terça-feira, 1 de dezembro de 2015

POR QUE ESCONDES TEU ROSTO E NÃO TE PREOCUPAS COM NOSSA AFLIÇÃO? Salmo 43,25

UMA NÃO PRECISA AMAR A OUTRA , SÓ NÃO QUERER DESTRUIR UM TRABALHO QUE ESTA SENDO FEITO EM PROL DESTES ANJOS QUE CADA DIA ESTÃO SENDO MORTOS , OU POR DOENÇAS OU ENVENENADOS OU FAMINTOS , QUEM NÃO GOSTA DE MIM ÓTIMO , GOSTARIA QUE GOSTASSE DELES, PQ EU NÃO PRECISO QUE NINGUÉM ME AME. PRECISO DE AJUDA PARA GRITAR PELA NOSSA CAUSA , PRECISAMOS URGENTE DE MEDICAMENTOS , RAÇÃO E VERBAS PARA SOCORRER ANIMAIS, NÃO TEM NADA DE GRAÇA . PENSE SERA A ULTIMA VEZ QUE TENTO JUNTAR TODOS PARA UM BEM COMUM, NOSSO ANJOS DE PATAS , SE NÃO TIVER BASE LAVO AS MINHA MÃOS ,PQ EU NÃO PRECISO FICAR SOFRENDO , GRITANDO SOZINHA , TUDO OU NADA ....

Mulher de Leopoldo López denuncia tentativa de homicídio na Venezuela Lilian Tintori diz que tentaram matá-la em comício que morreu opositor. Nicolás Maduro diz que assassinado foi acerto de contas.


Lilian Tintori (C), esposa do líder opositor venezuelano Leopoldo López, em uma entrevista coletiva em Caracas em 26 de novembro após o assassinato do também opositor Luis Manuel Díaz

O Ministério Público anunciou na segunda-feira o indiciamento de três homens pela morte a tiros do líder opositor venezuelano Luis Manuel Díaz, na quarta-feira da semana passada após um comício eleitoral em Guárico, região central do país.
"Os promotores do 38° nacional e 8° do estado Guárico, Edgar Angulo e Yomar Mota, respectivamente, indiciarão William Méndez Quiaro (28 anos), José Enrique Abad (25) e Ronald Ender Hernández (22)", informa um comunicado do MP.
Os três indiciados foram detidos na segunda-feira em Altagracia de Orituco, onde aconteceu o crime, ao fim de comício da oposição venezuelana que teve a presença de Lilian Tintori, esposa de Leopoldo López, líder político que está detido.
De acordo com Tintori, os tiros que mataram Luis Manuel Díaz aconteceram a "dois metros" dela, o que a levou a alertar que alguém deseja matá-la, mas sem apontar nomes específicos.
No fim de semana, o vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza, afirmou que a esposa de López poderia ser alvo de "mercenários financiados pela extrema-direita" para cometer crimes políticos antes das eleições legislativas do próximo domingo.
Tintori respondeu: "Sofri dois atentados e peço que sejam cumpridas as medidas cautelares para Leopoldo López na prisão de Ramo Verde, para meus filhos e para mim".
Ela responsabilizou diretamente o presidente "Nicolás Maduro do que possa acontecer a minha família, a Leopoldo, a meus filhos".

Operação encontra 11 pessoas em situação de trabalho escravo em obra olímpica Fernanda da Escóssia Do Rio de Janeiro para a BBC Brasil

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Image captionSeis pessoas dormiam em três beliches neste pequeno quarto
Baratas, mofo, lixo acumulado, falta de higiene, fios desencapados, camas num espaço apertado e sem ventilação. Você dormiria num lugar desses? Foi de um alojamento assim que 11 operários da construção civil foram resgatados, em condições degradantes, consideradas similares às do trabalho escravo, num condomínio residencial em Jacarepaguá (zona oeste) que será usado na Olimpíada 2016.
A operação de resgate foi encerrada na última sexta-feira pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel e Combate ao Trabalho Escravo do Ministério do Trabalho e Emprego, em conjunto com o Ministério Público do Trabalho e a Defensoria Pública da União.
O Verdant Valley Residence é de responsabilidade da construtora Living Amparo Empreendimentos Imobiliários, do grupo Cyrela. Segundo o site do empreendimento, o local será cedido ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 para ser usado para acomodações de mídia.
Será parte da chamada Vila de Mídia, que abrigará os jornalistas que vierem cobrir o evento. Os operários tinham sido contratados por empresas terceirizadas, subcontratadas pela Living para fazer o revestimento da fachada.
De acordo com o Código Penal, o trabalho análogo ao escravo pode ser caracterizado por um desses quatro itens, sozinhos ou em conjunto: trabalho forçado, jornada exaustiva, condições degradantes e privação do direito de ir e vir. No caso do alojamento flagrado pelos fiscais, as condições degradantes motivaram o fechamento do local.
Segundo os relatos dos participantes da operação, os 11 operários se amontoavam em uma casa de dois quartos, cozinha, sala e banheiro. Havia apenas um banheiro, sem chuveiro. A descarga não funcionava. Para tomar banho, os operários tinham de ficar colados à parede, pois a água caía direto de um buraco.
Seis pessoas dormiam em três beliches num quarto; duas em outro, muito pequeno, sem ventilação e coberto de mofo, e as demais em colchonetes na sala.
Não havia local para refeição, e os operários comiam no chão ou sobre a cama. O lixo se amontoava pela cozinha, usada também como depósito de roupa suja. Os trabalhadores bebiam água da torneira, armazenada em galões.
"O lugar era um caos. Baratas por todos os lados, 11 pessoas na mesma casa, duas delas dormindo em um quartinho tomado pelo mofo. Um lugar insalubre. O representante da construtora responsável pela obra tentou minimizar, e perguntei a ele: o senhor dormiria num lugar assim? Ele me disse então que não. Ninguém dormiria, não é digno", disse à BBC Brasil a procuradora do Ministério Público do Trabalho Guadalupe Louro Turos Couto, que participou da operação.
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Image captionLixo se acumulava pela casa onde operários viviam
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Image captionBanheiro não tinha chuveiro e mofo se espalhava pelos quartos
A maioria dos 11 trabalhadores era de outros Estados. Um pedreiro capixaba, que pediu para se identificar apenas como M., estava no emprego havia um ano e quatro meses. Tinha carteira assinada e disse que o salário era pago em dia.
Segundo M., operários já haviam pedido que os encarregados do alojamento melhorassem as condições de higiene. "Mas diziam que a gente podia ser mandado embora se reclamasse muito", conta.

'Problema comum'

O coordenador do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, André Wagner Dourado Santos, disse que é comum encontrar irregularidades em alojamentos de trabalhadores da construção civil.
Muitas vezes, a empresa é apenas autuada e se compromete a corrigir o problema. Mas, no caso do alojamento de Jacarepaguá, segundo Santos, havia um conjunto de problemas e praticamente tudo estava em desacordo com a lei.
O alojamento foi interditado, e os trabalhadores, transferidos para uma pousada. "Era um lugar insalubre, indigno, com baratas e risco de transmissão de doenças", disse Santos.
A Norma Regulamentadora (NR) 18 do Ministério do Trabalho, que trata especificamente da construção civil, estabelece que os alojamentos precisam ter, por exemplo, espaço mínimo entre as camas, ventilação e local para refeição.
Cabe ao empregador, por lei, garantir serviço de lavanderia e limpeza - o que derruba qualquer argumentação que tentasse atribuir aos operários a responsabilidade pela sujeira do local.
Santos disse que a Living, como encarregada da obra, responde pelas irregularidades e que uma das empresas do grupo, a Caçapava, foi autuada pelo flagrante. A Living, junto com as empresas terceirizadas TNO Engenharia em Revestimentos e AGL Construtora, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta comprometendo-se a solucionar os problemas.
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Image captionAlojamento foi interditado e os operários foram levados a uma pousada
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Image captionNão havia espaço para refeições e restos se acumulavam pela cozinha
Os trabalhadores foram dispensados e receberam as verbas referentes à rescisão - férias, 13º salário, Fundo de Garantia e multa de 40%, além de três meses seguro-desemprego no valor de um salário mínimo. Todos os operários receberam R$ 20 mil a título de indenização por danos morais.
Cinco trabalhadores preferiram voltar a seus Estados de origem, e a empresa pagou as passagens. Um deles quis continuar no emprego e voltará ao trabalho, mas em outro alojamento.
O Ministério Público do Trabalho iniciará ação civil pública para requerer dano moral coletivo pelos prejuízos causados à sociedade com o uso do trabalho em condições análogas ao escravo e questionar a contratação de empresas terceirizadas para atividades-fim, ou seja, o trabalho de construção.
Outro trabalhador, o pernambucano Luiz Paulo de Souza, de 39 anos, disse que chegou ao Rio em janeiro, vindo de Lagoa dos Gatos, em Pernambuco. Um amigo havia indicado a obra em Jacarepaguá e ele foi contratado por R$ 1.280 mensais como auxiliar de pedreiro. Disse que recebia o pagamento em dia, mas que o problema eram as más condições do alojamento.
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Image captionCômodos da casa estavam cobertos por mofo
"A gente que comprava material de limpeza. Nunca soube que a obrigação era do patrão, fazem questão de manter a gente na ignorância", afirmou. Quando falou à BBC Brasil, Souza estava dentro do ônibus de volta para sua cidade natal. Com o dinheiro, pretende terminar sua casa e abrir um pequeno negócio.

'Ainda me surpreende'

Em nota, a assessoria do grupo Cyrela, que responde pela Living, informou apenas que a Living mantém "procedimentos rigorosos em suas relações trabalhistas, obedecendo integralmente às leis vigentes, inclusive no que se refere às condições de trabalho de profissionais contratados por prestadoras de serviço que atuam em suas obras".
A nota informa ainda que a Living solicitou ajustes às suas prestadoras de serviço, sob pena de cancelamento dos contratos, e que tomou as providências legais cabíveis, dando suporte e assistência aos empregados.
Tanto a procuradora Guadalupe Couto como André Santos, coordenador do grupo de fiscalização, disseram ter se surpreendido com as condições degradantes do alojamento. "Não consigo deixar de me indignar", afirmou Guadalupe Couto.
Acostumado a viajar pelo país para coibir casos de exploração de trabalhadores, Santos se disse chocado. "É incrível que isso ainda aconteça, e não estou falando do interior do Brasil. Foi numa cidade grande como o Rio, uma cidade que vai receber as Olimpíadas. Isso ainda me surpreende".

Peças defeituosas e reação da tripulação estão entre causas de acidente da AirAsia, diz Indonésia


Por Kanupriya Kapoor e Fergus Jensen
JACARTA (Reuters) - Problemas crônicos com um sistema de leme avariado e a forma como os pilotos tentaram responder estão entre uma série de fatores que contribuíram para a queda de um avião da AirAsia no ano passado na Indonésia, que matou todos as 162 pessoas a bordo, disseram os investigadores nesta terça-feira.
O Airbus A320 caiu no mar de Java em 28 de dezembro, a menos de metade do caminho em um voo de duas horas iniciado na segunda maior cidade indonésia, Surabaya, com destino a Cingapura.
No seu primeiro relatório público sobre o desastre, os investigadores indonésios não apontaram um único motivo para que o voo QZ8501 desaparecesse do radar, mas estabeleceram várias causas, com destaque para defeito em equipamentos, problemas de manutenção e falhas da tripulação.
A investigação concluiu que o clima tempestuoso não está relacionado com as causas da tragédia.

O acidente foi parte de uma série de desastres aéreos na Indonésia, maior economia do Sudeste Asiático, onde o rápido crescimento das viagens aéreas provoca superlotação de aeroportos e preocupações com a segurança dos voos.
Os investigadores disseram que a movimentação do sistema de controle do leme havia rachado a solda que já apresentara repetidos problemas, incluindo quatro vezes durante o voo e 23 vezes no ano anterior.
Segundo relato de autoridades aos repórteres, o gravador de dados de caixa preta indica que a tripulação tentou desligar a energia do computador que controla o sistema de leme, redefinindo um disjuntor, algo não que não costuma ser feito durante o voo. Mas alertaram que não havia prova disso.
A interrupção de energia para o computador fez com que o piloto automático fosse desengatado e removeu as proteções automáticas, devolvendo o controle manual para a tripulação."Na sequência, a ação tripulação do voo resultou na incapacidade de controlar a aeronave", disse a comissão nacional de segurança do transporte, em um comunicado.
De acordo com a equipe de investigação, o sistema de manutenção da companhia aérea não era "ótimo" e, depois do acidente, a companhia aérea implementou 51 medidas para melhorar as condições de segurança.

Quebrando estereótipos "continuação."

Os muitos poderes da mulher Kalunga

Muitos são os poderes da mulher Kalunga. A casa é só o centro de tudo. Em Engenho Novo, numa das construções de alvenaria do governo federal que pôs fim às habitações de palha e de adobe, a mãe Getúlia, 57 anos, a filha Elizete, 28, dão o rumo ao futuro de oito crianças que correm livres pela comunidade. Elizete amamenta uma das gêmeas, enquanto Getúlia interrompe a conversa para avisar da janela o risco que os rebentos ainda desconhecem.
As crianças crescem aprendendo com a sabedoria dos mais velhos. Elizete se lembra do que o pai Sirilo, um dos líderes da comunidade quilombola, ensinava. Ela é do tempo das lamparinas de querosene e das casas distantes nove quilômetros uma das outras. Luz elétrica foi novidade do século 21. A chegada da televisão, então, um evento. Orgulhosos, Sirilo e Getúlia levavam a filha para assistir ao “Globo Rural”, programa predileto, na única televisão do povoado.
Mesmo com as tecnologias da cidade grande que Sirilo vislumbrou (algumas casas têm antena parabólica e wi-fi), a menina Kalunga começa a trabalhar cedo, nas coisas da casa e da roça, como se fazia antigamente. Não foi diferente com Elizete e não será com as filhas pequenas.
Aos 12 anos, Elizete estava na lida. Isso indica que a mulher Kalunga sempre se pôs ao lado dos homens, no lar e na labuta. Ainda que eles fossem o chefes da família consagrado pela tradição. O único que saia do sítio histórico para vender a colheita nas cidades.
Hoje, os tempos são outros. As mulheres também avançam as fronteiras. Saem para negociar e avançar nos estudos. Algumas conduzem as vidas sozinhas, sem o homem ao lado. Elizete, por exemplo, morou em Cavalcante para complementar os estudos. Na sua época, aprendizado, na comunidade, só tinha até o fundamental. Hoje, está implantado o ensino médio.
O dom do fogão de Elizete foi passado por mãe Getúlia, uma das primeiras empreendedoras da comunidade. Quando os visitantes começaram a aparecer em Engenho Novo, curiosos de tudo, Getúlia e Sirilo abriram um restaurante para alimentá-los. O povo da comunidade não vai comer lá porque não precisa. Comida, aliás, nunca foi problema para os Kalungas. Se a fome apertar, pega-se um coquinho de Macaúba no pé e levasse à boca. Hoje, para experimentar a comida de Getúlia, é preciso ligar, com antecedência, e avisar a quantidade de turistas que subirá a serra. A lida com o mundo novo que se abriu fez de Getúlia uma líder política.
Mãe Getúlia anda chateada com os sucessivos conflitos em torno da terra Kalunga. Ela conta que os grileiros chegam, fingem-se de amigos e, depois, passam a rasteira. São capazes de até queimar a plantação de arroz. Com eles, os Kalungas estão conhecendo a maldade humana.
Mãe Getúlia está a par dos direitos dos quilombolas. Sabe que tem muita coisa que precisa ser concedida pelo Estado. Está tudo previsto na Constituição. Isso tira sua paz. Ela se preocupa com o futuro dos netos. Quer que eles cresçam na comunidade sem ameaças e num tempo melhor. Diz que aprendeu muita coisa ouvindo “A Voz do Brasil”.

Rainha do tempo

O gosto pelo trabalho para a mulher Kalunga corre na veia. Mãe de Sirilo e avó de Elizete, Juliana Rosa é reverenciada pela comunidade logo que os visitantes chegam ao Engenho Novo. Numa das fachadas das casas, há um grafite com a imagem dela, sorrindo e recepcionando quem chega.
Aos 88 anos, mãe Juliana está surda e perdeu a capacidade de se comunicar por meio das palavras. Permanece, no entanto, lúcida. É capaz de reconhecer as fotos de todos que passaram por sua vida. Enquanto o fotógrafo Daniel Ferreira, do Metrópoles, mostra no visor da câmera as fotos das entrevistadas, ela balbucia o som do nome de cada uma.
A vocação para o trabalho na roça se sobrepôs aos dons da casa. Mãe Juliana era diferente. Do seu jeito, quebrou protocolos. Virou as costas para o casamento. Quis ser mãe solteira e não criou os filhos.
As crianças de mãe Juliana nasciam e eram entregues aos criadores. O que ela queria era trabalhar fora. Sirilo ficou com a tia, mãe Joana, poderosa parteira e benzedeira. Certa vez, mãe Juliana teve um surto psicótico (dizem que é comum na região). “Perdeu o cérebro” como falam os quilombolas. De repente, não se lembrava de mais nada. Nessa hora, os filhos espalhados se agregaram em torno dela. Hoje, mãe Juliana vive numa das casas das crias, resguardada como uma rainha Kalunga que viveu à frente de seu tempo. Ninguém a julga por nada. Apenas passam lá, ajoelham-se e pedem a bênção.

Linhagem de professoras

Rosilene Santos Rosa, 28 anos, queria ser professora, dar seguimento à linhagem de educadoras Kalunga da família. Mas teve três filhos e separou-se do marido. O tempo que tem se divide entre as coisas da casa, da roça e o trabalho de guia turística.
Ela costuma trazer os turistas para conhecer a casa de adobe, segunda geração de habitações da comunidade. Como a maioria das mulheres Kalungas, Rosilene não sabe detalhes da história dos antepassados. O pouco que conhece é que os negros chegaram fugidos dos engenhos, trazidos pelos índios para a Chapada dos Veadeiros. Aqui, eles se cruzaram, os negros africanos e os índios brabos. O povo Kalunga é essa mistura. Os turistas chegam sedentos de histórias. Na falta de repertório, Rosilene acaba contando casos da própria vida.
Feliz por criar os filhos na comunidade que se orgulha de fazer parte, Rosilene exalta a união dos Kalungas, povo que não depende de dinheiro para sobreviver.

Donas das tradições

Rosilene é filha de Joanir Francisco Maia, 58 anos, uma líder Kalunga que comanda festas religiosas, é rezadeira, professora e parteira de mão cheia. Joanir é do tempo que não havia pontes ligando uma comunidade à outra. Quando o rio enchia, as crianças do outro lado ficavam sem estudar porque não tinham como chegar à sala de aula. É irmã de uma Kalunga histórica, Joselina Francisco Maia. É o nome dela quem batiza a escola municipal.
Joselina tinha uma luta incansável para educar as crianças. Brigava por esse direito. Morreu aos 27 anos de parto, cercada pelas parteiras, mãe Messias e mãe Joana, esta última viveu até os 112 anos. Ao redor, as mulheres não desgrudaram um minuto de Joselina. Foi muita reza, carinho na cabeça e remédios caseiros. Mas a professora não sobreviveu.
Nessa época, Joanir ensinava adultos a ler e escrever. Com a morte da irmã, seguiu a sina e se tornou professora de todas as classes. Em sala de aula, fala do pertencimento à comunidade, das histórias que sabe. Mas não são muitas. A memória oral dos Kalungas se perdeu no vão do tempo.
Joanir tem a preocupação de cuidar bem da menina Kalunga que cresce hoje entre facilidades, mas não pode perder a tradição de vista. É ela quem solta a Festa do Divino de sua casa, uma das manifestações culturais que fortalecem a comunidade. É também quem puxa as rezas na igreja. Em Engenho Novo, a fé é de base católica.
As crenças dos deuses africanos não venceram o tempo. Acredita-se na força dos santos e nos remédios da natureza. No azeite de mamona, essencial para o parto das mulheres. Disso Joanir entende. Ela mesma tirou com as próprias mãos o filho do seu ventre. O rebento vingou.

Donas das tradições

Marcilene Rosa dos Santos Damasceno, 17 anos, nasceu em Brasília e veio com poucos dias para o Engenho Novo. Ela tem um orgulho que não cabe em si em ser negra e Kalunga. Quer ser médica e atender a comunidade. Não conhece muito a rotina da roça. A família tem dado a ela a chance de se dedicar aos estudos. Integra uma novíssima geração que se comunica com o mundo de fora sem perder a raiz. São crianças que não nascem mais pelas mãos das parteiras, porque agora há carros na comunidade. É possível chegar aos hospitais de Cavalcante. Antes, só no lombo dos animais. Era arriscadíssimo.
A função das parteiras, durante séculos, foi a de manter a população Kalunga preservada. Em que pese todos os riscos durante o nascimento, elas eram as guias da vida que explodia em choro de felicidade. Luzia da Cunha, 43, genitora de 10 filhos perdeu a mãe no parto, mas teve todos os seus rebentos naturalmente, nascidos pelas mãos das parteiras. Com Maísa da Cunha, 24 anos, uma de suas filhas, a história mudou.
Entre tantas atividades, Luzia e Maísa são guias turísticas e estão atentas às mudanças. Luzia aprendeu a fazer artesanato com fibra de banana e folha de buriti e Maísa tenta descobrir os segredos Kalungas para se diferenciar com os turistas.
Ela conta a história da planta Kalunga, uma das versões que batizaram o seu povo. "Kalunga era uma erva poderosa que curava malária." Comunicativa, acredita que a força da mulher Kalunga está em se manter e conservar as raízes. Talvez porque saiba que o homem Kalunga é do tempo e a mulher, do tempo e da casa.
Ela conta a história da planta Kalunga, uma das versões que batizaram o seu povo. Kalunga é uma erva poderosa que curava malária. Comunicativa, acredita que a força da mulher Kalunga está em se manter e conservar as raízes. Talvez porque saiba que o homem Kalunga é do tempo e a mulher, do tempo e da casa.

O saber universitário

Diracine Césario dos Santos, 29 anos, constrói a nova história da mulher Kalunga. Ela é professora e universitária. Estuda na Universidade de Brasília, em Planaltina. Não é a primeira Kalunga. Há muitas outras que estão discutindo o papel do seu povo. Hoje, fica entre a comunidade e o campus da Faculdade de Educação. Desenvolve uma importante pesquisa sobre as parteiras.
Diranice hospeda a tia, mãe Francelina, aquela senhora obcecada pela cobra que armou a tocaia no rio. Na hora de ser fotografada, todos pedem para que mãe Francelina ponha um sorriso no rosto. No lapso de lucidez, ela diz:
Daniel Ferreira / Metrópoles
A mulher Kalunga, aconchegante com quem chega, sabe que o riso fácil não cabe em sua história.
Daniel Ferreira / Metrópoles




Direção de jornalismo

Lilian Tahan

Edição

Otto Valle e Priscilla Borges

Coordenação

Gabriela de Almeida

Reportagem

Felipe Moraes, Gabriela de Almeida, Kelly Almeida, Leilane Menezes, Letícia Carvalho, Maíra de Deus Brito e Sérgio Maggio

Fotografia

Daniel Ferreira, Michael Melo e Rafaela Felicciano

Arte e Infográficos

Cícero Lopes, Joelson Miranda e Kácio Vianna

Edição de Vídeo

Gabriel Pereira e Gabriel Ramos

Ilustrações

Muha Bazila

Direção de Arte

Gui Prímola

Desenvolvimento

Felipe Marques