domingo, 19 de abril de 2015

Novo teclado BlackWidow Tournament Edition Chroma chega em junho ao Brasil

Razer acaba de lançar o novo teclado da linha BlackWindow. O modelo Chroma Tournament Edition se destaca pela ausência do teclado numérico e a retroiluminação com mais de 16 milhões de cores. De acordo com a empresa, o modelo deve chegar em junho às lojas brasileiras e seu preço será "salgado": ele vai custar R$ 599.
Teclado voltado para público gamer possui retro iluminação com mais de 16 milhões de cores (Foto: Divulgação/Razer)Teclado voltado para público gamer tem iluminação com mais de 16 milhões de cores (Foto: Divulgação/Razer)
A ausência do teclado numérico fez com que o periférico tivesse uma redução significativa do tamanho. Ele também perdeu os botões de macro do lado esquerdo em comparação com os outros modelos da linha BlackWindow.
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A versão compacta é ideal para quem precisa levar o teclado para eventos e campeonatos presenciais. No entanto, a ausência do botões adicionais pode fazer falta para quem joga games do tipo MMORPG e RTS.
BlackWidow Tournament Edition Chroma é mais compacto do que outros modelos da linha (Foto: Divulgação/Razer)BlackWidow Tournament Edition Chroma é mais compacto do que outros modelos da linha (Foto: Divulgação/Razer)
Sem dúvida, o que mais chama a atenção é a retroiluminação. As milhões de cores dão ainda mais possibilidade de personalização por parte do usuário. Outro ponto positivo são as teclas mecânicas, o que aumenta significativamente a sensibilidade e o tempo de resposta. 

Windows Phone vai ganhar Office sensível a toque Dispositivos iOS e Android possuem versões parecidas.

A Microsoft vai lançar até o fim do mês uma nova versão sensível a toque do Office, dedicada aos usuários do Windows Phone.
Disponível para usuários iOS e Android desde 2014, a variante tem nome próprio – Office Universal – e capacidade de adaptação aos atributos dos smartphones e tablets.
A empresa deve liberar até o fim do ano novas versões domésticas para o programa. A interface doOffice para Mac, divulgada em março, tem recebido elogios de consumidores – que baixaram a série experimental – e especialistas.

Impressionante! WhatsApp chega a 800 milhões de usuários ativos mensais.

A meta é bastante aguardada: o próprio Mark Zuckerberg já afirmou que espera que o WhatsApp contribua financeiramente para o sucesso do Facebook após atingir a marca de um bilhão.
Que o WhatsApp não para de crescer em popularidade quase ninguém duvida. Porém, nem mesmo os fãs mais otimistas do aplicativo de troca de mensagens poderiam imaginar que a ferramenta atingiria números tão incríveis, mesmo com uma crescente concorrência de apps como Viber e Telegram.
O CEO do WhatsApp, Jan Koum, anunciou em sua página no Facebook que o mensageiro atingiu a marca de 800 milhões de usuários ativos mensais. Esse é um aumento de 33% comparado a agosto do ano passado. Já em janeiro de 2015, a conta “ainda” marcava 700 milhões — e a previsão é que o número mágico de um bilhão seja alcançado até dezembro.
A meta é bastante aguardada: o próprio Mark Zuckerberg já afirmou que espera que o WhatsApp contribua financeiramente para o sucesso do Facebook após atingir a marca de um bilhão.
O próprio Koum reforça que a marca é de quem utiliza o WhatsApp com frequência de atividade no mínimo mensal, não somente os usuários registrados — esse número deve ser maior, porém é menos preciso na hora de medir o desempenho do app.

Luke Rockhold atropela Lyoto Machida e finaliza brasileiro no segundo assalto Depois de quase liquidar o combate no primeiro round, americano encaixa um mata-leão e consegue sua quarta vitória consecutiva. Destino pode ser luta por título


Uma atuação daquelas de impressionar qualquer pessoa. Foi o que Luke Rockholdconseguiu contra Lyoto Machida na luta principal do UFC: Machida x Rockhold, neste sábado, em Newark (EUA). O americano encaixou um mata-leão, sacramentando o seu triunfo aos 2m31s do segundo round, depois de atropelar o brasileiro no primeiro assalto. Agora, o número 4 do ranking do peso-médio (até 84kg) pediu para lutar pelo título da categoria e desafiou o campeão Chris Weidman, que vai enfrentar Vitor Belfort no dia 23 de maio, no UFC 187, em Las Vegas (EUA).
- Vocês ouviram a minha música de entrada? Eu sou o melhor aqui. Eu fiz a minha parte. Weidman, você já fez a sua? Madison Square Garden, vamos fazer a nossa história lá. Nos embolamos um pouco, acertei uma cotovelada, e sabia que tinha pego. Me senti muito bem. Confio em mim mesmo, sei que posso trocar com os melhores caras do mundo. O que mais posso dizer? - afirmou Rockhold, logo após a vitória, ainda no octógono.
Luke Rockhold UFC MMA (Foto: Getty Images)Luke Rockhold comemora vitória dominante sobre Lyoto Machida (Foto: Getty Images)
Apesar de andar para trás o tempo todo, Lyoto começou agressivo, colocando bons socos. Mas uma direita de Rockhold acabou derrubando o Dragão, que precisou escapar de uma guilhotina no chão. O americano foi para a montada, mas Machida conseguiu fechar a guarda. Ele cedeu as costas pouco depois, mas ficou de pé. Rockhold seguiu mochilado, e o brasileiro fez o giro e ficou de frente, mas com as costas no chão. Lyoto voltou a ceder as costas e levou muitos golpes, que deixaram o olho direito muito inchado. Rockhold ainda encaixou um mata-leão nos segundos finais, mas o brasileiro resistiu e terminou sendo muito atingido.
Um chute no tórax foi colocado por Rockhold no início, e Lyoto ainda parecia atordoado com o atropelo do primeiro round. O brasileiro tentava entrar no raio de ação, mas acabou se desequilibrando sozinho, e o americano aproveitou para manter o rival no solo. Rapidamente Rockhold foi para as costas, fechou o mata-leão, e o brasileiro bateu em desistência. 
Luke Rockhold Lyoto Machida UFC MMA (Foto: Getty Images)Luke Rockhold não deu chances para Lyoto Machida (Foto: Getty Images)
Luke Rockhold venceu pela 14ª vez na carreira, em 16 combates. Lyoto Machida sofreu seu sexto revés em 28 duelos.
UFC: Machida x Rockhold
18 de abril, em Newark (EUA)
CARD PRINCIPAL
Luke Rockhold venceu Lyoto Machida por finalização aos 2m31s do R2
Ronaldo Jacaré venceu Chris Camozzi por finalização aos 2m33s do R1
Max Holloway venceu Cub Swanson por finalização aos 3m58s do R3
Paige VanZant venceu Felice Herrig por decisão unânime (30-27, 30-26 e 30-26)
CARD PRELIMINAR
Beneil Dariush venceu Jim Miller por decisão unânime (triplo 29-28)
Ovince St. Preux venceu Patrick Cummins por nocaute técnico aos 4m54s do R1
Gian Villante venceu Corey Anderson por nocaute técnico aos 4m18s do R3
Aljamain Sterling venceu Takeya Mizugaki por finalização aos 2m11s do R3
Tim Means venceu George Sullivan por finalização aos 3m41s do R3
Diego Brandão venceu Jimy Hettes por nocaute técnico (interrupção médica) aos 5m do R1
Chris Dempsey venceu Eddie Gordon por decisão dividida (29-28, 28-29 e 29-28)

sábado, 18 de abril de 2015

Brasil tem ministérios de sobra e carece de hospitais, casas e escolas Em contraste os EUA têm só 15, a Alemanha 14, a França 16 e a Argentina, 13 cada

Cinquenta e um por cento dos brasileiros sofrem de sobrepeso. Curiosamente, também o Governo da presidenta Dilma Rousseffsofre do mesmo problema: metade dos ministros está sobrando, enquanto o país ainda precisa de mais e melhores hospitais e escolas. E oito milhões de moradias.
Hoje, só três países importantes têm dois ou três ministros a mais que o Brasil. Todos outros têm menos da metade.
Uma das reivindicações apresentadas pelos diferentes grupos que organizaram as manifestações no Brasil é a diminuição pela metade do atual número de ministros.
O Brasil tem, de fato, 39 ministros, contra, por exemplo, os 14 da Alemanha, o país mais rico da União Europeia. Ou contra os 15 dos EUA, a maior potência mundial, que conta com 24 ministros a menos que o Brasil. Ou contra os 16 da França ou os 18 da Itália. Até a Venezuela com seus 32 ministros fica abaixo, assim como o México com 19, o Chile com 18, a Colômbia com 16 ou a Argentina com 13.
O que à primeira vista poderia ser visto como algo positivo, revela-se um impedimento não só em relação ao gasto público que isso representa, mas também à eficiência da gestão.Entre os poucos países que têm dois ou três ministros a mais que o Brasil figuram a Índia, o Canadá e a China, enquanto a Itália e a França juntas contam com cinco a menos que o Brasil.
Segundo o austríaco Meter Drucker, um dos maiores especialistas mundiais do ramo, o número ideal de ministros para a gestão eficaz de um governo seria pouco mais de dez, no máximo 20. Isso significa que o Brasil tem 29 ministros a mais que o ideal e 19 a mais que o máximo de 20, cifra considerada o limite para assegurar tanto a efetividade da gestão, como a possibilidade de o presidente ou o primeiro-ministro manter com eles um diálogo permanente.
De fato, a grande maioria dos países mais importantes e prósperos do mundo e inclusive da América Latina não chega aos 20 ministros. Usando uma expressão de Lula se poderia dizer que “nunca este país” teve tantos ministros. E, no entanto, esse recorde acaba se revelando negativo já que, além de ser difícil, quase impossível, que esses 39 ministros possam manter uma relação pessoal e constante com o presidente, impede que possam ser grandes personalidades como exigiriam desses responsáveis os campos estratégicos da administração pública nacional.
Quantos desses 39 ministros têm seus nomes conhecidos pelos brasileiros? Quantos deles são conhecidos fora do país, inclusive nas chancelarias internacionais? Quantos possuem um currículo de peso? Quantos dominam outras línguas ou são especialistas na matéria de seus respectivos ministérios?
Lembro que ao tomar posse como ministro da Pesca, o evangélico Marcello Crivella agradeceu à presidenta Dilma Rousseff a confiança depositada nele, mas, em tom de brincadeira, lembrou que não sabia nem “colocar minhoca no anzol”. Tal como são concebidos os motivos para nomear os ministros no Brasil, essa total falta de experiência de Crivella tinha pouca importância. Quanto sabe de pesca Ideli Salvati, que também foi ministra dos habitantes de mares e rios? Foi também de Relações Internacionais e até de Direitos Humanos, ou seja um gênio de multifacetada sabedoria.
Quantos dos 39 ministros são, na realidade, não digo gênios, mas pelo menos especialistas em sua matéria?
Qual é o gasto inútil da burocracia engendrada em Brasília por esse esbanjamento de ministérios? Quantos hospitais e escolas, quantas casas populares poderiam ser erguidas com essa extravagância ministerial?
O problema de fundo da política federal do Brasil é que os ministros quase nunca são escolhidos procurando o melhor do lugar em sua especialidade, seus nomes são apresentados pelos partidos por interesses de poder interno do grupo, mais que por critérios de biografia.
Tal como funciona neste país a política de um parlamentarismo camuflado de presidencialismo, esse número exorbitante de ministros, dos maiores do mundo, serve só para distribuir cargos e benesses a uma base de partidos que apoiam o Governo em troca de interesses bem concretos.
O Brasil tem hoje representados no parlamento mais partidos ávidos de cargos que a metade dos partidos europeus juntos. Sua drástica diminuição deveria ser o primeiro artigo da nova reforma eleitoral.
Comenta-se muito a dificuldade da presidenta Dilma de ter um diálogo tranquilo e permanente com todos e cada um de seus ministros. Deixando de lado a possível dificuldade de caráter centralista da presidenta, que resiste em delegar funções, e seus problemas de temperamento que a tornariam alérgica a dialogar com os ministros, não resta dúvida de que até o presidente mais aberto ao diálogo teria dificuldade em manter uma relação eficaz e contínua com esse exército de ministros mais preocupados, muitas vezes, em contentar e lubrificar seus respectivos partidos de origem que em levar a cabo um eficiente trabalho político no campo que lhe foi confiado.
Argumenta-se que a economia de gasto público resultante da redução dos ministérios pela metade não resolveria a atual crise econômica. Sem dúvida, mas há gestos simbólicos que podem ter uma grande força de recuperação e de confissão dos próprios erros.
Todo esbanjamento pode ser combatido só com uma nova austeridade, que deve começar por quem tem maior responsabilidade na gestão da República.

Os índios e o golpe na Constituição Por que você deve ler essa coluna “apesar” da palavra índio

Os índios vão ocupar Brasília nesta semana. Ao escrever a palavra “índio”, perco uma parte dos meus leitores. É uma associação imediata: “Índio? Não me interessa. Índio é longe, índio é chato, índio não me diz respeito”. E, pronto, clique fatal, página seguinte. Bem, para quem ainda está aqui, uma informação: mais de mil lideranças indígenas ocupam Brasília de 13 a 16 de abril em nome dos seus direitos, mas também em nome dos direitos de todos os brasileiros. Há um golpe contra a Constituição em curso no Congresso Nacional. Para ser consumado, é preciso exatamente o seu desinteresse.
Guarde essa sigla e esse número: PEC 215. Quando se fala em PEC 215, só a sigla e o número já afastam as pessoas, porque neles estão embutidos toda uma carga de burocracia e um processo legislativo do qual a maioria da população se sente apartada. Os parlamentares que querem aprová-la contam com esse afastamento, porque a desinformação da maioria sobre o que de fato está em jogo é o que pode garantir a aprovação da PEC 215. Se durante séculos a palavra escrita foi um instrumento de dominação das elites sobre o povo, hoje é essa linguagem, é essa terminologia, que nos faz analfabetos e nos mantém à margem do centro do poder onde nosso destino é decidido. É preciso vencer essa barreira e se apropriar dos códigos para participar do debate que muda a vida de todos. A alienação, desta vez, tem um preço impagável.
O que é uma PEC? PEC é uma Proposta de Emenda à Constituição. Um instrumento para, em tese, aprimorar a Constituição de 1988. O que essa PEC, a 215, pretende, em resumo, é transferir do Executivo para o Congresso o poder de demarcar terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação. Só que o resumo, como a gente sabe, nunca explica muita coisa. O direito ao território ancestral é uma garantia fundamental da Constituição porque a terra é parte essencial da vida dos índios. Sem ela, condena-se povos inteiros à morte física (genocídio) e cultural (etnocídio). Isso explica por que, em 2012, um grupo de Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul pediu, numa carta aos brancos, que fossem declarados mortos.Preferiam ser extintos a ser expulsos mais uma vez:

MAIS INFO“Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais”.

Sem a terra de seus ancestrais, um índio não é. Não existe. Os Guarani Kaiowá, uma das etnias em situação mais dramática do Brasil e possivelmente do mundo, testemunham o suicídio de um adolescente a cada seis dias, em geral enforcado num pé de árvore, por falta de perspectiva de viver com dignidade no território dos seus antepassados. Por isso esse grupo afirmou que preferia morrer a ser expulso, mais uma vez, porque pelo menos homens, mulheres e crianças morreriam juntos, já que os indígenas se conjugam no plural, e morreriam no lugar ao qual pertencem.

O pacote maligno

Esses parlamentares não querem aprimorar a Constituição, mas dar um golpe nela
O poder de demarcar terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação é atribuído ao Executivo pela Constituição não por acaso, como se fosse um jogo de dados, em que a sorte determina o resultado e tanto faz. Foi atribuído por critérios claros, estudados em profundidade, com o objetivo de reconhecer direitos e proteger o interesse de todos os brasileiros. É o Executivo que tem a estrutura e as condições técnicas para cumprir o rito necessário à demarcação, desde equipes capacitadas para fazer os estudos de comprovação da ocupação tradicional até a resolução de conflitos e a eventual necessidade de indenizações. Da mesma forma, é bastante óbvio que a criação de áreas de preservação são parte estratégica da política social e ambiental de qualquer governo.
Quando os parlamentares tentam tirar o poder de demarcação do Executivo para entregá-lo a eles próprios, o que estão tentando fazer não é aprimorar a Constituição, mas dar um golpe nela. Na prática, a PEC 215 é apenas a pior entre as várias estratégias em curso para acabar com os avanços da Constituição no que diz respeito à preservação do meio ambiente e aos povos indígenas, aos quilombolas e aos ribeirinhos agroextrativistas que o protegem.Na prática, se a PEC 215 for aprovada, o mais provável é a paralisação do processo de demarcação de terras indígenas e quilombolas, assim como a paralisação da criação de unidades de conservação. É nesse ponto que a PEC 215 passa a ameaçar também o direito fundamental de todos os brasileiros a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e, por extensão, ameaçar o direito à vida.
A PEC 215, a qual espertamente foram sendo juntados vários penduricalhos perigosos, tornou-se uma espécie de pacote maligno. Ela também pretende determinar que apenas os povos indígenas que estavam “fisicamente” em suas terras na promulgação da Constituição de 1988 teriam direito a elas. Assim, todos aqueles que foram arrancados de suas terras tanto por grileiros quanto pelos projetos de ocupação promovidos pelo Estado, seriam agora expulsos em definitivo. A proposta aqui é legalizar o crime, já que os índios tirados de suas terras pela força lá atrás seriam “culpados” por não estarem nelas, perdendo-as para sempre. Parece coisa de maluco, mas é isso que se defende. Ao investigar os crimes da ditadura, a Comissão Nacional da Verdade constatou que, em apenas dez etnias, 8.350 índios foram assassinados. A reparação por meio da demarcação e da recuperação ambiental de suas terras foram consideradas medidas mínimas e indispensáveis para a restauração da justiça.
Se a PEC 215 passar, por um lado não se demarca mais terras indígenas, por outro, é retirada a proteção daquelas que já estavam garantidas
Mas há algo ainda pior na PEC 215. Ela pretende abrir exceções ao usufruto exclusivo dos povos indígenas, como arrendamentos a não índios, permanência de núcleos urbanos e propriedades rurais, construção de rodovias, ferrovias e hidrovias. Busca também revisar os processos de demarcação em andamento, assim como impedir a ampliação de terras já demarcadas. Há ainda o risco de a PEC 215 abrir espaço, se aprovada, para que as terras já asseguradas sofram modificações segundo os novos critérios. Para entender: se a PEC 215 passar, o que pode acontecer é que, por um lado, não há demarcação de novas terras; por outro, é retirada a proteção daquelas que já estavam garantidas.

As mãos por trás do golpe

Este é um mundo perfeito para quem? Para mim, para você? Acredito que não. Mas é para alguns. Sempre é para alguns. Basta ver quem está no comando da comissão da PEC 215 para entender. Toda a coordenação é da chamada “bancada ruralista”. Mas é importante compreender de que ruralistas estamos falando, para não reforçar uma falsa oposição com os produtores rurais do Brasil, com aqueles que de fato têm interesse em colocar o alimento na mesa dos brasileiros. Um mundo sem terras indígenas e sem unidades de conservação seria bom para quem produz alimentos para o país? Me parece que não. Produtores rurais inteligentes e com espírito público, sejam eles pequenos ou grandes, sabem que precisam de água para produzir. Se precisam de água pra produzir, precisam de floresta em pé. Se precisam de floresta em pé, precisam de terras indígenas e de áreas de conservação.
Então, se este mundo não é bom nem para mim nem para você nem para quem produz alimentos, para quem este mundo é bom? Sempre é possível ter uma pista seguindo o dinheiro. No caso, o dinheiro do financiamento das campanhas. Segundo o Portal de Políticas Socioambientais, em análise feita a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo menos 20 dos quase 50 deputados da comissão especial que analisa a PEC 215 foram financiados por grandes empresas do agronegócio, de mineração e de energia, por empreiteiras, por madeireiras e por bancos. Alguns destes parlamentares receberam, sozinhos, mais de um milhão de reais de empresas ligadas a esses segmentos.
Este é um capítulo importante para compreender os porquês. Tanto as terras indígenas quanto as unidades de conservação são terras públicas. Aos povos indígenas cabe o usufruto dessas terras. As unidades de conservação são parques e florestas nacionais, estações ecológicas, reservas extrativistas ou biológicas, refúgios da vida silvestre etc, que pertencem a todos nós e que são criadas para impedir a exploração predatória e proteger a biodiversidade, estratégica para o desenvolvimento sustentável.
O objetivo é transformar terras públicas e protegidas em terras privadas para a exploração e o lucro de poucos
Como então colocar a mão nessas terras públicas e protegidas (ou que ainda deverão ser protegidas), terras que são patrimônio de todos os brasileiros, para que elas possam se tornar privadas, para a exploração e o lucro de poucos? Desprotegendo essas terras. E como fazer isso? Dando um golpe na Constituição. Mas como dar um golpe na Constituição? Travestindo esse golpe de legalidade pelo processo legislativo. Junta-se a isso um governo fragilizado, com baixa aprovação popular e pouco apoio até mesmo entre suas bases, e o Congresso mais conservador desde a redemocratização. Pronto, estão dadas as condições para o crime.
Se depois o Supremo Tribunal Federal considerar inconstitucional a emenda, anos já se passaram e tanto a privatização do que é público quanto a devastação de biomas como a floresta amazônica e o Cerrado já se tornaram fatos consumados. E o Brasil, como se sabe, é o país do fato consumado. Basta acompanhar a trajetória de Belo Monte, que entre ilegalidades constantemente denunciadas, várias ações movidas pelo Ministério Público Federal e a suspeita de pagamento de propinas pelas empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato, vira fato consumado à beira do Xingu. Quando finalmente chegar ao Supremo, já será tarde demais.

Os índios, esses estrangeiros nativos

A conversão do público para o privado, em benefício dos grandes interesses particulares de exploração da terra e dos recursos naturais do Brasil, é o que está na mesa nesse jogo de gente bem grande. Cabe à população brasileira se informar e participar do debate, se concluir que este não é o projeto de país que deseja. Por causa dos povos indígenas, dos quilombolas, dos ribeirinhos? Me parece que seria motivo mais do que suficiente. Sobre os índios, em especial, aqueles que têm grandes interesses nas riquezas das terras que ocupam, costumam espalhar preconceitos como o de que seriam “entraves ao desenvolvimento” e o de que não seriam índios “de verdade”. Mas entraves a qual desenvolvimento e ao desenvolvimento para quem? E o que seria essa categoria, “um índio de verdade”?
Vale a pena examinar os preconceitos de perto, para perceber que eles não param em pé depois de um confronto mínimo com a realidade. Para começar, não existe “o” índio, mas uma enorme diversidade na forma como cada um dos 242 povos indígenas listados pelo Instituto Socioambiental dá sentidos ao que chamamos de mundo e se vê dentro do mundo – ou dos mundos. O Brasil lidera o ranking dos 17 países mais megadiversos, em grande parte por causa dos povos indígenas. Por países megadiversos compreende-se aqueles que concentram a maior parte da biodiversidade do mundo e, portanto, da sua preservação depende o planeta inteiro. Essa é maior riqueza do Brasil, mas a ganância de poucos e a ignorância de muitos a ameaça e destrói, colocando em risco a vida de todos.
No atual Congresso não há nenhum representante indígena
Os povos indígenas, guardiões da biodiversidade, são silenciados também pela simplificação, às vezes apenas burra, em geral mal intencionada, de fazê-los parecerem um só, chapados como “entraves ao desenvolvimento”. Estima-se que havia mais de mil povos indígenas quando os europeus desembarcaram no Brasil. Hoje, parte dos parlamentares do atual Congresso não mede esforços para completar o genocídio iniciado 500 anos atrás.
Quando a Constituição assegurou os direitos dos povos indígenas, em 1988, não criou direitos novos, apenas reconheceu direitos pré-existentes, já que eles estavam aqui antes de qualquer europeu. Legalmente, não se trata de “dar” terra aos povos indígenas, mas apenas de demarcar a terra que sempre foi deles. Nesse processo, de responsabilidade do Executivo, é preciso indenizar aqueles fazendeiros e agricultores que possuem títulos legais de propriedade (e o “legais” aqui deve ser bem sublinhado), dados pelos governos nos tantos projetos de ocupação, gente que não têm a menor culpa de ter sido despachada com suas famílias para território indígena. Pela Constituição, o Estado tinha um prazo de cinco anos para demarcar as terras indígenas. Como sabemos, passaram-se mais de 25 anos e dezenas delas ainda não foram demarcadas.
Como também sabemos, a ilegalidade faz mal ao país: os conflitos de terra que se espalham pelo Brasil, semeando cadáveres, são resultado da demora em cumprir a Constituição, sobre a qual a bancada ruralista tenta agora dar um golpe. Vale lembrar ainda que os direitos fundamentais são colocados na Constituição também para que a maioria de ocasião não possa ameaçá-los em nome de seus interesses. A importância dessa proteção fica mais clara se prestarmos atenção à atual composição do Congresso: há dezenas de ruralistas e nenhum indígena.
No capítulo “mentiras & manipulações” sobre os povos indígenas há pelo menos três linhas de não pensamento bastante populares no Congresso e fora dele. Há os “atrasadistas”, gente que estudou e que coleciona diplomas, mas prefere ignorar a Antropologia e pensadores da estatura de Claude Lévi-Strauss, para considerar que os índios são “atrasados”. Para estes, existe uma cadeia evolutiva única e inescapável entre a pedra lascada e o Ipad. Não conseguem – ou não querem – ter a amplidão mínima de pensamento para compreender a multiplicidade de escolhas e de caminhos possíveis para a trajetória de um povo. Tampouco alcançam perceber que são essas as diferenças que formam a riqueza da experiência humana. E, claro, preferem se “esquecer” do que o tipo de “progresso” que defendem causou ao planeta.
O ápice da evolução: de “índio falso” a “pobre legítimo”
A segunda linha de não pensamento é a dos “fiscais de autenticidade”. Quando a classificação dos índios como “atrasados” e “entraves ao desenvolvimento” falha, trata-se então de dizer que, sim, os índios têm direitos, mas só os “de verdade”. Haveria então os não legítimos, aqueles que falam português, usam celular e gostam de assistir à TV ou andar de carro. Nessa lógica abaixo da linha da estupidez, os brasileiros que falam inglês, vão à Disney, preferem rock ao samba e ultimamente andam gostando de torcer por times europeus de futebol, também poderiam ser considerados falsos brasileiros e perder todos os seus direitos. Nessa altura da história humana e com tanto conhecimento produzido era de se esperar um pouco mais de sofisticação na compreensão daquilo que faz de alguém o que é.
Quando as duas mentiras anteriores são desmascaradas, aparecem os “bons samaritanos” para salvar a Pátria – deles. Estes acham que quem gosta de mato é antropólogo e ambientalista e que o sonho dos indígenas, o sonho mesmo, no “íntimo do seu intrínseco”, é viver em nossas maravilhosas favelas e periferias, com esgoto serpenteando na porta e polícia dando tiro nas escadarias, à custa de Bolsa Família e cesta básica. Este seria o ápice da evolução: de “índio falso” a “pobre brasileiro legítimo”. Quem, afinal, poderia resistir a tal progresso na vida?
Um golpe na Constituição aqui e acolá e estes bons samaritanos chegam ao ponto ótimo: ajudam os índios que não conseguiram matar a virar pobres e, pronto, para que terra para índio, se já não existe índio? A ignorância só perde para a má fé. Mas é com preconceitos como estes, espertamente disseminados e manipulados, que se tenta transformar os indígenas numa espécie de estrangeiros nativos, como se os “de fora” fossem aqueles que sempre estiveram dentro. Essa xenofobia invertida seria apenas nonsense, não fosse totalmente perversa, a serviço de objetivos bem determinados.

Aderir ou pensar?

Há muita terra para pouco índio? Não. Como costuma dizer o socioambientalista Márcio Santilli, “há muita terra para pouco fazendeiro”. Segundo o Censo de 2010 do IBGE, há 517 mil índios aldeados em menos de 107  milhões de hectares de terras indígenas, o equivalente a 12,5% do território brasileiro. E onde estão essas terras? Mais de 98% delas estão na Amazônia Legal – e menos de 2% fora de lá. Já os 46 mil maiores proprietários de terras, segundo o Censo Agropecuário do IBGE, exploram uma área maior do que essa: mais de 144 milhões de hectares.
Sobre a realidade da concentração fundiária no país, que continua a crescer, o Cadastro de Imóveis Rurais do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) mostra que as 130 mil grandes propriedades rurais particulares concentram quase 50% de toda a área privada cadastrada no Incra. Já os quase quatro milhões de minifúndios equivalem, somados, a um quinto disso: 10% da área total registrada. Em entrevista ao jornal O Globo, o pesquisador Ariovaldo Umbelino de Oliveira, coordenador do Atlas da Terra, afirmou que quase 176 milhões de hectares são improdutivos no Brasil. Prestar atenção nos números já é um começo para pensar, em vez de simplesmente aderir.
Muita terra para pouco índio? Não. Muita terra para pouco fazendeiro
Falta espaço para a produção de alimentos no país? Tudo indica que não. Num país com essa quantidade de terras destinada à agropecuária e com essa concentração de terras na mão de poucos, afirmar que o problema do desenvolvimento são os povos indígenas só não é mais ridículo do que Kátia Abreu, a latifundiária que diz não existir mais latifúndio no Brasil e hoje ministra da Agricultura, afirmar que “o problema é que os índios saíram da floresta e passaram a descer na área de produção”. Os índios, esses invasores do mundo alheio. Mas é assim que a história vai sendo distorcida ao ser contada para a população.
Então, sim, respeitar os direitos dos povos indígenas já seria um motivo suficiente para lutar contra a PEC 215. Mas a PEC 215 não ameaça apenas os povos indígenas e as populações tradicionais. Ela ameaça a vida de todos os brasileiros. E por quê? Porque se temos floresta em pé é por causa dos povos indígenas e das populações tradicionais, são eles a pedra no caminho de um tipo de exploração que, depois de consumada, lucros privatizados na mão de poucos, deixa para nós todos o custo da devastação. E agora, nos estados da região sudeste, nós finalmente compreendemos, com o colapso da água, qual é o custo da devastação. Nós finalmente começamos a compreender o quanto corroemos a nossa vida cotidiana ao destruir as florestas e ao contaminar os rios. Não é mais algo subjetivo, uma abstração, mas algo bem concreto. Não é mais um futuro distante, é aqui e é agora. Não são mais os nossos netos, mas os nossos filhos que sofrerão e já sofrem com esse planeta mastigado. Assim como nós mesmos. E só está começando.
Lutar democraticamente para barrar a PEC 215 não é uma atitude altruísta, não é um esforço para respeitar os direitos indígenas, não é algo que fazemos porque somos pessoas bacanas, gente do bem. Barrar a PEC 215 é atender ao nosso instinto de sobrevivência num mundo em que as mudanças climáticas são possivelmente o maior desafio da história humana nesse planeta, que é o único que temos e que destruímos. Se o golpe à Constituição for consumado, o meio ambiente no Brasil perderá boa parte das barreiras que ainda impedem a devastação, reunindo condições e abrindo espaço para a aceleração da corrosão da vida.
Há muita atenção da imprensa e da população sobre os protestos nas ruas do Brasil. O curioso é que, quando são os índios que ocupam o espaço público, apesar de todo o seu colorido, de sua fascinante diversidade, eles correm o risco de tornar-se automaticamente invisíveis. Sua dor, sua morte e sua palavra parecem não existir – ou existir apenas no diminutivo. O olhar dos não índios os atravessa. Desta vez, ainda que por instinto de sobrevivência, seria conveniente enxergá-los. Mas, claro, sempre podemos concluir que o melhor para todos nós é viver cercado de cimento, fumaça e rios de cocô.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficçãoColuna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site:descontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter:@brumelianebrum

Yanomami, os humanos com maior variedade de bactérias Análise mostra que índios amazônicos desenvolveram resistência aos antibióticos


O povoado ianomâmi foi descoberto em 2008 e sua localização não foi revelada para se respeitar seu mundo e protegê-lo do exterior. / ÓSCAR NOYA-ALARCÓN
Um helicóptero do Exército venezuelano descobriu em 2008, entre a fechada floresta amazônica, um povoado não registrado em seus mapas. Meses depois, uma missão médica e científica chegou a essa região do sul da Venezuela para descobrir que se tratava de um grupo de cerca de 50 índios yanomamis. Comprovaram que, salvo algum contato com outros de sua mesmo tribo, nunca haviam tido relação com o mundo externo. Era uma ocasião única para os cientistas estudarem seu universo bacteriano e compará-lo com o dos ocidentais. Depararam-se com várias surpresas.
Apesar de não ser o objetivo principal da missão, os cientistas conseguiram o consentimento de 30 yanomamis para retirar amostras da pele do antebraço, da boca e de material fecal, o melhor indicador da flora bacteriana do trato intestinal. Enquanto realizavam uma avaliação intensiva dos 54 integrantes do povoado, conservaram o material em nitrogênio líquido até voltarem à civilização.
Começava então a segunda parte da aventura. Em um exemplo de que a ciência se impõe sobre a política, as amostras voaram até um par de laboratórios dos EUA. Durante quatro anos, vinte cientistas norte-americanos e venezuelanos desvendaram o perfil genético das bactérias presentes nas amostras originais. Também as cultivaram, para realizar testes que mediram sua resistência aos antibióticos, o que se conhece como resistoma.
A diversidade do microbioma dos ianomâmis é o dobro em comparação com a dos ocidentais
“O que encontramos é que os yanomamis desse estudo têm um grau de diversidade bacteriana sem precedentes”, disse em entrevista coletiva o professor de genética da escola Icahn de medicina do hospital Monte Sinai (Nova York) e principal autor do estudo, José Clemente. Os autores da pesquisa compararam o microbioma dos yanomamis com amostras de norte-americanos e outras dos guahibos, também índios amazônicos, e de indígenas do Malaui, no sul da África. Nos dois casos trata-se de populações com certo grau de ocidentalização. Os yanomamis, acrescenta Clemente, “têm quase o dobro de diversidade do que os norte-americanos”.
Na verdade, observaram uma redução progressiva de diversidade a partir dos yanomamis até os ocidentais, passando pelos guahibos e os malauis. Além disso, os pesquisadores mergulharam em estudos anteriores sobre microbiomas e não encontraram outros povos que tenham maior variedade bacteriana. Também não acharam nos arquivos do projeto Microbioma Humano. É como se, quanto mais exposto se está ao estilo de vida ocidental, mas se perde a riqueza de seu microbioma. Esses resultados colocam os yanomamis no topo no que se refere a bactérias. Nesta mesma semana, outro estudo mostrou como comunidades rurais de Papua Nova Guiné tinham 15% a mais de diversidade em relação aos ocidentais. Mas esses índios amazônicos se aproximam de 100% de aumento.
Os yanomamis desse povoado, cuja localização não foi revelada para protegê-los, continuam vivendo da caça e da colheita de frutas, como faziam seus antepassados há milhares de anos. O mais próximo que tinham visto de um homem branco era quando observavam algum avião sobrevoando o local. Da medicina, só conheciam a própria palavra, que já tinham ouvido de outros yanomamis de povoados vizinhos. E o posto de saúde mais próximo, administrado por missionários, se encontra a duas semanas de caminhada entre as montanhas. Para os microbiólogos, esse povoado isolado é uma máquina do tempo com a qual se pode imaginar como era a microbiota dos humanos antes que a modernização mudasse tudo.
O povoado ianomâmi foi descoberto por um helicóptero do Exército venezuelano em 2008, e, no ano seguinte, recebeu a visita de uma missão científica. Era a primeira vez que os índios tinham contato com o homem branco. / ÓSCAR NOYA-ALARCÓN
“Nossas bactérias desempenham papel importante na fisiologia humana, como a resposta imune, o metabolismo e até o comportamento. Mas ainda não sabemos quanto ou como nossos microbiomas ocidentalizados mudaram em relação ao microbioma de nossos ancestrais”, diz a professora María Gloria Domínguez, da escola de medicina da Universidade de Nova York, também coautora do estudo. "Temos muitas práticas antimicrobianas, como o nascimento por cesárea, o uso dos antibióticos, o sabão, os produtos de limpeza. Mas no mundo ainda existem populações remotas de caçadores e coletores que vivem na era pré-biótica como os nossos antepassados”, acrescenta. Povos que, alerta, “estão se ocidentalizando rapidamente”.
Antes que o estilo de vida ocidental reduza sua diversidade bacteriana, povos como esses yanomamis podem ajudar a ciência. Muitas das doenças não transmissíveis, como infecção intestinal, esclerose múltipla, diabetes tipo I, artrite reumatoide, obesidade, câncer de cólon e inúmeras alergias são provocadas por bactérias. A maioria tem uma alta prevalência nas sociedades avançadas, com depoimentos nas populações menos ocidentalizadas. Apesar de ainda faltar muito a se investigar, a degradação do microbioma pode ter muito a ver com essas doenças modernas.

Resistência adquirida aos antibióticos

A segunda grande surpresa descoberta pelos pesquisadores foi que, ao cultivar e sequenciar as amostras fecais, descobriram que as bactérias dos ianomâmis têm genes que as fariam resistentes aos yanomamis, inclusive aos de última geração. Para medir essa resistência, os estudos científicos costumam se concentrar nas cepas da enterobactéria Escherichia coli. Descobriram nas amostras fecais dos yanomamis que todas as cepas da E. coli contavam com genes que agem no desenvolvimento da resistência à ação dos antibióticos. Então ampliaram sua análise a outras bactérias, encontrando cerca de 30 genes que poderiam apresentar resistência.
Os antibióticos, a dieta, o sabão e o nascimento por cesárea reduziram a diversidade bacteriana dos ocidentais
Considerando-se como verdadeiras as palavras do chefe do povoado negando ter tido contato com outros homens que não fossem yanomamis, e, ao menos um, com a medicina moderna, de onde procede essa resistência? A principal hipótese dos pesquisadores é que vem da íntima relação desses índios com o meio que habitam. Muito antes de Alexander Fleming descobrir, quase por sorte, o poder antibiótico de fungos do gênero Penicillium, as bactérias têm tido que lidar com outros micro-organismos para sobreviver. No caso dos yanomamis, esses micróbios teriam aprendido a combater graças à flora bacteriana do solo da floresta, que teria dado a eles genes contra os antibióticos por meio de transferência horizontal.
Os pesquisadores retiraram amostras da boca, da pele e das fezes de 30 ianomâmis (o rosto dessa jovem foi cortado para respeitar sua privacidade). / ÓSCAR NOYA-ALARCÓN
“No entanto, também encontramos vários genes de resistência que codificam resistência contra as últimas gerações de antibióticos semissintéticos e sintéticos”, afirma o professor de patologia Gautam Dantas, da Universidade Washington, em San Luis (EUA). “Incluem, por exemplo, medicamentos de terceira e quarta geração (as cefalosporinas) que tentamos reservar para lutar contra algumas das piores infecções do mundo”, acrescenta. São remédios tão novos e tão sintéticos que a hipótese de empréstimo da resistência por outras bactérias não consegue explicá-lo.
Os autores do estudo, publicado na Science Advances, foram surpreendidos pela descoberta de que a flora bacteriana dos yanomamis pode ser resistente a remédios tão modernos. “Pensamos em um par de explicações para esses resultados. A primeira, e talvez a mais simples, é que no solo haja versões naturais desses medicamentos sintéticos, e que, simplesmente, ainda não as encontramos”, diz Dantas. No fim das contas, as primeiras gerações de antibióticos copiavam a penicilina natural.
Mas há outra possibilidade que intriga ainda mais: que esses genes de resistência tenham uma grande plasticidade e sejam multifuncionais. “Na realidade, poderiam ter outras funções na bactéria, mas, expostos aos antibióticos, poderiam reprogramar-se para desenvolver carga de resistência", sugere este patologista. Assim sendo, isso explicaria o rápido e amplo desenvolvimento de resistência entre muitas das bactérias patógenas que alarma tanto os cientistas e médicos pelo abuso no uso dos antibióticos.