domingo, 11 de outubro de 2015

Deep Web: conheça o submundo da Internet Saiba como obter acesso a um conteúdo que pode ser até 500 vezes maior do que o Google é capaz de lhe mostrar!

Você já deve ter se deparado com esta analogia cafona um sem-número de vezes: "a internet é como um oceano". Sim, a internet é um verdadeiro oceano de informações, cultura e entretenimento. E, para navegar neste oceano e ter acesso a tudo o que ele é capaz de oferecer, nos tornamos reféns dos chamados motores de busca (search engines); mais precisamente, do mais famoso deles, o Google.
Porém, ao contrário do que muitos pensam e por razões que fogem ao conhecimento da maior parte dos internautas, o Google, e outros mecanismos de busca populares, não são capazes de lhe mostrar exatamente tudo o que existe na rede mundial de computadores.
Na verdade, mecanismos como o Google, o Bing e o Yahoo são capazes de lhe mostrar apenas o que há na superfície deste oceano, ou seja, uma parte muito pequena do que realmente é a Internet.
Infográfico DeepWeb 

Exagero? Nem um pouco...

Para se ter uma ideia melhor do quão superficial é sua experiência na Web ao utilizar um desses mecanismos de busca, vamos apresentar um dado realmente impressionante: um estudo feito pela Universidade da Califórnia no ano de 2001, estimou que toda a Internet apresentada pelos mecanismos de busca corresponde a bem menos de 1% do tamanho real. A conclusão é que a "internet invisível" é entre 400 e 550 vezes maior do que estes mecanismos nos fazem crer.
A falta de indexação de todo este conteúdo nos motores de busca populares ocorre por inúmeras razões:
  • Determinação do dono do conteúdo: existem algumas 'metatags' (tipo de instrução HTML) que podem ser usadas no cabeçalho de um site para instruir os mecanismos de busca a não indexar seu conteúdo, tornando-os, desta forma, inacessíveis ao grande público.
  • Violação de algum termo de indexação: os mecanismos de busca podem deixar de indexar um site se o mesmo infringir algumas de suas regras. Por exemplo, um sitemap1 mal feito.
  • Dificuldade de acesso ao conteúdo dinâmico: A maior parte das informações da Web estão enterradas muito abaixo das páginas geradas de maneira dinâmica. Motores de busca tradicionais criam seus índices rastreando páginas de "superfície". Para serem descobertas, as páginas devem ser estáticas e ligadas a outras páginas. Motores de busca tradicionais não conseguem "ver" ou recuperar este conteúdo já que, tecnicamente, não existem até que sejam criados dinamicamente conforme o resultado de uma pesquisa específica. Ou seja, indexadores de mecanismo tradicionais não podem sondar abaixo da superfície.
  • Efeito "publicidade": Com o intuito de "melhorar" a exibição de publicidade, os desenvolvedores dos motores de busca mais populares têm investido pesadamente na personalização dos resultados. Para tanto, são usados diversos artifícios: desde simples cookies de sessão até associação com serviços de e-mail e redes sociais que, literalmente, lêem suas mensagens em busca de palavras que possam ser relacionadas a propaganda personalizada.

    A ideia é tentar, a todo custo, identificar seus hábitos de uso para poder exibir a publicidade que melhor se encaixa em seu perfil pessoal.

    Para se ter uma ideia de como estão as coisas hoje em dia, duas pessoas distintas que fazem uso assíduo de redes sociais, costumam fazer determinados tipos de pesquisa com frequência, nunca apagam cookies do navegador e, principalmente, permanecem logadas com nome de usuário e senha a estes mecanismos e seus respectivos servidores de e-mail, certamente não receberão o mesmo resultado de pesquisa para um termo qualquer que for digitado. Ou seja, o mecanismo de busca não estará exibindo, como inicialmente você poderia imaginar, todos os resultados para seu termo de busca, mas sim os resultados que ele "entende que sejam os melhores para você"! Isso faz com que boa parte dos resultados para sua pesquisa permaneçam inacessíveis.

    Resultados de pesquisa diferentes
    Um mesmo termo de busca no Google  pode gerar resultados diferentes para diferentes perfis de pessoas. Na imagem, é visível a diferença entre os screenshots tirados por duas pessoas diferentes aqui na redação do Superdownloads 
  • Conteúdo "Proibido": Muitos sites são automaticamente ignorados ou 'desindexados' pelos mecanismos por apresentarem conteúdo ofensivo ou potencialmente perigoso. Nesta categoria, encaixam-se redes criminosas de todos os tipos como sites de terroristas, de nazistas, de pedófilos e de incentivo a violência por discriminação. Sites de hackers, crackers e de compartilhamento de malwares de todos os tipos também encontram-se abaixo da superfície da internet visível. Sites com conteúdo hediondo, como muitos sites nazistas, de sociedades satânicas e de diversos tipos de bizarrices como zoofilia, necrofilia e snuff também fazem parte do conteúdo "inacessível".

A besta tem 7 nomes...

Abaixo da superfíce (Surface Web), existe uma internet totalmente desconhecida pelo usuário comum. Este mundo submerso e misterioso é, normalmente, mencionado através dos seguintes termos:
1. Deep Web (Web Profunda);
2. Deep Net (Rede Profunda);
3. Invisible Web (Web Invisível);
4. Under Net (Abaixo da Rede);
5. Hidden Web (Web oculta);
6. Dark Net (Rede sombria);
7. Free Net (Rede Livre)
Fazer uma busca por estes termos no Google irá lhe trazer bastante informação útil, mas não vai levar você muito além do nível "água no joelho". Para acessar o conteúdo profundo é necessário usar escafandro e ficar muito esperto com os monstros abissais que certamente irão se apresentar.

Até onde vai a toca do coelho?

red pill, blue pill, matrix, morpheus, neo, choice, escolha, mistério, submundo
Se você chegou até este ponto da matéria, certamente já deve ter percebido que os mecanismos de busca tradicionais não irão lhe ajudar muito a desvendar o conteúdo oculto da internet. Mas não é só isso: os navegadores também não!
Na verdade, a Deep Web é um território "perigoso", onde o risco de contaminar-se com um vírus ou ter o computador invadido por hackers e crackers é muito maior. Além disso, boa parte do conteúdo está encriptado, o que requer ferramentas diferentes para acessá-lo. Por isso, navegadores comuns irão restringir automaticamente determinados tipos de conteúdo ou simplesmente não vão carregá-los pois, em sua maioria, estão repletos de miniaplicativos e add-ons que visam "garantir" sua segurança: filtros anti-phishing, anti-popup, níveis de segurança por zona, etc...
Sendo assim, a melhor forma de começar a desbravar este território inóspito é esquecer a forma tradicional de acesso, fugindo de ferramentas populares e se precavendo ao máximo!
Utilizar uma máquina virtual, ao invés dos recursos nativos do seu computador, é uma boa ideia. Assim, se algo acontecer, basta deletar a máquina virtual e nada de importante será perdido. Tudo de ruim que puder vir a ocorrer (infecção por vírus, invasão por rootkit, etc, só irá contaminar a máquina virtual). Outra vantagem de se recorrer às máquinas virtuais é que você não vai ficar paranóico com instalação e configuração de programas antivírus, firewalls, anti-spywares, etc... Afinal de contas, fazendo desta forma, tudo o que é importante vai ficar inacessível e bem longe do alcance dos perigos do mundo Deep.
 

Sobre máquinas virtuais

Existem alguns programas capazes de "emular" um PC inteiro dentro de uma janela do Windows (ou de outro sistema operacional). Você literalmente roda dois sistemas operacionais distintos simultaneamente em um mesmo computador.
Para saber mais sobre o assunto, visite:
http://www.superdownloads.com.br/materias/melhor-virtualizador-virtualbox-vmware-virtual-pc.html

Após instalar a máquina virtual, o próximo passo é, literalmente, mergulhar dentro da Deep Web.

The Onion Router (ou simplesmente Tor)

A navegação anônima é a sua principal ferramenta para desbravar o conteúdo da Deep Web. A primeira razão para navegar desta forma é que fica um pouco mais difícil para hackers e sites com conteúdo nocivo efetuarem um ataque direto contra seu computador. A segunda razão é que, dependendo do que você for visitar, existe a possibilidade de você ser redirecionado para sites com conteúdo criminoso. Portanto, navegar sem a proteção do anonimato, pode colocá-lo na mira de organizações de investigação criminal de todo o mundo.
Existem inúmeras ferramentas que podem ser instaladas em seu computador para a navegação anônima. Porém, uma das melhores é o Tor.
O Tor (https://www.torproject.org/) é, na verdade, uma rede de computadores que visa prover anonimato através de túneis HTTP e roteadores que funcionam a partir de máquinas de usuários comuns conectadas à internet e que rodam uma versão servidor da aplicação.
Para navegar dentro desta rede, é necessário a instalação da versão cliente do programa para que seja criado um proxy que se conecta a ela. Feito isso, navegadores e programas que se conectam à internet (Internet Explorer, Emule, Bittorrent, etc.) devem ser configurados para usar um servidor do tipo "proxy socks 5" com endereço de destino no próprio computador, ou seja, IP 127.0.0.1. Em sua maioria, programas que fazem uso da internet possuem abas de configuração onde é possível fazer este tipo de modificação.
A partir de então, o Tor roteia todo o tráfego da conexão do cliente através dos túneis da rede até o destino desejado. Desta forma, se o usuário visitar um site do tipo http:\\meuip.com.br (que serve para identificar seu IP na internet), vai receber uma resposta diferente do IP real do computador. O IP apresentado será, no caso, o endereço IP do nó Tor por onde o tráfego de rede "saiu" para acessar o conteúdo da "rede convencional".
A rede Tor possui uma topologia bastante caótica e você não tem como saber qual IP será destinado a sua navegação ou a que parte do mundo tal IP pertence.
Além disso, existe um tipo de domínio com extensão ".onion" que é acessível apenas pelos clientes Tor. Aliás, foi a partir dos sites ".onion" que nasceu a expressão "Deep Web". Tentar acessar tais sites por um navegador comum irá resultar em erro.
 

Links para sites da Deep Web são parecidos com estes:

http://kpvz7ki2v5agwt35.onion
(The Hidden Wiki - Contém toneladas de informações sobre sites Tor)

http://xmh57jrzrnw6insl.onion(Motor de busca para sites Deep Web)
http://eqt5g4fuenphqinx.onion(Pesquisa em diretório dentro da Internet profunda)
http://jhiwjjlqpyawmpjx.onion
(Tormail, gratuito para envio de mensagens anônimas) 
http://4eiruntyxxbgfv7o.onion(Mensagens instantâneas anônimas)
http://eqt5g4fuenphqinx.onion/
(Core .onion, pesquisa em diretório)
Existem sites na Deep Web (".onion") que abordam os mais variados tipos de assunto: desde treinamento de guerrilha e armamentos até lojas virtuais de drogas e outros itens ilegais. O conteúdo é vasto, chocante e, muitas vezes, indigesto! Por razões "óbvias", exibimos apenas os links acima para que você possa iniciar sua jornada.

Navegador Tor

Felizmente, existe uma maneira mais fácil de desbravar a Deep Web através do Tor, sem a necessidade de configurações complicadas. Tudo o que você precisa está em nossa área de downloads, e se resume ao Tor Browser.
Fique ciente, porém, que a navegação através dele é lenta. O motivo é a já mencionada e intrincada rede de túneis que são gerados para lhe garantir o anonimato.

Outras fontes interessantes

Deixando um pouco de lado o conteúdo "sombrio", apresentamos algumas fontes interessantes que podem levá-lo além do que o Google é capaz de lhe mostrar. Com estes mecanismos, a "água vai até a cintura" :-)
1. DeepPeep: Serviço idealizado para gerar resultados não captados por motores de busca comuns. Ainda em fase beta, portanto, pode apresentar problemas.
2. MetaCrawler: Exibe, em sua tela de resultados, uma pesquisa conjunta em vários mecanismos de busca tradicionais. A vantagem é que você não fica limitado aos resultados de pesquisa personalizados que mencionamos anteriormente, além, é claro, de receber muito mais informação por termo digitado.
3. Oth.net: Motor de busca especializado em procurar por arquivos em servidores FTP do mundo todo. Tem, literalmente, de tudo.
4. Duck Duck Go: Para quem leva teoria da conspiração a sério e torce o nariz para utilizar serviços de empresas como Google, Yahoo e Microsoft, o Duck Duck Go é uma boa alternativa para ser usado como mecanismo de busca principal.
5. InfoMine: Motor de busca desenvolvido por um grupo de bibliotecas Norte Americanas, dentre elas a da Universidade da California e da Universidade de Detroit. Lá você encontra muita informação interessante, como periódicos eletrônicos, livros, boletins, listas de discussão, catálogos de bibliotecas on-line, artigos, diretórios de cientistas e pesquisadores, etc.
6. The Virtual Library: É considerado um dos mais antigos catálogos da Web. Foi desenvolvido por alunos de Tim Berners-Lee, o próprio criador da Web. A caixa de pesquisa funciona como um motor de busca tradicional. Divirta-se!
7. Complete Planet: Um dos melhores buscadores não-populares. Nele, você encontra uma variedade realmente grande de assuntos que vão desde comidas e bebidas até assuntos militares.
8. Infoplease: Um buscador para enciclopédias, almanaques, atlas e biografias em geral

Considerações finais

A Deep Web é realmente um assunto muito vasto. Infelizmente, é necessário bastante conhecimento em outras línguas para poder fazer uso de todo seu potencial e, para mantermos a matéria em um nível mínimo de legalidade, não pudemos abordar alguns tópicos realmente polêmicos e extremamente difundidos nas profundezas da Internet. Mas esperamos que, com as informações passadas aqui, você possa aumentar exponencialmente sua cultura e conhecimento sobre este mundo louco em que vivemos. E tudo está lá, nas profundezas... É só procurar!
Escafandro
Bom mergulho!

1. Sitemap é uma representação hierárquica da estrutura de um sit

Com todo respeito a senhora Presidente Max deixa bem claro que Economia só existe se obedecer 3 pilares principais: LIBERDADE! IGUALDADE! PRODUÇÃO "CLARO QUE TEM QUE SER SUSTENTAVEL"! Acredito sendo leigo em Economia onde nossa Presidente é graduada que a equipe econômica se encontra equivocada. Mais impostos não incentiva a produção? Regular o mercado aumenta a divida do Estado!


Lula virá a Salvador no fim do mêsO evento está marcado para o dia 23 de outubro.

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Promovido pelo Diretório Estadual do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, deve vir a Salvador, no fim desse mês, para o evento de validação das filiações do partido.
O evento está marcado para o dia 23 de outubro, no Hotel Fiesta, em Salvador.
Para a secretária de formação política, Elen Coutinho, essa será uma grande plenária de novos filiados.

Samuel Pinheiro Guimarães: imprensa joga pesado para barrar Lula Diplomata critica sistema de imposto condescendente com grandes fortunas, diz que o rigor do ajuste afasta o PT de sua base social e vê a mídia em plena caça de Lula para impedir seu retorno

Samuel Pinheiro
Samuel Pinheiro Guimarães considera importante o Brasil ter assento no Conselho de Segurança da ONU
São Paulo – Brasil e Estônia são os únicos países que não taxam milionários, afirmou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, durante gravação do primeiro programa Entrevista Coletiva, parceria do coletivo Jornalistas Livres e da TV dos Trabalhadores – TVT, que deve estrear em breve. O diplomata fez uma análise da conjuntura política econômica do país e criticou o ajuste fiscal. Para ele, o ajuste fiscal promovido pelo governo federal mina as bases do Partido dos Trabalhadores.
Guimarães exerceu cargo de secretário-geral de Relações Exteriores do Itamaraty e foi ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, no governo Lula. No início do primeiro mandato de Dilma Rousseff trabalhou como Alto Representante Geral do Mercosul.
O diplomata critica a injustiça tributária brasileira pelo fato de o sistema de impostos ser condescendente com os detentores de grandes fortunas. E refuta as tentativas dos setores da imprensa de criminalizar o ex-presidente Lula com objetivo de minar seu caminho de volta ao Planalto em 2018. "É um jogo político em que a mídia tradicional participa ativamente. Como não tem outra alegação, vão surgindo alegações totalmente absurdas."
Outra preocupação levantada pelo embaixador, que justifica a insistência do Brasil por um assento no Conselho de Segurança da ONU, é o risco de Amazônia vir a ser usada como argumento para a ruptura de paz firmada em acordos internacionais, que poderia ser usado pelos países desenvolvidos em eventual conveniência.
Participaram da entrevista jornalistas de coletivos de mídias progressistas: Altamiro Borges, do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, Kiko Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, Manu Thomaziello, da União Estadual dos Estudantes, Marco Aurélio Mello, da TVT, Rodrigo Vianna, do blog Escrevinhador com mediação de Laura Capriglione, do Jornalistas Livres.
Confira a seguir alguns dos temas tratados pelo embaixador e ouça a reportagem.

Crise dos Brics na mídia conservadora

Não me consta que a China esteja em crise, ela está crescendo 7% ao ano, uma taxa expressiva diante dos 2% que crescem os europeus ou os Estados Unidos. Na minha opinião, a questão fundamental dos Brics é que eles colocam em jogo a estrutura de sistemas de controle dos países periféricos pelos países ocidentais, exercidos pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Os países muitas vezes entram em dificuldades e o banco dos Brics é uma alternativa que permite que os países tenham acesso a recursos sem ter de se submeter (aos organismos tradicionais). Eu acho que a experiência dos Brics não está em crise. Os eternos defensores dos organismos internacionais estão contra os Brics.

Investigação do ex-presidente Lula por tráfico de influência

Essa acusação não faz o menor sentido. Todas as autoridades dos Estados, como Estados Unidos, França, Alemanha, Grã-Bretanha, procuram defender os interesses das empresas de sua nacionalidade. Isso é normal, isso ocorre. Autoridades estrangeiras também vem ao Brasil defender a posição de suas empresas. Não há nada de errado nisso. Não sei se o ex-presidente Fernando Henrique faria isso, será? Ou será que ele não defendia o Brasil? Talvez ele não defendesse o Brasil. Que eu entenda, o presidente Lula nunca recebeu recurso para, como presidente e mesmo depois, defender os interesses de empresas brasileiras. Não há nenhum crime nisso.
Nós estamos em um processo político cujo objetivo, vamos deixar claro, é fazer com que as classes tradicionais recuperem o poder que tinham no Brasil durante 500 anos, e que se interrompeu em 2003. O objetivo, naturalmente, é impedir que o presidente Lula volte ao poder, por meio de sua desmoralização, de sua criminalização e assim por diante. É um jogo político em que a mídia tradicional participa ativamente. Como não tem outra alegação, vão surgindo alegações totalmente absurdas.

A Constituição prevalecerá O jurista Dalmo Dallari vê processo de impeachment contra Dilma como manobra fantasiosa que não vai prosperar. Para ele, a maioria do STF é séria; e o povo também aprendeu a exigir seus direitos

Dalmo Dallari
"Constituição precisaria ser estrondosamente violada para que algum dos setores que hoje tentam emplacar um pedido de impeachment de Dilma levem adiante suas manobras fantasiosas"
Aos 83 anos, Dalmo Dallari não se cansa de exercer o ofício que escolheu desde muito jovem: o estudo e a defesa do Direito, como ferramenta de promoção da justiça social e da cidadania. O jurista, respeitado no Brasil e internacionalmente, faz questão de contar sua origem modesta e os esforços que empreendeu antes de chegar à cadeira de titular da Faculdade de Direito da USP. É uma forma de estimular os mais jovens a não desistir de seus sonhos, argumenta. Ele nasceu em Serra Negra (SP), filho e neto de sapateiros. Com 14 anos foi morar na capital. Foi office boy de uma indústria, e nunca parou de ler e estudar. Conseguiu concluir o ciclo fundamental e médio de ensino por meio do antigo Madureza, espécie de “intensivão” para dar conta das exigências curriculares.
Passou no vestibular na faculdade onde cursou Direito, lecionou e se aposentou, e jamais abandonou a atividade acadêmica. Até hoje atende a convites pelo país afora, e sempre leva consigo um conselho aos ouvintes: “Tenha sempre consigo um exemplar da Constituição. É muito importante”. Ele diz já ter ouvido em muitos países que a Carta Magna brasileira é uma das mais democráticas do mundo, por ter sido construída com intensa participação da sociedade e, por isso, refletir conquistas importantes da humanidade, que estão na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Segundo Dallari, esta mesma Constituição precisaria ser estrondosamente violada para que algum dos setores que hoje tentam emplacar um pedido de impeachment de Dilma Rousseff levem adiante suas manobras, que chama de “fantasiosas”. É o que ele afirma categoricamente em entrevista concedida ao programa de webTV Contraponto, produzido pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo e o Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, do qual destacam-se a seguir os principais trechos.
Qual a possibilidade de um impeachment contra a presidenta Dilma se materializar?
Vivi antes de 1964 e percebi o que levou ao golpe. Havia uma exploração muito grande de uma situa­ção nova decorrente da Segunda Guerra, da afirmação dos direitos humanos, inclusive dos direitos sociais, e entre nós houve uma associação – e tem se falado muito pouco disso – de empresários com militares. O golpe foi civil-militar. Vi claramente essa interferência do empresariado no golpe que foi apresentado como militar. Há elementos hoje que comprovam isso. Empresários deram dinheiro para contratar professores de tortura. Para contratar máquinas de torturar. Eram duas grandes forças que tinham interesses coincidentes. Queriam de qualquer maneira impedir o avanço dos direitos sociais. Havia sindicatos organizados, muita conscientização dos direitos sociais, e as elites ricas e a igreja católica mais reacionária ficaram com medo desses avanços. Inventaram a tese do “perigo comunista”. Ninguém estava querendo comunismo no Brasil, apenas uma sociedade mais justa. O dado essencial é que grupos poderosos tinham naquele momento interesses coincidentes. Se fizermos o exame dos grupos que existem hoje no Brasil, não há essa coincidência. Há uma multiplicidade de pequenos grupos, de pequenas forças. Não há um grande líder. Não há um grande partido, não há uma grande força política.
“Qualquer pessoa que pega um jornal vê quantas vezes aparece o ‘supõe-se que...’ ‘teria feito...’ ‘haveria...’ ganharia...’ Quando sabe-se que o delator só quer tirar proveito pessoal”
Mas o processo é político, dispensa provas. E se o Congresso tomasse essa atitude?
A Constituição estabelece que a última instância é o Supremo Tribunal Federal. Então não importa se o Congresso admita “ah, vamos fazer”. Tudo fica sujeito à decisão em última instância do STF. E o STF, acompanho muito de perto, na sua maioria se orienta efetivamente pela Constituição. Eu circulo muito pelo Brasil a convite de estudantes e professores, advogados, promotores, recomendando que as pessoas tenham em casa um exemplar da Constituição. É importante. A Constituição diz no artigo 85: são crimes de responsabilidade (e o impeachment tomaria por base a acusação de um crime de responsabilidade) os atos do presidente da República que atentem contra a Constituição. “Atos do presidente”, dois pontos importantes: primeiro que sejam atos do presidente, e tem gente falando em atos da Petrobras, das subsidiárias, dos ministros e não sei quem, então não são atos do presidente; mais adiante, o artigo 86 diz que o presidente da República, “na vigência de seu mandato” não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções (tem de haver um “ato do presidente” que fira a Constituição e “no exercício”, no caso, do atual mandato). Então, isso não se aplica.
O Supremo barraria esse processo?
Eu tenho absoluta convicção. Eu sinto que a maioria dos ministros do STF se orienta efetivamente pela Constituição. Tem, sim, ministro que despreza a Constituição, não leva a sério. Mas nessa decisão recente a respeito da ilegalidade do financiamento eleitoral por empresas ficou evidente. A maioria se orientou pela Constituição. Por isso, essa aparência de risco de impeachment é uma grande fantasia. A grande imprensa explora, faz disso um escândalo, porque ainda está em campanha eleitoral. Está totalmente envolvida nesta campanha e explora fraquezas, inclusive a vaidade de alguns que querem aparecer. Alguns até do Judiciário, que não resistem a uma manchete.
O senhor, em 2002, escreveu um artigo que até hoje repercute alertando para o risco de se ter alguém como o ministro Gilmar Mendes no STF...
Realmente, o ministro Gilmar não é um respeitador da Constituição, e ele está jogando politicamente. Basta lembrar o que aconteceu com o processo de financiamento eleitoral por empresas. O ministro segurou durante um ano e meio esse processo, de maneira absurda e irracional. Mas a possibilidade dele de interferir, de influir, de atrapalhar é limitada. Ele não vai conseguir impor ao Supremo sua orientação. Essa decisão a respeito do financiamento eleitoral por empresas deixou isso mais do que evidente. A maioria dos ministros do Supremo respeita a Constituição.
E essa Constituição, eu tenho ouvido isso em vários países, é das mais democráticas do mundo, porque foi feita com muita participação popular. Tem um conteúdo humanista. Consagrou direitos tradicionais, civis e políticos, e também direitos econômicos, sociais e culturais. Por que razão os tribunais de maneira geral estão abarrotados de processos? É porque ficou muito mais fácil ir ao Judiciário. Há vários anos, na periferia de São Paulo, logo depois que saiu a Constituição de 88, eu falava nos direitos fundamentais, nos direitos humanos, nos direitos sociais, e lá no fundo uma mulher levantou a mão e disse: “Tudo isso que o senhor disse é muito bonito, mas não é para nós”. Os brasileiros mais pobres não acreditavam que tivessem direitos, e agora acreditam. Agora temos também o povo defendendo a Constituição; é um dado novo na história brasileira e extremamente importante.
O senhor poderia citar algum episódio em que o ministro Gilmar atropelou a Constituição?
Isso vem de muito longe, mas eu citaria como evento uma situação muito expressiva. O ministro Gilmar Mendes é do Mato Grosso, de família de grandes proprietários de terras, e eu há muito anos sou advogado de índios – aliás, eu não pareço, mas sou índio de quatro tribos, porque as defendi, ganhei e me deram o título. Meu primeiro enfrentamento com o Gilmar Mendes foi exatamente na questão indígena. Ele defendia invasores de terras indígenas e eu defendia os direitos constitucionais dos índios, e lá ficou muito evidente que a posição dele não era determinada pela Constituição, pelo direito e pela Justiça, mas pelas conveniências, e isso realmente não era atitude de jurista. Depois se somaram outros elementos, houve uma acusação a ele, que não fui eu que fiz, mas uma grande revista da época. Ele era advogado-geral da União, e ao mesmo tempo era empresário da educação, proprietário de escola, e ele matriculou auxiliares na sua escola, mesmo que não frequentassem. Por isso a revista publicou um reportagem “Os dois lados do balcão”.
O juiz Sérgio Moro não teria uma postura de promotor, mais do que juiz?
O juiz Moro de fato tem exagerado, tem agido como delegado de polícia, como Ministério Público e juiz. A minha avaliação é que houve um certo deslumbramento, a imprensa deu muita ênfase, foi uma glorificação. Ele é um ser humano e eu tenho dito: não perca de vista que os juízes são seres humanos. Eu sempre fui contra a transmissão das decisões, acho um absurdo, porque o juiz sabe que está sendo visto por milhões e pode ser influenciado. Por mais que queira se ater ao Direito, é ser humano, tem vaidade. Acho que isso pesou no juiz Sérgio Moro, pelo enorme espaço dado pela imprensa.
A Operação Lava Jato trabalha com informações sobre o papel importante das empreiteiras nos bastidores da política brasileira. O que o senhor pensa da operação como um todo?
A apuração de ilegalidades sempre é boa, apenas a exploração dos fatos é que é, até diria, desonesta, porque dá a impressão que começou isso agora no Brasil e, no entanto, empreiteiras e grandes empresas sempre usaram caminhos subterrâneos para obter proveito. O fato negativo é apresentar isso como fato novo no Brasil, quando não é. E não há dúvida que na imprensa há uma obsessão anti-Lula e anti-PT. Quero deixar isto muito claro: eu nunca fui do PT e desde que optei por ser professor imediatamente também decidi que jamais me envolveria com partidos políticos. Mas evidentemente a imprensa tem um antilulismo obsessivo, e é uma pena, porque distorce o noticiário, grande parte é fantasiosa. Qualquer pessoa que pegar um grande jornal vai verificar quantas vezes aparece o “supõe-se que... teria feito... haveria ... ganharia”, tudo na condicional. Não se afirma nada, se insinua, “ele teria sido beneficiado... poderia ser... supõe-se que”. E isso não é fato, isso não é notícia. Infelizmente, é uma linguagem na nossa imprensa diária.
“Ainda se fala muito no político ficha suja, mas infelizmente tem o eleitor ficha suja, que vende seu voto, troca voto por favores. Então, é preciso um trabalho de reeducação cívica”
Tivemos lá atrás o domínio do fato, e agora os processos e sentenças baseados nas delações premiadas...
Eu tenho seríssimas restrições à delação premiada. É de origem italiana o conceito do arrependido, que trai para ganhar algum benefício. Mas não se perca de vista que o delator é, antes, um criminoso. Ele é endeusado pela imprensa porque faz acusações, mas se esquecem disso, é um criminoso confesso. A delação premiada tem valor muito baixo, é imoral, essencialmente imoral, e duvidosa do ponto de vista jurídico, porque muitas afirmações são mentirosas e esse é um dos casos em que aparece o “teria feito, ganharia isso, seria isso e mais aquilo” sem comprovação. Sabe-se que o delator está procurando proveito pessoal, reduzir a sua pena, ganhar liberdade, então realmente não é confiável.
Algumas pessoas acham que as apurações reforçam a República, outros acham que não. Qual a sua opinião sobre isso?
Acho bom que haja um despertar de consciência, que muita gente perceba que existe corrupção, sim, que é importante ficar contra a corrupção. É um caminho meio tortuoso, mas é um caminho de despertar a consciência. Tenho um livrinho, Direitos Humanos e Cidadania, que fala muito da necessidade de criar a consciência cidadã, que cada um perceba que tem direitos, e também responsabilidade. Ainda se fala muito no político ficha suja, mas infelizmente tem o eleitor ficha suja, que vende seu voto, troca voto por favores. Então, é preciso um trabalho de reeducação cívica, de conscientização, para que a pessoa perceba que tem direitos e ­responsabilidades.
O senhor é a favor de uma nova constituinte?
Não, não. Eu circulo muito pelo Brasil e outros países e já ouvi afirmação de que o Brasil tem uma das constituições mais democráticas do mundo, porque realmente ela reflete conquistas importantes da humanidade, conquistas que estão na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Primeiro, a Constituição de 1988 foi feita com intensa participação popular. Criamos em São Paulo – e o principal criador nem era da área jurídica, era um engenheiro, Francisco Whitaker – um movimento pela participação popular, e ali se criou a Iniciativa Popular, o direito do povo de propor leis. Só para ter exemplo do que isso significa, a Lei Maria da Penha não foi iniciativa de nenhum parlamentar, foi do povo. A Lei da Ficha Limpa também. Então, avançamos muito e o que há por fazer é aplicar a Constituição.
O senhor escrevia num grande jornal e depois deixou de escrever. Como foi essa história?
Eu realmente escrevia num grande jornal (Folha de S.Paulo) e um dia me chamaram lá e disseram: “Olha, infelizmente não vai mais dar para continuar publicando os seus artigos. Gente da indústria, do setor automobilístico, disse que se continuarmos a publicar seus artigos vai ser cortada toda a publicidade”. Vou contar o personagem, que até já morreu: Wolfgang Sauer, da Volkswagem, e presidente Associação Nacional da Indústria Automobilística (Anfavea). Eu escrevia sobre direitos sociais, isso era considerado indesejado. Mas eu nunca preguei violência, sempre falei nos caminhos da Constituição, da Justiça, mas isso era considerado uma agressão. E perdi meu espaço na grande imprensa.

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