segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Linha sucessória de Cunha tem acusado de sequestro e da Lava Jato Deputados da mesa diretora enfrentam diversos processos no Supremo Dilma sofre derrotas, mesmo com reforma ministerial pró-PMDB

Waldir Maranhão preside sessão da Câmara. / L. MACEDO (AG. CÂMARA)
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vive um momento delicado na Câmara. Nesta quinta-feira a Procuradoria Geral da República recebeu uma remessa de documentos enviados pela Justiça da Suíça que atestam que o presidente da Câmara é titular de contas secretas no país e nesta sexta foi a vez de detalhar o caminho do dinheiro. A suspeita é que os milhões de dólares depositados no exterior por empresas off shore – sediadas em paraísos fiscais – em nome do parlamentar e familiares tenham sido fruto de pagamento de propina envolvendo o caso de corrupção na Petrobras, investigado pela Lava Jato. Entre os deputados existe quase uma unanimidade de que caso a informação se comprove, a situação de Cunha se tornará insustentável, e ele pode até perder o mandato por ter mentido à CPI da Petrobras, onde ele negou ter contas no exterior.
Os problemas da mesa diretora não param aí. O segundo na linha de sucessão de Eduardo Cunha, caso ele seja afastado e Maranhão não possa assumir, é Fernando Giacobo (PR-PR). Atualmente um inquérito contra ele por crimes contra a ordem tributária tramita no Supremo Tribunal Federal, e ele já se livrou de outras ações penais que incluem crimes como sequestro e cárcere privado. Uma das acusações, pelo crime de falsidade ideológica e formação de quadrilha, prescreveu em 2011, o que motivou a absolvição. Em 2010, outro processo teve um fim inusitado. Acusado de crime contra a administração pública, Giacobo foi beneficiado por uma manobra da corte: havia maioria de votos para sua condenação e a absolvição de um suposto cúmplice. Mas sua defesa postergou a sessão final para dali a uma semana, quando o crime já estaria prescrito.A questão é que os deputados da mesa diretora que estão na linha sucessória de Cunha também enfrentam problemas: oito dos 11 integrantes respondem a processos ou têm condenações na Justiça. Caso ocorra o afastamento do peemedebista da presidência da Casa, o 1o vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA) assume interinamente o cargo, com a missão de convocar novas eleições no prazo de cinco sessões. O parlamentar é um dos 32 deputados do PP investigados na Lava Jato. Ele foi citado pelo doleiro e delator do esquema Alberto Youssef como sendo o receptor de pagamentos mensais que variavam de 30.000 a 50.000 reais. Além disso, ele também responde a dois outros processos no Supremo Tribunal Federal, por lavagem de dinheiro ou ocultação de bens. Procurado pela reportagem, ele não quis se manifestar sobre o assunto.
A assessoria do deputado afirmou que a situação da empresa de Giacobo que é alvo de inquérito já foi regularizada na Receita Federal, e disse não saber o motivo do procedimento ainda não ter sido arquivado no Supremo. A reportagem recebeu uma cópia de certidão negativa da Giacobo & Cia, atestando que não existem mais débitos pendentes com a Fazenda.
O primeiro na linha sucessória é investigado pela Lava Jato: ele foi citado na delação do doleiro e colaborador Alberto Youssef
Continuando na hierarquia da mesa, caso o presidente seja afastado e nenhum de seus dois vices possam assumir, a responsabilidade recai sobre o 1o secretário, Beto Mansur (PRB-SP). Ele é um veterano em ações no Supremo: já se livrou de mais de uma dezena de acusações nos últimos anos. Em novembro de 2012 o grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego encontrou 22 trabalhadores em condições análogas à escravidão em uma propriedade do deputado no interior de Goiás. Lá os funcionários faziam jornadas de até 24 horas nas lavouras. No STF ele foi absolvido após a corte deliberar que já havia uma investigação criminal sobre o assunto, arquivada por falta de evidências. Em 2014 o Tribunal Superior do Trabalho o condenou a pagar indenização de 200.000 reais por dano moral coletivo a trabalhadores rurais enfrentavam condições degradantes nas fazendas de Mansur. Atualmente, o parlamentar ainda é alvo de três processos no Supremo por crimes contra a administração pública, crimes de responsabilidade fiscal e trabalho escravo.
De acordo com Mansur, sua fazenda “é uma fazenda modelo”, e os processos que sofre por trabalho escravo dizem respeito a fatos ocorridos “lá atrás, quando tinha gente fazendo um trabalho sem registro [profissional], o que gerou tudo isso”. Ainda segundo o deputado, a ação originária se encerrou, mas ela subiu ao Supremo quando ele foi eleito e passou a ter foro privilegiado. “As outras [ações no Supremo] foram em decorrência de contratações para um evento filantrópico quando fui prefeito em Santos”, afirmou. Ele alega que desavenças com políticos do PT motivaram algumas das ações contra ele.
O 2o secretário da mesa e quarto na linha de sucessão de Cunha é o deputado Felipe Bornier (PSD-RJ). Ele é acusado em processo que corre no Tribunal Regional Eleitoral do Rio por uso indevido de meio de comunicação social nas eleições do ano passado. Em nota, o parlamentar afirmou "não ter controle sobre quaisquer publicações dos jornais Dia a Dia e ABC Diário, citados no processo em questão". De acordo com a assessoria de Bornier, "o deputado tem votação em 91 dos 92 municípios fluminenses, não tendo controle sobre a divulgação de sua atuação parlamentar pelos veículos de comunicação do Estado".

20 meses após inauguração, porto 'brasileiro' gera frustração em Cuba João Fellet Enviado especial da BBC Brasil a Mariel (Cuba)

BBC Brasil
Image captionJovem cubano que trabalha em Mariel diz que pretende migrar para os EUA
Na casa de paredes ásperas e sem pintura que divide com a mulher e os dois filhos, o pescador Juan Alberto Valdez Rodriguez se lembra de quando as carroças e bicicletas que trafegam pela vizinhança deram lugar a uma longa fila de carros escoltados por viaturas policiais.
A passagem da comitiva - que incluía a presidente Dilma Rousseff e outros dois líderes sul-americanos - se devia à inauguração, em janeiro de 2014, da maior obra em Cuba desde a Revolução de 1959, a reforma do porto de Mariel. A cargo da empreiteira brasileira Odebrecht, a obra contou com um empréstimo de US$ 802 milhões (R$ 3,1 bilhões) do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
"Achei que depois daquele dia tudo mudaria: teríamos mais dinheiro, mais oportunidades, mais investimentos", diz Rodriguez, morador de uma vila vizinha ao porto, a 40 quilômetros da capital Havana.
A reforma de Mariel foi uma etapa crucial da maior aposta do governo Raúl Castro para atrair investimentos estrangeiros e estimular a economia cubana: a criação de uma zona econômica especial numa área de 465 quilômetros quadrados vizinha ao porto, projetada para abrigar um parque industrial e um centro logístico.
A modernização do porto deixou muitos moradores de Mariel esperançosos de que a cidade de 40 mil habitantes, até então um modesto entreposto comercial bastante dependente de recursos estatais, viveria dias mais prósperos.
Vinte meses após a inauguração de Mariel e a criação da zona especial, porém, Rodriguez e vários outros moradores disseram à BBC Brasil que quase não houve benefícios para a cidade e que continuam a lidar com problemas comuns a outros pontos do país.
"Se você vai buscar comida no mercado, não há. Se vai buscar frango, não há. Dinheiro, não há. Aqui não há nada", afirma o pescador.
Embora o porto já esteja funcionando a pleno vapor e a reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos tenha feito muitos empresários voltarem as atenções para a ilha caribenha, até agora nenhuma indústria se instalou na zona especial.
Para analistas, a manutenção do embargo econômico dos Estados Unidos e as complexas regras para investimentos estrangeiros em Cuba fazem com que empresários resistam a investir em Mariel.
Já a agência que administra a área diz que sete empresas - duas estatais cubanas e cinco pequenas companhias estrangeiras (nenhuma do Brasil) - tiveram seus projetos aprovados e começarão a operar ali em 2016.

Financiamento 'secreto'

O financiamento do BNDES ao porto de Mariel se tornou objeto de disputa na última campanha presidencial brasileira. Políticos da oposição, entre os quais o então candidato tucano Aécio Neves, condenaram o repasse de dinheiro público brasileiro à obra.
Na inauguração do porto, Dilma afirmou que Mariel simbolizava a "amizade duradoura" entre Brasil e Cuba. Em dezembro passado, ela disse que o anúncio de que Washington e Havana retomariam os laços diplomáticos reforçaram a importância da obra "para a região e para o Brasil".
Em nota à BBC Brasil, o BNDES diz que o empréstimo - com prazo de 25 anos para ser quitado - vem sendo pago normalmente e gerou empregos e receitas no Brasil, tendo mobilizado uma "extensa cadeia de fornecedores de bens e serviços nacionais". Segundo o banco, o ritmo de outras obras associadas ao empreendimento "não comprometem a pertinência e o cumprimento dos objetivos" do financiamento.
A Odebrecht afirma que já encerrou seus trabalhos no porto e que está estudando opções de investimento na zona especial.

Segunda revolução

Para alguns moradores, é questão de tempo até que Mariel e Cuba sintam os benefícios dos novos empreendimentos.
Na praça à beira da baía da cidade, o pedreiro aposentado Pedro Antonio Rodrigues, 83 anos, aponta para os cargueiros que passaram a trafegar pelas águas após o aprofundamento do calado do porto.
Com a reforma, Mariel hoje pode receber embarcações com até 18 metros de profundidade e movimentar cerca de 1 milhão de contêineres por ano, ou um terço da capacidade do porto de Santos, o maior do Brasil. O porto é administrado por uma empresa de Cingapura.
BBC Brasil
Image captionPedro Antonio Rodrigues (dir.) e seu filho estão otimistas com o futuro de Mariel
Rodrigues diz que aquele mar só viveu dias tão agitados entre abril e outubro de 1980, quando centenas de barcos partiram cheios de cubanos para os Estados Unidos. O êxodo dos 125 mil "marielitos", como os imigrantes ficaram conhecidos na Flórida, ocorreu em meio ao declínio da União Soviética, na época o maior parceiro econômico de Cuba.
Rodrigues diz que, diferentemente daquela época, a movimentação atual na baía prenuncia tempos auspiciosos. "Tive a sorte de presenciar a Revolução em 1959", ele afirma.
"Agora espero viver o suficiente para testemunhar a revolução que virá com o novo porto."
Para Rodrigues, "empresas do mundo todo brigarão para se instalar" na zona econômica assim que embargo econômico americano à ilha for derrubado (a medida depende do Congresso americano e não tem prazo para ocorrer). A área fica a cerca de 180 quilômetros da costa da Flórida, o que a tornaria um ponto privilegiado para a exportação de produtos para os Estados Unidos.

Burocracia e desânimo

Na mesma praça, outros moradores se disseram desanimados com os efeitos do empreendimento.
Uma funcionária de um órgão estatal cubano diz que tentou se candidatar a vagas de trabalho no porto e em indústrias que venham a se instalar na zona especial, mas que exigências burocráticas lhe fizeram desistir. A seu lado, uma jovem recém-formada em contabilidade conta que pôde se cadastrar no banco de dados, mas jamais foi chamada para entrevistas.
Elas afirmam ainda ter esperança de conseguir empregos, apesar das dificuldades e da falta de informações sobre os projetos. O principal atrativo para as duas é a chance de trabalhar com empresas estrangeiras e receber mais.
A possibilidade, porém, ainda é incerta. Analistas dizem que um dos maiores entraves aos investimentos em Mariel é a determinação, prevista na legislação cubana, de que empresas estrangeiras contratem funcionários de cooperativas indicadas pelo governo.
A prática busca garantir que os trabalhadores recebam salários equivalentes aos de empregos públicos, limitados a algumas dezenas de dólares por mês. O procedimento barateia a mão de obra, mas é rejeitado por várias empresas interessadas em investir em Mariel e que preferem pagar salários maiores que a média para manter os funcionários motivados.
BBC
Image captionCarroça passa pelo centro de Mariel, onde o clima rural ainda predomina
BBC Brasil
Image captionVilarejo próximo a Mariel; nenhuma empresa ainda se instalou na nova zona econômica especial

'Experimento capitalista'

Os salários pagos no porto hoje são a principal queixa de cubanos que trabalham no empreendimento.
Na principal avenida que cruza a cidade, dois homens com macacões alaranjados conversavam enquanto aguardavam o ônibus que os levaria para casa após o serviço.
Ambos atuam no porto como técnicos assistentes e dizem receber cerca de 30 pesos cubanos (R$ 116) por mês para jornadas de 12 horas diárias, de segunda a sábado. Para sobreviver, dizem fazer bicos.
Ainda que os salários sejam comparáveis aos do setor público cubano, eles dizem que, pelo montante investido no porto e a presença de empresas estrangeiras, achavam que receberiam mais.
Um deles diz ter se interessado pelo emprego ao ouvir que Mariel seria um "experimento capitalista", onde vigorariam práticas de trabalho distintas.
O escritório da Zona de Especial de Desenvolvimento (ZED) Mariel não respondeu repetidos pedidos de entrevista da BBC Brasil nem quis comentar críticas ao empreendimento.
Em entrevista recente ao portal Cuba Debate, a diretora geral da ZED, Ana Teresa Igarza, disse que empresas estrangeiras que se instalem na zona terão liberdade para negociar os salários com os funcionários cubanos.
Igarza afirmou que as cinco companhias estrangeiras que tiveram os projetos aprovados para operar ali são pequenas e que muitas empresas grandes com que teve contato atribuem o receio de investir em Mariel ao embargo econômico americano.
Ela ainda disse que a zona começará a gerar resultados em cinco anos e que o ritmo de implantação do projeto está "mais ou menos" dentro do previsto.

Novos 'marielitos'

Nem todos pretendem esperar. Mesmo ganhando 60 pesos cubanos (R$ 233), o dobro do que recebem seus subordinados, um jovem técnico cubano que trabalha no porto diz à BBC Brasil que o valor não cobriria nem a roupa que ele vestia naquele dia, a camisa do jogador português Cristiano Ronaldo, do Real Madrid.
Ele afirma que só pôde comprar a peça porque seu pai mora em Miami e lhe envia dinheiro todos os meses. O jovem diz que, no ano que vem, se juntará ao pai nos Estados Unidos.
"Tudo em Cuba é incerto, não há garantias de que as coisas vão melhorar amanhã ou daqui a dez anos", ele afirma.
"É por isso que os 'marielitos' se foram, é por isso que muitos continuam e continuarão a ir embora."

Turquia vê Estado Islâmico como responsável por explosões no sábado, dizem fontes

ANCARA (Reuters) - As indicações iniciais sugerem que o Estado Islâmico foi responsável pelas explosões na capital turca Ancara e o foco das investigações é o grupo radical islâmico, disseram à Reuters duas fontes sêniores de seguranças da Turquia neste sábado.
Uma das fontes disse que as explosões de sábado - que um partido de oposição pró-curdo disse que foram mortas 128 pessoas - contêm semelhanças extraordinárias com um ataque suicida em julho na cidade de Suruc, perto da fronteira com a Síria e também acusou o Estado Islâmico.
"Este ataque foi no estilo de Suruc e todos os sinais são de que foi uma cópia daquele ataque... os indícios apontam para o Estado Islâmico", disse a fonte em condição de anonimato.
"Todos os sinais indicam que o ataque pode ter sido realizado pelo Estado Islâmico. Nós estamos completamente focados no Estado Islâmico", disse a segunda fonte à Reuters.
(Por Orhan Coskun)

"É uma crise aguda. Dilma nunca se viu tão acuada", afirma Marta Suplicy Durante quase 100 minutos de entrevista ao Correio, na tarde da última quarta-feira, a senadora avançou contra o Planalto, bombardeou o PT - "a corrupção é sistêmica" - e a presidente Dilma

Marta Teresa Suplicy, 70 anos, está cada vez mais confortável. É o que ela diz, mas também é o que deixa evidente em cada gesto. Afinal, a senadora agora pode criticar mais diretamente o governo Dilma Rousseff, sem as amarras da filiação ao PT — deixado de lado no fim de abril — e, há duas semanas, oficialmente nas fileiras do PMDB, do vice-presidente Michel Temer.

Ed Alves/CB/D.A Press


Durante quase 100 minutos de entrevista ao Correio, na tarde da última quarta-feira, a senadora avançou contra o Planalto, bombardeou o PT — “a corrupção é sistêmica” — e a presidente Dilma. Também detalhou o fim da relação política com Luiz Inácio Lula da Silva e, pela primeira vez, revelou bastidores do rompimento com companheiros da legenda.

De forma clara, disse que vai disputar o posto de candidata peemedebista à prefeitura de São Paulo e criticou o petista Fernando Haddad. Mais discreta e cuidadosa, falou sobre as denúncias envolvendo peemedebistas, incluindo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e sugeriu indiretamente a renúncia de Dilma, reforçando qualidades do vice Michel Temer.

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Segundo Marta, a presidente boicotou o trabalho de Temer. “Ele se viu compelido até a sair, e ela foi negociar com o PMDB jovem”, disse, ao lembrar as derrotas do Planalto na última semana. “Tinha orgulho de pertencer ao PT. Foi uma decepção. Era tão ingênua, que, quando penso, fico até constrangida”, atacou Marta, que, durante a entrevista, usou amarelo, sem qualquer adereço vermelho do PT.

Ed Alves/CB/D.A Press


A senhora está confortável no PMDB?
Sim, muito confortável, acolhida e com espaço. Posso dizer que estou bem.

Qual a principal diferença entre o PT e o PMDB?
O PMDB é um partido com tantos caciques que não existe um cacique que mande e que enquadre as pessoas. É interessante viver essa experiência em um partido onde quem manda é a política e a conversa. Isso faz diferença.

Quem é o cacique do PT?
O PT tem o Lula, que é símbolo maior do partido, é a pessoa que dá a última palavra. Não existe isso no PMDB. Nunca tinha me debruçado para ver como funcionava. E perceber isso foi perceber uma enorme diferença.

Estas conversas do PMDB não estão mais para conchavos?
Até onde participei, são conversas políticas. Mas tem outra diferença, a corrupção.

Mas há diferença? O PT tem dois ex-tesoureiros que foram presos, enquanto o PMDB tem uma série de políticos investigados. Com uma série de suspeitas.
Aí existe uma diferença entre os dois. Primeiro, que não tem partido de relevância que não tenha pessoas investigadas. A diferença é que no PT existe uma manutenção da estrutura partidária com recursos públicos. E no PMDB não vejo isso, vejo pessoas sendo investigadas, que eventualmente podem se tornar rés, ir para a cadeia. Até agora, não aconteceu isso nesse nível, não é? Mas poderá acontecer. E no PT vemos condenações, pessoas presas, mas principalmente (no PMDB) não há uma transferência de recursos públicos na veia partidária, no sentido sistêmico.

No PT seria mais orgânico?
Mais, não. O PT é. Muitas vezes, me cobram: “Por que você saiu? Você deveria ter ficado e ajudado o partido”. É tão endêmico que serão muitos anos para se fazer (algo), se se conseguir.

Quando começou a se incomodar com a corrupção no PT?
Não queria falar tanto do PT, mas tinha muito orgulho de pertencer ao partido. As pessoas falavam assim: “Essa pessoa é do PT”. Falava: “Que bom, ali não vai ter trambique”.

Então foi uma decepção?
Total. Vocês não sabem como era. Era tão ingênua, que, quando penso, fico até constrangida. E mesmo na época do mensalão foi uma coisa chocante. Para quem não estava naquela panelinha, foi uma coisa chocante. Quando você vê o petrolão, então, esquece.

Por que não saiu no mensalão?
Porque acreditava que poderia não ser algo naquela dimensão. Mas depois ficou evidente.

A senhora foi prefeita de São Paulo. Em nenhum momento percebeu algum movimento suspeito? Alguns dos nomes sob suspeita hoje estavam enroscados na administração da senhora, não?
Não fazia parte disso, entende? Isso nunca chegou perto de mim. A gente era virgem, entende? Existiu esse PT.

Um dos principais delatores do petrolão é o Fernando Baiano, que, segundo as investigações, é o lobista do PMDB no esquema. Quando fala que não existe corrupção no PMDB na Petrobras, o Baiano está aí para negar isso.
Não sei. Não tenho ideia de quem seja esse Fernando Baiano, não o conheço. Sei o que está nos jornais, mas nunca li nos jornais que essa pessoa financiasse a estrutura partidária do PMDB. No meu conhecimento, existe essa diferença. Agora, não acho que seja o caso de ficar dizendo quem é o pior ou quem é o melhor. A política brasileira está muito contaminada.

O Gabriel Chalita é secretário de Haddad. Existe uma tentativa de uma aliança entre o PT e o PMDB?
Não é que existe. Hoje, o PMDB e o PT estão juntos, é uma realidade. Agora, para a eleição, o PMDB vai ter candidato próprio, isso já está acordado e não imagino que um candidato que está hoje com o PT vai ser o candidato de oposição do PMDB. Agora, não entrei com salto alto. Não tive essa conversa com o Michel Temer.

Sobre a candidatura?
Falei que tinha interesse, mas a gente não entra num partido falando “sou a candidata”. Entrei para somar, não para dividir. Se o Chalita sair do governo em algum momento, se ele se colocar como candidato, provavelmente poderemos ter outras pessoas que se interessem, vai ter uma prévia. Vou disputar. Não tenho problemas com isso.

E em relação a outras candidaturas, o Márcio França (PSB) transferiu domicílio eleitoral para a capital e pode sair candidato pelo grupo de Alckmin. Como sua candidatura poderia se inserir?
Primeiro, tive conversas com o PMDB. Aí, fomos todos surpreendidos por esse movimento do Lula, de fazer esse acordo com o
Haddad. E o Chalita, que estava fora da política, entrou nesse acordo. Aí, levei um susto. Disse: “Bom, fecharam-se as portas”. Aí, veio um convite do PSB para ser a candidata deles. Para ser candidata, tinha de arrumar um partido, mas o que havia tinha as portas fechadas. A aliança não convinha mais. Estava acabando de romper com aquele partido e como é que ia ficar naquela aliança nacional e municipal? Como dizia, veio o convite do PSB. E comecei as conversas. Gostei muito do Carlos Siqueira, que tem visão aberta. Conheci os pernambucanos. Mas não conhecia o Márcio França. Tivemos uma conversa simpática e tal. Mas aí, comecei a achar que tinha uma coisa meio estranha, complicada, porque ele tinha a ideia de ser candidato a governador. E percebi que tinha um arranjo com o PSDB para a prefeitura. Pensei: “Se entrar nesse partido, vai ser uma confusão”. Já sabia um pouco sobre ele, por parte da Marina e da Erundina. Depois, vi que o Temer fez um discurso dizendo que o PT e o PMDB não iriam mais caminhar juntos. Falei: “Bom, se não vai mais caminhar com o PT, é pra lá que tenho que ir, sendo candidata ou não”. É o meu lugar, onde quero ajudar a construir um projeto de um novo Brasil.

Esse projeto atraiu a senhora?
Sim. Fui para construir um novo Brasil, porque do jeito que está e para onde caminha esse governo sem rumo não dava para ficar.

Atribuiu-se à senhora a liderança do movimento “Volta Lula”, inclusive azedando a relação com Dilma. O que é fato e o que é versão?
No fim de 2013, era ministra e percebi que a situação estava indo muito mal, principalmente a situação econômica, as trapalhadas. Comecei a achar que teria que ter algo diferente, talvez a Dilma fosse ouvir mais o Lula ou se aproximar mais. Poderia ter uma mudança de rumo e de governo, e até de candidato. Comecei a conversar com Lula e perguntei o que ele sentia, o que estava pensando. Foi quando ele disse que ela era muito difícil, que não escutava, que o Brasil estava indo para o mau caminho.

Ele falava abertamente?
Abertamente para mim, mas também para outras pessoas que o procurassem, não era segredo. E aquilo começou a vazar. Eu continuei a ter essas conversas. Um dia, em janeiro de 2014, falei com ele: “Presidente, a situação está muito ruim e a gente tem que ter atitude”. Aí ele falou: “Realmente, está ruim, os empresários estão se desgarrando, está uma situação difícil. E ela continua sem dar a menor trela”. Aí, falei: “Se você quiser, organizo um jantar com o PIB paulista, o PIB brasileiro, em casa, absolutamente discreto, sem imprensa”. E foi discreto mesmo. O Lula nunca falou na minha frente que era candidato. Agora, ele batia nela e dizia que a política estava errada. E os empresários falavam e ele dizia: “É isso mesmo”. Quando acabava, ele falava mal do Mercadante e todo mundo saía e dizia: “Que bom, ele vai ser candidato”.

Era explícito isso?
Sim, ficavam todos achando que ele era o candidato, parecia uma campanha. Ficava óbvio. Mas, aí, teve um episódio, durante a convenção: a história que todos levantaram os crachás (em maio de 2014). Todo mundo esperava que ele conversasse com ela. A conversa aconteceria três horas antes da convenção. Achava que naquele momento iria se resolver. Mas aí o vi entrar, parecia que ele tinha levado uma surra. E ela entrou saltitando.

Ela de fato entrou saltitando...
Ela saltitando. E aí foi pior, porque o Rui (Falcão, presidente do PT) foi fazer um discurso e pediu para as pessoas levantarem os crachás pela reeleição dela. Todos levantaram. Não sei o que eles (Lula e Dilma) conversaram. Um dia, ele me chamou no Instituto Lula e falou que não seria candidato: “Agora vamos nos unir, vamos eleger Dilma”. Disse que seria um erro crasso, que o país iria se transformar numa Argentina. Aí, ele levantou e disse: “Marta, estamos juntos. Você venha participar, vamos reelegê-la e vai ser um bom governo”. Eu disse: “Estou fora, vou buscar meu caminho”. Nunca mais falei com ele.

Teve conversa mais ríspida com Dilma? Algum desentendimento?
Não, não. Acho que quando Mercadante se aproximou dela houve um afastamento, uma dificuldade na Casa Civil. O projeto de direitos autorais dormiu mais de um ano na gaveta. Mas isso poderia ser palatável se o governo mudasse. Isso não aconteceu. Quando Lula não quis ser candidato, vi que não daria certo. Não faria parte daquilo. Mas nunca tive algo pessoal com ela.

Ficou frustrada quando Lula escolheu Dilma para ser a candidata?
Vocês não me conhecem. Cheguei a brigar com o Sarney para chamá-la de presidenta. Percebi que Lula estava mais à vontade com ela. Afinal, Dilma estava há oito anos no Planalto, ao lado dele. Ninguém sabia que seria assim.

E qual é a frustração da senhora com Dilma, com o governo dela?
Aí, mistura tudo, porque não consigo separar a confusão toda, os desvios de recursos, a má gestão, a história do Conselho da Petrobras, as intervenções que levaram a gente a esta situação de crise tão séria, de desestruturação da economia. E um pouco também por ter sido a primeira mulher, de ter tido essa chance tão especial. Espero que a gestão dela não seja misturada com questão de gênero.

A senhora é citada como possível candidata do PMDB ao Planalto.
Não ouvi isso. Estou focada em tentar ser candidata a prefeita.

Quando fala da corrupção sistêmica, consegue separar a gestão Lula da gestão Dilma?
Não tenho esse conhecimento do que eles faziam.

O Lula é uma pessoa honesta?
Não vou entrar nessa seara. Não sei. Vocês não entenderam, não era todo mundo que participava disso. Nunca fui desse grupo.

A gestão de Haddad é legado ou ruptura em relação à da senhora?
É uma ruptura, uma decepção, por vários motivos. Ele foi eleito pela periferia pobre de São Paulo e fez pouquíssimo pela periferia pobre de São Paulo.

A senhora tinha expectativa de que ele resgatasse a sua gestão?
Não a minha gestão. Tinha esperanças de que ele resgatasse uma forma de governar mais saudável, que tinha dado certo no nosso governo, no qual ele teve uma pequena participação, como chefe de gabinete na Secretaria de Finanças. Ele sabia que tinha dado certo. Mas não me chamou para tomar um café e discutir qualquer coisa que fosse fazer. Uma falta de vontade de administrar que, às vezes, até penso que ele não gosta da cidade, de tão atabalhoada que é a forma de governar.

Como é a sua relação com Eduardo Cunha?
Conheço-o muito pouco. Fui um dia ao gabinete dele com as senadoras, falar sobre a questão das mulheres (a quota de vagas) e ele disse que era contra. Depois, fui convidá-lo para o lançamento da campanha Mulheres na Política, na Fiesp. Para nossa surpresa, ele foi. Fez um discurso razoável, se comprometeu a pôr para votar e cumpriu. E, depois, quando fui me filiar, fui especificamente para convidá-lo para a filiação, como presidente da Câmara.

As ideias conservadoras dele não batem com o que a senhora defende, as bandeiras LGBT...
Nada. Não batem nada, ao contrário. Por isso, achei que cabia no PMDB: vai de Cunha a gente mais de vanguarda. É o partido onde sinto que caibo.

Cunha tem uma denúncia grave contra ele.
Tem, como tem em qualquer partido de relevância. Tem contra o PSDB. Acho que só o PSol não deve ter, né? Não sei. Mas partido grande, me diga um que não tenha. Tem no PSB, com o Bezerra, né? Todos têm, não passa por aí. A contaminação é grande na política brasileira. O que importa é nós termos uma união diferente do que está acontecendo. Nunca vivemos um clima tão sério.

Que tipo de união?
Temos que ter uma união baseada numa saída para a crise que o Brasil vive hoje, desencadeada pelo governo dela e que assumiu uma proporção gravíssima, política. Depois de eleita, ela não reconheceu que tinha levado o país a essa situação e que medidas ali seriam necessárias. Ela não tomou as medidas. Pelo discurso de posse, parecia que ela estava morando em outro país. Era um discurso que não tocava a realidade. Aquilo foi agravando a situação, o problema econômico já antevisto. A desestrutura já estava feita. Mas a situação em que estamos hoje não estava imposta. Foi acelerada pelo processo de negação. Hoje, vivemos uma crise que é política, econômica, ética. A crise econômica hoje talvez seja a preponderante, porque as ruas estão quietas, mas começou a chegar às classes C e D. Assim como fomos surpreendidos por um milhão de pessoas há um tempo atrás (2013), acredito que no ano que vem a crise estará mais séria ainda, porque ela (Dilma) perde oportunidades de se colocar como uma líder e fazer uma proposta decente de união nacional, porque ela não apresenta um projeto de nação. Nas últimas semanas, ela ficou reduzida a um projeto de permanência no poder.

A senhora se refere à ministerial?
É, o que ela fez agora na Câmara foi isso.

E não adiantou tanto.
E até foi mais rápido do que imaginava, porque se você não pensa o país com grandeza, não tem como dar certo. Converso bastante com as pessoas em vários lugares. Todas as classes sociais hoje sabem o que é a Lava-Jato. Sabem o que é este toma lá dá cá. E não se tolera mais esse tipo de comportamento. Isso é o que a maioria dos políticos não compreendeu ainda. Hoje, quem tiver comportamento visando o interesse pessoal rasteiro, apequenado, não tem mais como ser aceito pela sociedade brasileira, não tem mais como ser aceito um comportamento assim. As pessoas não querem mais isso, não aceitam mais isso. E ela não entendeu isso. O que percebo é que há um tal desespero, que qualquer coisa é válida para se manter no poder.

O que pode acontecer? Já houve a reforma ministerial.
Não é só a reforma ministerial. Normalmente, o que os governos fazem com as crises? Eles tentam acolher a crise e sair algo muito leve. Lá é o contrário: criam a crise. Houve a questão da reforma ministerial e agora houve essa intervenção truculenta no TCU. Qualquer pessoa poderia imaginar que aquele tipo de truculência levaria o espírito de corpo a rejeitar as contas. Se eles queriam criar alguma confusão no meio da sociedade,ou justificar o voto de algum deputado que pudesse dizer que não votaria por um impeachment, porque foi algo produzido, conseguiram o oposto. É muita operação tabajara junta. É muita incompetência. E aí, quando ela faz a reforma ministerial, se cerca não das mesmas pessoas, tem ali alguns perfis diferentes, mas do PT de novo. É incompreensível. Ela não percebe que não tem como dar certo isso.

Mas, desta vez, foi o PT do Lula.
Você não entendeu. Se há um governo de coalizão, tem que ter à mesa, pelo menos, dois partidos.

Ela não deixou Michel Temer trabalhar?
Não é deixar o Michel trabalhar, é boicotar o trabalho dele. E, depois que o trabalho foi boicotado e ele se viu compelido até a sair, ela foi negociar com o PMDB jovem, que foi o que falei para o Picciani na minha filiação, “ouça os mais velhos”.

Se vier um processo de impeachment, votará a favor?
É algo bastante sério. Nunca tivemos uma situação tão difícil para um presidente, porque tem o TSE, o TCU, tem a sociedade indignada, 8% ou 10% de popularidade. É uma situação extremamente difícil. Dadas as condições legais, dificilmente o Congresso não acompanha essas condições de impeachment. Aí é além dela. É pelo Brasil, pela possibilidade de a crise não durar mais três anos e pela possibilidade de uma união nacional que consiga ter uma liderança com credibilidade, porque isso ela não tem.

Enxerga essa liderança?
Não, mas vai aparecer. Acho que agora não está visível. Tendo a possibilidade do vice, acho que é uma pessoa que teria essa liderança no sentido da credibilidade. Ele conseguiria fazer, pela sua habilidade, uma união nacional para a construção de um projeto de saída da crise e de desenvolvimento nacional para entregar este país em 2018 para uma eleição livre, e que a gente possa passar essa turbulência e tomar as medidas que vão ser necessariamente difíceis, isso é um problema. Agora, tomar as medidas do jeito que ela tentou fazer, era como falei, Tabajara. Estava na cara, não tinha como dar certo. Inábil, inábil. Tudo é inábil, isso que é difícil. Falta de habilidade, falta de competência, falta de escutar, talvez insegurança, não sei. Aquele mote que o Skaf fez é aquilo mesmo, quem vai pagar o pato é o brasileiro.

A senhora então se inclui nesse Congresso que aprovará o impeachment?
Sim, se tiver todas as condições, né? Porque acho que é uma decisão que nenhum senador tomará facilmente.

A gente vê muito senador petista insatisfeito, outros vão sair do PT?
O PT tende a perder mais senadores e a eleger menos senadores.

Qual o tamanho do PT hoje?
O partido encolheu enormemente, está muito contaminado e vai levar muito tempo para ocorrer uma recuperação, se conseguir ocorrer. Acho muito difícil.

E o PMDB? Que discurso diferente tem a oferecer, uma vez que está com os dois pés no governo?
O PMDB, na sua história, sempre foi um partido que pensou o país e defendeu a democracia. Essa é a grandeza do PMDB como marca. E, dentro desse quadro, que é o DNA dele, acredito que o PMDB tem condições de desenvolver um projeto. Tem quadros e tem a política adequada de conversa e de agregar. E o PT não tem. Então, ou isso muda dentro do PT ou ele não vai conseguir se recuperar.

Nas votações polêmicas, como as relacionadas à mulher, a ala conservadora do PMDB vai ajudar?
Ainda não conheço bem. O que conheço é a posição do Cunha e dos evangélicos, que não são PMDB. Ele não está sozinho nisso, há uma onda conservadora e gostaria que fosse uma onda, porque, onda flui, né? Mas há no mundo todo esse comportamento. E no Brasil, a expressão máxima, pela sua visibilidade e pelo cargo que ocupa, é o Cunha. Mas a gente não pode confundir as posições dele com as posições do PMDB. E essa força que ele tem nesse conservadorismo não vem do PMDB. Vem desta junção de posições mais conservadoras que o apoiam no quesito comportamento, e não o apoiam de outro jeito. Na corrupção, não posso nem falar, porque ainda não foi julgado. Mas, nessa questão, talvez religiosa-ideológica, ele conseguiu um apoio fechado.

Regredimos nestes temas?
Muito. Aqui no Senado, inclusive, onde não tem Cunha, regredimos. Na questão da homofobia. Fui para o ministério e a questão da homofobia acabou integrada no Código Penal. Quando voltei, falei com Pedro Taques e perguntei o que havia acontecido. Ele respondeu, “ah, não passava”. Falei com o Vital do Rêgo, que virou relator na CCJ. O relatório dele estava igualzinho ao do Pedro Taques. Fiz oito emendas colocando tudo de novo. Vários senadores fizeram. Vital ia votar e percebeu que havia muita confusão. E ele estava para ser nomeado (para o TCU). Então, suspendeu tudo e está lá quietinho.

A que atribui essa ondaconservadora?
A história caminha dessa forma. Tivemos momentos mais libertários até em séculos passados. A grande novidade é o papa. E isso é muito interessante. Não que ele vá mudar os dogmas, mas pode abrir um espaço para, daqui a algumas décadas, isso ocorrer. Pelo que percebo dele, é extremamente hábil.

O ministro Edinho Silva disse que há preconceito em relação à presidente. A senhora concorda?
Não creio, mas não saberia dizer. Sempre essa explicação é boa e fácil. Teria que ter uma pesquisa. Não acho que as pessoas dizem “ela é incompetente porque é mulher”. As pessoas votaram nela achando que era muito competente sendo mulher. Foi uma das coisas que melhorou no Brasil. As pessoas não têm mais esse preconceito.

Mulher tem que ser brava para governar? Dilma vive dizendo: “Os homens são meigos”.
Gosto dessa frase dela, foi uma boa tirada, mas acho que as pessoas têm que ter personalidade, não é querer ser desse jeito ou daquele. Não é isso que impõe, na verdade. O que impõe é as pessoas saberem que você sabe o que está fazendo. Aí, acho que a equipe te respeita.

Seu ingresso na política se deve a Eduardo Suplicy?
Por conta dele está o interesse, porque era mulher de político, fiz todas as campanhas dele. Ele foi uma pessoa importante para minha entrada na política. É um homem honesto, respeitado. Claro que foi um bônus, mas se não tivesse tido o trabalho de televisão não teria sido eleita, tanto é que o irmão dele não se elegeu. Sempre tive a minha identidade separada da dele, mas, naquele momento, ele foi uma pessoa importante.

A separação atrapalhou?
Sim, você já viu alguém ser eleita e declarar que vai se separar? Homem não faz isso, fica lá, tem até outra família, mas não se separa. Separei-me em fevereiro, depois que fui eleita. Foi um escândalo. Sempre falo: faço na frente e pago o preço.

Com derrotas no STF, no TCU e no TST, foi uma semana dificílima para o governo. O que pode acontecer?
É um momento de crise aguda, ela nunca se viu tão acuada.

E tem a questão do pedido de impeachment na Câmara. 
Ela nunca se viu em situação igual. O jogo que ela tentou jogar, equivocadamente, deu errado. Nós temos uma situação de enorme impasse.

O cerco está se fechando?
Não, prefiro dizer o que falei mesmo: temos uma situação de enorme impasse, ela nunca viveu situação igual. Não vejo muitas possibilidades. Porque, inclusive, é um momento em que se tem que ter grandeza, que se tem que pensar no país. Não se pode mais pensar só em se manter no poder. Esgotaram-se as possibilidades. Agora, temos que pensar que o Brasil é maior e está sofrendo muito.

A senhora está sugerindo a renúncia?
Tive cuidado para não usar essa palavra. Não quero usar.

Mercadante falou em golpe, disse que as crises passam, mas os efeitos do golpismo, não.
É tudo uma tentativa, através de palavras, de justificar o que se delineia cada vez mais como o caminho que está tomando a situação. Então, tentam dizer que é golpismo, tentativa de nova eleição. Tentam conturbar o cenário para ver se confundem a população em relação à realidade do que está ocorrendo. Não se vê uma mudança que poderia ter ocorrido, um ministério de alto nível, com ilustres brasileiros, que fossem chamados não só para ficar nos ministérios, mas para pensar um projeto de reestruturação econômica do Brasil. Que a presidente pudesse ir para a televisão e dizer: nós não conseguimos acertar até agora, mas vamos fazer isso e aquilo, com começo, meio e fim, com clareza, que as pessoas pudessem ser partícipes, porque isso vai exigir sacrifícios, não temos nenhuma dúvida. Então, a sociedade tem que estar junto nisso. Não se pode chegar e tirar um saquinho de bondade e de maldade e achar que as pessoas vão participar. Não é assim, esse foi um engano desde o começo. Ser levada a entender o processo, a ouvir um mea-culpa, ouvir uma proposta e que queiram te escutar, ter uma mudança radical de quem está lá em cima decidindo, com uma coalizão de verdade. Os partidos todos estão maduros para dar as mãos e pensar o Brasil. Sem isso, você não vai pra frente. Ela (Dilma) não foi capaz disso.

E ainda há tempo?
Não tenho ideia, a política é muito imprevisível. Você podia achar que estava madura a situação três meses atrás, quando teve uma mudança radical. Ela não aproveitou várias deixas, como a do Renan (Calheiros, presidente do Senado), que veio com a Agenda Brasil. Ela podia ter aproveitado essa trilha aí, começar a pensar de outra forma. Mas nada é aproveitado. Mexe, faz acordos e mantém o círculo petista de cinco pessoas do lado. Na verdade, não teve mudança. Não consegue pensar grande, pensar o Brasil, pensar o novo. Não é mais uma questão de ajuste, é uma questão estrutural, porque nós chegamos a uma condição estrutural de desacerto. Isso só se faz com união nacional, não se faz com o pequeno, não se faz só com o PT. O PMDB é o partido que tem condição de fazer essa grande coalizão.

A TV Mulher mudou minha vida
Nasci em São Paulo, meu pai era industrial e minha mãe, dona de casa. Só fez faculdade aos 50 anos, estimulada pelos filhos. Eu nasci pra casar e ter filhos, provavelmente com o filho de algum companheiro de polo do meu pai. Ninguém tinha expectativa em relação a mim, mas minha mãe, de certa forma, tinha um pouco mais. Ela achava que a mulher tinha que ter independência, acho que, por causa da situação de submissão em relação ao meu pai. Fui a primeira da turma do Sion a ir pra faculdade. Casei-me muito jovem. Aos 20 anos, fui morar nos Estados Unidos. Já era meio rebelde e achava que estudar inglês era coisa muito capitalista, estudei francês e italiano. Fiz meu mestrado lá. Quando voltei, falava muito bem o inglês e tinha uma formação em sexologia e terapia de casal, tive a sorte de estar em Stanford , que era o centro onde isso começou. Também tinha uma formação em terapia comportamental, mas, quando vi que isso não tinha muito a ver com os problemas que estava lidando no consultório, procurei a psicanálise. Entrei na Sociedade de Psicanálise, onde fiz toda a minha formação e estou até hoje. Logo depois, fui convidada para fazer um programa sobre sexualidade na TV Globo. Já escrevia sobre esse tema para as revistas Cláudia e Vogue. A TV Mulher foi um programa que revolucionou a condição da mulher. Nele, aprendi muito sobre as diferenças do Brasil.

MP tenta identificar quem transferiu US$ 4,5 mi para contas atribuídas a Cunha

Investigadores brasileiros aprofundarão as apurações nas próximas semanas sobre três depósitos ainda não identificados nas supostas contas do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na Suíça. Esses valores somam pouco mais de US$ 4,5 milhões, o equivalente a R$ 16,92 milhões na cotação da última sexta-feira (9).
Conforme mostrou o Blog, as quatro contas atribuídas a Cunha no país europeu receberam, segundo as investigações, US$ 4.831.711,44 e 1.311.700 francos suíços, o equivalente a R$ 23,2 milhões. Sabe-se, até aqui, que os depósitos nessas contas começaram em 2007 e as movimentações seguiram até 2015. Duas delas foram bloqueadas (com o valor de 2,4 milhões de francos suíços) e duas encerradas em 2014.
Enquanto parte do dinheiro teria sido pago a Cunha como propina por contrato fechado entre a Petrobras e a empresa Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl, em Benin, na Africa, por 50% de um campo de petróleo, outros U$ 4,5 milhões ainda não tem origem definida.
De acordo com as investigações, os US$ 4,5 milhões foram depositados, entre 2007 e 2008, por contas sediadas no banco Merrill Lynch. O dinheiro alimentou duas offshores (Orion SP e Triumph), cujo a titularidade é atribuída ao próprio Cunha.
Apesar de as empresas terem sido encerradas em maio e abril de 2014, investigadores informaram ao Blogque o histórico da Orion e da Triumph SP foi enviado para o Brasil pelo Ministério Público da Suíça.
Uma das contas do Merrill Lynch depositou US$ 3,1 milhões em maio de 2007. No mesmo mês, um conta no mesmo banco fez aporte de US$ 207 mil, valor ainda não analisado. Os dois depósitos foram realizados na Triumph. Já a Orion recebeu US$ 1,8 milhão, em agosto de 2008, 15 dias após ser aberta, de uma provável outra conta no Merrill Lynch.
Os dois maiores depósitos da Merrill Lynch, de US$ 3,1 milhões e de US$ 1,8 milhão, foram realizadas pelas chamadas "contas de custódia" (usadas para passagem de valores, mas que não são o destino final do dinheiro). Segundo apurou o Blog, os investigadores brasileiros suspeitam que elas podem ser, inclusive, do próprio presidente da Câmara. Esclarecer esses depósitos é um dos próximos passos da investigação.
As movimentações revelam ainda que o presidente da Câmara teria pago ao menos US$ 516 mil para consultores financeiros de uma empresa com sede no Uruguai, segundo investigadores com acesso aos dados enviados pelo país europeu.
Em nota divulgada na tarde deste sábado (10), Eduardo Cunha afirmou nunca ter recebido "qualquer vantagem de qualquer natureza, de quem quer que seja, referente à Petrobras ou a qualquer outra empresa, órgão público ou algo do gênero". Em outro trecho, o presidente da Câmara questiona "vazamento" das investigações contra ele e diz que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, atua de forma "parcial" e com "viés político".
Gastos
Conforme o Blog informou, os dados enviados pelo Ministério Público Suíço às autoridades brasileiras indicam que a mulher de Eduardo Cunha, Claudia Cordeiro Cruz, usou parte do dinheiro transferido às supostas contas da família no país europeu,  com o pagamento de despesas feitas pessoais, como cartão de crédito, academia e curso de inglês.
Os dados também mostram, segundo investigadores, um pagamento de US$ 119 mil, entre agosto de 2011 e fevereiro de 2012, para a Fundação Esade, que organiza cursos de pós graduação na Espanha. Uma das filhas de Cunha registra em rede social que realizou um MBA organizado pela mesma instituição no período dos depósitos. Aparecem gastos também para o pagamento no valor de US$ 23 mil a uma empresa que realiza seguros.