domingo, 25 de janeiro de 2015

Seca e falta de água foram previstos em relatório da ONU

País

Seca e falta de água foram previstos em relatório da ONU

Mudanças climáticas geraram problemas no Brasil e em outros países do mundo nos últimos anos

Jornal do Brasil
Notícias da estiagem na Região Sudeste do Brasil impressionam por causa dos dados cada vez mais alarmantes sobre a escassez de água. Apesar da situação parecer mais grave para os paulistanos, outros estados da região começam a sentir na pele os mesmos problemas pelos quais passam os habitantes das cidades do estado de São Paulo.
No Rio, o secretário de Ambiente, André Corrêa, admitiu, na sexta-feira, que pode haver racionamento de água. No entanto, o governador Luiz Fernando Pezão descartou a medida e o possível aumento de tarifa no estado e fez um apelo para que os moradores passem a economizar.
Em Minas Gerais, o Centro do estado passa pelo janeiro mais quente desde 1910. Algumas cidades estão à beira do colapso, por causa da falta de água e 63 cidades do estado já estão fazendo racionamento ou usando o modelo de rodízio de água. A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) admitiu “o elevado nível de criticidade” da água no estado e emitiu comunicado pedindo que a população e as empresas economizem cerca de 30% no consumo de água.
Situações como essas são cada vez mais comuns no mundo. No ano passado, alguns países da da América Latina passaram por períodos de seca e mudanças climáticas que afetaram a produção agrícola da região. Na época, a ONG alemã Germanwatch, que avalia os países mais frágeis quanto a essa questão, situou Honduras, Haiti e Nicarágua, respectivamente, como os países que mais sofreram com mudanças climáticas e períodos de seca, durante o ano de 2014.
Em 2011, a região conhecida como “Chifre da África”, no leste do continente, sofreu com a pior seca dos últimos 60 anos. Em dois anos, o nível de chuvas no local estava abaixo donecessário. Lavouras inteiras foram perdidas, enquanto o gado morreu de fome e sede.
Na época, a Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a afirmar que os países do “Chifre da África” não viviam uma situação de fome, mas sim uma emergência humanitária que piorava rapidamente.
Relatório do IPCC prevê que impactos mais graves no clima virão de secas e cheias
Lançado no Japão, em novembro do ano passado, o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), apontou que um dos principais efeitos das mudanças climáticas no país seriam as secas persistentes, em algumas regiões, e cheias recordes, em outras. Tudo isso, segundo o relatório, é resultado das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, que aumentaram em 2ºC a temperatura do planeta, até 2100.
Apesar do “prazo”, a situação alarmante já começa a se refletir principalmente nos países da América Latina, mesmo sendo os que menos emitem gases de efeito estufa. No Brasil, cada região está sendo afetada de forma diferente, devido a sua extensão territorial. O relatório enumera ainda que os resultados das mudanças no ecossistema, devido ao aumento de temperatura, afetam a geração de energia, a agricultura e até mesmo a saúde da população.
Na época do lançamento do relatório, em novembro do ano passado, o professor da USP Marcos Buckeridge, que foi um dos autores do relatório do IPCC, afirmou que os principais problemas brasileiros vão decorrer da falta de água. Onde houver problemas com a água, outras questões serão geradas a partir daí.
Um dos exemplos apontados pelo relatório, foi a alteração nos padrões de chuva na Amazônia, quando a cheia do rio Madeira atingiu 25 m, o nível mais alto da história e afetou cerca de 60 mil pessoas.
No Nordeste, o ano de secas sucessivas, por causa das mudanças climáticas, preocupou os especialistas envolvidos na elaboração do relatório. Segundo eles os períodos de seca podem se intensificar e, uma das maiores preocupações apontadas, é que o semi-árido nordestino se torne árido permanentemente.
Além da listagem de riscos, o relatório tentou apresentar soluções para os problemas que parecem estar mais próximos do que se imagina. Algumas soluções seriam a diminuição do uso de combustíveis fosseis e investimentos do governo em fontes de energia renovável, além de investimentos em transportes públicos modais nas cidades.

Tags: falta de água, meio ambiente, mudanças climáticas, país, planeta, temperatura

Quem é Alexis Tsipras

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Quem é Alexis Tsipras

Há muito que desafia a chanceler alemã, a troika e os mercados, mas a realidade demonstrou que a sua luta contra a austeridade compensa. Conheça o fanático - do Panathinaikos - que pode liderar o próximo governo de Atenas

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Quem é Alexis Tsipras
Longe vão os tempos em que Alexis Tsipras era apontado como um "perigoso bolchevista". O líder da oposição grega e da Coligação de Esquerda Radical (vulgo Syriza) continua a ter o retrato de Che Guevara no seu gabinete e não seria de estranhar que o levasse para a sede do Governo, caso se torne no próximo primeiro-ministro da Grécia. Uma aparente inevitabilidade histórica, como demonstram todas as sondagens sobre as eleições legislativas antecipadas de 25 de janeiro.
O antigo engenheiro civil é um homem de convicções e tem uma tal admiração pelo herói da revolução cubana que um dos nomes do seu filho mais novo é precisamente Ernesto. O passado comunista de Tsipras, a sua agenda política e a hipótese da Europa ter um Governo de extrema-esquerda é algo que ainda parece incomodar muita gente. A começar pelos principais credores da Grécia. O país deve mais de 300 mil milhões de euros e o Banco Central Europeu (BCE), a Comissão Europeia e o FMI estão preocupados com um eventual incumprimento do futuro Executivo helénico. No entanto, à famosa troika deve acrescentar-se a Alemanha, principal crítica das intenções de Tsipras suspender os programas de ajustamento impostos nos últimos cinco anos.
O Governo de Angela Merkel considera que os compromissos resultantes dos dois resgates à economia grega são para cumprir integralmente e que Atenas tem de continuar a aplicar as reformas ditadas por Bruxelas e Berlim, sob pena de abandonar a Zona Euro e a moeda única. Isso mesmo se encarregou de explicar a revista Der Spiegel. Como inúmeros analistas fizeram questão de sublinhar, Angela Merkel pretende chantagear os eleitores gregos e dizer-lhes que um Governo do Syriza é sinónimo de regresso ao dracma, de um agravamento do custo de vida e de caos. Um cenário que é repetido pelo atual primeiro-ministro grego Antonis Samaras, a cujo partido - Nova Democracia - os estudos de opinião atribuem 27% das intenções de voto.
Futebol e cartões vermelhos
No entanto, toda esta polémica pode não passar de um enorme bluff. De acordo com as contas feitas pela agência Reuters, os bancos germânicos ainda têm 23 500 milhões de euros aplicados na economia grega, um valor irrisório se comparado com o existente há três anos. Ou seja, os riscos sistémicos e um possível efeito de contágio a outros países como Portugal parecem fora de questão. Já ninguém parece acreditar num cenário de implosão do euro. E se ainda se discute uma possível insolvência da Grécia, os argumentos têm mais a ver com política do que com os delicados problemas económicos e financeiros da nação cuja economia encolheu 25% desde 2009, onde os salários e as reformas caíram praticamente para metade no mesmo período e onde 2,5 milhões de pessoas deixaram de ter acesso ao sistema de saúde.
A possibilidade do Grexit - o neologismo inglês que é suposto traduzir a saída da Grécia da Zona Euro - é vista como mais uma demonstração da conhecida intransigência da Alemanha em matéria de austeridade. Como admitiu na segunda-feira, 5, o ministro da Economia e vice-chanceler Sigmar Gabriel, as reformas na Grécia são para continuar "independentemente de quem venha a formar governo".
Na prática, Berlim continua a defender que a Grécia tem de pagar - a qualquer preço - a fatura pelos anos de desvario e despesismo irresponsável das suas elites políticas. Algo que não é segredo para ninguém. O ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, descobriu isso mesmo em junho de 2012, na ilha de Sylt, quando se reuniu com Wolfang Schauble, o todo-poderoso ministro das Finanças alemão, e revelou no seu livro Stress Test quanto os "alemães estavam obcecados em esmagar os horríveis gregos". Pelos vistos, o diktat e as ações punitivas contra Atenas estão para durar e não lhe faltam adeptos. O diário Bild, o mais vendido  jornal alemão, é o melhor exemplo: "Se os radicais de esquerda ganham as eleições [na Grécia], o Governo [de Berlim] vai mostrar-lhes o cartão vermelho. Uma medida que já deveria ter sido tomada há muito tempo!" As tiradas futebolísticas dominavam o editorial do tabloide no dia 5: "O que acontece a um jogador que viola as regras e comete uma falta brutal? (...) É expulso do relvado. (...) O que acontece a um país que não cumpre as regras ou só as aplica de forma relutante? É apoiado e recebe biliões, como temos visto até agora no caso da Grécia."
Está tudo mais do que negociado
Palavras que o sempre atento Alexis Tsipras terá lido, mas que o não devem inquietar por aí além. O Bild pode descrevê-lo como um radical que está às portas do poder com o propósito de destruir a União Europeia. Mas esse rótulo pertence à História. Os eleitores gregos já não se deixam intimidar como sucedeu em 2012 e sabem que o líder do Syriza é hoje a única alternativa de que dispõem face aos partidos tradicionais e à austeridade que lhes é imposta. Sabem muito bem que Tsipras é fanático, mas pelo Panathinaikos, o clube de que é sócio e a cujos jogos tenta assistir sempre que a agenda lhe permite. E depois também já perceberam que ele, nas artes da política, se comporta mais como um jogador de xadrez do que como um craque da bola. Algo que até o New York Times e o Financial Times reconhecem.
Tsipras tem sido um mestre na sua estratégia para a conquista do poder e estas duas publicações consideram-no um "realista" com os "instintos certos" para resgatar o seu país da desgraça em que caiu. Quanto mais não seja porque a dívida se tornou insustentável. Uma constatação cada vez mais óbvia e consensual. "Um Governo do Syriza terá a vantagem de não aceitar a ficção que, neste momento, impera na Zona Euro. A Grécia é um estado falido. E dizer a verdade representa um grande passo em frente", defendeu James Galbraith, há três semanas, numa entrevista ao jornal catalão La Vanguardia. Para o catedrático de Ciências Económicas da Universidade do Texas, Tsipras e os credores da Grécia estão condenados a entender-se e terá de haver uma reestruturação negociada da dívida helénica. Uma tese que também aflora no seu livro mais recente, The New Normal, onde considera que o regime de Atenas pode iniciar uma "rebelião política" contra o statu quo da União Europeia.
Talvez por levarem a sério essa possibilidade, Angela Merkel e François Hollande têm marcada para o próximo domingo, 11, em Estrasburgo, uma reunião em que é suposto discutirem os principais desafios que as lideranças comunitárias enfrentam - incluindo a questão grega e o plano de "alívio monetário" do Banco Central Europeu para adquir dívida pública em larga escala, à semelhança do que fez a Reserva Federal dos EUA entre 2010 e outubro de 2014, numa clara tentativa de evitar a deflação e estimular o crescimento e o emprego.
No entanto, uma outra hipótese não pode ser descartada. Tsipras, os credores e os representantes de Angela Merkel já têm tudo mais do que planeado para o dia seguinte à previsível vitória do Syriza. Como noticiou na passada semana o diário italiano La Stampa, há muito que decorrem negociações secretas entre todos. E até revelou o nome do principal negociador/mediador: Jorg Asmussen, um social-democrata que  foi administrador do BCE e é hoje um dos colaboradores de confiança da chanceler alemã. Como se não bastasse, é público que alguns dos possíveis ministros de Tsipras - John Milios, Giorgios Stathakis e Euclid Tsakalotos - têm andado num frenesim diplomático entre Washington, Paris, Londres e Berlim. E nem vale a pena especular porquê.


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No Brasil do "pobre, preto e favelado"

No Brasil do "pobre, preto e favelado"

Rafael Braga é o único preso condenado por causa das manifestações de Junho de 2013. Conheça a sua história, num Brasil que muitos descrevem como sendo uma... Democratura 

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No Brasil do "pobre, preto e favelado"
Na segunda-feira dia 8 de Dezembro de 2014, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) apresentou o seu relatório. Neste relatório, apresentado anualmente por altura do Dia Internacional dos Direitos Humanos, foram abordados os casos considerados mais urgentes: a questão das prisões de ativistas, começada na altura da Copa das Confederações (junho de 2013) e que ainda hoje se verifica, e o caso de Rafael Braga. Ambos os casos têm processos a decorrer na justiça brasileira hoje, Janeiro de 2015.
Rafael Braga foi preso preventivamente a 20 de Junho de 2013 com base numa presunção: a de que iria praticar um crime futuro. A polícia presumiu que o jovem faria um explosivo com uma lata de lixívia e outra de Pinho Sol, um detergente desinfetante. Por este motivo foi levado para uma esquadra de polícia: flagrante delito por posse de material explosivo, que daria origem a um cocktail molotov. 

 

No dia em que Rafael foi preso estavam nas ruas do Rio de Janeiro mais de um milhão de pessoas. Apesar de muita gente "não estar consciente politicamente", sentiam que "alguma coisa estava mal", diz Eloísa Samy, 52 anos, advogada e ativista de Direitos Humanos. Tudo começou uns dias antes em São Paulo, através do MPL (Movimento Passe Livre), contra o aumento dos bilhetes de autocarro. O resto são estórias já contadas. Naquele dia 20 de Junho, as luzes da Avenida Presidente Vargas foram apagadas por volta das oito da noite, ao mesmo tempo que gás lacrimogénio era lançado. Vídeos documentam a perseguição de milhares de pessoas, por parte da polícia.
A presunção de que Rafael estaria na posse daquelas garrafas para fabricar um cocktail molotov foi contestada pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro (Ministério Público em Portugal), através de um pedido de revogação da prisão preventiva. O pedido foi negado por um juíz de segunda instância e, só um ano mais tarde, em Outubro de 2014, é que Rafael começou a cumprir a pena, já estando condenado de facto. Cinco anos, regime fechado. 
No Brasil existe a presunção de que os polícias têm fé pública e o ónus da prova está invertido, o que significa que em caso de acusação feita por um polícia, cabe ao suspeito provar a sua inocência (a regra em Direitos Penais mais garantísticos está na presunção de inocência e o ónus da prova em quem faz a acusação).
 

"Vamos prender. É morador de rua e já tem antecedente criminal". É assim que Felipe Coelho, advogado, 30 anos, interpreta a prisão de Rafael por parte da polícia. A prisão, considerada por advogados e ativistas como arbitrária, é vista como exemplo paradigmático daquilo que muitos consideram ser a atuação de um Estado "repressivo", que quis ter no Rafael um exemplo para "assustar as massas".
Felipe Coelho, além de exercer advocacia privada é advogado voluntário no Instituto de Defensores dos Direitos Humanos (DDH), uma "ONG pobre", localizada na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio. Felipe tem acompanhado o processo do Rafael desde o início e mais tarde de forma mais profunda, quando o DDH começou a prestar apoio judiciário a Rafael, depois do recurso de apelação, para a segunda instância.
"A situação do Rafael Braga é hoje o caso mais emblemático do sistema judicial brasileiro", conta Felipe. "Rafael, de 26 anos, não tem habitação certa e trabalhava como 'catador de latinhas'. Foi preso numa rua paralela à Presidente Vargas, perto da casa abandonada onde dormia há alguns meses".
"O Rafael tinha estes materiais para poder desinfetar o sítio onde dormia". As únicas testemunhas contra o jovem foram alguns polícias e segundo o advogado, Rafael nem sabia o estava a acontecer: "Ele não tem se quer consciência política suficiente para participar de uma manifestação, começou a aprender a ler apenas aos 13 anos de idade". Vindo de uma família de 7 irmãos, há anos que Rafael dormia ora num casarão abandonado no centro da cidade, ora em casa da mãe, no norte do Rio, que passava por muitas dificuldades. Entrevistado por coletivos de ativistas e pelo DDH, Rafael disse não saber se quer o nome do governador ou do perfeito do Rio de Janeiro. 

 

Em agosto de 2014 o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro reduziu a pena em dois meses, no recurso de apelação. Mais tarde, em outubro, graças ao pedido do DDH, a Vara de Execuções Penais do Rio concedeu a Rafael o direito de trabalhar fora do complexo prisional de Gericinó (antigo e conhecido complexo penitenciário de Bangu). Rafael tem estado desde meados de outubro a cumprir a pena em regime semiaberto,  no Instituto Penal Edgard Costa, em Niterói, no norte do Rio de Janeiro.
Em entrevista concedida ao Coletivo Mariachi (grupo de "midiativistas" [em Portugal chamar-se-iam "ativistas dos média ou jornalistas ativistas"]) ainda em 2013, Rafael reafirma que apenas tinha consigo uma garrafa de lixívia e outro de Pinho Sol (desinfetatante): "A primeira vez que vi uma manifestação de perto foi quando fui preso".
Rafael conseguiu então o direito a sair da prisão de Bangu para trabalhar num escritório de advogados, ajudando com as limpezas.
Em finais de Novembro de 2014, o DDH tirou uma fotografia a Rafael que foi publicada em perfis pessoais dos advogados, no Facebook. A fotografia não foi publicada na página oficial da ONG mas ainda assim foi encontrada pela Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP). A Secretaria achou o ato desrepeitoso e condenou Rafael a ficar 10 dias na solitária. "Trata-se de uma perseguição sem fim, já que nem existe nenhuma lei que proíba os presos de tirarem fotografias", diz Felipe Coelho. 
O caso de Rafael já chamou a atenção da Amnistia Internacional. O DDH vai continuar a recorrer das decisões dos tribunais já que Rafael ainda tem 4 anos e 8 meses de pena por cumprir.

 



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Muçulmanos se sentem humilhados pelo Ocidente, diz ex-Nobel da Paz

Agencia EFE
25/01/2015 09h17 - Atualizado em 25/01/2015 09h17

Muçulmanos se sentem humilhados pelo Ocidente, diz ex-Nobel da Paz 

Egípcio Mohamed ElBaradei deu entrevista a jornal austríaco.
Jihadistas são fáceis de recrutar em ambiente discriminatório, afirmou.

Da EFE
O opositor Mohamed ElBaradei dá entrevista nesta sexta-feira (4) no Cairo (Foto: AP)Mohamed ElBaradei ganhou o Nobel da Paz em 2005 (Foto: AP)
O prêmio Nobel da Paz 2005, Mohamed ElBaradei, considera que o aumento do terrorismo islamita se deve ao fato de muitos muçulmanos se sentirem tratados "como lixo" pelo Ocidente.
Em entrevista publicada neste domingo (25) pelo jornal austríaco "Die Presse", o diplomata egípcio assegura que "não é desculpa para o que ocorreu em Paris, é horrível, mas os jihadistas são fáceis de recrutar neste ambiente".
ElBaradei se refere ao sentimento de humilhação dos muçulmanos em países como o Afeganistão, Síria, Líbia e Palestina como raiz da radicalização.
"Temos que entender por que estas pessoas não são o Dalai Lama, mas terroristas suicidas", disse ElBaradei, que tem sua residência em Viena.
ElBaradei afirma que o Ocidente é "disfuncional" e "míope", e usa como exemplo a prioridade dada nos meios de comunicação ao ataque contra a revista satírica "Charlie Hebdo" no dia 7 de janeiro em Paris com relação ao silêncio acerca do massacre de centenas de nigerianos pelas mãos do grupo terrorista Boko Haram por volta dssa data.
"Quanto se informou sobre este fato?", pergunta-se o ex-diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica, a agência nuclear da ONU, com sede em Viena.
EUA e Afeganistão
Por outra parte, ElBaradei diz indiretamente que os Estados Unidos são a raiz dos problemas do Afeganistão.
"Agora todos dizem: Oh Deus, temos o Estado Islâmico (EI). Mas, quem criou o EI?. Quem abriu a porta da religião na política? Olhem para o Afeganistão. Quem apoiou aos mujahedins contra os russos?", comenta.
"Seria possível uma grande mudança se as pessoas do Afeganistão e na Índia tivessem a sensação de que nos preocupamos por eles. Se solucionamos alguns de seus problemas e não apoiamos regimes repressivos. Caso contrário, estas bombas sociais e políticas explodirão em nossas caras", adverte o egípcio.
Após sua passagem pela agência nuclear de Nações Unidas, que dirigiu durante 12 anos até final de 2009, ElBaradei tentou participar da democratização do Egito.
Durante um mês, no verão de 2013, foi vice-presidente do Egito, mas renunciou perante a forte repressão contra os seguidores do então deposto presidente islamita Mohammed Mursi.

Cidades no RN tentam manter ganho econômico vindo da energia eólica

25/01/2015 08h17 - Atualizado em 25/01/2015 08h29


Municípios potiguares que receberam parques dobraram valor do PIB.
Qualificação é desafio para cidades aproveitarem período pós-construções.

Felipe Gibson e Fred CarvalhoDo G1 RN
Imposto da energia só é cobrado no local de destino da eletricidade (Foto: Felipe Gibson/G1)Imposto da energia só é cobrado no local de destino da eletricidade (Foto: Felipe Gibson/G1)
Com menos de 5 mil habitantes e localizada em uma região seca do Rio Grande do Norte a cidade de Parazinho se transformou com o boom da energia eólica no estado. Em um ano e meio, restaurantes e pousadas foram abertos, o comércio vendeu mais, os aluguéis de casas ficaram até dez vezes mais caros e muita gente conseguiu emprego nas construções. O PIB cresceu mais do que dobrou, crescendo 110% entre 2008 e 2012.
Passado o impacto das obras, o clima de bonança em Parazinho arrefeceu. As centenas de pessoas empregadas durante a construção perdem as vagas com os parques prontos - ficam poucas dezenas de profissionais com níveis de qualificação maior para a operação.

"De 2010 a 2012 a economia cresceu muito, mas depois da construção foi lá para baixo", afirma o prefeito Marcos Antônio Vieira, que vive a expectativa da chegada de novas torres para um dos projetos eólicos contratados para a região.
Formação de profissionais
Mas a mudança no foco econômico trouxe alguns efeitos positivos a Parazinho. O eletricista Ewerton Cosme da Silva Oliveira, por exemplo, voltou para sua cidade de origem só para as férias - o jovem de 23 anos já trabalhou no Uruguai e se preparava para viajar até a Bahia para a construção de novas usinas eólicas.
Natural de Parazinho, Ewerton esteve no Uruguai para trabalhar em um projeto eólico (Foto: Felipe Gibson/G1)Natural de Parazinho, Ewerton está fazendo carreiar
em empresa de equipamentos
(Foto: Felipe Gibson/G1)
"Era servente de obra e decidi fazer um curso de eletricista predial e residencial", relata. O jovem deixou o currículo na fábrica de torres construída pela empresa Wobben Windpower na cidade.
O resultado foi uma vaga como auxiliar de eletricista. A construção dos parques foi concluída, a fábrica itinerante desmontada, mas Ewerton garantiu sua vaga no mercado eólico.

Agora no cargo de encarregado de elétrica, o jovem cuidou da manutenção das máquinas da Wobben que produziram os equipamentos para parques eólicos construídos no Uruguai. "Mudou minha vida. Se não fosse isso, hoje eu ainda seria servente de pedreiro aqui nessa cidade pequena", afirma.
Falta formação
No entanto, a realidade não foi a mesma para a maioria dos moradores de Parazinho. "Vieram muitos técnicos. Infelizmente nossa população não tem formação. Poderia ter sido muito melhor se houvesse possibilidade de qualificar as pessoas", opina Alexandre Magno, de 54 anos, empresário que mora há 15 anos na cidade.
Engenheiro por formação, ele é proprietário de uma loja de eletrodomésticos e aproveitou o movimento para abrir um restaurante e construir a pousada Rosa dos Ventos, nome inspirado no momento que Parazinho vivia.

"Era uma cidade estagnada e com emprego escasso. A situação inverteu e vivemos uma situação de pleno emprego. A ideia da pousada foi uma sugestão de um engenheiro que veio de fora", diz o empresário, que se mudou para Parazinho por causa da mulher.
Pousada foi construída durante construção de eólicas em Parazinho (Foto: Felipe Gibson/G1)Pousada foi construída durante construção de
eólicas em Parazinho (Foto: Felipe Gibson/G1)
A Rosa dos Ventos nasceu, se ampliou e estava sempre lotada durante um ano e meio. Depois da onda de oportunidades, Magno conta que aproveitou o período de estagnação para reformar a pousada.

O restaurante foi desativado e atualmente o empresário usa da criatividade para manter o rendimento. "Desenvolvi um serviço de venda porta a porta para a loja nas cidades da região e para isso remanejei o pessoal que foi contratado para a pousada", conta. Para o engenheiro, o município pecou em não criar mecanismos para explorar o bom momento.

R$ 4 milhões
Para o diretor-presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean-Paul Prates, embora seja um impacto passageiro, o período de construção ajuda as cidades a desenvolverem setores como comércio e serviços.
Municípios arrecadam Imposto Sobre Serviços (ISS) durante construção de parques (Foto: Felipe Gibson/G1)Municípios arrecadam Imposto Sobre Serviços
durante construção  (Foto: Felipe Gibson/G1)
"A injeção de dinheiro ajuda os negócios a ganharem escala e se aprimorarem", afirma Prates, citando a conta de que para cada megawatt instalado, R$ 4 milhões são investidos pelas empresas. "Um terço deste investimento é gasto no município", calcula.
De olho na demanda de profissionais para a região do Mato Grande, o professor Alexandro Vladno da Rocha articulou a criação do curso de graduação em energias renováveis no campus do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) emJoão Câmara.
"O campus foi pensado muito para a área de agricultura. Quando o estado apareceu para o mercado eólico, mudamos esse foco", revela o coordenador do curso. Com três anos de existência, a graduação tem 120 alunos matriculados.
"No início a maioria dos interessados era de Natal. Buscamos mostrar a oportunidade para a região e já recebemos alunos de João Câmara e cidades vizinhas. A tendência que percebo é de pessoas que vêm de outras áreas em busca de uma verticalização", observa o coordenador do curso.
Aos poucos, Alexandro conta que vem estreitando as relações com empresas que chegam ao município atraídas pelo mercado dos parques eólicos. "Com um curso na região, a chance da população local se qualificar e aproveitar esse mercado cresce, o que também é bom para as empresas", avalia.
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