Aluguel no Distrito Federal chega a variar 14.200% entre bairros e regiões
Publicação: 19/06/2011 13:36Atualização: 19/06/2011 16:31
A distância percorrida de casa até o trabalho é inversamente proporcional ao valor que se gasta com o aluguel no Distrito Federal. Enquanto é possível morar em uma casa em Ceilândia pagando R$ 270, há opções disponíveis no Lago Sul pela “bagatela” de R$ 38,5 mil por mês. O preço, 142 vezes superior, mostra que parte da população da capital do país é visivelmente excluída pela renda.
Ao optar pelo espaço e decidir viver em um apartamento de dois quartos no Gama em vez de uma quitinete na Asa Sul, ambas anunciadas por R$ 500 ao mês, é preciso estar disposto a gastar mais dinheiro com transporte, mais tempo com o deslocamento e a se irritar mais com o trânsito, dependendo do local des tarefas cotidianas. Os números fazem parte de um levantamento médio de preços feito pelo Correio.
A variação entre imóveis de dois cômodos no DF, por exemplo, pode chegar a 1.055%. Enquanto o mercado dispõe de opções a partir de R$ 450 em Sobradinho, na Asa Norte o aluguel pode chegar a R$ 5.200. Unidades de três quartos mostram um abismo ainda maior: é preciso empenhar 17,7 vezes mais para morar em um apartamento de três quartos no Sudoeste do que em uma unidade semelhante em Ceilândia. Sair do bairro nobre, neste caso, poderia representar economia de R$ 7.550 por mês.
Ao optar pelo espaço e decidir viver em um apartamento de dois quartos no Gama em vez de uma quitinete na Asa Sul, ambas anunciadas por R$ 500 ao mês, é preciso estar disposto a gastar mais dinheiro com transporte, mais tempo com o deslocamento e a se irritar mais com o trânsito, dependendo do local des tarefas cotidianas. Os números fazem parte de um levantamento médio de preços feito pelo Correio.
A variação entre imóveis de dois cômodos no DF, por exemplo, pode chegar a 1.055%. Enquanto o mercado dispõe de opções a partir de R$ 450 em Sobradinho, na Asa Norte o aluguel pode chegar a R$ 5.200. Unidades de três quartos mostram um abismo ainda maior: é preciso empenhar 17,7 vezes mais para morar em um apartamento de três quartos no Sudoeste do que em uma unidade semelhante em Ceilândia. Sair do bairro nobre, neste caso, poderia representar economia de R$ 7.550 por mês.
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Em bairros nobres, como o Lago Sul, o valor do aluguel de uma casa pode alcançar até R$ 38,5 mil por mês |
Para o especialista em direito civil e professor do UniCeub Ieudo Lacerda, a cidade se desfigurou após sofrer os efeitos criados pela forte demanda no Plano Piloto e pela consequente elevação dos preços na região central. “Não existe mais aquele projeto de harmonia na habitação. Os moradores estão sendo empurrados porque quem morava nas quadras 100, 200 ou 300 teve de mudar para as 400. Esses, por sua vez, vão para Guará, Núcleo Bandeirante ou Águas Claras. De lá, para Samambaia e Santa Maria e assim vai.”
Para exemplificar o ponto de vista, o professor criou uma família fictícia: um servidor do Banco do Brasil em início de carreira e uma professora da rede pública. Juntos, teriam um salário bruto de aproximadamente R$ 6 mil. Após os descontos, ficariam com pouco mais de R$ 4,2 mil e restariam
R$ 2,5 mil se eles pagassem o aluguel de um apartamento de dois quartos em Águas Claras. “O custo de vida na cidade é muito alto. Ainda é preciso levar em conta os outros gastos. Além dos essenciais, como água, luz e telefone, há transporte, alimentação, lazer e roupas. Morar mais perto significa aumentar custos e comprometer a qualidade de vida”, diz.
Centro de interesses
O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Benny Schasberg também acredita em uma “segregação socioespacial”. Ela seria acentuada pela estrutura da cidade. “Mais do que em outros lugares do país, temos em Brasília uma concentração estúpida de empregos formais e serviços públicos no centro, o que instiga uma intensa hierarquização relacionada ao local de moradia.” Para amenizar a disparidade de valores, o especialista defende a pulverização das oportunidades de trabalho e da oferta de serviços. “É preciso que políticas públicas provoquem uma descentralização”, sustenta.
Além do interesse em viver perto ou dentro do coração da cidade, algumas famílias precisam morar no DF gastando o mínimo possível. Aqueles que dispõem de até R$ 500 para custear a moradia só conseguiriam um apartamento de três quartos se fosse em Ceilândia. As opções de casas também são reduzidas. Pelo preço, apenas quatro regiões administrativas poderiam ser pesquisadas: Gama, Samambaia, Taguatinga e Ceilândia. Morar sozinho com esse dinheiro, no entanto, é bem mais fácil. Há pelo menos 10 regiões onde o limite no orçamento não impede o aluguel de uma quitinete.
Os projetos sem divisão de quarto ou cozinha voltados para esse público também sofrem grandes variações, apesar de serem mais acessíveis. Do Gama para o Lago Norte, o valor cresce 630%. Se o orçamento for maior e houver R$ 1 mil por mês para segurar o aluguel, praticamente todas as regiões da cidade abrem as portas. O que não significa que a qualidade do imóvel será equivalente.
O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário, Adalberto Valadão, adianta que os preços dos aluguéis devem continuar subindo, o que pode encurtar o leque de escolhas de quem vive na cidade. “A cidade é nova, está em fase de consolidação e a cada dia a demanda por imóveis aumenta.” Valadão também acredita que as regiões fora do Plano Piloto devem sofrer os maiores reajustes. “Quanto mais baixo o preço, mais espaço para crescer.”
Para exemplificar o ponto de vista, o professor criou uma família fictícia: um servidor do Banco do Brasil em início de carreira e uma professora da rede pública. Juntos, teriam um salário bruto de aproximadamente R$ 6 mil. Após os descontos, ficariam com pouco mais de R$ 4,2 mil e restariam
R$ 2,5 mil se eles pagassem o aluguel de um apartamento de dois quartos em Águas Claras. “O custo de vida na cidade é muito alto. Ainda é preciso levar em conta os outros gastos. Além dos essenciais, como água, luz e telefone, há transporte, alimentação, lazer e roupas. Morar mais perto significa aumentar custos e comprometer a qualidade de vida”, diz.
Centro de interesses
O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Benny Schasberg também acredita em uma “segregação socioespacial”. Ela seria acentuada pela estrutura da cidade. “Mais do que em outros lugares do país, temos em Brasília uma concentração estúpida de empregos formais e serviços públicos no centro, o que instiga uma intensa hierarquização relacionada ao local de moradia.” Para amenizar a disparidade de valores, o especialista defende a pulverização das oportunidades de trabalho e da oferta de serviços. “É preciso que políticas públicas provoquem uma descentralização”, sustenta.
Além do interesse em viver perto ou dentro do coração da cidade, algumas famílias precisam morar no DF gastando o mínimo possível. Aqueles que dispõem de até R$ 500 para custear a moradia só conseguiriam um apartamento de três quartos se fosse em Ceilândia. As opções de casas também são reduzidas. Pelo preço, apenas quatro regiões administrativas poderiam ser pesquisadas: Gama, Samambaia, Taguatinga e Ceilândia. Morar sozinho com esse dinheiro, no entanto, é bem mais fácil. Há pelo menos 10 regiões onde o limite no orçamento não impede o aluguel de uma quitinete.
Os projetos sem divisão de quarto ou cozinha voltados para esse público também sofrem grandes variações, apesar de serem mais acessíveis. Do Gama para o Lago Norte, o valor cresce 630%. Se o orçamento for maior e houver R$ 1 mil por mês para segurar o aluguel, praticamente todas as regiões da cidade abrem as portas. O que não significa que a qualidade do imóvel será equivalente.
O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário, Adalberto Valadão, adianta que os preços dos aluguéis devem continuar subindo, o que pode encurtar o leque de escolhas de quem vive na cidade. “A cidade é nova, está em fase de consolidação e a cada dia a demanda por imóveis aumenta.” Valadão também acredita que as regiões fora do Plano Piloto devem sofrer os maiores reajustes. “Quanto mais baixo o preço, mais espaço para crescer.”
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