sexta-feira, 6 de novembro de 2015

'28 horas de terror': tomada de 'STF da Colômbia' retratada em 'Narcos' faz 30 anos Natalio Cosoy Da BBC Mundo em Bogotá

Foto: AFPImage copyrightAFP
Image captionJustiça considerou ação de retomada do Palácio pelo Exército "desproporcional e excessiva"
Nas imagens em vídeo de arquivo, é possível ver um tanque leve entrando no imponente edifício do Ministério da Justiça da Colômbia. É uma cena estranha, quase surreal, mas que sintetiza uma tragédia marcada a ferro e fogo na consciência coletiva colombiana.
O caso, ocorrido há 30 anos, nos dias 6 e 7 de novembro de 1985, teve como principais personagens juízes, civis, um grupo guerrilheiro, o Exército, a Polícia, o governo e, suspeita-se, o narcotráfico.
As imagens do tanque no edifício foram vistas milhares e milhares de vezes na Colômbia. No resto do mundo, muitos as viram pela primeira vez na série Narcos, do Netflix, no trecho que recria o episódio e que faz referência a uma suposta colaboração entre os guerrilheiros e Pablo Escobar.
Na quarta-feira, 6 de novembro, 35 guerrilheiros do grupo M-19 tomaram o palácio de Justiça, sede da Corte Suprema e do Conselho de Estado colombiano, matando dois seguranças ao chegar ao edifício e mantendo como reféns as pessoas que se encontravam nele.
O Movimento 19 de Abril, ou M-19, nasceu em 1974, como reação ao que seus membros consideravam fraude nas eleições de 19 de abril de 1970, em que foi derrotado o candidato do movimento político ANAPO (ao qual pertenciam alguns os fundadores do M-19).
A atuação do grupo era mais urbana que a de outras guerrilhas como as Farc e a ELN. O M-19 buscava constantemente a visibilidade, especialmente com golpes espetaculares.
Em 1985, a guerrilha teria idealizado a tomada do palácio de Justiça como reação ao que considerou falhas do governo do presidente Belisario Betancur em cumprir os acordos de paz que havia assinado no ano anterior. Esse fracasso do processo abalou uma trégua firmada entre o governo e a guerrilha em agosto de 1984.
"A tomada do palácio de Justiça foi concebida como um 'golpe publicitário' desenhado para retificar a história, impugnar o presidente e seu governo e projetar-se ao poder em meio ao clamor popular que se levantaria em seguida", diz a jornalista Ana Carrigan em seu famoso livro sobre o episódio The Palace of Justice: a Colombian tragedy ("O palácio de Justiça: uma tragédia colombiana", em tradução livre).
Mas as coisas não ocorreram exatamente como o planejado.
Foto: Arquivo Ana Carrigan e Constanza VieiraImage copyrightArchivo Ana Carrigan y Constanza Vieira
Image captionApós tomada desastrosa do Palácio da Justiça, o grupo M-19 se desmobilizou em 1990 e se tornou movimento político

Confronto sangrento

O edifício de quatro andares do palácio de Justiça ficava – e ainda fica, agora reconstruído – em plena área central de Bogotá, a metros do Congresso e da residência oficial do presidente.
Após a tomada do palácio pelos guerrilheiros, o presidente Betancur, que estava em meio a reuniões com embaixadores estrangeiros na sede do Executivo, recebeu a notícia de que as Forças Militares invadiram o local, no qual estavam mais de 300 pessoas, entre magistrados, funcionários, visitantes e guerrilheiros.
O historiador americano David Bushnell escreveu sobre a reação das Forças Armadas: "Aparentemente sem esperar ordens do presidente, o Exército lançou um ataque contra o edifício". Os guerrilheiros pensaram que as forças do Estado não comprometeriam a vida dos homens da lei, mas se enganaram.
No confronto morreram cerca de 100 pessoas, 12 delas magistrados, incluindo o presidente da Suprema Corte, Alfonso Reyes Echandía.
Além disso, 11 pessoas desapareceram, todos funcionários da cafeteria do prédio e visitantes. Os corpos de três delas, três mulheres, foram identificados há algumas semanas, 30 anos depois de seu rastro ter se perdido. Muitos ainda estão desaparecidos.
Foram, como disse na época a revista colombiana Semana, "28 horas de terror".
Durante o confronto entre a guerrilha e as forças de segurança, o presidente Betancur não quis – ou não lhe permitiram – negociar com o M-19. "A operação deixou a impressão – justificada ou injustificada – de que o presidente recebia ordens dos militares, em vez de dá-las", diz Bushnell.
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Alguns acreditam, seguindo a linha de Bushnell, que a reação militar se transformou em uma espécie de golpe de Estado de dois dias.
Outros atribuem a responsabilidade total a Betancur, que assim que terminou o episódio, afirmou ter tido "controle absoluto da situação". Seu irmão Jaime Betancur Cuartas, magistrado do Conselho de Estados, foi um dos reféns que sobreviveu à tomada.
A Comissão da Verdade colombiana, que publicou em 2009 seu relatório sobre o caso, determinou que o governo nunca teve a intenção de salvar a vida dos reféns.
O relatório diz, inclusive, que o governo censurou informações sobre o que estava ocorrendo, ordenando a partir do Ministério das Comunicações "a transmissão de um jogo de futebol (na TV) enquanto o palácio era consumido pelas chamas".
Foto: AFPImage copyrightAFP
Image captionEx-presidente Betancur diz ter tido "controle absoluto" de operação de retomada, mas há relatos conflitantes
Segundo registros audiovisuais, processos judiciais e testemunhos de pessoas que sobreviveram ao ataque, as forças de segurança assaltaram o edifício com extrema violência.
Mais de mil soldados formaram parte da equipe designada para combater os 35 guerrilheiros. A ação foi considerada "desproporcional e excessiva" por instâncias judiciais.
Além dos tanques de guerra dentro do prédio, os militares usaram armamento pesado, explosivos, franco-atiradores que disparavam constantemente contra o palácio do lado de fora e helicópteros que metralhavam a fachada.

'Narcos'

Muitos acreditam, entretanto, que a motivação do M-19 foi outra, a de prestar um serviço a chefes do narcotráfico, incinerando, nos arquivos do Ministério, o material vinculado com sua possível extradição aos Estados Unidos.
Esta é a hipótese adotada pela série do Netflix, mas ela não é comprovada, apesar de haver registros de ameaças dos narcotraficantes – liderados por Pablo Escobar – a magistrados que trabalhavam no tratado de extradição entre a Colômbia e os EUA que estava sendo elaborado na época.
A Comissão da Verdade colombiana acredita que "houve conexão do M-19 com o cartel de Medellín para o assalto ao palácio de Justiça".
Os narcotraficantes, no entanto, não eram o único grupo do qual os magistrados eram inimigos na época. Eles também investigavam oficias das Forças Militares - e chegaram a condenar alguns.
"Mais de 6 mil processos foram destruídos no incêndio do palácio da Justiça, incluindo os processos contra militares por violações de direitos humanos", diz a jornalista colombiana Constanza Vieira no epílogo do livro de Ana Carrigan.

O banheiro

Na noite do dia 6, após horas de combate, os guerrilheiros reuniram os reféns que permaneciam em seu poder, cerca de 70, em um banheiro do edifício. Ali eles passaram horas, com o medo constante de morrer ou levar um tiro. Muitos perderam a vida e outros tantos foram feridos.
Em algumas versões do episódio, os guerrilheiros teriam executado reféns, mas o consenso mais forte atualmente parece ser de que as mortes foram causadas por balas que vieram de fora do banheiro onde eles estavam reunidos em poder do grupo.
Foto: AFPImage copyrightAFP
Image captionMary Luz Portela foi uma das pessoas que desapareceram durante o confronto; seu corpo foi identificado há pouco mais de duas semanas
A promotora Ángela María Buitrago, que liderou a investigação da Justiça colombiana sobre os desaparecidos no episódio, acha que será difícil determinar com certeza a origem dos tiros.
"Muitas das armas e das balas utilizadas foram retiradas do local (no dia 7 de novembro). São elementos que nunca poderão ser recuperados", disse à BBC Mundo.
Sem eles, não é possível completar a perícia necessária para entender o que aconteceu em todos os casos de morte: quem os matou, se morreram dentro ou fora do banheiro.
Os que saíam do palácio eram levados a um edifício vizinho, a Casa Museo del Florero, onde as Forças Militares haviam montado sua base de operações.
Segundo diversas investigações nacionais e internacionais, este era o local em que se determinava quem era guerrilheiro, quem era suspeito, quem continuaria vivo e quem não. Nem todos os que chegaram ali saíram com vida.

Desaparecimentos e torturas

Em 2014, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o Estado colombiano por casos de pessoas desaparecidas durante o ocorrido nos dias 6 e 7 de novembro de 1985.
"Existiu um modus operandi relacionado com a desaparição forçada de pessoas consideradas como suspeitas de participar na tomada do palácio de Justiça ou de colaborar com o M-19", disse a CIDH.
"Os suspeitos eram separados dos demais reféns, levados a instituições militares, em alguns casos torturados ou 'desaparecidos'."
A Justiça colombiana prendeu o ex-general Jesús Armando Arias e o ex-coronel Alfonso Plazas Vega, que comandaram a operação de retomada, pelos desaparecimentos.
A confusão entre a tomada do palácio e a resposta militar foi tanta que até hoje não está claro quantas pessoas morreram e quantas sobreviveram ao incidente.
Em sua sentença, a CIDH inclui a confirmação da tortura de quatro pessoas, que foram consideradas suspeitas de colaborar com o M-19.
A Comissão também fala sobre o desaparecimento forçado e posterior execução extrajudicial do magistrado auxiliar Carlos Horacio Urán Rojas, que muitos acreditavam ter morrido dentro do palácio.
"Esperamos por anos e decidimos acreditar no que queríamos que acreditássemos", escreveu sua filha Helena Urá Bidegaín no jornal colombiano El Espectador.
Foto: AFPImage copyrightAFP
Image captionReféns eram levados a centro de "triagem" das Forças Armadas próximo ao Palácio; nem todos saíram com vida
Cerca de 22 anos depois da tomada, a família conheceu a verdade: "Meu pai não só havia saído vivo, como foi torturado e executado com um tiro na cabeça. Seus pertences foram escondidos em um batalhão, em um cofre de inteligência militar".
"Seu cadáver foi levado de volta ao palácio para que fosse queimado, mas como não puderam, eles o levaram ao Instituto de Medicina Legal e o esconderam com a intenção de fazê-lo desaparecer."
Recentemente, a Justiça colombiana chamou 14 ex-militares e ex-policiais para testemunhar na investigação das torturas.
Uma médica amiga de Urán entendeu muito antes do que sua filha o que havia acontecido.
Luz Helena Sánchez Gómez esteve no Instituto de Medicina Legal logo após os ocorrido no palácio e reconheceu o corpo, num quarto que ela diz ser chamado de "quarto dos guerrilheiros", onde médicos se encontravam com oficiais de inteligência – que se disfarçavam usando jalecos.
"Agora tenho a consciência de que o corpo de Carlos (Urán) está enterrado em algum lugar, porque o vi", disse à BBC Mundo. "Eles iam fazer algo com os corpos que estavam ali, porque a maneira como lidaram com eles não foi normal."
A CIDH disse ter constatado que as autoridades alteraram gravemente a cena do crime e "cometeram múltiplas irregularidades ao remover os cadáveres".

A versão 'mais importante'

Segundo diversos relatos, os serviços de inteligência sabiam de antemão que o M-19 planejava a tomada do palácio e, por isso, haviam reforçado a segurança.
Misteriosamente, no entanto, os seguranças já não estavam lá no dia em que a tomada ocorreu, e ainda não se sabem quem ordenou a modificação do esquema de vigilância.
Trinta anos depois, ainda há muitas versões para a história, nenhuma delas 100% confiável.
"Talvez a razão para que existam tantas versões é que cada um quer se apropriar do que aconteceu, porque dói tanto que todos nos sentimos culpados, responsáveis e vítimas", disse à BBC Mundo Marta Orrantia, que está terminando um romance sobre a prisão dos reféns no banheiro do palácio.
"Cada pessoa tem seu pedacinho de verdade, por assim dizer. Mas nem juntando todas elas podemos ter uma versão única, porque falta a mais importante, que é a dos mortos."

Companhias aéreas e governos divergem sobre voos para Sharm el-Sheikh, no Egito

 postado em 06/11/2015 09:31
Londres, 06 - Autoridades do governo e funcionários de companhias aéreas ofereciam versões conflitantes sobre se serão retomados os voos entre Sharm el-Sheikh, no Egito, e o Reino Unido.

A companhia aérea britânica easyJet disse nesta sexta-feira que as autoridades egípcias suspenderam voos planejados para levar turistas de volta ao Reino Unido. A empresa disse que autoridades egípcias haviam suspendido a autorização para que companhias aéreas do Reino Unido pudessem voar para Sharm el-Sheikh, o que significa que dez voos planejados não poderão mais operar. Também acrescentou que dois de seus voos em Londres deveriam partir em breve.

Já um funcionário da autoridade de aviação do Egito negou a suspensão dos voos. O embaixador do Reino Unido para o Egito, falando do aeroporto de Sharm el-Sheikh, também negou que autoridades egípcias tenham impedido a chegada dos aviões. O embaixador disse que trabalhava para garantir a chegada organizada dessas aeronaves e que nenhum cancelamento ou bloqueio de voos havia acontecido do lado egípcio.

Os voos de Sharm el-Sheikh para o Reino Unido devem ser retomados nesta sexta-feira, após o governo britânico interromper o serviço na quarta-feira, depois de informações de inteligência gerarem o temor de que um ataque terrorista tenha derrubado um avião russo no último fim de semana no Egito. Todas as 224 pessoas a bordo morreram na queda da aeronave, que é investigada pelas autoridades. Fonte: Dow Jones Newswires.

'Guerra' de páginas reacende debate sobre como Facebook escolhe o que sai do ar; entenda Camilla Costa - @_camillacosta Da BBC Brasil em São Paulo

Image copyrightSelf archive
Image captionDesativação de páginas como a da vlogueira Jout Jout causou indignação em fãs; Facebook pediu desculpas
Uma nova polêmica sobre a remoção de páginas populares no Facebook nesta semana reacendeu o debate sobre como a empresa avalia o conteúdo denunciado na rede social.
O estopim da controvérsia foi a desativação, no dia 1º de novembro, da página "Orgulho de ser hétero" – que reunia cerca de 2 milhões de pessoas. A decisão foi comemorada em páginas e comunidades de ativismo feminista e LGBT, que frequentemente a denunciavam pelo que dizem ser discurso de ódio.
A partir daí, frequentadores da "Orgulho de ser hétero" teriam se organizado para orquestrar a remoção de páginas ligadas a estes grupos. Mensagens nas novas versões da página pediam apoio para coordenar denúncias a algumas delas.
No mesmo dia, páginas como "Feminismo sem demagogia", "Cartazes e tirinhas LGBT" e "Moça, você é machista" também saíram do ar, assim como a da vlogueira Júlia Tolezano, a Jout Jout, cujos vídeos sobre assédio contra mulheres fazem sucesso nas redes sociais brasileiras.
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A desativação da página de Jout Jout causou indignação dos fãs e chamou a atenção da mídia. A prefeitura de Niterói, cidade natal da vlogueira, chegou a se manifestar em seu perfil oficial na rede.
Na noite de quarta-feira, a página de Tolezano voltou ao ar, mas, até o fechamento desta reportagem, nenhuma das outras havia sido restaurada – algumas delas, entretanto, já têm novas versões.
Foto: Reprodução FacebookImage copyrightReproducao Facebook
Image captionJout Jout falou em "suposta guerra de páginas" ao ter sua página restaurada pelo Facebook
Procurado pela BBC Brasil, o Facebook não confirmou se havia conexão entre a desativação das páginas e a suposta ação organizada de ativistas de ambos os lados.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa afirmou que houve "erro de avaliação” na decisão de remover a página de Juliana Tolezano.
"Após tomarmos conhecimento de algumas situações envolvendo páginas na plataforma, fizemos uma revisão detalhada e detectamos que a página da Jout Jout Prazer foi removida por um erro de avaliação de uma denúncia. A página já foi restaurada e nos desculpamos pelas inconveniências causadas.”
Em outubro, a BBC Brasil conversou com a representante de políticas de produto do Facebook, a advogada Monica Bickert, a respeito do funcionamento e das polêmicas que cercam a retirada de conteúdo do ar.
Bickert será a representante da empresa no festival americano de cultura e tecnologia South By Southwest, um dos mais importantes do mundo, em um painel que tratará de assédio online.
Durante a conversa, ela disse que a "informação limitada” sobre o contexto de publicações denunciadas é um desafio da empresa e admitiu que nem sempre os revisores de conteúdos do Brasil são brasileiros ou falam português.
No entanto, Bickert afirmou também que o Facebook tenta direcionar conteúdo a revisores que dominem o idioma quando necessário e compartilhar informações que podem ajudar a contextualizá-lo.
Confira abaixo algumas das explicações de Bickert sobre como o Facebook decide o que deve sair do ar:

A necessidade de denunciar

"Qualquer conteúdo no Facebook pode ser denunciado. Isso inclui perfis, páginas, grupos, posts, comentários em posts, fotos, vídeos, qualquer coisa. O mais comum é ir para o canto superior direito do conteúdo, clicar em 'denunciar' e responder algumas perguntas, e isso chega à nossa equipe.
Foto: Divulgação Facebook
Image captionMonica Bickert, representante de políticas de produto do Facebook, admitiu que ajudar revisores a entender contexto de publicações é "parte difícil" do trabalho
Quero enfatizar que dependemos muito de as pessoas denunciarem as coisas para nós. Isso nos ajuda a garantir que as coisas que estão sendo denunciadas realmente estão tendo um impacto negativo na comunidade. Não saímos por aí removendo conteúdo. As pessoas reclamam para nós e aí revisamos.
Temos sistemas de segurança para detectar determinadas coisas como spam e imagens de pornografia infantil, então nem tudo necessariamente precisa ser denunciado para ser visto. Mas discurso de ódio e assédio precisam ser denunciados. Não estamos ativamente buscando por isso."

Basta uma vez

"Quero derrubar o mito de que é preciso denunciar uma página muitas vezes para derrubá-la. Basta uma denúncia.
Se alguém denuncia algum tipo de conteúdo, isso vem para nós e ele é revisado. Se alguém denuncia de novo, ele é revisado de novo, mas segundo os mesmos padrões. Denunciar algo 200 vezes não muda a decisão que foi tomada.
Temos automação para fazer a triagem das denúncias para revisão. Às vezes mais de dez pessoas denunciam um tipo de conteúdo. Em vez de colocar 10 revisores para olhar aquele conteúdo logo, nós consolidamos as denúncias com um processo automático de triagem.
Mas, na maior parte das vezes, as denúncias estão sendo revisadas por pessoas reais: discurso de ódio, ameaça de violência, automutilação. Os revisores cometerão erros, mas são pessoas de verdade."

Quem avalia o conteúdo? E como?

"Há uma mistura de empregados do Facebook e terceiros contratados para fazer triagem de denúncias e revisões iniciais.
Nossa equipe de revisores é bastante internacional. Eles falam diversas dezenas de línguas, incluindo português brasileiro. Também temos essa equipe espalhada para garantir que o conteúdo seja revisado sete dias por semana, 24 horas por dia.
Não é um sistema perfeito, mas tentamos que, para cada conteúdo denunciado em cada língua, tenhamos alguém com a experiência apropriada para revisá-lo imediatamente.
A principal maneira pela qual garantimos que as decisões dos revisores sejam consistentes é dando a eles instruções concretas. Se temos a denúncia de uma ameaça de violência, damos instruções sobre como eles podem avaliar a credibilidade daquele discurso. Há algo na linguagem que nos faz acreditar que isso é algo que pode realmente levar a um ato de violência contra essa pessoa?
Porque claro, as pessoas usam palavras violentas o tempo todo, mas não queremos interferir com discurso que é de humor, satírico ou político, mas que não é uma ameaça séria.
Foto: Reprodução FacebookImage copyrightReproducao Facebook
Image captionNova versão da página "Orgulho de ser hétero” tentava coordenar denúncias a páginas "inimigas" no site
Os revisores não têm liberdade para impor suas próprias opiniões na avaliação, precisam seguir as instruções que damos a eles. Semanalmente revisamos novamente parte do conteúdo que eles revisaram e vemos como as decisões foram tomadas.
Então se nós cometemos um erro, tentamos consertar este erro. E recebemos milhões de denúncias. Neste volume, erros acontecem todas as semanas. Parte do processo é fazer auditorias e mostrar aos revisores onde o erro foi cometido."

O 'ponto cego' das denúncias

"Se alguém denuncia uma página para nós, o revisor vai olhar se esta página, como um todo, viola nossos padrões.
Ele vai analisar coisas como o nome da página, a imagem no topo da página, a seção 'sobre' e parte do conteúdo da página. No entanto, algumas páginas têm 300 novas publicações por dia. O revisor analisará um número bem limitado desse conteúdo.
Se nessa página há uma publicação que viola nossos padrões e alguém denuncia a página, mas não esta publicação específica, pode ser que nosso revisor não a veja. Da mesma forma, se uma publicação é denunciada, o revisor pode avaliá-la e removê-la, mas pode não ver o contexto mais amplo da página, que também pode violar os padrões."

O dilema do contexto

"Para nossos revisores (o contexto) é um desafio, muitas vezes. Eles estão diante de um computador vendo uma imagem, mas não sabem quem são essas pessoas na vida real, não sabem o que está acontecendo, então têm que fazer um julgamento com base em contexto muito limitado.
Outra coisa que podem fazer é pedir que alguém da empresa dê uma olhada no conteúdo de vez em quando. Isso acontece. Eu mesma já fiz isso. Tentamos tomar a melhor decisão que podemos.
Quando os revisores veem uma imagem de nudez de uma pessoa real, por exemplo, eles sabem que não permitimos fotos de genitais e, em alguns casos, não permitimos fotos de mulheres de topless. Fotos de amamentação e do corpo pós-cirurgia são permitidas, mas topless em geral não é permitido.
Parte da razão para isso é que precisamos ter certeza que imagens como esta estão sendo compartilhadas com o consentimento de quem aparece nelas, garantir que não é 'pornografia de vingança'. Erramos para o lado da segurança. Os revisores não conseguem, necessariamente, saber o contexto em que as fotos estão.
Há momentos em diferentes países em que as discussões podem ficar agressivas e começamos a ver mais coisas como discurso de ódio e bullying de indivíduos. Se sabemos de algo que pode ser um problema em algum país, tentamos garantir que nossos revisores estejam cientes disso. Isso não muda os padrões que aplicamos, mas é útil ter esta informação.
Mantemos os revisores informados sobre algumas das palavras que estão sendo usadas em discursos de ódio no Brasil, por exemplo, e sobre quais são algumas das tendências de como as pessoas podem atacar grupos ou indivíduos. Quando o idioma é um problema, direcionamos o conteúdo para funcionários que falam a língua."
Foto: Facebook
Image captionPáginas feministas e LGBTs no Facebook brasileiro também foram desativadas no dia 1º de novembro

Discurso de ódio x liberdade de expressão

"Estamos constantemente buscando novas formas de refinar nossas políticas e ver se há maneiras de permitir mais liberdade de expressão enquanto garantimos que as pessoas estão seguras, mas isso é um dos desafios que enfrentamos.
Um exemplo é o discurso de ódio. Não há uma única definição disso no mundo, então não podemos simplesmente dizer a nossos revisores: 'se for discurso de ódio, removam'. Decidimos focar nossa definição de discurso de ódio no ataque a uma pessoa ou grupo de pessoas.
A orientação que damos a eles é: se for um ataque direito a pessoas, baseado em característica como raça, religião, nacionalidade, identidade de gênero, nós removeremos. Mas se é uma crítica a um país ou instituição, por exemplo, deixamos essa crítica como parte do debate público.
Se há um ataque a uma pessoa ou grupo de pessoas por causa de sua orientação sexual, por exemplo, não importa quem diz, nem se é um político. Se alguém ataca diretamente pessoas por ser gay, diz que são 'pessoas ruins' ou coisas do tipo isso viola nossas políticas e pode ser removido.
Mas se alguém critica um político por seus posicionamentos sobre um assunto no Congresso, ou estão criticando uma instituição, como um grupo LGBT, permitimos esse tipo de discurso.
Garantir que as pessoas saibam que estão seguras e não sofrerão ataques no Facebook é uma parte importante de dar voz a quem poderia se sentir silenciado e impedido de participar de uma discussão."

Assédio

"Temos uma política contra assédio online que inclui, entre outros comportamentos, tentativas repetidas de deixar alguém desconfortável ou de assediar alguém.
Analisamos coisas como: quem está por trás da conta? Se é alguém que tem um registro de múltiplas instâncias de discurso de ódio, em determinado momento haverá consequências sérias. Pelo menos serão proibidos de postar por algum tempo.
Também olhamos para coisas como a autenticidade das contas, se elas são verdadeiras, se foram criadas diversas contas falsas para coordenar algum mau comportamento. Às vezes conseguimos detectar isso. Por isso exigimos que as pessoas usem suas identidades verdadeiras no site. Dá trabalho pôr isso em prática, mas estamos tentando acertar.
Se alguém é denunciado constantemente, isso fica registrado e é considerado contexto relevante para a análise de um conteúdo postado por essa pessoa.
Quando se trata de violência sexual, temos padrões muito rigorosos. Mesmo 'piadas' sobre estupro podem ser removidas de acordo com nossos padrões. Algumas pessoas podem achar isso engraçado, mas não aceitamos isso."

Juiz pede quebra de sigilo de e-mails de procurador da Operação Zelotes A justificativa é a necessidade de provar que o investigador atuou supostamente "em conluio" com um deputado do PT e blogs ligados ao partido para difamá-lo

 postado em 06/11/2015 07:51
Marcelo Camargo/Agência Brasil - 26/5/15


O juiz substituto Ricardo Augusto Soares de Leite, que atua na 10ª Vara Federal, em Brasília, pediu à Justiça a quebra do sigilo de e-mails e dos dados telefônicos do procurador da República Frederico Paiva, que atua na Operação Zelotes. Numa queixa-crime oferecida ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), o magistrado justifica que as medidas são necessárias para provar que o investigador atuou supostamente "em conluio" com um deputado do PT e blogs ligados ao partido para difamá-lo.

A ação é mais um capítulo da batalha de bastidores entre o juiz e integrantes do Ministério Público Federal na Zelotes, que inclui acusações de conduta irregular de parte a parte. O MPF ajuizou ação de suspeição contra Leite, na qual pede que ele não atue mais no caso, quando chamado a trabalhar como substituto. 

O argumento é de que o magistrado teria demonstrado parcialidade e prejudicado as investigações ao negar escutas, mandados de prisão e de busca e apreensão. Ao avaliar alguns pedidos, no dia 7 de outubro, Leite propôs algumas diligências. Para o MPF, com isso, assumiu, indevidamente, o papel de investigador. 

O juiz titular da vara, Vallisney de Souza Oliveira, pediu ontem que Leite se pronuncie a respeito e, depois, enviará o pedido para julgamento no TRF-1. Oliveira reassumiu a vara nesta semana, após outra juíza substituta, Célia Regina Ody Bernardes, atuar temporariamente em seu lugar. Ela foi responsável por autorizar a última fase da Zelotes, que incluiu buscas no escritório de um dos filhos do ex-presidente Lula.

Difamação

Na queixa-crime, apresentada em setembro, o juiz substituto sustenta que, em ao menos 30 ocasiões, Paiva usou o deputado petista Paulo Pimenta (RS) e blogueiros simpáticos ao PT para difamá-lo, com a intenção de afastá-lo da Zelotes.

Na peça, o magistrado sustenta que o procurador deu declarações públicas, vazou informações e combinou com pessoas "interpostas" a divulgação de notícias sugerindo que ele foi parcial, obstruiu a Justiça e atuou de forma desidiosa (esquivando-se do dever funcional). Ele lembra que Paiva trabalhou em 2004 como assessor do então ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini (PT-SP).

Leia mais notícias em Política

Ainda não houve decisão sobre a quebra dos sigilos. A desembargadora Neusa Alves, relatora do caso, mandou intimar o MPF para se pronunciar sobre os pedidos. 

Procurado ontem, Paiva informou que não se pronunciaria, pois não foi notificado da ação. Pimenta afirmou que a acusação de conluio não tem "cabimento" e que, numa democracia, juízes e outras autoridades devem ser criticados. Leite disse que atuou com independência na Zelotes.