sexta-feira, 18 de março de 2016

Sergio Moro: Herói anticorrupção ou incendiário? Ruth Costas Da BBC Brasil em São Paulo Há 1 hora

(Foto: Valter Campanato/Ag. Brasil)Image copyrightAg. Brasil
Image captionHomenagens ao juiz Sergio Moro têm sido comuns nos protestos antigoverno
Há dois anos a maior parte dos brasileiros nem sabia quem era Sergio Moro.
Hoje, as milhares de pessoas que têm saído às ruas para protestar contra a corrupção e o governo se unem na grande admiração pelo juiz de Maringá (PR), responsável pelas decisões da Operação Lava Jato na primeira instância. "Somos todos Moro", dizem cartazes nas manifestações por todo o país.
Para uma grande parte da população, Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, é um herói nacional.
Já simpatizantes do governo o acusam de "agir politicamente" e de inflar os ânimos da população de forma "irresponsável", favorecendo um "golpe" ao revelar o polêmico áudio de uma ligação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff, exatamente no dia marcado para a posse do ex-presidente como ministro-chefe da Casa Civil.
Segundo investigadores da Lava Jato, a ligação sugere que Lula foi nomeado ministro nesta quinta-feira para ter foro privilegiado e fugir do alcance de Moro. Dilma nega e acusa o juiz de "afrontar direitos e garantias da Presidência".
"Todas as medidas judiciais e administrativas cabíveis serão adotadas para a reparação da flagrante violação da lei e da Constituição cometida pelo juiz autor do vazamento", diz nota emitida pelo Palácio do Planalto.
Para Moro, "havia justa causa e autorização legal para a interceptação" e o caso seria comparável ao do presidente americano Richard Nixon, que renunciou em 1974 acusado de obstrução da Justiça.
(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag. Brasil)Image copyrightAg. Brasil
Image captionMagistrado atuou com a ministra Rosa Weber durante o julgamento do mensalão

Lava Jato

Muito antes da disputa aberta com Dilma, Moro foi arrastado ao centro da crise política brasileira por fazer na Lava Jato algo sem precedentes: investigar, prender e condenar um grande número de empresários e políticos poderosos.
Até o ano passado, por exemplo, se alguém dissesse que o presidente da maior empreiteira do Brasil, Marcelo Odebrecht, iria para a cadeia por corrupção, poucos acreditariam (há algumas semanas, ele foi condenado por Moro a mais de 19 anos de prisão).
"Moro é parte de uma geração de juízes e promotores que se formou depois da ditadura e que tem uma visão democrática e republicana bastante consolidada", opina José Álvaro Moisés, diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP.
"Ele desafiou essa lógica até então consolidada no Brasil de que quem tem recursos ou poder consegue escapar do alcance da lei."
Há quem tenha uma visão mais crítica – mesmo entre opositores do governo.
Alguns juristas, por exemplo, condenam algumas práticas do juiz na Lava Jato – como os que veem uso abusivo do mecanismo de prisões preventivas.
Mesmo a seção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil soltou nota de repúdio às escutas de Lula, na qual diz que o procedimento é "típico de estados policiais".
"É fundamental que o Poder Judiciário, sobretudo no atual cenário de forte acirramento de ânimos, aja estritamente de acordo com a Constituição e não se deixe contaminar por paixões ideológicas", afirma o comunicado.
(Foto: BBC Brasil)
Image captionNos protestos antigoverno em São Paulo, cartazes e gritos de guerra homenageiam o juiz
Para Renato Perissinotto, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Moro parece ter um senso de "missão" muito forte mas, no atual contexto, é natural que desenvolva certa "vaidade", que queira fazer "história" – e isso influencie seu trabalho.
"Apesar de aparentemente ele não ser partidário, sua atuação acaba tendo um caráter político", diz.
"Ao que tudo indica, essa operação (Lava Jato) vai pegar todo mundo. Vai colocar em xeque o próprio sistema político, que sempre funcionou com base em caixa 2. Mas o problema é que não sabemos o que vai surgir com o colapso do sistema. Pode não ser algo melhor. Podemos ter a ascensão de um líder radical. Enfim, tudo é possível. "
Tido como sério e reservado – mas com um senso de humor refinado – Moro é filho de um professor de geografia e cresceu em uma família de classe média de Maringá.
Ele se formou em Direito em 1995 na Universidade Estadual de Maringá. E em uma palestra para estudantes, recentemente, confessou que até mais da metade do curso se questionava se havia feito a escolha certa.
Mas se havia dúvidas, elas parecem ter durado pouco. Em 1996, com apenas 24 anos, Moro passou em um concurso para se tornar juiz federal. Fez mestrado e doutorado, estudou na escola de direito de Harvard e participou de programas de estudos sobre o combate à lavagem de dinheiro do Departamento de Estado dos EUA.
"Ele é extremamente estudioso e as experiências internacionais parecem ter ajudado muito em sua formação. Cada vez que viaja volta com um monte de livros", diz Carlos Zucolotto, amigo de Moro e de sua mulher, Rosângela, que chegou a trabalhar em seu escritório de direito trabalhista no Paraná.
(Foto: Getty)Image copyrightGetty
Image captionGoverno diz que acionará juiz por tornar públicas conversas entre Lula e Dilma
Em 2003, com apenas 31 anos, Moro pegou seu primeiro grande caso: o Banestado, que investigou a remessa ilegal de US$ 30 bilhões ao exterior entre 1996 e 2002.
Em 2004, participou da Operação Farol da Colina, na qual dezenas de doleiros foram presos. E, em função dessas duas experiências, em 2012 foi convocado pela ministra Rosa Weber para auxiliá-la na investigação do mensalão.
"Ele dava aula na UFPR, que tem muitos acadêmicos de esquerda, e lembro que sua atuação no mensalão causou um certo mal-estar", diz um jurista do Paraná.
Hoje, sites e blogs de esquerda acusam o magistrado de ter ligações com a oposição. Um deles chegou a publicar que sua mulher seria advogada de um político do PSDB – o que ela nega. Outro diz que o pai do juiz teria sido filiado.
"Conheço a família há muitos anos e posso garantir que essas acusações são absurdas e já foram desmentidas", diz Zucolotto. "Nenhum deles tem ligações com partido algum."
Um bom ponto de partida para se tentar entender a cabeça de Moro é o artigo que ele publicou em 2004 na Revista Jurídica do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) sobre a megaoperação italiana conhecida como Mãos Limpas (Mani Pulite), que precipitou o colapso dos partidos tradicionais desse país e serviu de inspiração para a Lava Jato.
(Foto: Ag. Brasil)Image copyrightAg. Brasil
Image captionMoro tem usado largamente instrumentos como delação premiada e prisão preventivas
Lá, ele defende práticas e princípios que, mais tarde, gerariam alguma polêmica também no Brasil, como o uso das delações premiadas e das prisões preventivas para se avançar nas investigações, os vazamentos à imprensa e a importância de uma opinião pública engajada para o sucesso da operação.
"Sobre a delação premiada, não se está traindo a pátria ou alguma espécie de 'resistência francesa'", escreveu o juiz em 2004.
"Um criminoso que confessa um crime e revela a participação de outros, embora movido por interesses próprios, colabora com a Justiça e com a aplicação das leis de um país."
Para um jurista crítico, que frequentou a UFPR quando Moro era professor, "ele sabe que para conseguir as informações necessárias para avançar rapidamente nas investigações precisa agir ali no fio da navalha, no limite da legalidade, sempre justificando suas escolhas".
Sobre os vazamentos à imprensa, por exemplo, o juiz defendeu o seguinte no artigo da CEJ:
"A publicidade conferida às investigações teve o efeito salutar de alertar os investigados em potencial sobre o aumento da massa de informações nas mãos dos magistrados, favorecendo novas confissões e colaborações. Mais importante: garantiu o apoio da opinião pública às ações judiciais, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem o trabalho dos magistrados, o que, como visto, de fato foi tentado."
No texto, Moro estava se referindo à Operação Mãos Limpas. Mas não é difícil ver como as suas justificativas para os vazamentos das ligações de Lula cabem hoje nesse mesmo raciocínio.
*Colaborou Camilla Costa, da BBC Brasil em Londres

Impeachment avança na Câmara em meio ao caos político e jurídico No dia da posse de Lula ministro, deputados aprovam comissão, etapa inicial do processo de destituição

Parlamentares protestam pelo impeachment nesta quinta.
Parlamentares protestam pelo impeachment nesta quinta.  Agência Brasi
A formação da comissão era o primeiro grande teste da nova base de apoio de Rousseff após a nomeação polêmica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de ministro da Casa Civil.   O que era para trazer certa margem de manobra para o Planalto na Congresso, acabou sendo mais um elemento do tumulto jurídico e das ruas nesta quinta-feira. Oficializada horas antes da votação dos deputados, a nomeação de Lula foi alvo de uma ofensiva legal para barrá-la: ações populares e partidos querem anular a posse para que o petista continue sendo julgado pela Justiça de Curitiba, onde é investigado, e não pelo Supremo Tribunal Federal, como corresponde a ministros. A volta do ex-presidente a Brasília provocou ainda mais um dia de protestos em Brasília e no Rio, turbinados pela divulgação de grampos telefônicos envolvendo o ex-presidente pela Operação Lava Jato.O destino da presidenta Dilma Rousseff à frente da Presidência do Brasil começou a ser definido nesta quinta-feira. Por 433 votos favoráveis e um contrário, os parlamentares aprovaram a comissão  que terá a missão de avaliar o pedido de impeachment feito contra ela por alegação de improbidade administrativa nas chamadaspedaladas fiscais. A previsão é que os trabalhos da comissão acabem até o próximo dia 15 de abril, quando o parecer, seja ele favorável ou contrário ao impeachment, chegará ao Plenário da Câmara para votação final. Se o impeachment ganhar sinal verde dos deputados, o processo ainda terá que ser aceito no Senado, onde também terá que ser aprovado em vota passar por uma votação para ser aprovado.
A comissão é formada por 65 deputados distribuídos de forma proporcional à representação dos partidos da Câmara. O Governo conseguiu garantir que a cota dos partidos aliados na instância não fosse majoritariamente por deputados rebeldes. Os cargos importantes, no entanto, acabaram ficando com parlamentares da ala considerada mais volátil. A avaliação inicial dos governistas é de que a composição será favorável à presidenta, mas, diante da atual crise política, se torna cada vez mais difícil saber de qual lado os parlamentares aliados realmente estão. Segundo um levantamento feito pelo colunista do siteUOL, Fernando Rodrigues, há ao menos 31 votos favoráveis ao impeachment entre os 65, e 28 se declaram contrários. PRB, PMB e Rede Sustentabilidade ainda não definiram voto, aponta ele.
Os cargos de comando da comissão, entretanto, não serão controlados por nenhum dos principais defensores de Rousseff. O deputado Rogério Rosso, do PSD do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, será o presidente. Apesar de estar em um partido aliado ao Governo, ele já se rebelou contra Rousseff no Congresso. Em outubro do ano passado, por exemplo, foi um dos líderes responsáveis por esvaziar a sessão plenária que votaria vetos importantes para a presidenta. A relatoria, talvez o cargo mais importante, ficará com Jovair Arantes (PTB), aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O relatório aprovado pela comissão é relevante no processo porque influenciará a decisão do Plenário. Se for contrário e embasado tecnicamente com argumentos, pode contribuir para constranger os deputados a não acatar o afastamento de Rousseff.
O líder do Governo na Câmara, José Guimarães, afirmou, antes da reunião dos líderes que indicou o presidente e o relator da comissão, que os dois nomes eram indicações da base Governista. Mas ambos os nomes agradam também a oposição. Eles são considerados deputados que transitam bem pelos dois lados. A base aliada sabia que não conseguiria emplacar nomes estritamente fiéis a  Rousseff.
Outro ponto que não é favorável à presidenta é a existência de um oposicionista na primeira vice-presidência. Carlos Sampaio (PSDB) foi indicado para a vaga que pode assumir a presidência da comissão caso Rosso tenha algum impedimento. A segunda vice-presidência é ocupada por Maurício Quintella (PR) e a terceira por Fernando Coelho Filho (PSB). A deputada Jandira Feghali, do PCdoB, reclamou da inclusão desses três nomes e disse que eles não faziam parte do acordo. O partido dela, ao lado do PT, afirmam que entrará no Supremo contra a decisão. PSOL e Rede também reclamaram de que não participaram do acordo.

Votação pacífica

A votação dos nomes que integrariam a comissão foi iniciada na tarde desta quinta-feira sob as regras determinadas pelo Supremo Tribunal Federal. O tribunal havia anulado a votação para a escolha da comissão em dezembro, quando ganhou uma composição não indicada pelos líderes, modalidade estimulada por Eduardo Cunha. Nesta quinta, caso os nomes indicados pelos líderes não fossem aprovados pelo Plenário, eles deveriam indicar novos nomes, que seriam submetidos a uma nova votação. Isso, entretanto, não foi necessário. A votação aconteceu com a concordância de todos os partidos e com poucos confrontos sobre o rito, apesar do clima de gritaria entre os contrários ao Governo, que pediam o impeachment envolvidos em bandeiras do Brasil, e os favoráveis, que os chamavam de golpistas.
O único contratempo da sessão foi protagonizado pelo PMDB. O deputado José Priante, indicado pelo líder Picciani, afirmou no Plenário que não queria fazer parte da comissão e, assim, renunciava sua vaga. Picciani pediu para indicar o nome do deputado Altineu Côrtes, que foi aceito. Mas, quase no final da sessão, Cunha disse que ele não poderia compor a cota do partido, pois sua filiação ao PMDB ainda não estava confirmada oficialmente -ele era do PR e mudou em fevereiro de partido. No lugar dele, foi indicado um parlamentar mais alinhado com Cunha, Leonardo Quintão. Côrtes diz que irá recorrer da decisão.
A próxima reunião da comissão de impeachment foi marcada para segunda-feira, dia 21. O relator vai apresentar o plano de trabalho para os próximos encontros.

OS NOMES DA COMISSÃO

PMDB (8 membros)
Leonardo Picciani (RJ), Washington Reis (RJ), Valtenir Pereira (MT), Lúcio Vieira Lima (BA), Osmar Terra (RS), Mauro Mariani (SC), Leonardo Quintão (MG), João Marcelo Souza (MA)
PT (8 menbros)
Henrique Fontana (RS), Wadih Damous (RJ), Paulo Teixeira (SP), Arlindo Chinaglia (SP), Zé Geraldo (PA), Pepe Vargas (RS), José Mentor (SP), Vicente Candido (SP)
PSDB (6 membros)
Bruno Covas (SP), Carlos Sampaio (SP), Jutahy Junior (BA), Nilson Leitão (MT), Paulo Abi-akel (MG), Shéridan (RR)
PP (5 membros)
Aguinaldo Ribeiro (PB), Jerônimo Gorgen (RS), Julio Lopes (RJ), Paulo Maluf (SP), Roberto Brito (BA)
PSB (4 membros)
Fernando Coelho Filho (PE), Tadeu Alencar (PE), Danilo Forte (CE), Bebeto (BA)
PR (4 membros)
Maurício Quintela Lessa (MG), José Rocha (BA), Edio Lopes (RR), Zenaide Maia (RN)
PSD (4 membros)
Rogério Rosso (DF), Júlio Cesar (PI), Paulo Magalhães (BA), Marcos Montes (MG)
DEM (3 membros)
Mendonça Filho (PE), Rodrigo Maia (RJ), Elmar Nascimento (BA)
PTB (3 membros)
Benito Gama (BA), Jovair Arantes (GO), Luiz Carlos Busato (RS)
PRB (2 membros)
Vinicius Carvalho (SP), Jhonathan de Jesus (RR)
PDT (2 membros)
Weverton Rocha (MA), Flávio Nogueira (PI)
SD (2 membros)
Fernando Francischini (PR), Paulo Pereira da Silva (SP)
PSC (2 membros)
Eduardo Bolsonaro (SP), Marco Feliciano (SP)
PROS (2 membros)
Eros Biondini (MG), Ronaldo Fonseca (DF)
PTdoB (1 membro)
Silvio Costa (PE)
PPS (1 membro)
Alex Manente (SP)
PCdoB (1 membro)
Jandira Feghali (RJ)
PSOL (1 membro)
Chico Alencar (RJ)
PTN (1 membro)
Bacelar (BA)
PEN (1 membro)
Júnior Marreca (MA)
PHS (1 membro)
Marcelo Aro (MG)
PV (1 membro)
Evair Melo (ES)
PMB (1 membro)
Weliton Prado (MG)
Rede (1 membro)
Aliel Machado (PR)

Em carta aberta, Lula diz que respeita o STF e que espera justiça Ele criticou o vazamento de grampos de conversas telefônicas. Nesta quinta, ex-presidente tomou posse como ministro de Dilma. Do G1 São Paulo

A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante posse de Lula no cargo de ministro-chefe da Casa Civil em Brasília (Foto: Adriano Machado/Reuters)A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante posse de Lula no cargo de ministro-chefe da Casa Civil em Brasília (Foto: Adriano Machado/Reuters)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou uma “carta aberta” nesta quinta-feira (17) em que diz confiar no Supremo Tribunal Federal (STF) e esperar justiça. Diz também que, "sob o manto de processos conhecidos primeiro pela imprensa e só depois pelos diretamente e legalmente interessados, foram praticado atos injustificáveis de violência contra minha pessoa e de minha família".
No documento, que foi enviado pela assessoria de imprensa do Instituto Lula, ele diz lamentar “os tristes e vergonhosos episódios das últimas semanas”, mas acrescenta que tais atos “não me farão descrer da instituição do Poder Judiciário”. “Nem me farão perder a esperança no discernimento, no equilíbrio e no senso de proporção de ministros e ministras da Suprema Corte”, disse o petista. “Justiça, simplesmente justiça, é o que espero, para mim e para todos, na vigência plena do estado de direito democrático”, acrescentou.
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Trecho de carta de Lula (Foto: Reprodução/Instituto Lula)
Lula criticou o vazamento de grampos de conversas que teve com parentes e políticos, como a presidente Dilma Rousseff. “Não me conformo que se palavras ditas em particular sejam tratadas como ofensa pública, antes de se proceder a um exame imparcial, isento e corajoso do levantamento ilegal do sigilo das informações.”, afirmou (leia a íntegra da carta no fim desta reportagem).
Nesta quinta, o o ex-presidente tomou posse como ministro-chefe da Casa Civil. Duas liminares, porém, o impediram de exercer as funções do cargo (até a publicação desta reportagem, uma delas havia sido derrubada; leia mais).
Trecho de carta de Lula (Foto: Reprodução/Instituto Lula)
Lula acrescentou que "dos membros do Poder Judiciário espero, como todos os brasileiros, isenção e firmeza para distribuir a Justiça e garantir o cumprimento da lei e o respeito inarredável ao estado de direito". "Creio também nos critérios da impessoalidade, imparcialidade e equilíbrio que norteiam os magistrados incumbidos desta nobre missão."
O juiz Sérgio Moro retirou na quarta-feira (16) o sigilo de interceptações telefônicas do ex-presidenteLuiz Inácio Lula da Silva e acabou revelando conversas gravadas pela Polícia Federal com a presidente Dilma Rousseff, que o nomeou como ministro chefe da Casa Civil.
Leia a íntegra da carta de Lula:
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Trecho de carta de Lula (Foto: Reprodução/Instituto Lula)
"Carta aberta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva 

Creio nas instituições democráticas, na relação independente e harmônica entre os Poderes da República, conforme estabelecido na Constituição Federal.
Dos membros do Poder Judiciário espero, como todos os brasileiros, isenção e firmeza para distribuir a Justiça e garantir o cumprimento da lei e o respeito inarredável ao estado de direito.
Creio também nos critérios da impessoalidade, imparcialidade e equilíbrio que norteiam os magistrados incumbidos desta nobre missão.
Por acreditar nas instituições e nas pessoas que as encarnam, recorri ao Supremo Tribunal Federal sempre que necessário, especialmente nestas últimas semanas, para garantir direitos e prerrogativas que não me  alcançam exclusivamente, mas a cada cidadão e a toda a sociedade.
Nos oito anos em que exerci a presidência da República, por decisão soberana do povo – fonte primeira e insubstituível do exercício do poder nas democracias – tive oportunidade de demonstrar apreço e respeito pelo Judiciário.
Não o fiz apenas por palavras, mas mantendo uma relação cotidiana de respeito, diálogo e cooperação; na prática, que é o critério mais justo da verdade.
Em meu governo, quando o Supremo Tribunal Federal considerou-se afrontado pela suspeita de que seu então presidente teria sido vítima de escuta telefônica, não me perdi em considerações sobre a origem ou a veracidade das evidências apresentadas.
Naquela ocasião, apresentei de pleno a resposta que me pareceu adequada para preservar a dignidade da Suprema Corte, e para que as suspeitas fossem livremente investigadas e se chegasse, assim, à verdade dos fatos.
Agi daquela forma não apenas porque teriam sido expostas a intimidade e as opiniões dos interlocutores.
Agi por respeito à instituição do Judiciário e porque me pareceu também a atitude adequada diante das responsabilidades que me haviam sido confiadas pelo povo brasileiro.
Nas últimas semanas, como todos sabem, é a minha intimidade, de minha esposa e meus filhos, dos meus companheiros de trabalho que tem sido violentada por meio de vazamentos ilegais de informações que deveriam estar sob a guarda da Justiça.
Sob o manto de processos conhecidos primeiro pela imprensa e só depois pelos diretamente e legalmente interessados, foram praticado atos injustificáveis de violência contra minha pessoa e de minha família.
Nesta situação extrema, em que me foram subtraídos direitos fundamentais por agentes do estado, externei minha inconformidade em conversas pessoais, que jamais teriam ultrapassado os limites da confidencialidade, se não fossem expostas publicamente por uma decisão judicial que ofende a lei e o direito.
Não espero que ministros e ministras da Suprema Corte compartilhem minhas posições pessoais e políticas.
Mas não me conformo que, neste episódio, palavras extraídas ilegalmente de conversas pessoais, protegidas pelo Artigo 5o. da Constituição, tornem-se objeto de juízos derrogatórios sobre meu caráter.
Não me conformo que se palavras ditas em particular sejam tratadas como ofensa pública, antes de se proceder a um exame imparcial, isento e corajoso do levantamento ilegal do sigilo das informações.
Não me conformo que o juízo personalíssimo de valor se sobreponha ao direito.
Não tive acesso a grandes estudos formais, como sabem os brasileiros. Não sou doutor, letrado, jurisconsulto. Mas sei, como todo ser humano, distinguir o certo do errado; o justo do injusto.
Os tristes e vergonhosos episódios das últimas semanas não me farão descrer da instituição do Poder Judiciário. Nem me farão perder a esperança no discernimento, no equilíbrio e no senso de proporção de ministros e ministras da Suprema Corte.
Justiça, simplesmente justiça, é o que espero, para mim e para todos, na vigência plena do estado de direito democrático.
Luiz Inácio Lula da Silva"

STF recebe 10 ações contra posse de Lula; 7 estão com Gilmar Mendes Ações foram protocoladas por PPS, PSB, PSDB e por pessoas comuns. Ministros Teori Zavascki e Marco Aurélio Mello também relatam ações. Mariana Oliveira Da TV Globo, em Brasília

O Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu até a tarde desta quinta-feira (17) dez ações protocoladas contra a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desse total, sete ações têm como relator o ministro da Corte Gilmar Mendes. Outras duas estão com o ministro Teori Zavascki e uma com Marco Aurélio Mello.
Todas as ações argumentam que deve ser suspenso o decreto de nomeação e o efeito da posse porque houve, por parte da presidente Dilma Rousseff, tentativa de manipular o juiz natural que analisará as investigações contra Lula na operação Lava Jato. Após assumir a Casa Civil, o ex-presidente voltou a ter foro privilegiado e todos os processos que o investigam passam a ser remetidos ao Supremo Tribunal Federal.
Os processos são dos partidos PPS, PSB e PSDB e de pessoas comuns, que recorreram ao Supremo. Além de Gilmar Mendes, os ministros Teori Zavscki e Marco Aurélio Mello também relatam ações sobre o caso,
Marco Aurélio Mello já negou liminar em um pedido feito por um popular. No final da tarde, O ministro Teori decidiu pedir informações para a presidente Dilma Rousseff, para o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, e para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre o tema. Eles terão cinco dias para se manifestar. Depois disso, ele vai analisar os pedidos de liminar em duas ações.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse nesta quinta-feira (17), pouco antes de 10h40, como novo ministro-chefe da Casa Civil em cerimônia no Palácio do Planalto, ao lado da presidente Dilma Rousseff. Cerca de uma hora depois, o juiz federal Itagiba Catta Preta Neto, da 4ª Vara do Distrito Federal, suspendeu a posse por meio de uma decisão liminar (provisória).

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, informou que já recorreu, junto ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), da decisão proferida pela manhã que suspendeu a nomeação de Lula. Em entrevista à imprensa, Cardozo negou que tenha havido “desvio de finalidade” ou “desvio de poder” na escolha do petista para o cargo no governo.Críticas de Gilmar Mendes à nomeação
O ministro Gilmar Mendes, relator de sete ações contra a nomeação de Lula, criticou duramente nesta quarta-feira (16) a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da Casa Civil, afirmando que a iniciativa é uma fuga do petista da investigação da Lava Jato em Curitiba.

Em meio ao julgamento do recurso da Câmara à decisão do rito de impeachment, o magistrado ressaltou que a nomeação do ex-presidente para o primeiro escalão deixa "muito mal" a Suprema Corte.

Mais cedo, nesta quinta, o ministro do Supremo também afirmou que a conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva interceptada pela Operação Lava Jato pode caracterizar crime de responsabilidade, que pode embasar um processo de impeachment.
“Se houver avaliação de que se trata de medida para descredenciar a Justiça, obstrução de Justiça certamente está nos tipos de crime de responsabilidade. Pode ter outros dispositivos aplicáveis da legislação penal”, afirmou Mendes.
A fala da presidente foi gravada numa interceptação telefônica autorizada e divulgada nesta quarta-feira pelo juiz Sérgio Moro, dentro das investigações da Lava Jato. Segundo investigadores, o diálogo sugere que a presidente atuou para impedir a prisão de Lula, que é investigado na operação.

quinta-feira, 17 de março de 2016

AGU identifica mais de 20 ações e pede ao STF suspensão de processos sobre posse

Leia Mais:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ministros-do-stf-se-dizem-perplexos-com-audios-e-evitam-exposicao,10000021678
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BRASÍLIA - A Advocacia-Geral da União (AGU) identificou nesta quinta-feira, 17, mais de 20 ações em varas da Justiça Federal nas cinco regiões do País com questionamentos à posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na chefia da Casa Civil do governo. Com base nesse fato e para assegurar a "segurança jurídica", o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão de todas as ações sobre o tema até que a Corte dê a palavra final sobre o caso.
Além das ações que tramitam na Justiça Federal, há dez pedidos no próprio STF para suspender a posse de Lula. A petição em que Cardozo pede a suspensão dos processos foi encaminhada ao ministro Teori Zavascki, relator de pedidos do PSB e PSDB contra a investidura do petista na Casa Civil.
"Conforme se verifica, a insegurança jurídica que se materializa em âmbito nacional - tendo em vista a existência de decisões judiciais contraditórias - revela a urgente necessidade de se atribuir uniformização ao tema", escreveu Cardozo ao STF. Na peça, protocolada no início da noite desta quinta, 17, a AGU aponta ao menos 22 ações sobre a posse de Lula. A lista tem sido atualizada no órgão ao longo do dia.
A primeira liminar concedida para suspender a posse do ex-presidente como ministro já foi derrubada por decisão liminar do presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Há, no entanto, uma outra liminar ainda válida que suspende a posse do presidente, concedida por juíza do Rio de Janeiro.
"Ante o exposto, a fim de se evitar decisões contraditórias acerca tema tão relevante, primando-se pela segurança jurídica, a Advocacia-Geral da União requer a suspensão do andamento de todos os processos e de decisões judiciais que apresentem relação com a matéria objeto da arguição de descumprimento julgamento final", conclui Cardozo no pedido ao Supremo.
Além das ações sob relatoria de Zavascki, há mandados de segurança que serão analisados pelo gabinete do ministro Gilmar Mendes, considerado o ministro mais crítico ao governo na Corte. As ações existentes no STF tramitam de forma separada.
Os pedidos encaminhados a Teori têm discussões de constitucionalidade e, por isso, costumam levar mais tempo para serem analisadas. Nas mãos de Gilmar, por sua vez, estão mandados de segurança, que exigem decisões mais ágeis. Os ministros podem decidir, no entanto, levar os casos ao plenário na mesma sessão para discussão conjunta, se entenderem que o pedido é semelhante.
Estadão Conteúdo
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TRF-1 derruba liminar, mas Lula continua suspenso da Casa Civil Ex-presidente também teve nomeação questionada na Justiça do Rio. Governo pediu ao Supremo suspensão de todas as ações contra Lula. Renan Ramalho e Mariana Oliveira Do G1 e da TV Globo, em Brasília

O presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Cândido Ribeiro, derrubou nesta quinta-feira (17) uma decisão liminar (provisória) da 4ª Vara do Distrito Federal que suspendeu a nomeaçao do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na chefia da Casa Civil.
A nova decisão, no entanto, ainda não permite a Lula, que tomou posse nesta quinta, exercer as funções do cargo, porque há outra decisão, da 6ª Vara da Justiça Federal no Rio de Janeiro, também suspendendo Lula do cargo. As duas decisões de primeira instância tem a mesma eficácia.
Nesta quinta, a Advocacia Geral da União (AGU), que faz a defesa do governo na Justiça, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) asuspensão de todas as ações que tramitam no país contra a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil.
O pedido da AGU lista outras 23 ações já protocoladas na Justiça Federal.
O pedido, assinado pelo ministro José Eduardo Cardozo, busca suspender não só a decisão da 4ª Vara do Distrito Federal, que suspendeu a nomeação do petista na manhã desta quinta, como eventuais novas decisões contra a permanência de Lula no governo.