Pela legislação brasileira, a venda desse produto é ilegal. Segundo o
Ministério da Agricultura, só podem ser comercializados produtos
descritos no decreto 30.691/ 1952. Lá constam carnes de bois, cavalos,
suínos, aves e outros, mas não há nenhuma referência a felinos ou
caninos..
Vc conhece este decreto?
“Carne produzida pelo Prosperidad é comercializada sob a marca Fava”
A contadora Cleonice Silvério experimentou a carne há um tempo e
conta como foi a sensação. “Preparei o prato normalmente e servi no
almoço para a família. Só depois que todos experimentaram a carne contei
do que se tratava. Meus filhos acharam o sabor um pouco mais adocicado e
forte, mas pensaram que eu tivesse errado a mão. No final, todos
aprovaram a escolha”, completa a contadora.
No que diz respeito ao aproveitamento dos animais, quase todas as partes
podem ser utilizadas de alguma forma: o sangue e os ossos são usados
para a produção de farinha de ração, a crina, para fabricar pincéis. A
indústria de salsicharias e mortadelas também usa para dar liga aos seus
produtos. Finalmente, a indústria de vacinas também utiliza subprodutos
dos equídeos para fins opoterápicos.
Semelhante aos cortes bovinos, a carne de equídeos tem cortes habituais,
como alcatra, contrafilé, lagarto, macreuse (coração da paleta), filé
mignon, maminha, patinho, peito e peixinho. Não há cupim e picanha, por
causa da conformação do animal. Em relação ao seu valor nutricional, a
nutricionista
Daniela Serwy afirma que é uma carne nutritiva e que contém pouca
gordura, e acredita que o motivo do baixo consumo no Brasil seja por
questões culturais, falta de hábito e acesso difícil. “A carne de cavalo
possui, em princípio, todas as qualidades das outras carnes
comestíveis, como a de boi, peixe, frango etc. É rica em proteínas de
primeira qualidade e vitaminas do complexo “B”. Entretanto, o teor de
ferro na carne de cavalo é mais que o dobro do contido nos cortes
bovinos, o que seria recomendável para atletas, crianças, grávidas e
pessoas com anemia”, afirma a nutricionista.
Alcatra equina
Coxão Mole equino
Contra-filé equino
Produção
Em terras brasileiras, esse mercado está aberto apenas para
exportação, visto que aqui se consome somente os subprodutos dos
equídeos, somando 1% do uso. Os outros 99% são divididos entre Ásia,
África do Sul e, principalmente, países da União Europeia, onde a carne é
tradicionalmente conhecida e consumida. A grande diferença nos
consumidores desse produto pode ser justificada pela cultura e tradição
de no Brasil não se consumir essa carne. O tema envolve religião, afeto,
preferências de paladar e falta de informação. Já a França e a Itália
são exemplos de países com maior tradição, afinal, nos períodos que
precederam as duas grandes guerras na Europa, a carne de equídeos era
altamente consumida.
“99% da produção do frigorífico é exportada para outros países, especialmente da Europa”
O volume de exportações do Prosperidad em 2011 foi de quase mil
toneladas de carne e meia tonelada de subprodutos (restos do cavalo que
servem para dar ligas em mortadela, salsicharia etc.). A gerente, Neiva
Araújo, julga esse número baixo em relação ao faturamento da empresa em
anos anteriores e comparado a frigoríficos de carnes bovina e suína. “A
crise econômica afetou todo o mercado de exportação, portanto nosso
nicho não iria ficar de fora. Se antigamente exportávamos mil toneladas
por mês, hoje estamos na média de 83 mil quilos/mês. Temos consciência
de que com outros mercados do setor não foi diferente. No nosso caso,
especificamente, a empresa ainda passou por um processo de reformulação e
adequações, o que gera custos e despesas”, afirmou a gerente.
Entretanto, a gerente é otimista em relação à perspectiva de crescimento
neste ano. “Estamos em negociações bem adiantadas com outros países. A
previsão para este ano é de que tenhamos um aumento perto de 15%”,
concluiu.
O Serviço de Inspeção Federal (SIF) é um dos órgãos responsáveis por
inspecionar as normas de exportação. A equipe é composta por um
veterinário federal, um municipal e um agente de inspeção.
Operacional
Como em qualquer outro frigorífico, o Prosperidad conta com vários
departamentos regulamentados para preservar a qualidade do produto. José
Donizeth Martins é o gerente industrial. Dentre as inúmeras funções do
seu departamento, ele divide o tempo entre controlar e supervisionar as
atividades na área industrial, ajudar no planejamento e controle de
produção e na manutenção, além de dar suporte ao controle de qualidade e
fabricação. “Supervisiono os planos de meta na produção, abate e
desossa, visando à otimização dos produtos a serem trabalhados (carne de
equídeo). Também está sob minha responsabilidade gerenciar a alocação
de mão de obra no processo operacional e toda necessidade em relação à
empresa no quesito de manutenção e instalações”, afirmou Martins.
Por outro lado, cabe a Eduardo Barbosa cuidar do processo de exportação
da empresa. Segundo ele, apenas dois frigoríficos estão em funcionamento
no Brasil e devidamente credenciados pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Eduardo
Barbosa diz que o Prosperidad é um grande exportador de carne de
equídeos para o mercado europeu, mas nos últimos anos perdeu espaço para
produtores como México, Argentina e Canadá por causa do câmbio
O Frigorífico Prosperidad, em Araguari (o de maior capacidade
instalada), e o Foresta, no Rio Grande do Sul – este localizado na
cidade de São Gabriel -, são os únicos remanescentes desse mercado que
já contou com mais de sete frigoríficos em território nacional. Devido à
demanda para as exportações serem em grande escala, os frigoríficos
trabalham em parceria, uma vez que o Foresta é um frigorífico menor e
não consegue abastecer a demanda sozinho, por isso conta com a ajuda do
Prosperidad nas suas relações com o mercado externo.
“O Brasil já foi um grande exportador de carne para a União Europeia,
Ásia e África do Sul, mas devido à baixa cambial do dólar nos últimos
seis anos, perdemos espaço para o México, Argentina e Canadá. Sem falar
na competitividade da carne de porco nos países asiáticos”, contou
Barbosa.
Outra grande responsabilidade no Prosperidad fica a cargo de Edmar
Martins. É dele a responsabilidade pelo departamento da Garantia da
Qualidade, que atua em todas as etapas do processo, desde a recepção dos
animais até a expedição da carne, miúdos e subprodutos, realizando
monitoramento dos procedimentos operacionais para detectar, entre outras
coisas, possíveis falhas de ordem sanitária que possam ocasionar
contaminação do produto, avaliando a causa e determinando ações
corretivas/preventivas junto à Gerência Industrial e demais
colaboradores. “Realizamos também o controle de qualidade em
laboratórios credenciados ao MAPA através de amostragens do produto,
água e superfícies de contato, tais como instrumentos de trabalho (faca,
chaira, gancho e bainha), mesas onde realizam o toalete das peças,
Skinner / refiladeiras e outros, para garantia no fornecimento de um
produto dentro dos padrões sanitários com excelência”, disse Martins. O
frigorífico Prosperidad é o maior frigorífico em funcionamento e
credenciado pelo MAPA no Brasil e o segundo maior da América Latina,
perdendo apenas para a Argentina. Outro pequeno frigorífico está
localizado no país, porém não atende a demanda da exportação e é
abastecido pelo Triângulo Mineiro.
União Europeia é o maior mercado do frigorífico Prosperidad
Atualmente, o maior cliente do Frigorífico Prosperidad é a União
Europeia, seguida da África do Sul e do Japão. A empresa também está em
acordos comerciais bastante adiantados com a China e Rússia. Os
principais fornecedores de animais para o Prosperidad estão concentrados
nos estados de Goiás, São Paulo, Bahia e norte de Minas. Quem conduz a
transação de compra e entrega dos animais é o comprador de cavalos Alaor
Alves. Ele conta que são os próprios tropeiros que localizam, fazem o
processo de escolha do animal e depois os vendem para a empresa. “Os
tropeiros são trabalhadores autônomos que compram os animais de
produtores rurais, normalmente lotes de 20 a 30 animais – e depois os
vendem para o frigorífico. No ato da compra, o proprietário do animal
recebe a garantia do abate assegurando que seu animal não será revendido
posteriormente para outro fim”, explica Alves.
No processo de abate, são mobilizados cerca de 60 funcionários.
Primeiramente é feita a pesagem do animal, depois são inspecionados
pelos agentes do SIF e agentes de controle de qualidade e, em seguida,
vão para o curral, onde são alimentados e descansam por entre 6 e 12
horas. O abate e a desossa acontecem na sequência e o processo é
idêntico ao de bovinos, ou seja, sem causar nenhum sofrimento ao animal.
Posteriormente, a carne é cuidadosamente separada por tipo de corte,
embalada e exportada para vários países.
Em 2009, a União Europeia (UE) fez algumas exigências para os
frigoríficos, já que a Europa é o maior consumidor do mercado de carne. O
bloco passou a exigir rastreabilidade e mais controle dos medicamentos
dados aos equinos nos seis meses antes do abate. Em maio do mesmo ano,
foi aprovado por eles o plano de rastreabilidade e controle de
medicamentos para as exportações de carne de cavalo apresentado pelo
Brasil, que é o terceiro maior fornecedor de carne de equídeos para
países do continente europeu, atrás apenas do Canadá e da Argentina. Com
isso, o Brasil foi o primeiro a ter um plano aprovado pelo bloco. Com o
acordo, não houve interrupção no fluxo de vendas da carne para o
mercado comunitário. Depois dessa negociação com a Europa, a missão
brasileira em Bruxelas afastou o risco de interrupção no fluxo de vendas
de carne de cavalo brasileira para o mercado comunitário.
A aprovação europeia representa um importante avanço para o Brasil, já
que a UE é o principal destino do produto nacional. As exportações
recuaram 10% em 2009, em parte pelas restrições impostas pelo bloco. Em
2008, o Brasil exportou 8,5 mil toneladas de carne de cavalo para a UE; o
Canadá, 13,7 mil toneladas; e a Argentina, 13,2 mil toneladas.
A
equipe responsável pela administração do Prosperidad em Araguari (da
esquerda para a direita): Eduardo Barbosa, departamento de exportação;
Alaor Alves, comprador de animais; Neiva Araújo, gerente geral; Edmar
Martins, responsável pelo departamento da garantia da qualidade; e José
Donizeth Martins, gerente industrial
Fábrica de banha de porco se transformou em frigorífico
Foi em 1961 que o então comendador Erich Markus adequou a fábrica de
banhas de porco para se tornar um promissor frigorífico de equídeos na
região do Triângulo Mineiro, precisamente na cidade de Araguari. Em uma
dessas rodadas de negócios, com o engenheiro Eduardo Rinzler, eles
fecharam uma parceria que durou pouco tempo. O então frigorífico Avante
foi vendido para Rinzler, que aos poucos o transformou no maior
frigorífico de exportação de cavalos do país. Como em qualquer negócio,
as mudanças foram primordiais para transformá-lo em uma referência do
segmento em todo mundo. Para se ter uma ideia, em 2010 ele foi vendido
para um grupo Uruguaio, passando a se chamar Prosperidad. A mudança
proporcionou mais desenvolvimento para a empresa, além de novas
adequações ao mercado, considerado promissor.
O
Prosperidad S.A. é o maior e um dos dois únicos frigoríficos para abate
de equídeos no Brasil credenciados junto ao Ministério da Agricultura e
Pecuária (Mapa); no mundo, apenas outros quatro países praticam essa
atividade
Está sob a responsabilidade da administradora de empresas Sandra
Catharina Jorge, 52 anos, comandar os mais de 200 funcionários diretos e
indiretos envolvidos nas funções de administração, gerência, inspeção,
abate, desossa e exportação dos equinos, muares e asininos.
O processo de abate dos equídeos (que engloba as três classes dos
animais) assemelha-se com o de bovinos e suínos. A diferença é que não
há uma criação de cavalos específica para o abate, visto que são usados
animais de descarte, ou seja, com idade média de 12 anos. Por causa da
quantidade de hormônios e remédios aplicados, os animais utilizados em
práticas desportivas são totalmente descartados do processo de abate,
além de não pertencerem à classe de equídeos permitida para o consumo.
“O que muitas pessoas não sabem é que a carne de equídeo atua como
regulador do mercado interno e presta serviços importantes à sociedade
nas áreas sanitárias, de alimentação e de negócios”, ilustra a gerente
do Prosperidad, Neiva Araújo.
Procedência dos cavalos é uma das melhores
A diretora geral do Prosperidad, Sandra Catharina Jorge, que cuida
dos interesses gerais da empresa a partir de São Paulo, conta que as
características do processo de introdução do cavalo no Brasil diferem
das de outros países do continente americano. “Considero que a atual
criação brasileira de cavalos é uma das melhores, além das vantagens
competitivas frente aos principais polos internacionais de qualidade
genética. O clima, a mão de obra e o espaço garantem ao país uma
produção de animais de ponta a custos competitivos”, disse. O Brasil
exporta animais vivos para diversos países nas Américas e Europa. E
destaca-se no mercado internacional como exportador de carne de cavalo,
perdendo unicamente para Canadá e Argentina.
Do lado econômico, o frigorífico influencia a cidade de Araguari de
forma positiva. Quem conta essa história é o atual vice-prefeito da
cidade, Júberson Santos. Ele foi funcionário da empresa durante 10 anos.
“A contribuição do Prosperidad na economia de Araguari-MG é focada no
âmbito social, pois são gerados 110 empregos diretos. É importante
lembrar que é uma empresa de 50 anos de tradição e faz parte da história
da cidade”, ressaltou Santos. Ele completa que acompanhou a trajetória
do frigorífico de perto como funcionário e admirador do trabalho que é
desenvolvido na empresa. “Temos consciência da importância do
Prosperidad para a economia de Araguari”, finalizou.
Tabus e Curiosidades |
No mercado de carnes, vários tabus ainda
precisam ser quebrados. No Brasil, o consumo de carne de cavalo ainda
não é muito bem visto. Porém, a rejeição se estende a outros países. Os
EUA liberaram o consumo da carne apenas no fim do ano passado. O produto
era proibido desde 2006. |
Mesmo o Brasil sendo um pequeno consumidor
da carne de equídeos, o país aparece bem colocado como exportador desse
produto. Estamos em terceiro lugar no ranking de exportações, perdendo
apenas para o Canadá, México e Argentina, que aparece em primeiro lugar
como a maior potência desse segmento. |
Cerca de 15 mil toneladas são exportadas
por ano por via aérea e marítima, tendo uma receita média de US$ 35
milhões anuais. O quilo médio da carne custa R$ 25. |
De Araguari, a carne parte para outros países, como Bélgica, Itália, Rússia, Suíça e Japão. |
No oriente, a carne de cavalo é usada
também para outro prato: um sashimi exótico, o basahi, que pode ser
encontrado no país até como sabor de sorvete. O filé mignon também é
usado como produto base para o sushi, inclusive atualmente no Japão,
devido ao alto Preço do atum, alguns restaurantes têm usado a carne
cavalo para este fim. |
Em São Paulo, o maior centro urbano do
país, apenas dois restaurantes servem pratos com carne de cavalo. Sauro
Scarabotta, do Friccò, e Marcelo Pinheiro, do Tarsila, aderiram à
experiência e têm uma alta demanda da carne. |
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Tropa de qualidade |
Na última pesquisa feita pelo IBGE, a
tropa brasileira de equinos aparece como a segunda maior do mundo, com
5,6 milhões, ficando atrás apenas da China. Dentre as raças equinas
criadas no Brasil atualmente, destacam-se os Marchadores, Mangalargas,
Quartos de Milha, Árabes, Crioulos, Puro Sangue Ingleses, Puro Sangue
Lusitanos e Brasileiros de Hipismo, e suas misturas. A tropa brasileira
de asininos é composta amplamente pela raça nacional Pega e a Comum,
outras raças estrangeiras são encontradas em menor quantidade. |
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