segunda-feira, 4 de maio de 2015

Dois são mortos perto de centro cultural no Texas Local sediava concurso de caricaturas do profeta Maomé. Polícia apura se tiroteio estava relacionado ao evento.

Dois homens foram mortos pela polícia, neste domingo (3), durante um tiroteio nos arredores de um centro cultural próximo a Dallas, no Texas, Estados Unidos. No local ocorria uma exposição e um concurso de caricaturas do profeta Maomé. Um segurança também ficou ferido na troca de tiros.
Os dois homens se aproximaram de carro do estacionamento do Culwell Centre Curtis da cidade de Garland, perto de Dallas, onde quase 300 pessoas assistiam ao evento, que os organizadores promoveram como um acontecimento a favor da liberdade de expressão.
Policiais da unidade especial SWAT informaram que ao chegar ao local os dois homens abriram fogo e feriram um guarda. Os agentes que estavam no local para proteger o evento atiraram em resposta e mataram ambos.
Policiais orientam participantes de evento após tiroteio no Texas (Foto: Mike Stone/Reuters)Policiais orientam participantes de evento após tiroteio no Texas (Foto: Mike Stone/Reuters)
Após a troca de tiros, o local em que acontecia o concurso foi isolado e os participantes foram impedidos de deixar o prédio, mas foram liberados pouco depois.
Uma equipe do esquadrão antibombas inspecionou o carro dos atiradores, pois suspeitavam da possibilidade de explosivos no veículo.
O porta-voz da polícia de Garland, Joe Harn, afirmou pouco depois que a ameaça aparentemente foi controlada, mas helicópteros da força de segurança patrulhavam a região por precaução.
De acordo com a organização SITE, que monitora as comunicações de combatentes e grupos jihadistas, um homem reivindicou o ataque em uma conta do Twitter relacionada com a organização Estado Islâmico (EI). A pessoa escreveu o ato foi executado por simpatizantes do grupo.
"Dois de nossos irmãos abriram fogo contra a exposição artística do profeta Maomé no Texas", afirma a mensagem de um homem que se identifica na rede como Abu Hussain al-Britani.
De acordo com o SITE este é o nome de combate do jihadista britânico do EI Junaid Hussain.
Maomé
A exposição era promovida pela Iniciativa Americana de Defesa da Liberdade, sediada em Nova York, que oferecia 10 mil dólares para o autor da melhor caricatura de Maomé.
Desenhos do profeta Maomé são considerados um insulto por muitos seguidores do Islã e têm causado episódios de violência ao redor do mundo. De acordo com a tradição islâmica, qualquer representação física do profeta é considerada ofensiva.
Em janeiro deste ano, um ataque ao escritório do jornal satírico "Charlie Hebdo", em Paris, deixou 12 mortos, entre eles os cartunistas Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb, e o lendário Georges Wolinski. O jornal já havia sido alvo de um ataque no passado após publicar uma caricatura de Maomé.
A associação American Freedom Defense Initiative, organizadora do concurso de caricaturas, havia convidado para discursar no evento o líder da direita holandesa Geert Wilders.
"Estou comovido. Eu acabara de falar por uma hora e e meia sobre as caricaturas, o Islã e a liberdade de expressão", disse Wilders à AFP.
Mais cedo, Wilders, líder do Partido Pela Liberdade (PVV), havia comentado o incidente no Twitter: "Tiros em Garland, no concurso de caricaturas de Maomé pela liberdade de expressão. Acabo de deixar o edifício #garlandshooting".
O guarda que ficou ferido no ataque foi atingido por um tiro na perna e está fora de perigo, segundo a prefeitura de Garland.
Segundo um blog local que intercepta comunicações de rádio da polícia, um suspeito foi localizado em uma loja próxima ao centro de convenções com uma granada.
A cofundadora e ativista Pamela Geller, uma das organizadoras do concurso, afirmou que os tiros "são uma demonstração de uma guerra contra a liberdade de expressão".

Líder tucano critica fala de Lula sobre possível candidatura Discurso do ex-presidente no 1º de Maio explicitaria enfraquecimento da gestão Dilma

Brasília – O discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1º de maio, não deixou dúvidas para petistas ou tucanos: alvo de investigação do Ministério Público Federal por denúncias de tráfico de influência internacional a fim de ajudar empreiteiras brasileiras a obter contratos no exterior, Lula lançou-se candidato ao Planalto em 2018 e tenta desviar o foco das acusações. Ao afirmar que “está quieto no canto”, mas que é “bom de briga”, o cacique petista antecipou um movimento esperado por aliados apenas no fim de 2016 e explicitou ainda mais o enfraquecimento político da presidente Dilma Rousseff. Opositores veem a manobra como um ato de desespero do próprio PT, mergulhado em profunda crise institucional.

“Quando você tem, em seu campo político — independentemente de ser presidente, governador, ou prefeito — alguém como candidato futuro, perde total controle do processo decisório”, criticou o líder da minoria na Câmara, Bruno Araújo (PE). Para o tucano, a letargia na qual o governo Dilma está mergulhada fez com que até mesmo Lula, mentor político da presidente, desacreditasse no poder que a pupila tem de debelar a atual crise. “Esse gesto viria, naturalmente, mais para a frente. A antecipação é o sinal patente do fracasso da presidente”, disse Bruno.

Petistas ouvidos pelo Estado de Minas são cuidadosos em poupar a presidente. Afinal, ela ainda tem três anos e sete meses de mandato. Entretanto, reconhecem que a presidente pagou pelos próprios erros na esfera política. “Vai preservar o mandato até o fim, mas com poder esvaziado”, admitiu um integrante do comando partidário.


A dúvida, agora, é se Lula terá capacidade de recuperar o prestígio de outrora. Nas últimas manifestações contra o governo, não apenas o PT e Dilma tornaram-se alvo de críticas. Lula – que, durante os oito anos de mandato ganhou o apelido de teflon (material anti-aderente que reveste panelas), numa alusão ao fato de escapar incólume às denúncias que envolviam seu governo e o partido – também começou a ser visto, por parte da população, como ator envolvido nos escândalos de corrupção.

A abertura de investigação do Ministério Público, por exemplo, publicada na revista Época, repercutiu em jornais internacionais, como o The New York Times. A publicidade negativa no exterior, aliás, tem sido frequente devido à combalida economia e os sucessivos escândalos na Petrobras. A pressão vem desde o julgamento do mensalão, que colocou na cadeia a direção partidária responsável pela eleição de Lula em 2002.

ESCUDO 
Para alguns petistas, no entanto, nada disso é problema. Na opinião deles, a inapetência política da presidente Dilma deu a Lula a desculpa ideal para lançar-se ao Planalto sem parecer que está fazendo um movimento de oposição a ela. Pelo contrário, o discurso é de que a estaria protegendo. “Ele não vai atacar a presidente. Pelo contrário, vai enaltecê-la”, assegurou outro cacique petista.

Pouco à vontade para tratar do tema, já que, recentemente, assumiu a liderança do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS) reconhece que Lula mexeu no tabuleiro. “As denúncias contra o PT e o debate em torno da terceirização permitiram que o ex-presidente retomasse o protagonismo político”, disse.

Marqueteiro sob suspeita
A Polícia Federal investiga contratos firmados pelas empresas do marqueteiro do PT, João Santana, que trouxeram de Angola para o Brasil US$ 16 milhões em 2012. A suspeita é de lavagem de dinheiro, com pagamento de recursos do país africano para empreiteiras brasileiras como forma indireta de quitar débitos do partido com o marqueteiro. Em 2012, Santana trabalhou nas campanhas do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Santana, que atuou nas campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da presidente Dilma Rousseff (PT), negou que tenha praticado irregularidades
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Crise econômica aprofunda a diferença salarial na Espanha

LUIS TINOCO
crise aprofundou a diferença salarial na Espanha, e o fim da recessão está aumentando ainda mais essa lacuna. O ano fiscal de2014 foi de recuperação para a economia espanhola, com o consequente aumento dos lucros corporativos. A melhora do cenário se transportou de imediato para a folha de pagamento da elite empresarial, mas o modelo de remuneração ainda não consegue transferir os incipientes ganhos para os bolsos dos trabalhadores. Enquanto os salários de presidentes e diretores do alto escalão cresceram a uma taxa de dois dígitos no ano passado, a remuneração dos empregados continuou caindo.
Essa defasagem é explicada de uma forma muito gráfica: em 2013, o salário médio das pessoas mais bem pagas de empresas listadas no índice de ações Ibex representava 75 vezes o gasto médio por empregado dessas mesmas companhias; em 2014, a desigualdade subiu para 104 vezes.
“Embora possa parecer paradoxal, é provável que se a economia continuar se recuperando, o resultado seja um aumento da diferença salarial. Entre os executivos havia certa irritação, porque a crise havia sido longa e muitos bônus não foram pagos. Agora, se a situação melhorar, é provável que os primeiros a notar sejam os executivos do alto escalão”, reconhece Rafael Barrilero, especialista da consultoria Mercer.
O aumento da remuneração dos diretores foi a tendência generalizada no ano passado, independentemente do tamanho da companhia. Em 2014, o salário médio dos presidentes das empresas de capital aberto totalizou 375.949 euros (cerca de 1,27 milhão de reais), um aumento de 17,5% em relação ao ano anterior, segundo um estudo elaborado pelo EL PAÍS a partir dos dados registrados pelo órgão regulador CNMV. Analisando mais de perto apenas os presidentes das empresas listadas no Ibex 35, a remuneração média foi de 612.036 euros (2 milhões de reais), 24,1% a mais; quando se analisa a folha de pagamentos de administradores de empresas de média e pequena capitalização, os salários subiram 7,97% comparados a 2013, ficando em 197.202 euros, em média.

A tendência da remuneração para o resto da folha de pagamentos, no entanto, foi oposta. O gasto médio por funcionário —essa medida inclui salário, impostos da previdência e outros custos trabalhistas— do conjunto de empresas listadas foi de 43.088 euros (145.000 reais) em 2014, cerca de 0,64% a menos do que no ano anterior. Detalhando os números pelo tipo de companhia, o gasto com os trabalhadores de grupos no Ibex caiu 1,04%, para 46.552 euros por pessoa, em média. No restante de empresas com capital aberto, alta foi de apenas 1,43%, para 29.585 euros por empregado.Esse mesmo padrão se repetiu entre os executivos da alta direção. Em 2014, o salário médio de diretores de alto escalão de empresas com ações na bolsa totalizou 599.088 euros, 12,03% a mais do que em 2013. Levando em conta o tipo de empresa, os diretores dos grupos listados no Ibex tiveram um aumento de salário de 12,14%, para 949.083 euros, em média. No caso de companhias negociadas fora do Ibex, o salário médio de um alto executivo foi de 237.426 euros, o que representou uma melhora de 9,28%.
Resumindo essa diferença salarial: os presidentes das empresas listadas ganharam, em média, 8,72 vezes mais do que seus funcionários, enquanto a defasagem salarial entre os empregados e a alta direção aumentou 13,9 vezes.
“Não existem bases econômicas que justifiquem esse salários. Qualquer indicador que você utilize vai dizer que essa diferença não promove a sustentabilidade da empresa a longo prazo. Seria bom que fossem adotadas cláusulas pelas quais, se o conselho se beneficia da boa evolução da companhia, deveria acontecer o mesmo com o restante das categorias salariais”, diz Andrés Herrero, economista do sindicato UGT. “A distribuição de bônus para os diretores é quase automática, se o grau de cumprimento das metas é alto. No entanto, o esforço é notado nos grupos de trabalhadores de [categorias] mais baixas, onde realmente os negócios são gerados”, acrescenta Herrero.
No total de empresas com ações em bolsa, houve 100 diretores-presidentes que ganharam mais de um milhão de euros (3,4 milhões de reais) em 2014, e 50 deles superaram dois milhões de euros na remuneração total (salário mais contribuição previdenciária). Em 15 casos (Abengoa, Abertis, Acciona, ACS, Santander, BBVA, Caixabank, FCC, Ferrovial, Iberdrola, Inditex, Jazztel, Mapfre, Sacyr e Telefónica), o salário do executivo mais bem pago representou 100 vezes o gasto médio por empregado dessa companhia.
O presidente-diretor da Jazztel ganhou 1.000 vezes mais que seus trabalhadores em 2014
“É difícil estabelecer qual deveria ser o limite máximo da diferença salarial, mas se observarmos o que é feito em outros países, a remuneração superior a 40 vezes o salário médio dessa empresa já estaria no limite do escândalo”, afirma Ricard Serlavós, professor do departamento de direção de pessoas e organização da escola de negócios ESADE. Em sua opinião, ninguém gera tanto valor para merecer esses mega salários, e isso tem mais a ver com o poder de negociação salarial dos diretores do que o valor agregado de suas funções. “Se uma empresa quer reforçar o compromisso de seus empregados, esse tipo de mensagem não ajuda muito, porque o que se transmite é que a contribuição de um grupo reduzido de pessoas é infinitamente maior ao da maioria”, acrescenta Serlavós.
O administrador mais bem pago em 2014 foi Juan María Nin. O ex-diretor-presidente do Caixabank ficou no cargo apenas seis meses e recebeu ao sair da empresa uma indenização de 15,01 milhões de euros (50,6 milhões de reais), que, somados ao salário e à pensão, alcançaram um total de 16,49 milhões. Essa quantidade representa 202 vezes o gasto médio por empregado do Caixabank.
O segundo maior salário foi de José Miguel García. O diretor-presidente da Jazztel recebeu um total de 14,5 milhões de euros, graças especialmente ao exercício de opções de ações concedido pela companhia. O terceiro lugar nesse ranking salarial é ocupado pelo ex-diretor-presidente da elétrica Endesa, Andrea Brentan, que graças ao acerto de contas por sua saída da empresa conseguiu uma remuneração total de 12,5 milhões de euros. Em quarto lugar está um executivo de uma empresa que não pertence ao Ibex. Fernando Basabe, diretor-presidente da Applus, recebeu 10,93 milhões de euros, 10 vezes mais do que em 2013, devido a um programa de incentivos vinculado à abertura de capital da empresa.
Há apenas três mulheres entre os 150 executivos mais bem remunerados da Bolsa espanhola
Abaixo desses salários —um tanto distorcidos por fatores atípicos (como indenização por demissão ou bônus que dificilmente vão se repetir)—, estão os de executivos das grandes companhias espanholas com ações em bolsa. Pablo Isla, presidente do Inditex, ganhou 9,55 milhões de euros entre salário e pensão; José Ignacio Sánchez Galán (Iberdrola) recebeu 9,12 milhões de euros; Ana Botín (Banco Santander) ganhou 8,86 milhões de euros considerando sua remuneração total; o ex-número dois do banco, Javier Marín, 8,4 milhões de euros; enquanto César Alierta (Telefónica) recebeu 7,75 milhões de euros e, Ángel Cano (BBVA), 6,51 milhões.
Além dos diretores-presidentes, outro grupo com salários muito acima da média dos trabalhadores é o dos membros da alta direção das companhias. Nesse caso, a legislação não obriga que sejam publicadas de forma individualizada, mas as cifras globais sugerem que muitos deles têm lugar no clube de um milhão de euros. A alta direção melhor remunerada é a da Telefónica, que em média ganhou 4,46 milhões de euros (15 milhões de reais), embora esta cifra esteja um pouco distorcida devido à saída do ex-presidente da Telefónica Digital, Mattew Key, que recebeu 15,1 milhões de euros. Em segundo lugar está o alto escalão do Banco Santander, que ganhou em média 3,67 milhões de euros, seguido pelos executivos da IAG (1,78 milhão de euros), Ferrovial (1,71 milhão de euros), Jazztel (1,61 milhão de euros), Repsol (1,56 milhão de euros), Iberdrola (1,53 milhão de euros) e BBVA (1,46 milhão de euros).
Juan María Nin foi o administrador mais bem pago do ano passado graças à indenização por sua saída do Caixabank
Para contar com o aval de uma entidade independente, as comissões de bônus das empresas costuma contratar os serviços de uma firma de consultoria que certifique o pacote de remuneração de conselheiros e altos diretores. Essas firmas, claro, não costumam colocar obstáculos às propostas. “Devemos ficar orgulhosos das empresas que temos, muitas das quais são líderes mundiais. Nesse sentido, se compararmos o salário dos executivos dos grandes grupos espanhóis com o de seus homólogos internacionais, poderemos concluir que eles estão sendo sub-remunerados”, afirma Jaime Sol, sócio responsável por remuneração e pensões da KPMG Advogados.
“Em 2014, houve um aumento generalizado de salários dos conselheiros e altos diretores. O que ocorreu foi que, finalmente, começaram a cumprir muitos objetivos, e isso se traduziu em um aumento dos bônus”, diz Manuel Montecelos, diretor de talento e benefícios da Towers Watson na Espanha. “Hoje, todo o mundo está mais rico do que há alguns anos. Isso não elimina o fato de que a diferença salarial possa aumentar em alguns casos”. Montecelos defende que todos os trabalhadores, incluindo os diretores, tenham o direito de fazer acordos sobre suas condições de trabalho. “A partir daí, são os acionistas que devem aprovar os salários e, por enquanto, nenhum conselho recusou os bônus aos executivos. Mas é evidente que o nível de escrutínio aumenta a cada ano”, conclui.
A alta direção da Telefónica foi a melhor remunerada, com uma média de 4,46 milhões de euros
A empresa com maior desigualdade salarial na Espanha em 2014 foi a Jazztel, da área de telecomunicações. O gasto médio por empregado foi de apenas 14.560 euros, ou seja, 1.000 vezes menos que o salário de seu diretor-presidente e 110 vezes inferior à remuneração recebida pela alta direção da companhia. Outra sociedade com uma diferença salarial significativa é a Inditex. O presidente do grupo têxtil ganhou 431 vezes a mais do que os 22.134 euros que a empresa destinou como média a seus empregados, enquanto a diferença entre a base e a alta direção foi de 54 vezes. Também deve-se notar o desequilíbrio de renda no Banco Santander(onde o funcionário mais bem pago ganhou 159 vezes a mais do que o empregado médio, e a alta direção 65 vezes mais) e na Telefónica (a maior renda foi 131 vezes maior ao salário médio e os principais diretores ganharam 75 vezes mais).
Por outro lado, as empresas do Ibex com menor diferença salarial foram o Bankia e a Red Eléctrica. No caso do banco, e devido às restrições a bônus impostas naquelas entidades onde a maioria do capital está nas mãos públicas, o presidente José Ignacio Goirigolzarri ganhou apenas 7,4 vezes a mais do que o empregado médio, enquanto a proporção da alta direção foi de 5,7 vezes a mais do que o salário médio. Já José Folgado, presidente da Red Eléctrica, recebe 9,7 vezes mais do que seus funcionários, enquanto a diferença entre os diretores e o resto dos trabalhadores foi de 4,7 vezes.
No ano passado, houve 100 administradores que ganharam mais de 1 milhão de euros
A escassa presença de mulheres nos postos de comando tem seu reflexo em uma representação quase testemunhal na escala salarial. Apenas três mulheres aparecem entre os 150 membros de conselho melhor remunerados da Espanha. Trata-se da já mencionada Ana Botín (que ocupa o sétimo lugar no ranking), Eva Castillo, da Telefónica, que ganhou um total de 6,18 milhões de euros, situando-se na 13a posição, e a diretora-executiva do Bankinter, María Dolores Dancausa, que com um salário de 1,09 milhão de euros, está no posto de número 90 no ranking.
Diferentemente do que ocorrem em outros países, na Espanha o pagamento em dinheiro ainda domina os pacotes de bônus. Em 2014, isso representou 76.66% dos benefícios totais de todos os conselhos das empresas do Ibex 35. É verdade que houve uma queda no pagamento em dinheiro em relação a 2013, onde ele representava 83,9% do total, mas sua ponderação continua sendo muito superior a outras formas de compensação, como as pensões (10,1%), as ações (7,9%) ou as opções sobre ações (5,2%).

78 executivos têm 500 milhões de euros em pensões

No pacote de bônus dos executivos espanhóis cada vez tem mais peso o aporte que a empresa faz a seu plano de previdência. O total acumulado para a aposentadoria desses diretores está cada vez maior. Só no ano passado, por exemplo, as empresas aportaram a esses sistemas de pensões 34,24 milhões de euros. Com esse dinheiro, as pensões de 78 executivos somavam um total de 492,3 milhões de euros no fechamento do balanço de 2014.
Os executivos do setor bancário são os que mais acumulam direitos. A maior pensão é a de Francisco González, presidente do BBVA. Apesar de a entidade não realizar aportes para ele desde 2009, quando completou 65 anos, González têm 79,7 milhões de euros em uma apólice. As quantias mais volumosas a seguir são as de dois diretores do Banco Santander: Matías Rodríguez Inciarte (47,2 milhões de euros) e Ana Botín (40,1 milhões de euros).
Fora do setor financeiro também há planos milionários para os diretores. É o caso de Florentino Pérez, presidente da ACS, que em 31 de dezembro passado acumulava direitos sobre 36,7 milhões de euros. Também é significativa a aposentadoria que receberá César Alierta. Em troca de renunciar a sua blindagem na Telefónica, a empresa colocou em seu fundo de pensão um aporte “extraordinário e único” no valor de 35,5 milhões de euros. Outro executivo com uma pensão de peso é Thomas Enders, presidente-diretor da Airbus (que tem sede na França mas também cotiza na Bolsa espanhola), no valor de 18,5 milhões de euros.

Cotas serão necessárias enquanto houver racismo, diz Janine Ribeiro Ministro diz que classe privilegiada deve sanar problema que é injusto. Discriminação requer ação afirmativa para negros, indígenas e pobres, diz.

O ministro da Educação Renato Janine Ribeiro (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)O ministro da Educação Renato Janine Ribeiro
(Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Políticas de ação afirmativa, como as cotas raciais e sociais, serão necessárias "enquanto houver racismo", afirmou o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro. Em entrevista exclusiva ao G1 na quinta-feira (30), em São Paulo, o ministro, que nesta semana completa um mês à frente do Ministério da Educação, disse que a desigualdade que resulta da discriminação de negros e indígenas "é uma realidade empírica".
"Isso requer medidas. E a medida mais adequada se chama ação afirmativa, que pode incluir ou não cotas, mas que é muito importante", afirmou o ministro.
O MEC adotou em agosto de 2012 a política de cotas sociais e raciais no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Em 2013, as universidades federais e institutos tecnológicos destinaram 12,5% das vagas para alunos de escolas públicas e, dentro deste universo, um percentual para estudantes autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. Em 2014, 25%. Em 2015, 37,5%. Em 2016, 50% das vagas serão para cotistas (veja ao final dessa reportagem um exemplo da distribuição das vagas pela lei das cotas).
Levantamento feito pelo G1 em 2014 apontou que, em 90% dos cursos do Sisu, os negros tiveram nota de corte menor entre os cotistas, e os alunos de rede pública passariam sem cotas em 11% dos cursos ofertados.
Atualmente, a USP dá bônus para estudantes da rede pública, e um bônus extra caso o estudante se encaixe na categoria PPI (preto, pardo ou indígena). "A USP se convenceu da importância de você favorecer o aluno egresso do ensino público. Mas até hoje, em termos de cotas raciais, ela foi tímida. Mas isso, de qualquer forma, está sendo colocado em discussão", disse o ministro.Professor aposentado de filosofia e ética da Universidade de São Paulo, Janine Ribeiro não se posicionou oficialmente nem a favor nem contra a implantação de cotas raciais e sociais na USP, que atualmente passa por um momento de pressão dos movimentos negros, estudantis e sindicais para ampliar sua política de ação afirmativa.
Leia a seguir trecho da entrevista de Renato Janine Ribeiro ao G1:
Qual é a sua opinião sobre as cotas?
Vamos falar no geral primeiro. Cotas são uma medida que é para ser provisória. Haverá cotas enquanto houver racismo. Quando você tiver realmente uma igualdade étnica, quer dizer, quando ninguém for discriminado por ser negro, ou descendente de negro, ou indígena, ou outros casos... Quando isso tiver sido superado, você não vai precisar de cotas. Agora, é uma realidade empírica que quando você vai, nos ambientes, vamos dizer, mais destacados, seja do dinheiro, seja da cultura, seja do poder, você encontra relativamente muito poucos negros ou descendentes de indígenas. Então, isso requer medidas. E a medida mais adequada se chama ação afirmativa, que pode incluir ou não cotas, mas que é muito importante.
O governo federal adotou como política que você tem uma certa reserva por grupo sobre metade das vagas. No caso da USP, Unesp, Unicamp, que são autônomas, que não são obrigadas a seguir a lei federal, elas sofrem uma pressão, e elas estão um tempo incorporando algum sistema desses.

A USP se convenceu da importância de você favorecer o aluno egresso do ensino público. Mas até hoje, em termos de cotas raciais, ela foi tímida. Mas isso, de qualquer forma, está sendo colocado em discussão.
É claro que, se nós tivéssemos para o negro, para o pobre, para o aluno de escola pública, para o indígena, um tratamento respeitoso, não seria necessário cota"
Renato Janine Ribeiro,
ministro da Educação
Qual é a sua opinião sobre as cotas especificamente na USP?
Eu, apesar de professor da USP, prefiro não tomar um partido veemente de um lado ou de outro. Mas é claro que, se nós tivéssemos para o negro, para o pobre, para o aluno de escola pública, para o indígena, um tratamento respeitoso, não seria necessário cota. E por outro lado, eu falei de grupos que, com frequência, sofrem muito. Realmente sofrem, de haver crimes contra eles, haver um preconceito intenso, gente que diz que são pobres porque são preguiçosos. Então, diante disso tudo, o fato de numa prova de admissão, num vestibular, um cotista ter nota 90, e um não-cotista ter nota 100, apenas quer dizer que os dois são iguais. Não são diferentes.
Curta-metragem acompanhou manifestação em favor de cotas raciais (Foto: Divulgação)Manifestação em favor de cotas raciais na USP (Foto: Divulgação/Bruno Bocchini/USP 7%)

O cotista precisou estudar muito mais, precisou ser muito bom, para chegar ao nível de uma pessoa que pertença à população mais privilegiada. Que é grande. O número de brancos no Brasil é enorme. Mas para eles a vida é mais fácil do que para um negro, ou outro.
Então, o argumento de qualidade contra as cotas não vale.

Um bom aluno discriminado deve ser comparado com um aluno não discriminado muito bom. Porque ele teve que enfrentar toda uma agenda injusta, desnecessária, até mesmo infame, que nós que aqui estamos nunca tivemos que enfrentar.
Nós temos uma vasta população hoje que não é racista, mas que às vezes não dá muita importância a isso, quando deveríamos dar"
Renato Janine Ribeiro
Acho que essa questão, sabe, a gente tem que deslocar um pouco. Questão de cotas não é mais uma questão de favorecer tais ou quais populações. Questão de cotas é a responsabilidade dos favorecidos historicamente em sanar um problema que é injusto.

Como assim?
Nós que aqui estamos não somos culpados pelo racismo. Mas somos responsáveis. Ser culpado quer dizer, nós teríamos instaurado o racismo? Não. Isso vem de longe. Claro, quem é racista hoje é culpado. Mas nós temos uma vasta população hoje que não é racista, mas que às vezes não dá muita importância a isso, quando deveríamos dar.

Esse é um ponto básico de justiça social. Nós temos pessoas que estão bem e que às vezes não percebem que, numa sociedade desigual, injusta, você estar bem muitas vezes é algo que se fazer como num balanço de criança. Quer dizer, um sobe e outro desce. Nós temos que acabar com isso. Isso é um princípio ético.
Exemplo de distribuição de vagas pela lei de cotas (Foto: Divulgação / MEC)Exemplo de distribuição de vagas pela lei de cotas (Foto: Divulgação / MEC)

“Trabalhamos com Dilma para que corte na Cultura não seja burro” Sociólogo defende legado "Gil-Juca" e diz que críticas de Marta foram "circunstanciais"

Juca na posse de seu segundo turno como ministro da Cultura. / ELZA FIÚZA (A. BRASIL)
Diante da crise econômica e política que se instalou definitivamente no Brasil após a reeleição de Dilma Rousseff, o país começa a assistir a uma série de medidas que tentam conter gastos, rever planejamentos e, ainda no meio de tudo isso, contornar o desânimo que se instala na sociedade. Na área de Cultura, historicamente uma das mais esquálidas dentro do bolo orçamentário da União, o impacto desse pacote costuma ser dos piores, e o setor teme pelo seu futuro.
Mesmo assim, o momento no Governo é de brigar por maiores fatias do bolo, e ele não se furta à luta, aproveitando, inclusive, a fase de dieta de Dilma para marcar posição: “Chegam três pessoas numa clínica de emagrecimento: um gordão, um com peso normal e um magricela. Se o médico disser assim: ‘Eu vou cortar 35% de todos vocês’, o obeso talvez depois tenha que reduzir ainda mais o peso e o magricela morre”, argumentou com a presidenta.Mas o sociólogo e ambientalista baiano Juca Ferreira, 66 anos, que assumiu pela segunda vez o Ministério da Cultura (sua primeira gestão foi em substituição a Gilberto Gil, entre 2008 e 2010), garante que não se surpreende, nem se assusta com a falta de dinheiro. “Para mim, orçamento baixo em Cultura é ponto de partida”, diz. E, em outro momento, reforça: "Dinheiro não é tudo".
É constante seu chamado à era “Gil-Juca” ao defender os projetos que tem desenhados para seu trabalho atual – como a reforma da Lei Rouanet, a criação do fundo ProCultura e a reativação dos Pontos de Cultura – e ao rebater críticas e acusações como as que a senadora e ex-ministra Marta Suplicy se acelerou em fazer assim que ele assumiu.
Mas, mesmo em terrenos espinhosos como esse e o da atual crise do PT, ele trata de manter a simplicidade das elaborações. “Ela se incomodou com o fato da presidenta ter me escolhido para coordenar a área cultural da campanha”, alfineta, sobre o desencontro com Marta. Critica a ex-prefeita nas entrelinhas, mas evita o alarde: “Foi apenas algo circunstancial”.
Pergunta. Que balanço você faz desses primeiros meses novamente à frente do Ministério de Cultura?
Resposta. Completamos cem dias recentemente. Quando cheguei, percebi que parte do que tínhamos construído tinha se enfraquecido. Algumas políticas e programas tinham perdido força e, internamente, o Ministério precisava ser reaquecido. Eu trabalho sempre com a perspectiva de que é preciso modernizar e dar eficiência ao Estado brasileiro. Conversei com a presidenta quando assumi e disse: “Olha, encontrei um Ministério com dificuldades de funcionamento, mas nada que em três meses a gente não resolva”. E a gente já começa a ter um perfil de um Ministério moderno, contemporâneo. Retomamos esses programas, como os Pontos de Cultura, revitalizando-os e assumindo toda uma plataforma nova.
A Lei Rouanet constitui uma pirâmide de privilégios e está absolutamente concentrada. Quase 90% do dinheiro fica na região Sudeste, e 80% fica dentro do Rio e de São Paulo, e no Rio e em São Paulo beneficia sempre pros mesmos.
P. Dizem que fazer algo pela segunda vez é mais fácil. Você concorda?
R. A gente amadurece. Na primeira vez, tivemos que fundar um conceito de gestão cultural. O Ministério já existia há mais ou menos 20 anos, quando o assumimos, em 2003. Mas até Gilberto Gil, o Ministério da Cultura não tinha dito a que veio. Não fazia nenhuma intervenção ampla, não trabalhava pras necessidades e demandas da população. Era um Ministério que se relacionava com alguns artistas, não trabalhava com o conceito de política pública. E nós o fundamos. Questionamos o modelo de desenvolvimento o tempo inteiro. Se você vir, as falas de Gil e minhas sempre foram no sentido de que é preciso Educação de qualidade, ao acesso de todos, e também acesso pleno à Cultura. Passei dois anos na Espanha, em Madri, trabalhando na secretaria geral ibero-americana, e pude fazer um balanço. Vi que tínhamos ampliado o conceito de cultura, fortalecemos muito a dimensão sociocultural através do protagonismo da sociedade e da valorização de todas as manifestações culturais. Percebi também que tínhamos trabalhado menos as linguagens artísticas. Agora vamos reconstituir políticas paras as artes que respondam às necessidades do século XXI, o que já reflete essa maturidade.

Facebook, censura e indígenas

Retrato de índios botocudos de 1909, feito por Walter Garbe.
Dias depois de a presidente Dilma Rousseff anunciar parceria do Governo federal com o Facebook no mês passado, o site de Marc Zuckerberg voltou a ser notícia em Brasília. O ministro da Cultura convocou uma entrevista coletiva para anunciar que a pasta entraria com medidas legais contra a rede social por causa da censura de uma foto de indígenas botocudos. O casal, retratado no começo do século passado, estava na página do Minc no Facebook.
"Fomos surpreendidos com censura de uma foto de um portal nosso", conta Juca Ferreira, citando oBrasiliana Fotográfica, criado por uma parceria da Biblioteca Nacional e o Instituto Moreira Salles para disponibilizar fotografias históricas. "Ligamos pro Facebook, e eles disseram que não se submetem à legislação dos países onde operam e sim ao tribunal da Califórnia. Eu achei que eles estavam agredindo a soberania brasileira e também os povos indígenas, que vão ter que se travestir de não índio para aparecer no Facebook... Isso é um tipo de etnocídio – simbólico, mas etnocídio", segue o ministro.
O Facebook voltou atrás na censura e a foto dos indígenas foi republicada. A empresa disse que "assim como qualquer outra mídia, temos limitações com nudez" e que está aberta a receber "feedback".
Mas, para o ministro, a história não termina aí. Ele promete levar o caso a fóruns internacionais. "É preciso regulamentar democraticamente a rede, para que ela não tenha esses sistemas supranacionais, sem nenhuma transparência de critérios. Nós não somos obrigados a importar o moralismo americano. Mais da metade dos brasileiros, 53%, confunde Facebook e Internet. E o uso aqui é um dos maiores do mundo. É um instrumento público, administrado por uma empresa privada. A gente reconhece a importância do Facebook, mas essas empresas globais, que operam nas nuvens, têm que se submeter a normas e padrões internacionais de legislação."
P. Você está me falando da sua concepção de cultura. A presidenta citou a “pátria educadora” ao assumir o segundo mandato. Na sua opinião, por que cultura e educação andam pouco de braços dados no Brasil e o que você prevê para enlaçar essas duas áreas irmãs?
R. Já temos algumas ações que vêm da minha época, como o Mais Cultura nas escolas e universidades, e há outras relações em parceria com o Ministério da Educação, mas evidentemente é insuficiente. Hoje, a escola está disponível para o conjunto da população brasileira em todo o território nacional, mas é preciso qualificar a Educação. Já tivemos uma primeira reunião com o ministro da Educação, Renato Janine, que foi excelente, e definimos um programa de longo, médio e curto prazo que supere essa dificuldade de interação entre as duas áreas. Cultura e arte têm que estar presente no currículo das escolas e no turno em que os estudantes não estão na sala de aula. É preciso disponibilizar o deleite estético, o acesso à linguagem artística...
P. O momento político é especialmente delicado, e talvez por isso críticas não faltem. Como você reage às críticas ao seu trabalho, em especial às críticas e acusações de "desmandos" da senadora e ex-ministra Marta Suplicy?
R. Na verdade, a gente tem sido elogiado. Minha posse foi a que teve a maior quantidade de gente entusiasmada. Houve uma demanda de amplos setores da cultura, de artistas, produtores culturais e representantes de povos indígenas de que eu voltasse pro Ministério, porque houve uma quebra de um processo de democratização e de qualificação da ação do Estado na área cultural. Cheguei energizado por um apoio muito grande de amplos setores. O incidente com a Marta foi muito circunstancial e passageiro. Nunca tinha tido problema com ela, inclusive eu a elogiei no passado, dizendo que ela era a possibilidade da volta do Ministério ao século XXI. Mas, quando começou o processo de afastamento do PT, ela se incomodou com o fato da presidenta ter me escolhido para coordenar a área cultural da campanha. Ficou muito enciumada. Quando o presidente Lula estava falando em um ato de campanha no Rio de Janeiro e fez referência à presença dela e à minha, eu fui mais aplaudido do que ela. Aquilo criou um constrangimento, e depois saiu um coro, inclusive: “Volta, Juca! Volta, Juca!”. Ali começou uma dificuldade, e depois ela fez uma insinuação que teria ocorrido “desmandos” na minha gestão. Eu sei ao que ela está se referindo: aos Pontos de Cultura, dizendo que eles não prestavam conta do recurso público que recebiam. E à Cinemateca Brasileira.
P. Qual é a situação da Cinemateca?
R. O cinema brasileiro perdeu boa parte dos seus filmes. Tem décadas do século passado que já não têm nem a metade dos filmes disponíveis, porque o tempo corroeu as cópias. Então, nós, ainda na gestão de Gil, percebemos que era preciso investir na memória do audiovisual brasileiro. Investimos 105 milhões de reais na Cinemateca e a equipamos. Hoje, ela é considerada a terceira melhor cinemateca do mundo. O processo de suspensão [da Sociedade dos Amigos da Cinemateca] está sendo concluído agora, e eu tenho certeza de não tem nenhuma anormalidade. A insinuação da Marta foi fruto desse processo de ir constituindo um afastamento do PT. Pra mim, foi circunstancial, e dei a resposta que tinha que ser dada. Ela foi irresponsável no comentário. Você não pode disponibilizar a ética de pessoas decentes pro jogo político. Isso é próprio da política brasileira. Hoje, ninguém xinga a mãe do outro. Diz que é corrupto, e aí a pessoa passa anos tentando provar que não é. Mas, com alguém que já tem mais de 45 anos na política e nunca teve nenhum deslize, não é muito difícil mostrar a irresponsabilidade da insinuação.
P. A Lei Rouanet já se tornou uma bandeira da sua atual gestão. Aonde você gostaria de levá-la?
R. É uma bandeira desde a gestão passada. Eu rodei o Brasil por oito anos, como secretário executivo e ministro, discutindo a Lei Rouanet. Preparamos um projeto de substituição da lei por um outro modelo de modelo de financiamento e fomento à cultura. A Rouanet constitui uma pirâmide de privilégios e está absolutamente concentrada. Quase 90% do dinheiro fica na região Sudeste, e 80% fica dentro do Rio e de São Paulo, e no Rio e em São Paulo beneficia sempre pros mesmos. Quem define como usar esse dinheiro, que é público, fruto de 100% de renúncia fiscal, são os departamentos de marketing das empresas. Só usam esse dinheiro em produções que podem reforçar a imagem da empresa. É uma distorção absoluta: usar dinheiro público com critérios privados... É um ovo de serpente do período em que o neoliberalismo predominou nas políticas governamentais no país, na época do Collor. E sobrevive até hoje, porque gerou interesses, e esses interesses resistem à ideia de você criar um fundo nacional. Só que quem define o uso do dinheiro público são as estruturas públicas, com critérios públicos. Não sou jurista, mas tenho certeza que é uma lei inconstitucional. Tem um princípio constitucional que diz que o uso do dinheiro público não é fruto do livre arbítrio do gestor. Todo projeto de lei tem um arrazoado inicial, que é justamente o custo-benefício daquela ação. Usar dinheiro do Estado com critérios de marketing e sempre transversalmente aos interesses e às necessidades culturais do país? É uma maneira de privatizar um recurso público.
O evento mais visto do mundo é a abertura das Olimpíadas. Nas duas solenidades, a abertura e o encerramento, a gente vai acompanhar e dar alguma opinião. Eu não sei dizer o que podemos esperar, mas queremos ter uma interferência e o mínimo de recurso
P. E de que maneira o ProCultura poderá contornar essa situação?
R. O ProCultura criou um fundo nacional para financiar as atividades culturais da população. Define uma grade critérios complexa, inclusive proporcionalidades, a depender da densidade populacional, da riqueza cultural, da quantidade de projetos... Avalia-se os projetos, sob o ponto de vista do mérito e da relevância pra cultura do país, e quando há interesse da empresa se associar, ela tem que botar no mínimo 20%, porque em uma verdadeira parceria as duas partes têm que de alguma maneira colaborar. Hoje, o Governo entra com dinheiro e a empresa decide pra quem vai.
P. E outras bandeiras do seu trabalho como ministro da Cultura, desde antes, como os Pontos de Cultura, os direitos autorais e o Vale Cultura... O que podemos esperar?
R. Os Pontos de Cultura já estão sendo reativados. Nós acabamos de regulamentar a lei Cultura Viva – que abriga o programa –, o Congresso aprovou e já estamos preparando os primeiros editais. Sobre o Vale Cultura, nesse momento de retração econômica, os empresários resistem em incorporar qualquer benefício aos trabalhadores, mas vamos negociar. Uma ou outra dificuldade operacional que surgiu, nós vamos corrigir. Em direitos de autor, estamos avançando. Mais de 60.000 pessoas participaram diretamente das reuniões técnicas, conversas e seminários, trouxemos especialistas de outros lugares do mundo e preparamos um projeto. Tivemos uma resistência enorme do ECAD, porque insistíamos que a arrecadação da instituição era feita sem nenhum controle por parte do artistas e da sociedade. A outra parte, que é a modernização do direito autoral, a ponto de garanti-lo num ambiente digital, nós ainda vamos viver. O último esforço será reapresentar a proposta no Congresso, para poder ter uma lei que seja capaz de garantir a realização plena do direito autoral no Brasil.
P. Você é familiarizado com a programação cultural e o orçamento do Sesc-SP? Como se sente tendo um orçamento menor que o deles no Minc, se descontados os valores de lei de incentivo?
R. Sou, bastante. É um orçamento invejável. Acho são 1,5 bilhões de reais, e sem a responsabilidade que nós temos de fomentar, apoiar, criar infraestrutura e transferir recursos. Mas nem tudo é dinheiro. A gente avançou muito nos conceitos e continuamos avançando. Hoje, reconhece-se internacionalmente que nós estamos fundando um novo conceito de gestão cultural, ou seja, da presença do Estado democrático junto à cultura. Nós vamos criar uma cátedra com a chancela das Nações Unidas para aprofundar a elaboração deste conceito de gestão cultural desenvolvido aqui. Isso já nos garante a possibilidade de dar saltos de qualidade. Segundo, quando nós chegamos no Ministério, em 2003, o orçamento era 287 milhões. Quando eu saí, em 2010, era de 2,3 bilhões. É um crescimento avassalador. Perdemos um pouco de lá pra cá, pela perda de protagonismo do Ministério da Cultura. Mas isso é conquistado. O dinheiro vai aparecendo à medida em que você vai trabalhando e evoluindo. Pra mim, é ponto de partida orçamento baixo. Eu luto por aumentar, mas não é um impeditivo para avançar.
P. E qual é a perspectiva para o orçamento da pasta neste ano?
Estamos trabalhando com a presidenta para que o corte não seja burro, não seja igual para todas as áreas. A Cultura tem um percentual muito baixo dentro do bolo orçamentário
R. Estamos trabalhando com a presidenta para que o corte não seja burro, não seja igual para todas as áreas. A Cultura tem um percentual muito baixo dentro do bolo orçamentário, mas você pode fazer um manejo. Tem uma PEC – à qual sou totalmente favorável – que está tramitando e que tenta criar um índice mínimo do orçamento para a Cultura: 2% no Governo federal, 1,5% nos Governos estaduais e 1% nos municípios. Quando fui argumentar com a presidenta e o conjunto de ministros da área econômica, disse: “Presidenta, eu vou usar uma metáfora que, como você está fazendo dieta, vai compreender. Chegam três pessoas numa clínica de emagrecimento: um gordão, um com peso normal e um magricela. Se o médico disser assim: ‘Eu vou cortar 35% de todos vocês’, o obeso talvez depois tenha que ir ainda pra uma nutricionista para reduzir ainda mais o peso; o de peso normal vai sair um pouco enfraquecido, mas tem todas as condições de rapidamente se recuperar; mas o magricela morre”. Evidentemente dei uma sustentação técnica com os gráficos da perda desse orçamento que conquistamos nos oito anos do presidente Lula, e conseguimos sensibilizá-la. Agora estamos na fase de negociação. Estranhamente, o Brasil ainda não tem o orçamento definitivo. Mas estão fechando, e vamos ser tratados com um nível de cuidado maior.
P. Você criticou o programa cultural apresentado para a Copa do Mundo. O que virá para as Olimpíadas?
R. Todo mundo reconhece que foi muito ruim. É o tipo da crítica que, até agora, não teve nenhum rebatimento. Ninguém defendeu. Me ofereci, e o Governo federal aceitou que eu participe do comitê que está organizando as atividades culturais da Olimpíada. Nas duas solenidades, a abertura e o encerramento, a gente vai acompanhar e dar alguma opinião. Eu não sei dizer o que podemos esperar, mas queremos ter uma interferência e o mínimo de recurso. O evento mais visto do mundo é a abertura das Olimpíadas, são quatro bilhões de pessoas que assistem. É uma oportunidade do Brasil se apresentar, e há muito mais países envolvidos do que na Copa. É um excelente momento pra gente fortalecer a presença da cultura brasileira no mundo e no próprio Brasil.
P. Qual é o diálogo que a cultura brasileira mantém com o exterior hoje?
R. Existe um forte diálogo. Nas feiras literárias, por exemplo, a gente tem sido homenageado por vários países do mundo. Nós temos um programa de tradução de escritores brasileiros no exterior, que tem sido muito bem-sucedido. Já temos mais de cem autores com três, quatro obras traduzidas. Isso tem colocado esses autores nas estantes do mundo inteiro e tem tido uma boa receptividade. É um programa que eu pretendo fortalecer e apoiar.
P. O meio editorial teme pelo fim desse programa.
R. Eu não posso garantir nada, porque a gente está negociando a redução do corte orçamentário, mas é um programa pelo qual eu tenho muito apreço, e a gente quer fortalecê-lo. É normal que as pessoas pressionem no sentido de continuar, porque é um programa bem sucedido.
P. Você tem críticas ao atual Governo e ao PT, que lida com escândalo de corrupção na Petrobras?
O Governo Lula conseguiu melhorar o padrão de vida das pessoas, aumentando o poder aquisitivo, mas teve uma incidência mais dentro de casa e dentro da cabeça das pessoas.
R. Não é de bom tom que um ministro fique fazendo críticas ao Governo do qual ele participa. Há uma necessidade de compartilhamento das dificuldades. É semelhante a casamento. “Na riqueza e na pobreza. Na alegria e na tristeza...”. Quando a presidenta me convidou [para ser ministro], ela disse que queria uma retomada do desenvolvimento cultural que tínhamos deflagrado no Governo Lula. Por outro lado, acho que a crise econômica internacional chegou ao Brasil. De alguma maneira, nós nos atrasamos um pouco em tomar as medidas necessárias. A economia brasileira precisa entrar na área de economias com grande valor agregado – e a economia cultural é uma possibilidade de diversificação. Se não, com a atual dependência de commodities agrícolas e minerais, a gente oscila junto com os ciclos econômicos mundiais. Acho que outro aspecto negativo é que a corrupção no Brasil é forte e generalizada – não é de um partido nem de um Governo. Se fosse unilateral seria mais fácil... É preciso constituir uma nova base e ter mais rigor do que se tem. Por fim, os serviços públicos no Brasil são muito ruins. O Governo Lula conseguiu melhorar o padrão de vida das pessoas, aumentando o poder aquisitivo, mas teve uma incidência mais dentro de casa e dentro da cabeça das pessoas. Quando elas saíram da contingência da necessidade absoluta com um pouco de recursos, passaram a querer uma vida mais saudável. A mobilidade é péssima, o sistema de saúde é péssimo, a educação ainda está muito aquém da necessidade... Nessa atualização do Estado brasileiro, o Governo precisa se empenhar de uma forma mais decisiva pra que a gente possa reverter a expectativa negativa que existe no momento no Brasil.

Quem é Juca Ferreira

Ex-militante estudantil, Juca Ferreira (Salvador, 1949) passou nove anos exilado no Chile, na Suécia e na França, onde se formou em Sociologia, durante o regime militar brasileiro. De volta ao Brasil, assumiu diferentes funções na área de cultura e de meio ambiente – entre elas, foi Secretário de Meio Ambiente da prefeitura de Salvador e também assessor especial da Fundação Cultural do Estado da Bahia, além de duas vezes vereador em Salvador – até se tornar secretário executivo de Gilberto Gil, quando o cantor e compositor assumiu o Ministério da Cultura, em 2003. Cinco anos mais tarde, com a saída de Gil, ele deixa o papel de braço direito para assumir o comando da pasta.
A experiência sob Lula e Gil definiu para Juca uma espécie de legado calcado no desenvolvimento de políticas públicas, no estímulo da diversidade cultural brasileira e no que ele chama de modernização e democratização da Cultura no país. 

domingo, 3 de maio de 2015

Microsoft prepara-se para lançar dois smartphones topo de gama

Desde que assumiu o controlo sobre a divisão de dispositivos móveis da Nokia que a Microsoft se tem concentrado em criar novos dispositivos para cobrir mercados onde ainda não existia uma oferta sua.
De fora têm ficado os equipamentos de topo, que interessam a um grande grupo de utilizadores. É neste campo que a Microsoft vai investir e onde se prepara para lançar dois novos modelos, que vão ser os seus dispositivos mais avançados. Um rumor vindo de uma fonte fiável vem lançar esta ideia.
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Ainda não existe qualquer confirmação sobre o que estes novos modelos vão ser e em que altura vão ser lançados, mas é quase certo que a Microsoft se preparará para lançar algumas novidades quando colocar no mercado a versão dedicada aos dispositivos móveis do Windows 10.
Por ser um momento chave de toda a estrutura da Microsoft, não apenas a nível do software que produz mas também ao nível do hardware que tem agora capacidade de produzir, a Microsoft deverá apresentar dois modelos que se destaquem não apenas dentro da sua oferta, mas também dentro do mercado onde está inserida.
Os novos modelos, que se julgam ser lançados quando o Windows 10 estiver pronto, vão chegar já com este SO instalado de raiz e criados para dar a melhor integração com este sistema.

Cityman

Este será o modelo que representará o topo de gama da Microsoft e terá um ecrã QHD de 5.7 polegadas, um processador Qualcomm octa-core, 3GB RAM, 32GB de memória interna com um slot para um cartão microSD.
As câmaras serão de 20 megapíxeis, a traseira, e de 5 megapíxeis, a frota. O Lumia Cityman terá uma bateria de 3300 mAh, removível.

Talkman

Este modelo, com características ligeiramente inferiores ao Cityman, terá um ecrã QHD de 5.2 polegadas, um processador de 6 cores da Qualcomm, 3GB de RAM, 32GB de memória interna e slot para catão microSD.
Também as câmaras são similares, com a traseira a ser de 20 megapíxeis e a frontal de 5 megapíxeis. A bateria é ligeiramente inferior, com 3000 mAh, também removível.
Os rumores indicam que este modelo será muito similar ao Lumia 930, mas com as devidas actualizações, não apenas a nível de hardware mas também do próprio design.
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Ainda não existe qualquer informação sobre os processadores que vão equipar estes dois modelos, mas esperam-se que sejam os Snapdragon 810 ou Snapdragon 808. O suporte para sistema de 64bits vai estar presente, graças a estes processadores.
Há ainda a possibilidade destes novos equipamentos terem presente novos flashs com três leds, cada um conseguindo um tom específico de luz, para garantir imagens com luminosidade mais natural.
Mas as novidades não se vão ficar no hardware. A fonte que lançou a novidade destes dois novos modelos garante que a Microsoft irá em breve anunciar um sistema similar ao Hand-off da Apple, e que permitirá a qualquer utilizador do Windows 10 atender ou fazer chamadas directamente do desktop ou receber ou enviar SMSs desta plataforma, sempre pelo telefone.
Ainda falta algum tempo para a Microsoft revelar a versão final do Windows 10 para os smartphones, mas estes novos equipamentos vão de certeza surgir.
Vão ser a montra do que de melhora a Microsoft consegue criar e as plataformas ideais para correr o Windows 10 no mundo dos smartphones.

Cresce a desigualdade O aumento do contraste entre remunerações não favorece a produtividade e muito menos a necessária coesão nos quadros de funcionários

As diferenças nas remunerações salariais são uma das causas daampliação da desigualdade na distribuição da renda verificada em muitas economias desenvolvidas nas duas últimas décadas. Foi o que mostrou a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com dados até 2008. A crise ampliou notavelmente as diferenças, não só por causa do elevado desemprego, como também das desvalorizações salariais. A Espanha é um dos casos mais explícitos da Europa. A outra causa que explica a crescente desigualdade é o diferente comportamento das rendas provenientes do trabalho e das originadas pelo capital. A expansão destas últimas é evidente à medida que se consolida a recuperação do crescimento econômico, mas não ocorre a mesma coisa com os salários. Principalmente os daqueles trabalhadores com menor qualificação ou dos que foram contratados recentemente. A precariedade é acompanhada por salários médios por hora trabalhada mais baixos – que, juntamente com os ganhos de produtividade derivados do menor emprego, ajudam a explicar a queda dos custos por unidade produzida e, consequentemente, a recuperação dos lucros em muitas empresas.

Os componentes de remuneração associados ao cumprimento de objetivos, os denominados bônus, que costumam variar conforme os lucros obtidos ou qualquer indicador de geração de valor nas empresas, são concedidos na maioria das empresas aos diretores, enquanto o restante dos funcionários que contribuem para esses excedentes fica de fora desse componente variável de remuneração. O resultado não pode ser outro senão a ampliação do abismo entre os mais bem pagos e o resto.A evolução dessas diferenças é mais notada quando se comparam as remunerações no seio das mesmas empresas entre os profissionais que ocupam cargos de direção e o restante dos trabalhadores. O relatório mostra bem isso. Os cargos na alta direção e nos conselhos de administração sofreram, em média, menos que o total dos salários da maioria dos funcionários. As remunerações de conselheiros e altos diretores cresceram a uma taxa de dois dígitos em 2014, enquanto as da maioria dos empregados continuaram caindo. Nas empresas de capital aberto, a diferença é notável, sem que existam elementos que permitam antecipar a redução dessa variação desigual.
O aumento do contraste entre remunerações não favorece a produtividade e muito menos a necessária coesão nos quadros de funcionários. Não é um mecanismo de estímulo ou de incentivo, muito pelo contrário. Pode acabar distanciando os objetivos da maioria dos trabalhadores daqueles buscados pelos proprietários, os acionistas. E, em casos que não são poucos, é algo difícil de justificar em termos de criação de valor. Só pode ser explicado pelo diferente poder de negociação de uns e outros.
Não são poucos os estudos que destacam as ameaças da desigualdade excessiva à estabilidade do próprio crescimento econômico. As tensões sociais e o desprezo em relação ao próprio sistema econômico são custos que devem ser levados em conta.