quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Comitê de Ética da Fifa suspende Blatter, Platini e Valcke por 90 dias Presidentes da Fifa e da Uefa ficarão afastados de funções no período, que pode ser estendido por mais 45 dias. Ex-secretário-geral já estava afastado de cargo

O processo de combate à corrupção no futebol mundial teve um novo marco nesta quinta-feira. O Comitê de Ética da Fifa anunciou a suspensão de Joseph Blatter, presidente da Fifa, Michel Platini, presidente da Uefa, e Jérôme Valcke, ex-secretário-geral da entidade mundial. Os homens-fortes do futebol no planeta terão que ficar afastados de qualquer atividade ligada ao esporte por um período de 90 dias, que pode ser estendido por mais 45.
O comitê - que possui independência dentro da Fifa e é comandado pelo advogado Hans Joachim Eckert - afirmou que a decisão foi tomada por conta das investigações que vem conduzindo pelas acusações de corrupção envolvendo Blatter, Platini e Valcke. Além do trio, o ex-vice-presidente da entidade e pré-candidato à presidência Chung Mong-Joon foi banido por seis anos e multado em 100 mil francos suíços (R$ 401 mil) por má conduta no processo de escolha das sedes dos Mundiais de 2018 e 2022.
Joseph Blatter, Michel Platini e Jerome Valcke Congresso na Fifa - AP (Foto: AP)Blatter, Platini e Valcke: homens-fortes do futebol mundial estão suspensos (Foto: AP)
A decisão do Comitê de Ética atinge diretamente o atual mandatário do futebol mundial e o favorito a ser seu sucessor. Enquanto Blatter já se via envolvido em suspeitas desde que a crise na Fifa estourou em maio, com a prisão de sete dirigentes, Platini vinha se dizendo o homem certo para conduzir a entidade a uma nova fase, longe da corrupção, trabalhando de olho na eleição marcada para 26 de fevereiro.
Contudo, o francês foi surpreendido com um interrogatório na sede da Fifa na última sexta-feira, após uma reunião do Comitê Executivo - tudo por conta de um pagamento de 2 milhões de francos suíços (R$ 10 milhões) recebido por Platini em 2011. O presidente da Uefa se defendeu, alegando que tratava-se dos vencimentos por um "trabalho feito entre janeiro de 1999 e junho de 2002". 
Agora, fica a dúvida quanto à participação de Platini na eleição presidencial. As chapas devem ser oficializadas até o dia 26 de outubro - quando o francês ainda estará afastado das atividades no futebol. Os outros pré-candidatos são o príncipe jordaniano Ali Bin Al-Hussein, os ex-jogadores Zico e David Nakhid e o presidente da federação da Libéria, Musa Bility.
Também na última sexta veio à tona uma investigação criminal aberta pela Procuradoria-Geral da Suíça contra Blatter, por suspeita de apropriação indébita e má gestão. Apesar disso, o presidente afirmou que não deixaria o cargo na Fifa antes da eleição de fevereiro e ainda enviou uma carta às federações internacionais saindo em defesa de Platini, dizendo que o pagamento feito foi totalmente legal.
Jérôme Valcke, por sua vez, está afastado de seu cargo desde o mês passado, quando foi acusado de participação de um esquema de venda ilegal de ingressos na Copa do Mundo do ano passado. De acordo com denúncia do empresário Benny Alon, o francês ficaria com 50% dos lucros da comercialização de 11 mil bilhetes do Mundial

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Trio que descobriu mecanismos de reparo do DNA leva Nobel de Química Eles são Paul Modrich (EUA), Aziz Sancar (Turquia) e Tomas Lindahl (Suécia). Descobertas ajudaram a entender o surgimento de alguns tipos de câncer.

Tomas Lindahl, Paul Modrich e Aziz Sancar, ganhadores do Prêmio Nobel de Química de 2015 (Foto: J. Tallis/AFP - HHMI/Divulgação - UNC/Reuters)Tomas Lindahl, Paul Modrich e Aziz Sancar (esq. para a dir.) ganhadores do Prêmio Nobel de Química de 2015 (Foto: J. Tallis/AFP - HHMI/Divulgação - UNC/Reuters)
Prêmio Nobel de Química de 2015 foi para três pesquisadores que descobriram mecanismos biomoleculares naturais que reparam erros no DNA, a molécula que contém as informações para o desenvolvimento e funcionamento dos seres vivos.
Paul Modrich, 68, americano, Aziz Sancar, 69, turco e Tomas Lindahl, 77, sueco, dividem os 8 milhões de coroas suecas (US$ 963 mil) do prêmio em três partes iguais.
Modrich trabalha na Universidade Duke, de Durham (EUA), Sancar, na Universidade da Carolina do Norte (EUA), e Lindahl, no Instituto Francis Crick, de Hertfordshire (Reino Unido).
O DNA é uma molécula relativamente instável e sua composição pode ser danificada por raios ultravioleta, por substâncias tóxicas e por próprio processo de duplicação, que envolve uma química sofisticada.
Os cientistas que receberam o Nobel de química neste ano descobriram mecanismos que existem em praticamente todos os seres vivos e servem como "caixas de ferramentas" naturais para consertar esses defeitos que surgem espontaneamente.
Controle de erros
A estrutura do DNA foi descoberta em 1953, e até a década de 1970, cientistas ainda acreditavam que ele fosse uma molécula estável. Trabalhos de Lindahl, porém, mostraram que o DNA era tão frágil que tornaria impossível a existência da vida sem um meio de proteção. O próprio sueco passou a investigar o problema e descobriu um mecanismo chamado de "reparação por excisão de base", que fica em alerta para erros na cópia das bases nitrogenadas que compõem as "letras" do código do DNA
Esse processo, porém, não dava conta de explicar toda a estratégia da molécula para se manter estável. Sancar, então, passou a estudar danos que os raios ultravioleta causam aos cromossomos. Ele descobriu o "reparo por excisão de nucleotídeo", que detecta danos extraídos em pedaços maiores da molécula. Nucleotídeos incluem segmentos do "eixo" no qual as "letras" são afixadas. Pessoas que nascem com defeitos congênitos nesse sistema de reparo são extremamente susceptíveis a câncer de pele.
Modrich, por sua vez, descobriu um sistema batizado de "reparo de pareamentos errados" (mismatch repair), que detecta erros de cópia quando o DNA é replicado para a divisão celular. Problemas nesse mecanismo também estão ligados a alguns tipos de câncer.
Os mecanismos descobertos pelos pesquisadores estão todos ligados a enzimas, proteínas que promovem reações bioquímicas, produzidas pelo organismos. Elas são capazes de detectar erros no DNA, remover partes da molécula, e recolocar as peças faltantes.
Aplicações médicas
Lindahl, que concedeu nesta manhã uma entrevista coletiva por telefone, se disse surpreso com o anúncio do prêmio. "Eu sabia que, ocasionamente, em outros anos meu nome já havia sido considerado para o prêmio, mas até aí, centenas de outras pessoas também foram" afirmou. "Me sinto muito sortudo e orgulhoso."
Na entrevista, o cientista ressaltou a importância do estudo dos mecanismos de reparos de DNA para o desenvolvimento de medicamentos.
"Droga contra o câncer frequentemente agem danificando o DNA da célula tumoral para tentar matá-la, e a célula tumoral reage tentando reparar seu DNA", explicou. "É uma faca de dois gumes: somos gratos por ter reparo de DNA, mas não nos agrada que as células tumorais o tenham também. Temos de compreender esses mecanismos para que possamos fornecer boas terapias seletivamente."
Segundo o cientista, medicamentos que tentam atacar parasitas como vírus e bactérias também tem esse aspecto em foco. "Os mecanismos de reparo de DNA são distribuidos universalmente: todas as células vivas possuem esquemas que são mais ou menos eficientes", explicou. "Tentamos identificar alvos frágeis em patógenos que atuam reparando DNA para que possamos tentar danificá-los."
Combate ao câncer
Sancar, em entrevista para a agência de notícias Reuters, também se disse surpreso com o Nobel. "Eu fiz trabalhos signficativos para merecer o prêmio, mas não o estava esperando neste ano", afirmou. "Eu nem sabia que havia sido indicado."
O pesquisador disse acreditar que a importância dos mecanismos de reparo de DNA para pesquisas de prevenção e tratamento do câncer foram o fator primordial na decisão do Nobel em premiar sua linha de pesquisa.

TCU recomenda ao Congresso reprovar contas do governo de 2014 Parecer de Augusto Nardes pela rejeição foi aprovado por unanimidade. Executivo argumenta que práticas já foram adotadas em outros governos.


Sessão do Tribunal de Contas da União para análise das contas do governo federal em 2014 no plenário TCU, em Brasília (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)Sessão do Tribunal de Contas da União para análise das contas do governo federal em 2014 no plenário TCU, em Brasília (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)
O plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou nesta quarta-feira (7), por unanimidade, o parecer do ministro Augusto Nardes pela rejeição das contas do governo federal de 2014. Devido a irregularidades, como as chamadas “pedaladas fiscais”, os ministros entenderam que as contas não estavam em condições de serem aprovadas.
Para Nardes, ao adotar manobras para aliviar, momentaneamente, as contas públicas, o governo desrespeitou princípios constitucionais e legais que regem a administração pública federal. O cenário no ano passado foi classificada por ele como de “desgovernança fiscal”.

Em seu voto, Nardes defendeu que houve uma política expansiva de gastos “sem sustentabilidade fiscal e sem a devida transparência”. Para o relator, as operações passaram ao largo das ferramentas de execução orçamentária e financeira instituídas.
“Nessa esteira, entende-se que os atos foram praticados de forma a evidenciar uma situação fiscal incompatível com a realidade”, afirmou.

O parecer do TCU será agora encaminhado aoCongresso, que dará a palavra final sobre o tema. A análise da corte não tem efeito prático, já que funciona como uma recomendação aos parlamentares. A rejeição, porém, poderá ser usada como argumento para abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O trâmite prevê que o relatório do órgão de fiscalização seja primeiro avaliado pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso e, depois, pelo plenário da Câmara e do Senado – ou em sessão conjunta do Congresso Nacional, caso haja um acordo entre as Casas.
Entende-se que os atos foram praticados de forma a evidenciar uma situação fiscal incompatível com a realidade"
Relator Augusto Nardes, em seu voto
Defesa
Presente à sessão, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, negou que o governo federal tenha violado a Lei de Responsabilidade em 2014. Ele também rebateu a acusação de que que o pedido de afastamento de Nardes tenha sido um ataque do governo à corte.
“Apenas registrar que, ao contrário do que se estabeleceu ou se disse politicamente por políticos ou por outras autoridades, de que se tratava de ataque à corte, não se trava e nunca se tratou. Tanto que eu nunca questionei o parecer da área técnica. Aliás, disse que respeito. Posso divergir, mas respeito”, afirmou.

Ofensiva do governo
A Advocacia-Geral da União (AGU) fez duas tentativas de adiar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), mas os pedidos foram negados pelo ministro Luiz Fux.

Antes disso, a AGU havia protocolado no próprio TCU um pedido para afastar o ministro Augusto Nardes da relatoria do caso, alegando antecipação de voto. A solicitação, avaliada nesta quarta-feira, antes do julgamento das contas, não foi aceita pela corte.

Nardes negou que tenha antecipado o voto e acusou o governo de tentar “intimidá-lo”. Ele disse que distribuiu o parecer prévio sobre o caso aos outros ministros cinco dias antes do julgamento, como manda o regimento interno do TCU, e que não foi o responsável por “vazar” o documento para a imprensa.
Antes do julgamento, o plenário do TCU decidiu, por unanimidade, manter Nardes como relator do processo que analisa as contas do governo de 2014. O ministro-corregedor do TCU, Raimundo Carreiro, considerou que as declarações de Nardes se referiam ao conteúdo de relatórios do tribunal já concluídos, e não à decisão final da corte. Por isso, a decisão por arquivar o processo.

Explicações  
O primeiro pedido de esclarecimentos sobre as contas de 2014 foi feito em junho pelo TCU, com prazo de 30 dias para resposta. Mas, devido à inclusão de novos fatos ao processo, o governo acabou ganhando mais tempo para se defender.

‘Pedaladas fiscais’
Entre as supostas irregularidades analisadas pelo TCU estão as chamadas “pedaladas fiscais” e a edição de decretos que abriram créditos suplementares sem autorização prévia do Congresso Nacional.
As “pedaladas fiscais” consistem no atraso dos repasses para bancos públicos do dinheiro de benefícios sociais e previdenciários. Essa prática obrigou instituições como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil a usar recursos próprios para honrar os compromissos, numa espécie de “empréstimo” ao governo.
Nos dois casos, o Executivo nega a existência de irregularidades e argumenta que as práticas foram adotadas pelos governos anteriores, sem terem sido questionadas pelo TCU. As explicações entregues pela AGU na defesa do governo somam mais de 2 mil páginas.

AUGUSTO DE LA TORRE | ECONOMISTA-CHEFE DO BANCO MUNDIAL » Banco Mundial: “Recessão no Brasil não se justifica. País sairá logo da crise” Para Augusto de la Torre, economista-chefe do Banco Mundial, as incertezas políticas limitam retomada do crescimento FMI projeta queda de 3% do PIB do Brasil em 2015 e destaca crise política

O economista chefe para a América Latina do Banco Mundial, Augusto da Torre, fala na apresentação do informe "Empregos, salários e a desaceleração na América Latina" /ERNESTO ARIAS (EFE)

Augusto de la Torre, chileno, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, lamenta o protagonismo do Brasil e sua recessão durante o encontro do FMI, que acontece em Lima, no Peru, esta semana. Na opinião de De la Torre, a recessão brasileira “é um mistério”. “Os índices macroeconômicos não justificam uma recessão tão profunda”. Para o especialista chileno, o trabalho que tem sido feito pelo atual ministro da Fazenda brasileiro, Joaquim Levy, é admirável; a moeda “tem se sustentado bem”, aguentando o embate e se desvalorizando corretamente, mas a demanda interna “não consegue se relançar”. E a causa disso deve ser atribuída às “incertezas políticas”. Ou seja: na crise política que evidencia a fragilidade institucional de Dilma Rousseff, que se encontra de mãos atadas diante de um Congresso hostil.


O economista-chefe, porém, se diz convencido de que o Brasil sairá de sua crise econômica dentro de alguns meses. Por quê? “Porque a economia está encontrando caminhos para se ajustar. Se houver uma resposta política positiva, ela se reajustará bem; caso contrário, não; mas, de toda forma, acabará por se reajustar. E, uma vez digerida a atual crise, o que se mantém é a capacidade de reação das economias nacionais. Quando olhamos para o Brasil, que é uma economia gigantesca, sabemos que possui uma grande capacidade de reação”.
Ainda a respeito do Brasil, De la Torre comentou as aparentes diferenças existentes entre alguns países latino-americanos, como a Colômbia, o Chile e o Peru, membros da Aliança do Pacífico, que atravessam a crise em melhores condições, e o Brasil e a Argentina, que afundam. Não há o risco de se abrir uma fenda no continente? “Os países, quando a economia vai bem, são parecidos uns com os outros; mas isso não acontece da mesma forma quando ela vai mal. Nesse caso, as diferenças estruturais vem à tona. Por isso, é possível que alguns países percam o compasso, especialmente aqueles que não realizaram as reformas necessárias”, explica.
E acrescenta: “Há ditaduras que fazem reformas sem ouvir muito as pessoas. Nas democracias pulsantes, como as latino-americanas, isso é impossível. Assim, as democracias latino-americanas precisam encontrar o equilíbrio entre produtividade e desigualdade. O que não é nada fácil”.

Salário mínimo flexível

De la Torre destaca, ainda, o papel que a política de valorização do salário mínimo, implementada no Governo Lula, teve enquanto alavanca econômica. Mas, defende que se trata de um instrumento importante apenas para os tempos de vacas gordas. “Nos tempos de vacas magras, o salário mínimo não é inimigo daquele que está empregado, é claro, que está satisfeito, tem voz ativa e está organizado. Quem não é ouvido, porém, é o desempregado, que não está organizado. Cria-se, assim, uma espécie de desigualdade, pois aquele que se encontra na pior situação, o desempregado, não tem voz ativa”.
O economista tem algumas propostas para tornar o salário mínimo mais flexível: que seja diferente para cada empresa, já que as pequenas empresas têm mais dificuldade para contratar do que as grandes; ou, que ele seja diferente conforme a idade dos trabalhadores, de forma que os jovens recebam menos, ou que esses jovens trabalhem mais horas pela mesma remuneração. E conclui: “O salário mínimo que nos convém em tempos de vacas gordas não é o mesmo que nos convém em tempos de crise”.
Falar em diminuir o salário mínimo, porém, é um tabu social em qualquer lugar do mundo. La Torre, ao contrário, entende que o salário mínimo se torna um inimigo do emprego quando a economia patina e o desemprego cresce, como ocorre hoje em muitos países da América Latina. Ele defende que essa conquista dos trabalhadores (“da qual Marx já falava”, lembra) não deve ser vista apenas como um tema delicado, mas sim à luz dos ciclos econômicos. “É um tema delicado, relacionado a questões filosóficas e ideológicas.
No mundo moderno, o salário mínimo deve garantir condições de vida razoavelmente humanas. “Mas devemos evitar as paixões, para poder focar naquilo que realmente importa, que é a qualidade do emprego”, acrescenta. O economista explica, também, que o trabalhador qualificado, detentor de habilidades e de formação, não se preocupa com o salário mínimo, pois ganha bem acima disso. “Mas quem se preocupa, sim, é a empresa, que é obrigada a contratar tanto os mais qualificados quanto os não-qualificados. E, se o salário mínimo é muito elevado, ela simplesmente deixa de contratar”. Ele continua: “Nesse caso, pode acontecer algo inesperado. Pretendíamos proteger o trabalhador, para que ele tivesse uma vida decente, mas perdemos o controle por questões políticas e, em tempos de retração econômica, esse salário mínimo se torna um inimigo do emprego”.



Augusto de la 

TSE julgará ação inédita que pede cassação de Dilma e de Michel Temer Corte acatou pedidos do PSDB, que aponta irregularidades na campanha de 2014 Em outra frente, Planalto tenta no STF adiar julgamento das contas no TCU nesta quarta GRÁFICO Entenda as duas apostas da oposição para tentar retirar Dilma do poder

PSDB conseguiu, na noite desta terça-feira, sua maior vitória contra o Governo desde que o discurso a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) ganhou força dentro da oposição. Em decisão inédita na história da corte, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deu seguimento a ações dos tucanos que pedem a impugnação da chapa da presidenta e de seu vice, Michel Temer (PMDB), por supostas irregularidades na campanha. Na prática, em última instância, oTSE pode desde apenas multar a campanha até tirar a dupla do poder, com a cassação do diploma da presidenta e do vice —embora especialistas considerem essa última hipótese, no momento, improvável. De todo modo, a decisão fragiliza ainda mais o Governo, que corre contra o tempo para tentar barrar no Supremo Tribunal Federal a análise das contas de Dilma pelo Tribunal de Contas da União (TCU) prevista para esta quarta. O julgamento do TCU, onde há a expectativa de que as contas sejam rejeitadas, é a aposta dos oposicionistas para encurtar o mandato petista via impeachment.
O TSE deu seu veredito pela abertura da ação por 5 votos a 2. Segundo o pedido protocolado pelos tucanos, a campanha petista é acusada de cometer irregularidades como abuso de poder político e econômico, uso da estrutura pública na disputa e por supostamente ter recebido repasses de propina de empresas investigadas pelaOperação Lava Jato. A defesa do PT sempre alegou que não houve irregularidade e que as contas já foram foram aprovadas pelo TSE no final do ano passado. Trata-se de uma Ação Impugnatória de Mandato Eletivo (AIME) que está prevista na Constituição, mas nunca tinha sido aceita até agora pelo TSE.
A possibilidade que o TSE casse a chapa Dilma-Temer já recebeu críticas até do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Ele chegou a afirmar que o TSE não tem envergadura para cassar um mandato presidencial. Outros ministros do tribunal também já ponderaram que uma intervenção drástica como a invalidação de uma eleição só cabe se as provas forem tão contundentes que se considere que a "vontade do eleitor foi viciada".
No início do ano a ação havia sido arquivada pela ministra Maria Thereza de Assis Moura, relatora da matéria, mas um recurso do PSDB fez o caso ser levado ao plenário do tribunal. Em 25 de agosto foi novamente interrompido após pedido de vistas (mais tempo para a análise) da ministra Luciana Lóssio. Nesta terça ela devolveu a matéria para o plenário e votou contra a ação tucana, que segundo ela não apresentou provas concretas, e se baseia quase que exclusivamente em matérias veiculadas pela imprensa. “Uma ação como essa precisa vir acompanhada por provas hábeis”, afirmou. De acordo com ela, admitir como provas “o que é noticiado na mídia sem ter acesso ao conteúdo do material (...) é deixar na mão da imprensa julgar”. Além dela, apenas a ministra Maria Thereza de Assis Moura votou contra dar provimento à ação tucana.
Caso condenados no tribunal eleitoral, a presidenta e seu vice podem recorrer à própria corte e até mesmo ao Supremo Tribunal Federal. Se o TSE invalidar os resultados das eleições em 2014 e isso prevalecer no STF, Dilma e Temer perderão o mandato. Em casos com governadores no passado, o segundo colocado nas eleições assumiu o cargo. Em caso recentes com prefeitos, foram convocadas novas eleições. Se essa segunda hipótese for a seguida, Eduardo Cunha, presidente da Câmara, assume a presidência e convoca eleições para os próximos 90 dias.

Caminho a partir de agora e TCU

Além da devassa nas contas da chapa, o TSE poderá, no seguimento da ação, solicitar informações relacionadas, por exemplo, à Lava Jato. Isso porque o PSDB anexou à ação reportagens que citavam delatores do esquema de corrupção na Petrobras que teriam dito que parte das doações oficiais de campanha feitas para Dilma eram na verdade repasse de propinas. O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, foi um dos convocados pelo TSE para depor sobre o assunto, mas se manteve calado. Agora existe a expectativa de que o material disponível com a Polícia Federal e com o Ministério Público Federal envolvendo os colaboradores da Lava Jato seja compartilhado com o tribunal.
Enquanto digere essa derrota, o Planalto aguarda resultado da Advocacia Geral da União, que entrou com um pedido no solicitando a suspensão do julgamento no TCU até que o pedido de afastamento do relator, Augusto Nardes, seja avaliado pela corte. O Planalto tem acusado o ministro de estar politizando o processo.

A imprensa digital se reinventa com um formato universal e aberto Google e alguns dos principais jornais do mundo, entre eles o EL PAÍS criam a AMP É um padrão de conteúdo que acelerará a consulta de informação em dispositivos móveis Gigantes da tecnologia investem em leitor de notícias

O presente dos meios de comunicação já é digital há bastante tempo, mas também pertence especificamente aos dispositivos móveis, e com força cada vez maior. Nos Estados Unidos, a leitura de notícias através de smartphones e tablets já supera a leitura via computador. Por isso, os sites dos grandes jornais do mundo decidiram se renovar para se tornarem mais amigáveis e legíveis em celulares e tablets, e o buscador Google premiará isso os colocando em uma posição mais elevada nos seus resultados. Essa é a base do acordo apresentado nesta quarta-feira simultaneamente em Londres, Nova York e outras cidades por veículos de comunicação em posição de liderança no mundo. O Google e mais de 30 grandes veículos internacionais, incluindo o EL PAÍS, se associaram para criar conjuntamente o primeiro formato universal e em código aberto (ou seja, disponível para qualquer desenvolvedor que quiser explorá-lo), o que permitirá publicar e distribuir conteúdos muito mais rapidamente.
O projeto apresentado nesta quarta-feira se chama Páginas Móveis Aceleradas (AMP, na sigla em inglês), que batiza também o novo padrão, ainda um protótipo, que permitirá aos editores, programadores de aplicativos e usuários consultarem as notícias a partir de seus smartphones. Empresas tecnológicas como Twittere o próprio Google, plataformas como Pinterest, LinkedIn e WordPress.com e publicações como Vox, The New York TimesO Globo e a BBC (a lista completa de participantes está disponível na página ampproject.org) já confirmaram a intenção de publicar conteúdos no novo padrão.
Os veículos que criaram o formato junto com o Google são, além do EL PAÍS, Les Echos (França), FAZ(Alemanha),The Financial Times(Reino Unido), The Guardian (Reino Unido), NRC Media (Holanda), La Stampa (Itália) e Die Zeit (Alemanha). O Google publicou uma simulação no Google Search que permite comprovar a rapidez de carregamento dos novos sites.
A apresentação foi feita de forma simultânea em Londres, Nova York e cidades da América do Sul e Ásia. Madhav Chinnappa, diretor de relações estratégicas do Google, começou anunciando que “hoje é o verdadeiro começo de algo. O que fizemos foi falar sobre o que está ocorrendo no ecossistema das notícias. E uma das coisas que primeiro surgiram no nosso diálogo com os veículos foi a questão dos dispositivos móveis. Todos nos perguntávamos se era uma oportunidade ou um desafio”.
Segundo o executivo do Google, todos os veículos e o gigante de buscas concordaram em duas palavras-chaves: rapidez e abertura. “Todos precisamos que nossas páginas baixem muito mais rapidamente, nossos usuários nos pedem isso”, afirmou. De Nova York, o engenheiro-chefe do projeto AMP, Dave Besbris, afirmou que trabalham com a ideia de algo instantâneo. No entanto, esclareceu que nesse formato não haverá nada específico que privilegie essas páginas no buscador.
Apresentação do projeto entre Google e meios de comunicação internacionais nesta quarta, em Nova York. / EL PAÍS
Os desenvolvedores do projeto criaram vários sites para que os leitores comprovem a rapidez no download de conteúdos: uma geral, no endereço g.co/ampdemo, em que sugerem procurar termos como “Marte”, “Obamas” e “Prêmio Nobel” (em inglês). O EL PAÍS também lançou sua própria página de testes, a g.co/ampdemo/es (o usuário nesse caso deve digitar “el pais”).
O tempo para baixar o conteúdo tornou-se um elemento crucial levado em conta pelos leitores na hora de escolher o veículo para se informar. Uma página que demora a aparecer ou tem baixa resolução é frustrante para eles. Já para os editores, é uma possibilidade perdida de cativar audiência e conseguir maiores receitas de publicidade.
Ao contrário de outros formatos recentes como o Instant Articles, que o Facebook lançou há poucos meses, e o estreante News, da Apple, o AMP nasce como um software em código aberto. Está disponível a partir de hoje para qualquer desenvolvedor que quiser explorá-lo, inclusive de outros veículos de comunicação diferentes dos criadores. As especificações estão disponíveis no serviço de compartilhamento GitHub, e alguns jornais, como o The Guardian, já publicaram simulações de como as notícias serão vistas.
O fato de se tratar de um padrão conjunto do Google e de alguns dos principais veículos internacionais é uma vantagem para que o AMP se transforme no equivalente do PDF para os documentos portáteis, do JPEG para as imagens e do FLAC para a música sem compressão. Como foi criado a partir da linguagem HTML, a mais usada para construção de páginas virtuais, o conteúdo em AMP não precisará de nenhum programa especial para ser lido.

Os leitores de notícias, melhores leitores

Os leitores de notícias continuam atraentes para todos os agentes do mundo digital: mídia, redes sociais e buscadores, como o Google. Um estudo da consultora digital Parsely indicava que o tempo dedicado a ler ou ver notícias é maior do que o de outros conteúdos. Além disso, os leitores de notícias, ávidos por atualizações, consultam a Rede mais frequentemente.
O formato é o primeiro resultado tangível da ambiciosa Digital News Initiative, uma aliança do Google com grandes editores para fomentar “o jornalismo de alta qualidade através de tecnologia e inovação”, segundo o buscador. A iniciativa inclui a criação, pelo Google, de um fundo equivalente a aproximadamente 650 milhões de reais em três anos “para projetos que mostrem novas formas de pensar na prática do jornalismo digital”, um programa de pesquisa e formação, e outro dedicado ao desenvolvimento de produtos. Desse programa nasceu o AMP.
O projeto surgiu das conversas entre os editores e as empresas de tecnologia sobre a urgência de melhorar o ecossistema para os aparelhos móveis. O novo formato foi criado integralmente pelas equipes de desenvolvimento de produto do Google e dos mais de 30 veículos envolvidos. Embora seja um projeto gerado por veículos europeus, outros do resto do mundo já se uniram em sua exploração. É o resultado do trabalho de vários meses, ainda que precise de melhoras e de consolidações que serão divulgadas em breve.

Simplificar sem homogeneizar

Danny Bernstein, diretor de alianças de produto do Google, explicou os dois elementos que permitem aumentar a velocidade de download. “Primeiro, estamos simplificando todo o código HTML que há por trás das páginas web atuais, mas com uma exigência: para o leitor, as páginas têm que manter a aparência particular de cada meio de comunicação”. Em outras palavras, as páginas serão mais homogêneas na parte invisível – a linguagem em que estão escritas –, mas vão manter a variedade dos estilos próprios de cada veículo.

Uma nova forma de fazer os conteúdos, a distribuição e a publicidade

Novos conteúdos. O novo formato pretende criar um padrão para que todos os veículos incorporem facilmente a enorme variedade de conteúdos oferecidos a seus leitores: galerias de imagens, mapas, links para redes sociais... A AMP se apresenta como um formato que permitirá aos jornalistas se concentrar no conteúdo, confiando que a experiência visual do usuário estará garantida.
Distribuição rápida e mundial. Além da velocidade, o novo formato deve ser totalmente adaptável a todo tipo de dispositivos e plataformas. Para o Google, “isso significa que notícias e conteúdos produzidos na Espanha podem ser distribuídos na hora, por exemplo, na Índia”. A rapidez não é só fruto de um projeto leve, mas do modelo de distribuição: os conteúdos estarão separados não só nos servidores dos veículos como também nos servidores de cache do Google, de alcance mundial. O buscador indexará mais rapidamente os conteúdos com este formato para que o leitor os localize de imediato ao fazer a busca no sistema.
Publicidade. Trata-se do elemento ainda menos definido do novo formato, mas permite novas formas de se fazer publicidade nativa. Todos os sites que incorporarem a AMP terão o poder de escolher seus anúncios. O formato será compatível com os modelos de negócio baseados em publicidade e em pay walls.
A segunda chave da velocidade consiste no modelo de hospedagem dos conteúdos. Eles não ficarão mais hospedados unicamente nos servidores de cada veículo; em vez disso, a rede do Google os reproduzirá para que sejam distribuídos em qualquer plataforma – Google, Twitter, etc. – e em qualquer lugar do mundo. Este sistema permitirá, por exemplo, que uma atualização numa notícia de um veículo apareça refletida de maneira quase imediata em qualquer outra parte do mundo. O projeto, ainda em suas primeiras fases, não tem uma data de lançamento definida para a versão definitiva.
Veículos de comunicação como The Guardian, BBC e EL PAÍS apresentaram seus próprios protótipos. Para os fundadores do AMP, o enfoque do projeto é muito ambicioso.
O projeto permitirá uma autonomia total dos editores sobre seus conteúdos e estilos. Segundo um porta-voz dos editores, “esta autonomia é fundamental, porque permite, ao mesmo tempo, fazer parte de uma plataforma maior, de uma iniciativa da qual participam tantos meios importantes”.
Os editores manifestaram outra vantagem adicional: será aplicável a qualquer plataforma tecnológica. “Construir soluções para tudo que existe atualmente é algo muito custoso”, afirmaram, e também disseram que “não há qualquer meio de comunicação apto a criar sua própria solução de maneira sustentável”. Vários editores convidaram os veículos de comunicação que ainda não se uniram à iniciativa para que “colaborem entre si” e levem em conta que “não existe qualquer ecossistema sustentável que seja capaz de garantir a experiência do usuário e a integração da publicidade. Este projeto leva em conta os dois aspectos”.

Senado aprova medida provisória que libera R$ 5,18 bilhões para o Fies Crédito foi liberado em meio à crise para garantir 2ª etapa do programa. Texto já foi aprovado pela Câmara e segue para sanção da presidente Dilma.

O plenário do Senado aprovou nesta quarta-feira (7) medida provisória que destina R$ 5,18 bilhões em crédito extraordinário para garantir a continuidade do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Como a MP já havia sido aprovada pela Câmara dos Deputados e não sofreu alterações no Senado, segue para a sanção da presidente Dilma Rousseff.
A maior parte dos recursos previstos (R$ 4,2 bilhões) vai para pagamento de contratos já existentes, inclusive para 61,5 mil vagas abertas em agosto. Outros R$ 578,27 milhões serão usados para administrar o programa e R$ 400 milhões para o Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo (FGEDUC), que dispensa a exigência de fiador para estudantes de menor renda.
Diante da crise financeira, o governo ofertou 61,5 mil vagas para o programa no segundo semestre, número aquém do esperado. Os R$ 5,18 bilhões foram liberados como crédito extraordinário por ser um valor concedido além do orçamento da Educação estipulado pelo governo federal.O Fies é um programa do governo federal que oferece financiamento a juros mais baixos para que estudantes de baixa renda possam cursar o ensino superior em universidades privadas.
Ao conceder os recursos, em julho, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que eventual interrupção do Fies poderia afetar a “credibilidade” do compromisso do governo com a educação universitária.
“A ausência ou redução desses instrumentos comprometeria a credibilidade da política de ampliação do acesso de jovens ao ensino superior, em face do não oferecimento de novas vagas ou da evasão desses estudantes das universidades”, disse Barbosa, na justificativa da medida provisória.