortável na rua que eu vivo, de saber que eu tenho algo a dizer sobre a vida diária que se passa ao meu redor, e de ser capaz de desfrutar dessa vida. As pessoas não têm o tempo para desfrutar a vida. Esse tempo é tomado por uma série de demandas, como obrigações familiares e todo o resto. As pessoas estão estressadas. E pessoas estressadas tendem a ser revoltadas com as condições da vida. Ao mesmo tempo, elas se encontram frequentemente exploradas. Eu falo para os meus estudantes: ‘vocês podem não sentir isso na força de trabalho, mas e a companhia telefônica te explora? A empresa de cartão de crédito te explora?’ E eles dizem: ‘sim, sim! O proprietário do meu apartamento subiu o aluguel em mais de 30%!’ A vida é impossível. As pessoas vão a um trabalho, que muitas vezes sentem sem significado. Há uma lacuna de significado na vida. Há um descontentamento geral com as condições. E, ao mesmo tempo, elas pensam: ‘não há motivos para eu votar, se eu votar eles vão continuar fazendo a mesma coisa do mesmo jeito, não vão me consultar’. Há uma alienação com o processo político. Somando a isso, a segregação entra no quadro. As pessoas se sentem trancadas em sua parte da cidade e há essas comunidades muradas onde elas não podem ir, todos esses locais proibidos onde as pessoas não podem circular ao invés de a cidade ser um ambiente aberto, onde as pessoas podem circular, interagir.
P. Como o centro das cidades, que expulsam as populações pobres por se tornarem cada vez mais caros?
R. Muitas pessoas sentem que a cidade está sendo tirada delas. Que a cidade que antes elas sentiam ser delas, de alguma forma está sendo roubada delas. O que é interessante é que esse era um dos grandes sentimentos que existia já na comunidade de Paris em 1871, de que a reconstrução da cidade em volta de coisas muito burguesas forçou a massa da população para os subúrbios. Então vemos esses movimentos em que as pessoas, de forma revolucionária, tentam retomar a cidade.
P. Como em Istambul, como o parque Gezi, aqui no Brasil, com oOcupe Estelita...
R. Sim, passei uma manhã muito agradável com eles em Recife, aliás.
P. A área, no fim, deve mesmo se tornar empreendimento imobiliário.
R. As pessoas vão lá e lutam e é muito raro que elas de fato ganhem. Mas o outro sinal importante de tudo isso, que foi verdade aqui no Brasil, em 2013, é que quando algo que emerge em uma só cidade acaba contagiando outras cidades paralelamente é um sinal importante de que há algo errado com toda a forma como o processo está funcionando. São as pessoas dizendo: ‘temos que mudar o processo radicalmente’.
Há essa mentalidade antiterrorista de que todos que não estão agindo em conformidade com o sistema são potencialmente terroristas e a tendência de usar a força policial, e usá-la instantaneamente, para conter o descontentamento
P. E como mudar? Aqui no Brasil o aumento da tarifa desencadeou os protestos em várias cidades. Diferentes demandas surgiram, mas não vivemos uma mudança política como ocorreu na Espanha, com oPodemos, ou na Grécia, com oSyriza. Por acha que isso aconteceu?
R. Eu não sei. É algo que eu gostaria de saber de você. Acho que a questão que eu perguntaria é: tem certeza de que nada mudou? As pessoas vão para as ruas, a memória daquilo não desaparece da noite para o dia. Neste momento, provavelmente, tudo está um pouco confuso pelos protestos liderados pela ala da direita [contra a presidenta Dilma Rousseff] e ninguém sabe qual a forma política que os protestos de esquerda vão tomar. Ainda não se produziu um Podemos, um Syriza. Na Turquia, esse processo também promoveu um novo partido político, que é o curdo HDP, que foi eleito agora para o Parlamento e evitou que o presidente reescrevesse a Constituição para ter poderes absolutos, o que foi um momento importante para a democracia do país e que não teria acontecido sem o chamado processo Gezi [em referência à revolta gerada pela intenção de construir um shopping no local do parque Gezi]. Aqui, eu acho que o problema é que vocês têm a Dilma e o PT no poder. O PT se tornou mais neoliberal, está implementando uma série de políticas de austeridade e ninguém se sente animado a apoiar isso, a ir às ruas e apoiar Dilma e as políticas de austeridade. As pessoas gostariam de sair às ruas e apoiar algo diferente. Mas, no momento, esse algo diferente não existe. Pode vir no futuro, quem sabe. Eu suspeito que vai emergir.
P. Seria possível, a essa altura, o PT voltar a ser o que era?
R. O PT poderia mudar. Mas a gente vê exemplos de outros países, como a Inglaterra, onde o Partido Trabalhista mudou para ser um partido mais radical e a resposta foi negativa. Eu suspeito que para o PT não vai ser mais possível. Isso iria requerer uma grande revolução dentro do partido. Há outros partidos de esquerda menores que tendem a ser mais sectários e que poderiam se unir, como aconteceu com o Syriza, em uma força política mais coerente. Nesse caso, eles com certeza invocariam o espírito de junho de 2013, sendo a base do que eles gostariam de fazer. Acho que o aconteceu em junho de 2013 ainda não acabou e as consequências ainda estão para ser conhecidas.
P. O Estado pode agir para mudar o que tem provocado esse descontentamento geral?
R. Depende da base social do aparato estatal. O aparato estatal tem uma burocracia que tende a operar de uma maneira própria, independentemente do poder político. Essa burocracia é mais alinhada com o que os desenvolvedores querem. Quando se trata de um poder com uma base política muito forte, então o lado político tende a ser mais combativo contra os grandes projetos. Pode parar alguns dos megaprojetos, começar a se colocar em parceria com os movimentos sociais. Então, um movimento de bairro que está demandando melhorias na qualidade de vida poderá achar um Estado que é parceiro, em oposição a um contra o qual ele tem que entrar em confronto. Será muito interessante de ver o que vai acontecer em Madri e em Barcelona, por exemplo, onde duas prefeitas foram eleitas com base em uma força social que dizia que é preciso fazer alguma coisa diferente. E vamos ver o quanto o que elas conseguem fazer é, de fato, diferente. Vimos em Nova York, um prefeito mais inclinado à esquerda sendo eleito. Mas, até agora, ele ainda não foi capaz de fazer muito porque os poderes financeiros o pararam.
P. Temos um processo parecido em São Paulo, com o prefeito Fernando Haddad. Como consequência, parece que houve um afastamento dos movimentos sociais que o apoiaram.
Essa abertura para a esquerda na política é muito mais difícil e as pessoas, às vezes, têm que deixar de lado as suas visões sectárias e dizer: ‘ok, é mais importante ser solidário do que estar certo’
R. É sempre muito difícil manter essa conexão viva. O prefeito se transformar no parceiro dos movimentos sociais é sempre um pouco perigoso porque as pessoas que financiam as eleições não vão mais financiar aquele prefeito. É assim que a política local é dada. Mas, por outro lado, se os movimentos sociais são fortes e poderosos o suficiente, eles podem garantir a eleição do prefeito. É assim que a luta de classe pode começar a retomar as coisas. Los Angeles e Seattle estão agora demandando um salário mínimo para todos os que trabalham naquelas cidades. O salário mínimo federal é de 7 dólares a hora e eles estão elevando para 15, progressivamente. É a cidade se movendo porque a população decidiu eleger pessoas progressistas. E para eles continuarem a ser reeleitos, eles têm que continuar fazendo coisas progressistas, como isso de elevar o salário mínimo.
P. Você, então, parece otimista em relação a esses movimentos ao redor do mundo.
R. Acho que coisas interessantes estão acontecendo no momento, como o que aconteceu em Barcelona, como o que aconteceu em Madri, em Los Angeles, em Seattle. Há muitos movimentos acontecendo no momento. Passamos por dez anos em que não houve nenhum movimento nessa direção. Agora há um movimento que está indo na direção certa e que tende a se fortalecer e ir para algum lugar.
P. Mas você também destacou na sua palestra que a falha desses movimentos pode dar espaço para o fortalecimento da extrema direita.
R. Acho que essa é a outra possibilidade. E é por isso que eu acho que é crucial para as pessoas começarem a reconhecer que esse é um momento histórico importante, que essa abertura para a esquerda na política é muito mais difícil e as pessoas, às vezes, têm que deixar de lado as suas visões sectárias e dizer: ‘ok, é mais importante ser solidário do que estar certo’.

CONGRESSO NACIONAL DO PT » As vozes dos militantes Cinco filiados do PT que foram ao Congresso da Bahia discutem os caminhos do partido O muro que divide o PT

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Delegados no Congresso do PT. / A. B.
Militantes petistas ouvidos pelo EL PAÍS, durante o V Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, realizado em Salvador e que terminou neste sábado, discutem os rumos da legenda, que enfrenta uma crise institucional. Para os filiados, o partido precisa se abrir para mais diálogo e retornar às suas origens. Abaixo as entrevistas com cinco participantes do encontro.

O povo tinha esperança no PT e nós erramos porque caímos numa armadilha”

Gilson Nunes Vitorio, 68, vendedor ambulante, membro do movimento negro de São Paulo. Filiado ao PT há 25 anos
Pergunta. Qual é a saída para o PT conseguir melhorar sua imagem?
Gilson, 68, vendedor ambulante.
Resposta. O descrédito é da política em geral. O povo tinha esperança no PT e nós erramos porque caímos numa armadilha que foi preparada há algum tempo no Congresso. Acho que para recuperar isso, precisamos ouvir nossas bases. As deliberações desse Congresso precisam ser ouvidas. Também precisávamos ter uma boa reforma política, reforma tributária. Os movimentos sociais precisam de mais espaço para se apresentarem, as centrais sindicais mais espaço para colocar suas pautas para serem discutidas. Quem constrói o país são os trabalhadores. Precisamos retomar nossas origens.
P. O PT, ao lado de outras siglas, está no centro do escândalo da Petrobras. Alguns dirigentes dizem que o partido está sendo injustamente criminalizado. O sr. concorda?
R. Isso acontece porque o PT defende a classe trabalhadora. Naturalmente a burguesia não quer perder o poder. Eles dominaram o Brasil desde 1500 e não querem deixar o poder de lado. Aí criminaliza o PT por erros que eles também têm. Querem nos acusar porque esse sistema foi implantado por quem sempre governou o país. Foram eles que impuseram os privilégios à burguesia, os privilégios aos amigos.
R. O PT tem de ter uma visão crítica de governos. Precisa saber como se governa. Nos Estados sempre tivemos críticas à Polícia Militar. E temos de saber controlá-la quando somos governo. Se ela comete uma chacina, independente de quem for, tem de apurar. Não dá para defender a questão sem uma apuração. O Governo aqui da Bahia errou ao defender a polícia sem ter uma investigação sobre ela. Sobre Minas Gerais, tudo deve ser aprofundado. Sem uma investigação decente, não se sabe a verdade. Não precisamos temer, se não devemos nada. Só temos de cobrar lisura de nossos filiados.P. Além do problema nacional, há Estados como a Bahia e Minas Gerais em que os governadores do PT enfrentam problemas. O primeiro foi criticado pela forma como reagiu a chacina de Cabula, pela qual PMs são acusados. O segundo tem sua mulher investigada pela PF. Como lidar com essas questões regionais?

“Temos de rediscutir como a política está no Brasil”

Cássio Maciel dos Santos, 26 anos, administrador, membro do movimento LGBT do Amapá. Filiado ao PT há seis anos.
Cássio, 26, do movimento LGBT do Amapá. / A.B.
Pergunta. Qual é a saída para o PT conseguir melhorar sua imagem?
Resposta. Temos de rediscutir como a política está no Brasil. Enfrentamos algumas dificuldades por conta da crise mundial. Precisamos estar preparados para administrar o Brasil. Sou da coordenação regional LGBT do Partido dos Trabalhadores e tenho trabalhado pela criminalização da homofobia. E hoje notamos que é necessário enfrentar um Congresso muito conservador. Por isso, o PT precisa se preparar, precisa ouvir bem suas bases, os movimentos sociais, dar espaço para que possamos nos manifestar. Quando o PT e o Governo nos escutam as coisas funcionam. Desde o Governo Lula já tivemos várias conferências LGBT, avançamos no combate das doenças sexualmente transmissíveis, mas queremos mais. Precisamos muito conseguir o apoio para a criminalização da homofobia.
P. O PT, ao lado de outras siglas, está no centro do escândalo da Petrobras. Alguns dirigentes dizem que o partido está sendo injustamente criminalizado. O sr. concorda?
R. As pessoas até do próprio PT começaram a acreditar no que a mídia fala. Acreditam que o partido é composto de ladrão. E sabemos que isso muitas vezes é mentira ou há um exagero. Alguns cometeram erros e isso tudo tem de ser discutido. Temos de saber ao certo quem errou e onde nós acertamos. Essa análise é pouco feita.
P. Além do problema nacional, há Estados como a Bahia e Minas Gerais em que os governadores do PT enfrentam problemas. O primeiro foi criticado pela forma como reagiu a chacina de Cabula, pela qual PMs são acusados. O segundo tem sua mulher investigada pela PF. Como lidar com essas questões regionais?
R. O problema nos Estados não são apenas do PT, tem sido geral. Não conheço esses casos específicos, mas em todas as regiões há o problema da crise econômica. Mas é claro quando somos de um partido do Governo, cabe a gente medir as estratégias de fazer a política.

“O partido tem de voltar para as bases e reacender a militância”

Írio Correia, 55, microempresário em Santa Catarina, cadeirante, filiado ao há 35 anos
Írio Correia, 55, microempresário. / A. B.
Pergunta. Qual é a saída para o PT conseguir melhorar sua imagem?
Resposta. O partido tem de voltar para as bases e reacender a militância que ele sempre teve. É fundamental a gente ter ciência de o que sofremos hoje é uma série de ataques que coloca o partido na defensiva. Temos de ir para uma ofensiva, resgatando a militância fazendo com que ela possa ser reanimada e fazer a transformação que esse país precisa e o PT já faz há 12 anos.
P. O PT, ao lado de outras siglas, está no centro do escândalo da Petrobras. Alguns dirigentes dizem que o partido está sendo injustamente criminalizado. O sr. concorda?
R. A elite e a mídia desse país acham que já perderam demais. Eles acham que as pessoas não possam mais ascender. Nesses 12 anos mais de 32 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza e isso choca a elite do país, que vem disputando com a classe trabalhadora os aeroportos, as rodovias, que agora podem comprar carro, podem viajar de avião, estudar. Isso choca a elite que sempre teve o país em suas mãos, administrando ao seu bel prazer.
P. Além do problema nacional, há Estados como a Bahia e Minas Gerais em que os governadores do PT enfrentam problemas. O primeiro foi criticado pela forma como reagiu a chacina de Cabula, pela qual PMs são acusados. O segundo tem sua mulher investigada pela PF. Como lidar com essas questões regionais?
R. O PT tem de agir nos Estados e no país com bastante transparência. Esse Congresso vem reforçar a transparência e a luta do partido que tem em sua origem a classe trabalhadora. Precisa resgatar as origens para lidar com qualquer problema de gestão.

“Para sair dessa crise precisamos defender o trabalhador”

Maria Lúcia Machado, 57, professora no Pará, filiada ao PT há 27 anos
Maria Lúcia Machado, 57, professora no Pará. / A. B.
Pergunta. Qual é a saída para o PT conseguir melhorar sua imagem?
Resposta. A sociedade tem de entender que quando se governa não governa sozinho. Os interesses no Governo são de diversos setores, de várias camadas. Há bons a maus momentos. Estamos passando por um momento desfavorável, mas não em função simplesmente do PT. Só que precisamos entender que para sair dessa crise precisamos defender o trabalhador. Precisamos ouvir nossas bases. Infelizmente, tudo de ruim que sempre ocorreu na política só cai para o lado do PT. Com os outros partidos a Justiça não vê. O PT é sempre o único castigado.
P. O PT, ao lado de outras siglas, está no centro do escândalo da Petrobras. Alguns dirigentes dizem que o partido está sendo injustamente criminalizado. O sr. concorda?
R. Porque o leme do barco conduzido pelo PT segue na direção dos trabalhadores. Não está mais no sentido das elites. Segue para os mais pobres e isso incomoda. A postura que a mídia toma mostra que só há dois projetos em jogo. Mesmo que o nosso tenha sido mal feito em alguns momentos, ainda é melhor do que o projeto das elites. Por isso, queimar o PT agora seria a alternativa para 2018. Essa tática é para evitar não só o Lula, mas qualquer representante da legenda que queira se candidatar.
P. Além do problema nacional, há Estados como a Bahia e Minas Gerais em que os governadores do PT enfrentam problemas. O primeiro foi criticado pela forma como reagiu a chacina de Cabula, pela qual PMs são acusados. O segundo tem sua mulher investigada pela PF. Como lidar com essas questões regionais?
R. O PT tem de ser o mais correto possível e por isso o povo cobra muito ainda o PT, em qualquer esfera, municipal, estadual, nacional. Podemos ter falhas, mas precisamos corrigir nossos rumos. Temos de mostrar para os outros que os partidos têm de ser sérios e precisam ser valorizados. O que tem sido feito no Brasil é para que ninguém tenha um partido. E as instituições precisam ser valorizadas.

“O partido precisa repensar a forma de comunicação com a militância”

Neide Aparecida da Silva, 62, professora em Goiás, filiada ao PT há 29 anos
Pergunta. Qual é a saída para o PT conseguir melhorar sua imagem?
Neide, 62, professora em Goiás. / A. B.
Resposta. Temos sofridos duros ataques de uma parte da imprensa, a mesma que dizia que quando o partido foi criado na década de 80 não conseguiria se estruturar. Aquela que sempre diz que o partido vai acabar. Esse Congresso mostra que isso não é verdadeiro. Sem dizer de forma alguma que o partido cometeu vários erros, como todos nós. Acho que o ataque maior é porque não houve ainda uma questão bem resolvida com relação às últimas eleições. Aqueles que perderam não se conformam que perderam no voto e uma forma de desgastar o governo é desgastando o partido de quem está no governo. E isso acaba se impregnando na militância, que não faz uma leitura do que ocorre de verdade. Que só acredita na mídia. De qualquer forma, nossa militância, nossa base social, os movimentos que nos apoiaram precisam ser mais ouvidos. O partido precisa repensar a forma de comunicação com a militância. Tem de se aproximar da juventude para não perdermos nossos referenciais. Em 2005 [na crise do mensalão], com todas as denúncias que sofremos corríamos o sério risco de perder o Governo. Mas com nossa militância atuando, conseguimos manter o presidente Lula. Isso precisa ser lembrado e usado como exemplo. O Governo vive um paradoxo porque se afasta dos movimentos que sempre o apoiaram para se aproximar de alguns aliados que exigem cargos em troca de apoio.
P. O PT, ao lado de outras siglas, está no centro do escândalo da Petrobras. Alguns dirigentes dizem que o partido está sendo injustamente criminalizado. O sr. concorda?
R. O objetivo inicial era para derrubar a presidenta Dilma. Mas isso está cada vez mais difícil. Agora, está na ordem do dia o ex-presidente Lula porque é um possível nome para 2018. É uma forma da oposição se fortalecer para 2018.
P. Além do problema nacional, há Estados como a Bahia e Minas Gerais em que os governadores do PT enfrentam problemas. O primeiro foi criticado pela forma como reagiu a chacina de Cabula, pela qual PMs são acusados. O segundo tem sua mulher investigada pela PF. Como lidar com essas questões regionais?
R. Qualquer denúncia deve ser apurada. Agora, o rigor com os membros do PT é maior do que o rigor com os filiados aos outros partidos. Vejo partidos que recebem as verbas, as doações das mesmas empresas que doam para o Partido dos Trabalhadores e nada acontece com eles. Eles nunca são vistos como corruptos. As mesmas empresas financiaram todos os partidos, de maneira legal. Mas para o PT, sempre olham de outra maneira. Não acho que o PT tenha mais ou menos erros do que outros partidos.

Amazon investigada A investigação centra-se nos contratos entre a Amazon e diversas editoras que controlam o mercado de ebooks europeu Ler mais: http://visao.sapo.pt/amazon-investigada=f822484#ixzz3d2PvF1ID

A Comissão Europeia abriu um inquérito contra a gigante norte-americana Amazon.   
Bruxelas está a inestigar práticas potencialmente abusivas por parte da distribuidora online Amazon.  
A  investigação assenta em determinadas cláusulas nos contratos entre a Amazon e editoras, onde um dos pontos requisita que os editores informem a empresa das ofertas e alternativas dos outros grupos concorrentes.  
O estudo incidirá sobre os livros em inglês e alemão, uma vez que são o maior mercado de ebooks na  Europa.   
Sendo a Amazon a principal distribuidores da ebooks (livros online) da Europa, a União Europeia receia  que estas cláusulas possam prejudicar os consumidores e impeçam as outras distribuidoras de inovar e  competir com a Amazon. Podendo violar assim as regras de concorrência da União Europeira, que proibe práticas comerciais restritivas e um abuso de posição dominante no mercado.  
A Amazon encontra- se confiante de que os seus contratos com as editoras são legais previligiando os melhores interesses dos leitores 'Estamos ansiosos por demonstrar isso à Comissão e cooperar plenamente durante este processo'. 


Ler mais: http://visao.sapo.pt/amazon-investigada=f822484#ixzz3d2PnCbCQ

Werdum finaliza Velásquez no terceiro round e unifica cinturões dos pesados Brasileiro encaixa guilhotina no terceiro assalto e fatura título linear da categoria na luta principal do UFC 188, na madrugada deste sábado para domingo, no México

Fabricio Werdum cinturão UFC 188 (Foto: Getty Images)Fabricio Werdum unificou o cinturão do peso-pesado no UFC 188 (Foto: Getty Images)
Chocar o mundo se transformou em rotina na vida de Fabricio Werdum. Vencer Fedor Emelianenko por finalização já havia mostrado isso. Nocautear um campeão do K-1, como fez com Mark Hunt, também impressionou. Mas, na madrugada deste sábado para domingo, sendo azarão contra Cain Velásquez, ele deixou claro que é bom jamais duvidarem dele. A chance de errar costuma ser grande. Aos 2m13s do terceiro assalto, com uma justa guilhotina que envolveu o pescoço do americano ao mesmo tempo que o sorriso tomava conta do rosto do gaúcho, o Vai Cavalo unificou os cinturões dos pesos-pesados (até 120kg) e se tornou o 10º brasileiro a conquistar o título linear da organização.
Depois de perder o primeiro round, Werdum voltou melhor para o segundo e castigou o americano com seus socos e joelhadas. O córner de Velásquez sugeriu que a estratégia mudasse e o lutador buscasse a queda. Sorte do brasileiro, que tem no jiu-jítsu sua melhor ferramenta. E, cá entre nós, quem mais pode ter um currículo com finalizações sobre Fedor Emelianenko, Rodrigo Minotauro e, agora, Cain Velásquez?
- Quero agradecer a todos, vamos respeitar Cain Velásquez, eu respeito. Queria agradecer meu país, Brasil, minha equipe, família, estou muito feliz, foi uma luta duríssima e com certeza teremos revanche. Treinei muito a guilhotina para defender essa queda. Eu represento o Brasil esse cinturão é para todos vocês - afirmou Werdum, ainda no octógono.
Fabricio Werdum encaixa guilhotina em Cain Velásquez UFC 188 MMA (Foto: Getty Images)Fabricio Werdum encaixa guilhotina em Cain Velásquez (Foto: Getty Images)
O início foi de trocação franca. Uma direita de Werdum tocou o rosto de Velásquez, que conectou seus socos. Em um deles, o brasileiro caiu no chão, parecendo ser de forma proposital, mas o campeão linear não entrou na dele e deu espaço para o rival ficar de pé. O americano pressionou contra a grade, enquanto Werdum tentava usar o clinche do muay thai para dar joelhadas. Werdum conseguiu sair da grade, mas foi derrubado. Velásquez caiu de guarda passada, mas o campeão interino conseguiu ficar de frente. Foi o suficiente para Cain sair da posição e dar espaço para ele ficar de pé outra vez. Velásquez voltou com tudo pressionando e aplicou uma sequência dura de socos no rosto de Werdum, que marcou o tempo de uma joelhada e chegou a derrubar, mas Cain se levantou rapidamente. O brasileiro chegou a botar bons socos, mas se movimentava pouco lateralmente. Velásquez segurou a perna do oponente após um chute e o derrubou, mas, de novo, evitou entrar na perigosa guarda do faixa-preta de jiu-jítsu. Os socos de Werdum abriram um ferimento no rosto do campeão antes do fim do primeiro round.
O segundo assalto começou com Velásquez combinando mais os socos e chutes baixos. Werdum também respondia com socos, mas se movimentava pouco lateralmente. Uma sequência de três socos no rosto balançou Velásquez, que respondeu. O brasileiro crescia na luta. Um uppercut e uma joelhada voltaram a tocar a cabeça de Cain, que absorveu bem. Werdum foi com tudo no fim. Socos e joelhadas entraram a exaustão e só pararam quando o gongo soou. Àquela altura, parecia empatado.
Fabricio Werdum Cain Velásquez UFC 188 (Foto: Getty Images)Mesmo em pé, Fabricio Werdum levou perigo para Cain Velásquez (Foto: Getty Images)
Velásquez voltou para o terceiro round obedecendo a ordem de seu córner e buscando a queda. Quase foi vítima de uma guilhotina, mas se livrou e, ao ver que só iria para o chão dentro da guarda do brasileiro, preferiu dar espaço. Werdum tentou outra guilhotina e pressionou com socos e joelhadas, mas Velásquez se desvencilhou. Um chute alto passou na vazio. O americano não aprendeu com a primeira tentativa e tentou derrubar novamente. Desta vez, Werdum chegou ao solo sorrindo. O motivo era a guilhotina encaixada, que obrigou Cain a dar os três tapinhas e decretar a vitória para o Brasil.
UFC 188
13 de junho, na Cidade do México (MEX)
CARD PRINCIPAL
Fabricio Werdum venceu Cain Velásquez por finalização aos 2m13s do R3
Eddie Alvarez venceu Gilbert Melendez por decisão dividida (29-28, 28-29 e 29-28)
Kelvin Gastelum venceu Nate Marquardt por nocaute técnico (interrupção médica) aos 5m do R2
Yair Rodríguez venceu Charles Rosa por decisão dividida (28-29. 29-28 e 29-28)
Tecia Torres venceu Angela Hill por decisão unânime (30-27, 30-27 e 29-28)

CARD PRELIMINAR
Henry Cejudo venceu Chico Camus por decisão unânime (29-28, 30-27 e 30-27)
Efrain Escudero venceu Drew Dober por finalização aos 54s do R1
Patrick Williams venceu Alejandro Pérez por finalização aos 23s do R1
Johnny Case venceu Francisco Treviño por decisão unânime (triplo 30-27)
Cathal Pendred venceu Augusto Montaño por decisão unânime (triplo 29-28)
Gabriel Benítez venceu Clay Collard por decisão unânime (triplo 30-27)