A mulher do funileiro Vitor Magalhães, que foi preso por suspeita de ligação com o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) na quinta-feira (21), disse em entrevista à Globonews que o marido "melhorou 100%" após se converter ao islamismo há cerca de seis anos e que é uma pessoa "amorosa". Larissa Rodrigues, de 22 anos, e os demais parentes de Vitor não se conformam com a prisão do jovem e negam a possibilidade de ligação com o terrorismo.
"Melhorou 100%. Ele era uma pessoa e, quando ele conheceu o Islã, virou outra. É uma pessoa amorosa, ama os filhos, ele me respeita. Ele é uma pessoa boa, quer ajudar todo mundo", afirma a mulher.
Conhecido como Vitor Abdullah, o jovem de 23 anos trabalha com o pai em uma oficina em
Guarulhos, na Grande São Paulo. Segundo seus parentes, Magalhães se converteu ao islamismo após ganhar uma bolsa de estudos. Ele viajou para o Egito para aprender árabe e atualmente ensina a o idioma.
A mãe do jovem, Rosemeire Barbosa, afirma que o filho "sempre foi um orgulho". Desde que nasceu. Sempre foi muito inteligente e sempre se interessou em aprender outras línguas", afirmou Rosemeire.
Após passar seis meses no Egito, ele voltou ao Brasil e começou a ensinar a língua a interessados em redes sociais, como Facebook e WhatsApp. Ele chegou a publicar vídeos no YouTube com dicas sobre árabe. "Ele ajudava as pessoas. Se alguém estava com dificuldade em traduzir alguma coisa, por exemplo, ele respondia dúvidas. Como ele está cursando uma faculdade disso, acabava ajudando ele mesmo também." Segundo ela, o filho estuda Letras.
A prisão
Na manhã desta quinta, por volta das 6h, a mãe de Magalhães foi surpreendida por cinco agentes da PF na porta de sua casa, em Guarulhos, com um mandado de prisão contra ele. Como o jovem e sua família moram perto da casa de seus pais, Rosemeire levou os policiais até lá.
Os pais conversaram com ele momentos antes de o jovem ser levado ao aeroporto de Cumbica. “Ele não deve nada. Ele disse para eu ficar tranquila que ele vai provar sua inocência", disse a mãe do jovem.
O pai de Magalhães, o também funileiro Francisco Sandoval Magalhães, de 49 anos, disse não ter entendido o motivo da prisão. "Para ser sincero, não sei porque ele foi preso. O que o Vitor faz é trabalhar. Ele tem dois filhos para criar. Trabalha e estuda. De repente a polícia vem e pega ele? Não sei de nada de errado que ele faz", disse.
A mãe acredita que seu filho tenha sido detido por conta de uma foto veiculada em uma reportagem da revista “Veja”, que trata sobre terrorismo. Na imagem, ele aparece com um grupo de homens ao lado da bandeira do
Estado Islâmico. Segundo Rosemeire, o filho nem sabia do significado da flâmula.
"Ele inclusive tinha falado para mim que ia fazer um BO por causa dessa foto. Que a publicação estava expondo ele com uma coisa que ele não tinha nada a ver. Uma foto antiga que ele tirou com o pessoal que estava estudando com ele lá no Egito", disse. De acordo com Rosemeire, o jovem não tinha a foto guardada e só ficou sabendo da reportagem por um amigo, que ainda teria brincado que agora ele estava famoso. "Ele ficou revoltado", contou a mãe.
O Ministério da Justiça afirmou que os presos se comunicavam em grupos de WhatsApp. "O único grupo que ele tinha com relação ao Islã era o de árabe, em que ele ajudava algumas pessoas dando aula de árabe.", disse sua mulher.
O G1 mostrou aos pais a fotografia de um dos detidos pela PF sendo levado ao avião. Ao verem a imagem que abre esta reportagem, os parentes reconheceram Vitor e choraram.
Pais de Vitor Magalhães negam que filho tenha ligações com terroristas (Foto: Will Soares/G1)
Vitor Magalhães dá aula de árabe pela internet (Foto: Reprodução/YouTube)
Polícia FederalDe acordo com a PF, os quatro mandados de prisão em São Paulo foram cumpridos em quatro cidades diferentes: na Zona Leste da capital, em
Campinas, em Guarulhos e em
Amparo.
Os presos estão à disposição da Justiça Federal, sob custódia da Polícia Federal, mas nenhum deles foi para a Superintendência da corporação em
São Paulo, na Lapa, Zona Oeste.
Às 15h, eles embarcaram em um avião da corporação no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. A PF afirmou, ainda, que não será informado o local para onde eles serão levados por questões de segurança.
Foram as primeiras prisões no Brasil com base na recente lei antiterrorismo, sancionada em março pela presidente afastada, Dilma Rousseff. Também foram as primeiras detenções por suspeita de ligação com o grupo terrorista Estado Islâmico, que atua no Oriente Médio, mas tem cometido atentados em várias partes do mundo.
As prisões, segundo o
Ministério da Justiça, ocorreram no Amazonas, no Ceará, na Paraíba, em Goiás, no Mato Grosso, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul, informou a assessoria do Ministério da Justiça. O governo e PF não divulgaram os nomes dos suspeitos e nem para onde eles foram levados depois da prisão.
Reprodução de vídeo mostra agentes da Polícia Federal (PF) conduzindo um dos suspeitos presos na Operação Hashtag, no Aeroporto Intercional de Guarulhos, na Grande São Paulo, nesta quinta-feira (Foto: Mario Angelo/Sigmapress/Estadão Conteúdo)
O governo e a
Polícia Federal não divulgaram os nomes dos presos nem para onde foram levados. De acordo com o jornalista Cesar Tralli, da TV Globo, por volta das 13h30, havia quatro detidos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, que embarcariam em um avião da PF.
Alexandre de Moraes disse que os detidos não tiveram qualquer contato com membros do Estado Islâmico e que se trata de uma "célula absolutamente amadora", porque não tinha "nenhum preparo".
"Mas obviamente que não podemos, nenhuma força de segurança, ignorar isso. [...] Só o fato de começarem atos preparatórios, não seria de bom senso aguardar para ver, e o melhor era decretar a prisão deles", afirmou o ministro. Moraes, porém, não detalhou quais foram os "atos preparatórios" que motivaram a prisão dos suspeitos.
Segundo o ministro, os detidos na operação, batizada de "Hashtag", nunca haviam se encontrado pessoalmente e eram monitorados há meses pela polícia. Eles costumavam se comunicar pela internet, pelo WhatsApp e pelo Telegram.
Questionado sobre como foi o monitoramento dos suspeitos, já que o WhatsApp foi bloqueado mais de uma vez pela Justiça brasileira justamente por não fornecer dados para investigações, o ministro inicialmente não quis responder. Depois disse que revelar como foi o monitoramento atrapalharia a investigação.