sexta-feira, 1 de abril de 2016

Contaminação do Rio Doce por lama da mineradora Samarco ainda é alta

Índices preocupantes de substâncias como arsênio, cádmio e chumbo levaram os órgãos ambientais a manter, por tempo indeterminado, a recomendação da suspensão da pesca ao longo da costa.

Josias da Vitoria/Secom

A contaminação por metais pesados em amostras colhidas em 13 pontos do Rio Doce e do mar, detectada em análises preliminares de pesquisadores das Universidades Federais de Rio Grande (Furg) e do Espírito Santo (Ufes), está acima do limite considerado aceitável pela legislação. Índices preocupantes de substâncias como arsênio, cádmio e chumbo levaram os órgãos ambientais a manter, por tempo indeterminado, a recomendação da suspensão da pesca ao longo da costa.

Um peixe roncador coletado das águas do rio, por exemplo, apresentava 140 vezes mais arsênio do que o máximo estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Os cientistas afirmam, porém, que o número representa apenas uma das mais de mil amostras coletadas no início do ano da foz, no Espírito Santo, até o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, no sul da Bahia. "Nem todas as amostras foram analisadas ainda, mas temos números expressivos que já auxiliam os órgãos públicos na tomada de decisões", disse o pesquisador Adalto Bianchini, especialista em toxicologia.

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Os dados parciais foram apresentados ontem ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Segundo o presidente do ICMBio, Cláudio Maretti, existe uma "preocupação mais aprofundada" em relação às Unidades de Conservação, que também foram atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG), quase cinco meses atrás. Em abril, deve haver uma nova expedição para coletar amostras.

Em 30 dias, novas recomendações sobre a pesca devem ser expedidas e a Samarco ainda pode sofrer novas autuações.

Por Aguiasemrumo: Romulo Sanches de Oliveira
Tenho uma distinta sensibilidade para chorar em ocasiões comuns. Não o faço apenas pelos animais, mas por sentir que cabe ao filho crescido cuidar de sua mãe, Mãe Terra! Compreendendo nosso planeta como um ser vivo, que respira e tem direito a vida.

Distritais cobram instalação da CPI da Saúde


Daniel Ferreira/Metrópoles
O requerimento de criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar a má gestão na saúde pública do DF ainda não foi lido no plenário da Câmara Legislativa


Protocolado há 15 dias, o requerimento de criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar a má gestão na saúde pública do Distrito Federal ainda não foi lido no plenário da Câmara Legislativa. Na sessão desta quinta-feira (31/3), diversos distritais cobraram a instalação da CPI da Saúde. Segundo o deputado Bispo Renato (PR), o deputado Lira (PHS) teria retirado o requerimento sem consultar os demais signatários. “Não pode ser uma decisão monocrática”, reclamou.

O líder do PT na Casa, deputado Wasny de Roure, concordou com o colega e se disse estarrecido com a retirada do requerimento. “Confiança exige reciprocidade”, apontou. “Essa situação soa mal. O requerimento tem de ser reapresentado e lido no plenário. A saúde está um caos há muito tempo”, completou Wellington Luiz (PMDB).
Já o deputado Ricardo Vale (PT) cobrou explicações por parte do deputado Lira, que coletou as assinaturas. “Precisamos saber se isso foi coisa dele ou do governador. Ele retirou sem falar com ninguém”, disse.
O objetivo da CPI da Saúde, assinada por 15 parlamentares, é “investigar indícios de malversação de recursos públicos” na Secretaria de Saúde do DF no período de janeiro de 2011 e março de 2016; ou seja, nos governos de Agnelo Queiroz (PT) e de Rodrigo Rollemberg (PSB). Com informações da Comunicação Social da Câmara Legislativa

Por Aguiasemrumo: Romulo Sanches de Oliveira

Todo esse mar de lama de corrupção, enriquecimentos ilícitos, nos dar a certeza da putrefação da política já que não existe ideologia. Um mandato parlamentar concede ao mau político a fazer negociatas com o erário público de interesses pessoais, sem o mínimo interesse com os sérios problemas e dificuldades enfrentadas pela nação, se esquecendo de que a pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. O voto no Brasil precisa deixar de ser obrigatório, pois a democracia séria e justa contempla esses benefícios a todos que não se identifiquem com as propostas de candidatos.
“Provérbios 12,34. A Justiça faz a grande a Nação, o pecado é a vergonha dos povos.”

Os anti-impeachment vão `as ruas engrossar mensagem contra ‘golpe’ Os pró-Dilma, mas também seus críticos que concordam que processo é "ilegal", levam 40.000 à Sé Manifestantes saem em todos os Estados no simbólico aniversário do regime militar

Ato na praça da Sé
“Não votei na Dilma, mas ela deve ficar. Se o Governo dela não está bom, que resolvam isso em 2018", disse a dona de casa Luiza Borges, na Praça da Sé, em São Paulo. Por ali também estava um grupo de cinco homens, todos por volta de cinquenta anos, que tirava uma selfie. “Preferia não ter que voltar aqui para defender a democracia de novo”, disse um deles, em referência à imensa manifestação no mesmo cenário que, em 1984, pediu eleições diretas no penúltimo ano da ditadura. Trinta e um anos depois, milhares voltaram para dizer "não vai ter golpe", numa mobilização que coincidiu com o aniversário da tomada do poder pelos militares em 1964. A data e a praça do centro - e não a usual avenida Paulista - buscavam exatamente esse simbolismo: reforçar a mensagem de defesa da presidentaDilma Rousseff de que o processo de impeachment que tramita na Câmara contra ela é legalmente frágil e, portanto, um "golpe" contra a democracia.
De acordo com o Datafolha, 40.000 estiveram no protesto em São Paulo, enquanto os organizadores estimaram em 60.0000 e a Polícia Militar, em 18.000. Além de São Paulo, todos os Estados e o Distrito Federal também assistiram a manifestações contra o impeachment, apenas duas semanas depois de grandes marchas tomarem as cidades pelo mesmo motivo, convocadas por movimentos sociais e sindicatos. De acordo com um levantamento realizado pelo portal G1, 149.000 pessoas saíram às ruas no Brasil em 75 cidades, segundo estimativas policiais. Há 15 dias foram 275.000 pessoas em 54 cidades, segundo as mesmas fontes.
Enquanto as marchas ainda se desenrolavam, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu a mobilização em vídeo distribuído pelo Instituto Lula. De branco, ele pediu constância na resistência ao “golpe”. Apesar do menor fôlego, os atos pró-Dilma Rousseff foram um alento em uma semana crítica para o Governo, quando a presidenta viu seu principal aliado, o PMDB, abandonar a gestão. A quinta-feira relembrou a seus opositores que o Planalto e o PT, se imensamente menos populares do que o impeachment apoiado por mais de 60% da população, ainda têm alguma musculatura de rua.

Michel Temer e Chico Buarque

Os discursos das manifestações refletiram o novo quadro, com o rompimento do Planalto com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que herdará o Planalto em caso de impeachment. Em Brasília, 50.000 pessoas, segundo a Polícia Militar, e 200.000, conforme os organizadores, ouviram oradores inflamados atacarTemer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Sobraram críticas também para o juiz Sergio Moro, da Lava Jato. "Os golpistas querem instalar a ditadura do capital e da toga", afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas.
Na capital brasileira, aglomeravam-se representantes de centrais sindicais, movimentos sociais e partidos políticos pelo trajeto entre o estádio Mané Garrincha e o Congresso Nacional, um percurso de quase cinco quilômetros. Em frente ao Congresso, falaram deputados, senadores, atores, presidentes de sindicatos, dirigentes de ONGs, o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, e um ex- ministro de Lula, Samuel Pinheiro Guimarães.
Ricardo Stuckert Instituto Lula Quality
No mar vermelho da militância organizada, havia os não tinham nenhuma filiação partidária ou atuação política: estudantes, microempresários e servidores públicos que discordam do Governo Dilma Rousseff, mas acreditam que o impeachment como está proposto é ilegal. "Sei que a Dilma fez um monte de barbeiragem, mas não posso ser a favor de um golpe. Prefiro criticá-la do que apoiar sua queda", afirmou a funcionária pública Sandra Almeida em Brasília.
No Rio, a mensagem em defesa contra o impeachment acima das simpatias pelo PT foi reforçada pelo cantor e escritor Chico Buarque. Em discurso curto, Chico falou sobre a "integridade" da presidenta. Gente que votou no PT, gente que não gosta do PT, gente que foi do PT e se desiludiu, gente que votou na Dilma, gente que votou na Dilma e está decepcionado com o seu governo. Gente que não pode pôr em dúvida a integridade da presidente Dilma Rousseff", começou o cantor, que assinou manifesto em defesa do Governo e já participou de outras campanhas petistas. "Não, de novo não. Não vai ter golpe."

PF deflagra a 27ª etapa da Operação Lava Jato em SP e cidades do interior 01/04/2016 07h49 - Atualizado em 01/04/2016 08h10

Do G1 PR

Operação cumpre 12 mandados judiciais, sendo dois de prisão temporária. 

Ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares é alvo de condução coercitiva.

A Polícia Federal (PF) cumpre 12 mandados judiciais da 27ª fase da Operação Lava Jato em São Paulo desde a madrugada desta sexta-feira (1º). A ação foi batizada de Carbono 14.
Foram expedidos mandados de prisão contra Ronan Maria Pinto e Silvio Pereira e mandados de busca e apreensão nas empresas DNP Eventos, Expresso Santo André no Diário do Grande ABC. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares é alvo de condução coercitiva - quando uma pessoa é levada a depor mesmo contra a vontade. Também é alvo da mesma medida Breno Altman.
Do total de mandados expedidos, dois são de prisão temporária, oito de busca e apreensão, além de dois de condução coercitiva.
A ação ocorre em São Paulo, Carapicuíba, Osasco e Santo André. De acordo com os policiais, a ação ocorre "em referência a procedimentos utilizados pela ciência para a datação de itens e a investigação de fatos antigos".
Entre os crimes investigados estão extorsão, falsidade ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
A prisão temporária tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo período ou convertida em preventiva, que é quando o investigado fica preso à disposição da Justiça sem prazo pré-determinado. Os presos serão levados para a Superintendência da PF, em Curitiba.
26ª fase
A 26ª fase foi deflagrada no dia 22 de março e cumpriu 108 mandados judiciais. A ação foi batizada de Xepa e é um desdobramento da Operação Acarajé, a 23ª fase, que ocorreu em fevereiro deste ano e investiga o pagamento de propinas por parte do Grupo Odebrecht a agentes públicos.

Na quinta-feira (24), o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, decretou sigilo sobre toda a investigação referente à 26ª etapa.

Senadores pedem na PGR perda de função pública de Dilma e Jaques Wagner

Justificativa seria a "possível prática de ato de improbidade administrativa"

Senadores pedem na PGR perda de função pública de Dilma e Jaques Wagner
Senadores pedem na PGR perda de função pública de Dilma e Jaques Wagner
Foto: Agência Brasil
BRASÍLIA - Os senadores Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e José Medeiros (PSD-MT) ingressaram agora na tarde desta quinta-feira, 31, com uma representação na Procuradoria Geral da República contra a presidente Dilma Rousseff e o ministro-chefe do gabinete pessoal da presidência, Jaques Wagner, "em razão da possível prática de ato de improbidade administrativa" por conta da negociação do governo junto ao Congresso em troca de votos contrários ao processo de impeachment.
Na representação, também assinada pela representante da Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos, Carla Zambelli, os senadores pedem a imediata abertura de inquérito civil administrativo e, caso seja comprovada a culpabilidade dos representados, a aplicação do art.12, inciso III da lei 8.429/92, que prevê a perda da função pública e suspensão dos direitos políticos por um prazo de três a cinco anos.
Desde o desembarque do PMDB, na última terça-feira, 29, deputados e senadores, principalmente de partidos cujos parlamentares não são unanimidade sobre a questão do impeachment, têm sido assediados por membros do governo para se manter na base aliada.
Na Câmara, fala-se que o governo abriu a "barraca na feira" para negociar cargos em troca de apoio para garantir o mínimo de 171 votos na votação do impeachment no plenário.
Os autores argumentam que recentes declarações feitas pelo ministro Jaques Wagner, de que o governo estava sendo repactuado e saída do PMDB abriria espaço para "um novo governo" revelam "explicitamente a adoção de práticas de inspiração política, porém lastreados em atos jurídico-administrativos eivados do mais aparente desvio de finalidade, sob a orientação e em cumprimento a determinação direta da presidente Dilma."
Para os senadores, as condutas de Dilma e Wagner podem ser enquadradas no art 11, inciso 1º da mesma lei 8.429/92, que prevê a prática de "ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência".
"Na perspectiva de recompor a base de apoio do governo no Congresso Nacional e, dessa forma, recobrar o fôlego na tentativa de evitar o impedimento da presidente da República, o Governo Federal, por meio do chefe do Poder Executivo e do referido ministro Jaques Wagner, saiu declaradamente em busca de novos partidos e/ou parlamentares avulsos dispostos a aceitar cargos em troca de voto favorável à presidente no processo do impeachment", argumentam os autores da representação.
Estadão Conteúdo

Lula, o pacificador Aos olhos dos dominantes, Lula da Silva tornou-se uma liderança embaraçosa, passível de ser encarcerada por uma razão qualquer, justificável ou não. Mas o que quer que aconteça nos próximos meses no país, será ele que estará no centro do palco, pronto a reinventar-se politicamente. Por Ruy Braga.

Lula discursa a manifestantes reunidos na Avenida Paulista contra o golpe e pela democracia em São Paulo no dia 18 de março de 2016.
A convite da professora Natalia Brizuela, participei há cerca de duas semanas do lançamento do dossier especial da revista Film Quarterly (vol. 69, no. 3) dedicado ao legado do cineasta Eduardo Coutinho. O evento ocorreu no intervalo da apresentação de dois documentários de Coutinho, Boca de Lixo (1993) e Peões (2004), no prédio recém-inaugurado do Berkeley Art Museum and Pacific Film Archive (BAMPFA). A Natália pediu-me para apresentar o filme Peões ao público presente no mais novo museu da Universidade da Califórnia em Berkeley. Rapidamente, fiz alguns comentários sobre o método etnográfico “radical” de Coutinho e a sua habilidade de condensar os dilemas da visão social de mundo dos subalternos em entrevistas trespassadas por um profundo sentido de dignidade humana.
Além disso, busquei contextualizar historicamente o tema de Peões, isto é, o filme que, rodado em 2002, ano da eleição de Lula da Silva, Coutinho dedicou à trajetória da classe operária fordista do ABCD paulista. Observei como o documentarista foi hábil em restituir a agência histórica aos próprios trabalhadores. Afinal, tendo em vista o sucesso de Lula da Silva e da burocracia sindical de São Bernardo, muitas vezes não nos lembramos que foi aquela classe operária semiqualificada retratada nas telas por meio de algumas trajetórias individuais exemplares a verdadeira protagonista do ciclo das greves de 1978, 1979 e 1980. Os peões explicam o ativismo de Lula da Silva, mas Lula da Silva não consegue explicar o ativismo dos peões.
Diante do atual ciclo de greves, desconfio que, entre as incontáveis explicações para a atual crise política, a mais subestimada talvez seja essa: as classes dominantes simplesmente não precisam de uma burocracia sindical incapaz de controlar suas próprias bases
Lembrei ao público que após o golpe de 1964, a ditadura civil-militar interveio nos sindicatos, perseguindo as lideranças comunistas do ABCD paulista e substituindo-as por antigos aliados dos patrões diversas vezes batidos nas eleições sindicais e normalmente alinhados aos setores conservadores da igreja católica. Paulo Vidal foi o mais bem-sucedido deles. Conhecido por entregar militantes de esquerda à polícia e ameaçar quem falasse em greve, Vidal foi o predecessor de Lula da Silva na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. O “sindicalismo autêntico”, como ficou conhecida essa corrente sindical, nada mais era do que uma tentativa extemporânea de negociar com as multinacionais da região pequenas concessões materiais ao estilo do business unionism estadunidense (sindicalismo de negócios) no qual a nova burocracia de São Bernardo se espelhava.
Batendo de cara com o total desinteresse das empresas em negociar com os trabalhadores, afinal, o golpe de 1964 serviu exatamente para barrar as concessões materiais ao operariado conquistadas pelas greves do período populista, e pressionados pelo aumento da mobilização das suas próprias bases, a escolha de Lula da Silva como sucessor de Paulo Vidal em 1976 marcou o momento da renovação das velhas práticas sliadas aos patrões de controle da insatisfação operária pela burocracia sindical. Diante da inevitabilidade da greve, Lula da Silva soube reinventar-se politicamente, passando de instrumento do assistencialismo sindical à principal liderança de um movimento operário intempestivo e, até certo ponto, imprevisível.
No entanto, o documentário de Coutinho mostra uma dimensão ainda mais sutil dessa história. Na realidade, o filme captou a relação dialética entre a insatisfação, os desejos e as iniciativas políticas dos peões, verdadeiros sujeitos da sua própria história, e a tentativa de controlar esta agência empreendida por Lula da Silva. Recorrendo a outros filmes da época, em especial, o já clássico Linha de Montagem (1982) de Renato Tapajós, Coutinho revelou por meio de detalhes – o choro, a ansiedade, a chantagem emocional e o pedido do voto de confiança –, o nascimento de uma liderança política ainda desconfiada da sua própria força. Ao mesmo, tempo, o cineasta mostrou como nesses instantes de fragilidade de Lula da Silva, os dilemas dos próprios operários ao se “tornarem” parte da história se condensavam e encontravam um sentido mais ou menos consciente.
Perante um golpe legislativo-mediático-judiciário em curso contra a sua afilhada política, Lula relembrou um país dividido e conflagrado qual seu papel histórico: ser o grande pacificador da luta de classes.
Sabemos que daí surgiu um líder cuja legitimidade deriva do controle da insatisfação popular por meio de negociações que lentamente garantem pequenas concessões aos trabalhadores. Uma força social reformista a afiançar o armistício entre a autonomia dos subalternos e a presunção dos dominantes. Quando isso não é possível, a sua utilidade tende a declinar até o ponto em que o estabelecimento de um novo pacto volte a ser uma opção credível. No mundo do trabalho, o colapso do armistício entre as classes geralmente vem sob a forma de uma onda grevista.
De fato, de acordo com os últimos dados do Sistema de Acompanhamento de Greves do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconómicos (SAG-Dieese), os trabalhadores brasileiros protagonizaram em 2013 uma onda grevista inédita na história do país, somando 2.050 greves. Isto significou um crescimento de 134% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 877 greves. Este número superou o ano de 1990, configurando um novo recorde na série histórica do SAG-Dieese. Em termos de horas paradas, tivemos 111.342 horas paradas, em 2013, representando um crescimento de 28% em relação ao ano anterior. Trata-se do maior número desde o ano de 1990, quando foram registradas 117.027 horas paradas.
Assim, o país superou o declínio grevista das últimas duas décadas e o movimento sindical readquiriu certo protagonismo político. Em várias capitais, as greves bancárias tornaram-se rotineiras. Além disso, professores, funcionários públicos, metalúrgicos, operários da construção civil, motoristas e cobradores reconciliaram-se com a mobilização sindical entre 2013 e 2015. Um notável protagonismo da esfera privada tornou-se saliente, consolidando a tendência iniciada em 2012. Proporcionalmente, as greves da esfera privada representaram 54% do total, superando as greves da esfera pública.
No que toca às greves ocorridas na esfera privada, por exemplo, a maior parte das greves defensivas (46%) esteve diretamente associada ao descumprimento de direitos sociais e laborais por parte dos empregadores. Em comparação com o ano de 2012, nota-se um importante aumento (21,6%) na proporção do número de greves relacionadas com o pagamento de salários em atraso, um indício claro da deterioração das condições gerais de reprodução do regime de acumulação. Com um crescimento de 332% em relação a 2012, em apoio à tendência identificada acima, vale a pena destacar a verdadeira explosão de greves ocorrida no domínio que junta com mais frequência os grupos de trabalhadores não qualificados ou semiqualificados, terceirizados, sub-remunerados, submetidos a contratos precários de trabalho e mais distantes de certos direitos laborais, isto é, o setor de serviços privados.
O cimento ideológico da redução da pobreza não é mais eficiente perante o quadro de aumento do desemprego e aprofundamento das desigualdades entre as classes. De fato, estamos diante do retorno ruidoso da luta de classes no país.
Além de oito greves nacionais realizadas pelos trabalhadores bancários, nota-se, também, um particular ativismo existente entre os trabalhadores do turismo, limpeza, saúde privada, segurança, educação e comunicação. No entanto, a maioria das greves foi feita por trabalhadores dos transportes. Além disso, é possível notar uma tendência semelhante quando observamos os trabalhadores do serviço público. Tanto em termos de administração direta quanto em relação às empresas estatais, o aumento mais expressivo das greves deu-se nos municípios.
Nesse sentido, a atividade sindical ampliou-se para categorias diferentes daquelas já tradicionalmente mobilizadas. Aqui também a atividade grevista avançou na direção dos grupos de trabalhadores mais precarizados do Estado. Em termos gerais, considerando tanto a esfera privada quanto a pública, é possível identificar uma expansão do movimento do centro para a periferia numa espécie de transbordamento grevista. Além da presença cada vez mais saliente das reivindicações defensivas nas pautas sindicais, este avanço das greves para a periferia dos diferentes setores económicos revela uma forte aproximação do precariado urbano em relação à mobilização sindical.
Diante do atual ciclo de greves, desconfio que, entre as incontáveis explicações para a atual crise política, a mais subestimada talvez seja essa: as classes dominantes simplesmente não precisam de uma burocracia sindical incapaz de controlar suas próprias bases. Sobretudo, no momento em que o único projeto realmente credível para os dominantes consiste em restaurar a acumulação capitalista aprofundando a espoliação social por meio do ataque aos direitos dos trabalhadores. Em suma, aos olhos dos dominantes, Lula da Silva tornou-se uma liderança embaraçosa, passível de ser encarcerada por uma razão qualquer, justificável ou não.
Apoiando-se na mobilização dos trabalhadores organizados, Lula da Silva transforma-se numa força política incontornável.
Mas o que a burguesia brasileira parece ter subestimado na atual crise é exatamente aquilo que Eduardo Coutinho revelou tão bem em seu filme: os dilemas de se “tornarem” parte da história dos subalternos condensam-se num significante ambivalente. E no último dia 18 de março, Lula da Silva ressurgiu à frente de uma multidão formada por 100 mil pessoas em plena Avenida Paulista. Perante um golpe legislativo-mediático-judiciário em curso contra a sua afilhada política, ele relembrou um país dividido e conflagrado qual seu papel histórico: ser o grande pacificador da luta de classes. Será suficiente para parar o golpe? Aposto que não. Afinal, na atual crise orgânica brasileira, soluções mediadas perderam o seu lugar. O cimento ideológico da redução da pobreza não é mais eficiente perante o quadro de aumento do desemprego e aprofundamento das desigualdades entre as classes. De fato, estamos diante do retorno ruidoso da luta de classes no país.
No entanto, tendo em vista a atual volatilidade política, Lula da Silva soube entregar a sua mensagem ao país. Dentro ou fora da prisão, se o golpe da direita avançar, ele irá liderar a resistência legalista. E se as classes dominantes decidirem improvisar uma solução negociada, novamente, será ele a afiançar o pacto conservador. Apoiando-se na mobilização dos trabalhadores organizados, sobretudo, Lula da Silva transforma-se numa força política incontornável. E o que quer que aconteça nos próximos meses no país, será ele – e não Sérgio Moro – que estará no centro do palco pronto a reinventar-se politicamente, tal como ocorreu em 1978 em São Bernardo.
Publicado originalmente a 28 de março de 2016, no Blog da Boitempo

Defesa de Dirceu pede internação urgente para exames

TV BrasilMédico de Brasília assina atestado médico em que afirma que o réu é idoso e sofre de hipertensão
Preso desde 3 de agosto de 2015, na Operação Pixuleco, desdobramento da Lava Jato, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu quer ser internado em um hospital para exames. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.
Dirceu, 70 anos, está detido no Complexo Médico-Penal, em Pinhais (região metropolitana de Curitiba). Um atestado assinado por um médico de Brasília afirma que o réu é um paciente idoso que sofre de hipertensão e se queixa de cefaleia (dor de cabeça) há mais de 20 dias. A reportagem ainda diz que o documento afirma que ele faz uso de medicação de alto custo e pede a internação para exames em “caráter de urgência”.
A defesa do petista afirma que o caso necessita de aparelhagem não disponível no hospital público e que a família tenta agendar uma consulta em um hospital particular.
O pedido será analisado pelo juiz Sergio Moro, responsável pelas ações da investigação Lava Jato.