quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Senado aprova recondução de Janot para mais dois anos à frente da PGR Atual procurador-geral da República recebeu 59 votos favoráveis em plenário. Antes de votação, Janot passou por sabatina de mais de dez horas na CCJ.

O plenário do Senado aprovou nesta quarta-feira (26) a recondução do atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para mais dois anos à frente da Procuradoria Geral. Janot recebeu 59 votos favoráveis e 12 contrários. Um senador se absteve da votação. Com a aprovação, resta apenas a publicação da nomeação do procurador no Diário Oficial da União para que ele tome posse.
Candidato mais votado na lista tríplice do Ministério Público Federal, Janot foi indicado pela presidente Dilma Rousseff para permanecer por mais dois anos à frente da PGR. Para que o procurador fosse reconduzido, ele precisava de, no mínimo, 41 votos favoráveis, dos 81 possíveis.
Antes de ter o nome aprovado pelo plenário, Janot passou por sabatina de mais de dez horas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Na comissão, ele recebeu 26 votosfavoráveis e apenas um contrário.
Após a sabatina, Janot não deu declarações à imprensa. Questionado sobre se estava cansado, o procurador-geral apenas olhou para os jornalistas e continuou andando. Ele também evitou falar sobre relatos de alguns senadores que disseram ter ouvido Fernando Collor utilizar palavrões para se referir a Janot durante a sabatina, conforme o Blog do Matheus Leitão.No comando do Ministério Público Federal, Janot é responsável por conduzir as investigações sobre políticos na Operação Lava Jato. Na última semana, ele apresentou ao Supremo Tribunal Federal de políticos supostamente envolvidos no esquema de corrupção na Petrobras. As primeiras denúncias foram contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e contra o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) – este, inclusive, participou da sabatina de Janot na CCJ.
Sabatina
Mais cedo, durante a sabatina, Janot falou sobre diversos temas levantados pelos senadores que integram a CCJ. O procurador negou "veementemente" a acusação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de que ele teria feito um acordo com o Palácio do Planalto para poupar investigados na Operação Lava Jato. Na sabatina, Janot classificou a acusação de "factoide" e disse que, para fechar tal acerto, teria de "combinar com os russos".
Ao anunciar, no mês passado, seu rompimento com o governo federal, Cunha acusou o Planalto de ter se articulado com o procurador-geral da República para incriminá-lo na Operação Lava Jato.

"Ainda que quisesse fazer um acordo desses, teria que combinar com os russos, 20 colegas e um grupo de delegados muitos preparados da Polícia Federal", ironizou.
"Eu nego, veementemente, a possibilidade de qualquer acordo que possa interferir nas investigações. Senador, há mais de 35, 36 anos, fiz opção pelo direito. Há 31 anos, fiz opção pelo Ministério Público. A essa altura da minha vida, não deixaria os trilhos da atuação técnica do Ministério Público para me embrenhar num processo que não domino e não conheço, que é o caminho da política", acrescentou o chefe do MP.
Collor
Janot também negou acusações feitas pelo senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL) contra ele. Denunciado por Janot em um dos processos da Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro, Collor questionou um suposto aluguel feito pela PGR durante a administração de Janot, de uma mansão, em Brasília, por R$ 67 mil mensais que não tinha o devido alvará. Collor também o acusou de ter contratado sem licitação uma empresa de comunicação.
Janot também foi acusado por Collor de advogar quando já estava nos quadros do Ministério Público, de abrigar um irmão procurado pela Interpol e de não ter enviado todas essas informações à Comissão de Constituição e Justiça para a sabatina. O procurador-geral rebateu as acusações e, sobre seu irmão, disse que não iria falar sobre alguém que não pode se defender – segundo ele, seu irmão morreu há mais de cinco anos.
Ego
Ao fazer sua apresentação inicial na sabatina, o procurador-geral da República afirmou que sua tentativa de ser reconduzido ao cargo por mais dois anos não tem como objetivo a "satisfação de seu ego" ou a "sofreguidão do poder".
"A minha motivação para tentar a recondução ao cargo não se presta à satisfação do ego ou à sofreguidão do poder. Não é isso que me move. Me move a firme vontade de continuar a servir à minha nação. Venho aqui após ter tido o reconhecimento de 799 colegas do MPF e de ter sido indicado pela presidente da República", declarou Janot em sua primeira manifestação na sabatina do Senado.
Sem citar diretamente a Operação Lava Jato, o procurador-geral da República afirmou que o país vive um momento em que “fatos graves são investigados”.
“No campo de atuação do Ministério Público Federal, esse momento, no qual fatos graves são investigados, é a oportunidade para que o embate jurídico entre acusação e defesa se caracterize pela lealdade recíproca e a consolidação de ideais éticos que são a base da sociedade democrática”, declarou.
Lava Jato
Durante a sabatina, Janot afirmou que o esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato é "enorme". Ele disse jamais ter visto "algo precedente".
"A Petrobras, ela foi e é alvo de um mega esquema de corrupção. Um enorme esquema de corrupção. Eu, com 31 anos de Ministério Público, jamais vi algo precedente", disse.
Janot também rebateu nesta terça críticas de que o Ministério Público seleciona os investigados, mas disse que às vezes pode ser essa a impressão. Ele disse, ainda, que o MP se preocupa em, assim que possível, abrir "todo o complexo que envolveu a delação premiada" para não ser acusado de seletividade nas investigações.
"As pessoas e os fatos não é o Ministério Público que os faz. Por isso que eventualmente pode parecer seletividade", disse. Ele explicou que os nomes e fatos investigados pelo MP vêm das colaborações com a Justiça.
"O Janot não fez lista nenhuma. Esses fatos e essas pessoas vieram por colaboradores da Justiça. [...] Já que a colaboração é espontânea, a gente investiga fatos apontados por aquelas pessoas". disse. "Não somos nós que criamos fatos e criamos nomes", reforçou.
Delação premiada
Janot disse que há um “mal entendido” sobre a colaboração premiada. “O colaborador não é um dedo duro, não é um X9. [...] O colaborador, pela lei, tem que reconhecer a prática do crime. Ele vem, confessa a pratica do crime e diz quais são as pessoas que estavam também envolvidas na prática daqueles delitos”, disse.
O procurador defendeu as delações premiadas, que, segundo ele, aceleram as investigações. “Investigação é tentativa e erro”, disse.
Janot reforçou que a lei estabelece que o colaborador estará cometendo um crime se mentir sobre a participação de um terceiro no crime. Ele disse, ainda, que o “mero depoimento” do delator não configura uma prova.
“O que você tem que fazer é comprovar a circunstância e a vinculação da pessoa. Cabe ao Ministério Público fazer essas comprovações, aí sim ganha força o depoimento do colaborador”, esclareceu.
Acordo de leniência
Janot reafirmou o entendimento de que os acordos de leniência, que podem ser firmados pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), devem ter a concordância do Ministério Público para ter efeito na esfera penal (assista ao vídeo acima).
“Esses acordos de leniência, a não ser que o Ministério Público com ele concorde, eles não têm reflexo na esfera penal”, disse. “Ele tem reflexo no âmbito da CGU e do Cade, mas não no âmbito penal”, completou.

PEDRA DE TOQUE » Lições de Tolstói O escritor russo nos ensina em 'Guerra e paz' que apesar de todo o mal que há na vida, a humanidade vai deixando para trás, pouco a pouco, seu pior


FERNANDO VICENTE
Li Guerra e Paz pela primeira vez há meio século, em um volume único da Pléiade, durante as minhas primeiras férias remuneradas pela Agência France Presse, em Perros-Guirec. Estava escrevendo naquele período o meu primeiro romance, e vivia obcecado com a ideia de que, diferentemente do que ocorre com outros gêneros literários, a quantidade, no romance, era um ingrediente essencial da qualidade; de que os grandes romancescostumavam ser também romances grandes –longos— porque abrangiam tantos aspectos da realidade que davam a sensação de expressar a totalidade da experiência humana.
O romance de Tolstói parecia confirmar milimetricamente essa teoria. A partir de um começo frívolo e mundano naqueles salões elegantes de São Petersburgo e de Moscou, com aqueles nobres que falavam mais em francês do que em russo, a história ia descendo e se espraiando por toda a complexa sociedade russa, expondo-a com toda a sua ilimitada gama de classes e tipos sociais, dos príncipes e generais aos servos e camponeses, passando pelos comerciantes e as senhoritas em idade de casar, os libertinos e os maçons, os religiosos e os aproveitadores, os soldados, os artistas, os arrivistas, os místicos, até envolver o leitor na vertigem de ter sob os seus olhos uma história na qual atuavam todas as variações possíveis daquilo que é humano.
Constato agora, nesta segunda leitura, que eu estava enganado. Longe de apresentar a guerra como uma experiência virtuosa na qual se forjam o moral, a personalidade e a grandeza de um país, o romance a expõe com todo o seu horror, mostrando em cada batalha –especialmente na alucinante descrição da vitória de Napoleão em Austerlitz— a monstruosa carnificina que ela provoca, a penúria e as injustiças que atingem os homens comuns, que constituem a maioria de suas vítimas; assim como a estupidez macabra e criminosa daqueles que detonam essas tragédias falando em honra, em patriotismo, em valores cívicos e militares, palavras cujo vazio e cuja pequenez se mostram evidentes aos primeiros disparos dos canhões. O romance de Tolstói tem muito mais a ver com a paz do que com a guerra. O amor à história e à cultura russa que indiscutivelmente o impregna não exalta em nada o som e a fúria das matanças, mas sim aquela vida interior intensa, cheia de reflexão, de dúvidas, a busca da verdade e o esforço em fazer o bem aos outros, tudo isso encarnado no bondoso e pacífico Pierre Bezúkhov, o herói do romance.Em minha lembrança, o que mais se destacava nesse romance eram as batalhas, a odisseia extraordinária do velho general Kutúzov, que, de derrota em derrota, vai aos poucos desgastando as tropas napoleônicas invasoras até que, com a ajuda do inverno brutal, da neve e da fome, consegue acabar com elas. Na minha cabeça, firmava-se a falsa ideia de que, se fosse preciso resumirGuerra e Paz em uma só frase, daria para dizer que se tratava de um grande mural épico sobre como o povo russo rechaçou as empreitadas imperialistas de Napoleão Bonaparte, “o inimigo da humanidade”, e defendeu a sua soberania; ou seja: um grande romance nacionalista e militar, de exaltação à guerra, à tradição e às supostas virtudes castrenses do povo russo.

Longe de apresentar a guerra como uma virtuosa experiência, a novela a expõe em todo seu horror
Embora a tradução de Guerra e Pazpara o espanhol que estou lendo não seja excelente, a genialidade de Tolstói se faz presente a cada passagem, em tudo o que ele relata, e mais no que oculta do que no que explicita. Seus silêncios são sempre eloquentes, comunicam algo, estimulam a curiosidade do leitor, que fica preso ao texto, ansioso para saber se o príncipe Andrei finalmente declarará o seu amor a Natasha, se o casamento combinado realmente acontecerá, ou se o excêntrico príncipe Nikolai Andreiévitch conseguirá impedi-lo. Não há quase nenhum episódio no romance que não deixe algo no ar, que não se interrompa deixando de revelar ao leitor algum elemento ou informação decisivos, de modo a fazer com que sua atenção não diminua, se mantenha sempre ávida e alerta. É realmente extraordinário como em um romance tão amplo, tão diversificado, com tantos personagens, a trama é sempre conduzida com tanta perfeição por um narrador onisciente que nunca perde o controle, que delimita com absoluta maestria o tempo dedicado a cada um, que vai avançando sem descuidar nem preterir de nenhum deles, dando a todos o tempo e o espaço apropriados para fazer com que tudo avance conforme avança a própria vida, por vezes muito vagarosamente, por vezes em saltos frenéticos, com suas doses diárias de alegrias, tragédias, sonhos, amores e fantasias.
Nesta releitura de Guerra e Paz, percebo algo que não tinha entendido na primeira vez: a dimensão espiritual da história é muito mais relevante do que aquilo que se passa nos salões ou no campo de batalha. A filosofia, a religião, a procura de uma verdade que torne possível distinguir claramente o bem e o mal e agir a partir disso são preocupações centrais dos principais personagens, inclusive dos chefes militares, como o general Kutúzov, personagem deslumbrante, que, apesar de ter passado a vida inteira em combate –ainda se nota a cicatriz deixada por uma bala atirada pelos turcos e que lhe atravessou o rosto–, é um homem eminentemente ético, desprovido de ódio, de quem se poderia dizer que faz a guerra porque não há alternativa e alguém tem de fazê-la, mas que preferiria dedicar seu tempo a tarefas mais intelectuais e espirituais.

A dimensão espiritual da história é bem mais importante que a que ocorre nos salões
Embora, “falando friamente”, as coisas que acontecem em Guerra e Paz sejam terríveis, duvido que alguém saia de sua leitura entristecido ou pessimista. Ao contrário, o romance nos transmite a sensação de que, apesar de todo o mal que há na vida, da fartura existente em matéria de canalhices e pessoas vis que querem sempre levar a melhor, no fim das contas os bons são em número maior do que os maus, os momentos de prazer e de tranquilidade são maiores do que os de amargura e ódio, e que, mesmo que isso nem sempre seja evidente, a humanidade vai aos poucos deixando para trás aquilo que ela ainda carrega consigo de pior, ou seja, de uma forma frequentemente invisível, vai melhorando e se redimindo.
O maior feito de Tolstói, como o de Cervantes ao escrever Dom Quixote, o de Balzac com a sua Comédia Humana, o de Dickens comOliver Twist, o de Victor Hugo com Os Miseráveis, ou ainda o de Faulkner com sua saga sulina, foi, provavelmente, este: mesmo nos fazendo mergulhar nos esgotos da vida humana, seus romances injetam dentro de nós a convicção de que, apesar de tudo, a aventura humana é infinitamente mais rica e apaixonante do que as misérias e as baixezas que também existem nela; que, vista em seu conjunto, de uma perspectiva mais serena, ela merece ser vivida, nem que seja apenas porque, neste mundo, podemos viver não apenas das verdades, mas também, graças aos grandes romances, das mentiras.
Não poderia encerrar esta coluna sem fazer em público uma pergunta que está martelando dentro de minha cabeça desde que eu soube do fato: como foi possível que o primeiro prêmio Nobel de Literatura tenha sido dado a Sully Prudhomme e não a Tolstói, que também concorria a ele? Será que não estava tão claro na época, como está agora, que Guerra e Paz é um desses raros milagres que só acontecem no universo da literatura a cada cem anos?
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© Mario Vargas Llosa, 2015.

RJ aprova lei 'Angelina Jolie' para dar exame a mulher com câncer na família Teste para detectar mutação genética pode prevenir surgimento da doença. Atriz descobriu que tinha 87% de chance de ter câncer após o exame.

Enviada especial do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Angelina Jolie participa de coletiva de imprensa durante visita a acampamento em Mardin, na Turquia, no sábado (20) (Foto: Foto AP/Emrah Gurel)Lei leva o nome de Angelina Jolie
(Foto: Foto AP/Emrah Gurel)
Uma lei publicada nesta quarta-feira (26), batizada com o nome da atriz americana Angelina Jolie, autoriza o estado do Rio a assinar um convênio para oferecer a realização de exames de sequenciamento genético em mulheres com histórico de câncer de mama ou de ovário na família. O teste observa se a paciente tem uma mutação nos genes BRCA1 e BRCA2, que são considerados "protetores" deste tipo da doença. Esta mutação pode facilitar o aparecimento da doença.
O exame, que custa cerca de R$  6,7 mil, passaria a ser feito gratuitamente através do Sistema Único de Saúde (SUS) e poderia diminuir a chance de aparecimento do câncer nas pacientes em todo o estado. Não há prazo, no entanto, para o pacto ser firmado e os exames serem liberados.
De acordo com a lei proposta pela deputada estadual Marcia Jeovani (PR), o exame terá que ser requisitado por um oncologista, geneticista ou mastologista e ressalta que a lei não é um incentivo à mastectomia. Será necessário também apresentar laudo com histórico familiar de câncer de mama. A doença tem que ter sido diagnosticada antes dos 50 anos de idade em dois parentes de primeiro grau ou três parentes de segundo grau, enquanto o paciente que vai passar pelo exame deverá ter até 40 anos.Como mostrou o Bem Estar, a atriz Angelina Jolie passou pelo mesmo exame e, por meio dele, descobriu que tinha uma mutação hereditária no gene BRCA1. O problema aumenta em 87% o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama, ou ainda em 50% o risco de ter um câncer de ovário. Preocupada com o histórico familiar — a mãe da atriz morrera em 2007 após ter a doença diagnosticada —  Angelina fez uma mastectomia (cirurgia para retirar os dois seios) em 2013. Este ano, ela também retirou os ovários.
"Antes, ninguém ouvia falar deste exame. Quando surgiu uma atriz rica, bonita e famosa todo mundo questionou. Falaram: 'É excêntrica, é isso, é aquilo', mas vendo mais a fundo viemos a saber que ela fez exame porque já tinha perdido a mãe e tinha grande possibilidade de ter a doença. Achamos por bem que a le itivesse o nome da Angelina", disse a parlamentar ao G1.
Câncer de mama
O câncer de mama é o carcinoma mais comum em mulheres, respondendo por 22% do total de casos novos a cada ano no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Estimativa do instituto aponta que o país registrou 52.680 novos casos da doença apenas em 2012. São considerados fatores de risco, tanto para homens quanto para mulheres, histórico familiar, obesidade, sedentarismo e antecedente de patologias mamárias.
Angelina Jolie ao lado de sua mãe, Marcheline Bertrand, durante a pré-estreia do filme 'Pecado original', em julho de 2001, em Hollywood (Foto: REUTERS/Fred Prouser/Files)Angelina Jolie ao lado de sua mãe, Marcheline Bertrand, em 2001 (Foto: REUTERS/Fred Prouser/Files)

Graças à Microsoft, Samsung e LG pagarão menos por patentes do Android

Microsoft entrou em um acordo com a Samsung e LG por meio da Comissão de Troca Justa da Coreia (FTC), reduzindo o preço cobrado por cada patente obrigatória na utilização do Android. A gigante de Redmond está cedendo este alívio no valor após enfrentar duras acusações de antitruste, vindo à tona depois da aquisição da Nokia através de uma negociação bilionária, resultando na demissão de milhares de funcionários da empresa finlandesa ao redor do mundo. Portanto, apesar da criadora do Windows ter aceitado o contrato, está passando por tal situação puramente pelas violações de competição justa apresentadas pela corte responsável.
Microsoft é um dos nomes mais importantes no presente momento quando o assunto é Android
É de conhecimento público que a Microsoft detém a maior parte das patentes necessárias para a utilização do Android, embora a Google seja dona do sistema operacional. De fato, o governo chinês já afirmou que das 310 documentações requisitadas na implementação da plataforma do robô, 200 são pertencentes à companhia antigamente liderada por Bill Gates. Em decorrência disto, a mesma gera uma receita maior com essas licenças do que com seus próprios produtos, algo alarmante ao levar em conta a massiva dimensão da MS. Eis a nota oficial publicada após o acordo na Comissão de Troca Justa da Coreia:
 
Em troca de aprovar a aquisição planejada por US$ 7 bilhões da companhia de telefonia móvel, Nokia, pela Microsoft, MS concordou em reduzir os valores de suas patentes para a Samsung e demais firmas locais de celulares [LG, por exemplo], que anteriormente pagavam para a empresa que foi comprada, [Nokia] por um período de sete anos. Microsoft aceitou cortar taxas que recolhe anualmente de fabricantes coreanas de smartphones em até mesmo patentes que não são convencionais, e as comerciais. A imposição de vendas ou proibição de importação por companhias locais também é impossível, de acordo com o entendimento mútuo. O FTC ordenou que a Microsoft não compartilhe informações com suas parceiras a fim de manter a concorrência justa.
Google, apesar de precisar de centenas de patentes da Microsoft, é a atual dona do Android
Note que a Microsoft foi obrigada a seguir com os pedidos da da Comissão de Troca Justa da Coreia para seguir em frente com a aquisição da Nokia por US$ 7 bilhões, evitando o desenvolvimento de um monopólio por parte da gigante de Redmont, a forçando a buscar uma situação mais amigável entre si e as demais produtoras de dispositivos portáteis. A regulamentação foi posta em prática na Coreia, pois a ação anti-truste também engloba a terra natal da Samsung e LG. Ambas, a partir de agora, devem gastar valores notavelmente inferiores para utilizarem o Android como ambiente virtual.

Brasil tem todos os ‘ingredientes’ para protestos na Olimpíada, diz especialista Luis Kawaguti Da BBC Brasil em Londres

Foto: AFPImage copyrightAFP
Image captionSegundo analista, país reúne elementos que podem provocar manifestações na época das Olimpíadas
Crise econômica, cenário político deteriorado, decepção sobre o legado da Copa do Mundo e frustração com sonho olímpico. Esses são os elementos que podem criar o ambiente supostamente ideal para uma nova onda de manifestações no Brasil na época da Olimpíada, segundo o pesquisador Rafael Alcadipani, do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da Fundação Getúlio Vargas.
Após acompanhar dezenas de manifestações e protestos relacionados à Copa do Mundo, Alcadipani concluiu na semana passada a pesquisa "A Policia Militar e os Black Blocs: uma observação em ato". Seu objetivo era explicar como os policiais lidaram com as manifestações chamadas "Não vai ter Copa".
Ele constatou que tantos manifestantes quanto policiais desenvolveram novas táticas que marcaram os protestos relacionados ao Mundial de futebol. Mas nessa disputa, os vitoriosos foram os policiais.
A partir disso, ele apontou à BBC Brasil cenários possíveis de protestos durante a Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016.
Segundo Alcadipani, à medida que o evento se aproximar, a sociedade pode se frustrar com o sonho do legado olímpico – o que pode despertar revoltas.
Por outro lado, é provável também que a onda de manifestações contra o governo continue em 2016. Nesse cenário, a disputa entre grupos pró e anti-PT poderia ocupar mais a agenda dos manifestantes do que a própria Olimpíada.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - Como o senhor avalia a atuação da polícia em relação a manifestações?
Rafael Alcadipani - A polícia de uma forma geral buscou ter um aprendizado em relação às manifestações. E posteriormente conseguiu lidar de forma tão efetiva que as manifestações chegaram até a acabar, aquelas que tinham o que se chama de quebra da ordem. E um fato crucial para isso foi a Polícia Civil se envolver na questão.
BBC Brasil - Quais estratégias a polícia começou a adotar que não adotava antes?
Rafael Alcadipani - Eles começaram com a técnica do acompanhamento, depois o envelopamento até chegar no kettling (cercar os manifestantes) e evoluir para a tropa do braço, que são tropas que costumam ficar mais perto dos manifestantes. (Essas táticas visam restringir a capacidade dos manifestantes se moverem em grupo).
E a Polícia Civil passou a indiciar pessoas mais diretamente, principalmente aqueles que pertenciam ao grupo dos Black Blocs, gerando um pouco mais de medo. Eles passaram a ter medo de ser presos e isso fez com que não ficassem tanto nas ruas.
Outro aspecto é que infelizmente a polícia conduzia (participantes dos protestos) de forma indiscriminada para o distrito policial, principalmente a Polícia Militar. Isso gerou um medo nas pessoas de virem se manifestar.
A polícia também começou a utilizar um grande efetivo: 1.000, 1.500, 2.000 homens. Para gerar uma impressão de sufocamento das pessoas. Então houve manifestações em que você tinha mais policiais do que manifestantes.
BBC Brasil - E o que mudou entre os manifestantes?
Rafael Alcadipani - Primeiro, antes sempre havia uma liderança clara e ela seguia um trajeto pré-determinado com a polícia. Isso deixou de acontecer. Segundo: os manifestantes começaram a provocar diretamente o aparato policial – o que não acontecia anteriormente no Brasil.
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Image captionPesquisador diz que polícia se adaptou a táticas de manifestantes
BBC Brasil - Quais são as suas conclusões com a pesquisa? Quem venceu, a polícia ou os manifestantes?
Rafael Alcadipani - Eu acho que a polícia aprendeu a lidar com as manifestações de quebra de ordem. Ela conseguiu resolver o problema de quebra-quebra para a Copa do Mundo, mas por outro lado ela gerou o temor em uma juventude de ir para a rua e se manifestar.
Mas o interessante é que as manifestações voltaram. Várias das bandeiras que eram dos Black Blocks voltaram para as ruas, mas agora com um cunho mais conservador, mais à direita no espectro político. Não que os Black Blocs fossem exatamente esquerda.
Em um certo sentido a polícia venceu essa disputa grande que houve com os Black Blocs.
BBC Brasil - O senhor acompanhou os Black Blocs?
Rafael Alcadipani - O meu contato foi maior com os policiais e menor com os Black Blocs.
BBC Brasil - Como o senhor analisa as manifestações hoje? Há um perfil diferente nas ruas?
Rafael Alcadipani - Sim, há um perfil diferente, mais conservador, de pessoas mais velhas e mais ricas. Esses movimentos são diferentes dos movimentos contra a Copa. É uma coisa que começou em junho de 2013 e agora está sendo tomada por outros grupos sociais.
BBC Brasil - Como o senhor traçaria um cenário para a Olimpíada de 2016?
Rafael Alcadipani - Por um lado as manifestações podem ficar mais circunscritas a uma cidade específica, que é o Rio de Janeiro. O segundo aspecto é que a gente não tem mais manifestações com quebra-quebra, com indivíduos infiltrados em manifestações para gerar quebra-quebra.
Por outro lado o cenário econômico brasileiro é bastante delicado no momento e o cenário político tem se deteriorado. Então ainda não é possível dizer se vai ter ou se não vai ter, mas não há dúvida nenhuma que existe um clima no ar de possibilidade de manifestação.
A gente terá manifestações contra o governo, que já têm acontecido com certa frequência, e não dá para saber qual rumo elas vão tomar. Não me parece que esses manifestantes são contrários à Olimpíada, e não é o tipo de manifestante que vai querer confrontar a polícia. Então é um cenário que ainda não está claro.
BBC Brasil - Anteriormente o senhor havia associado a situação atual do Brasil com termo "tempestade perfeita" em relação a manifestações. Quais seriam os elementos dessa tempestade?
Rafael Alcadipani - Uma crise econômica que está se agravando e uma deterioração na crença na política como forma de responder e de resolver os problemas. Ninguém sabe para onde a (operação) Lava Jato vai e quem vai estar implicado nisso. Além disso, em São Paulo tem a situação da falta d'água que é um monstro que tem aparecido com frequência.
E quanto mais próximo a gente chegar da Olimpíada mais vai ser contestado qual foi, de fato, o legado da Copa do Mundo. No Brasil hoje a gente percebe que o legado não foi muito grande. Foi uma festa bonita e tudo o mais, mas a gente está pagando uma conta com arenas vazias, estádios inúteis, obras que não foram acabadas.
Então essa questão do sonho olímpico como algo que vai revolucionar uma cidade e não se concretizou vai gerar revolta popular, dependendo do cenário e da situação.
Os ingredientes para as manifestações estão aí na sociedade brasileira, sem dúvida nenhuma. A única diferença é que hoje as rua estão ocupadas por um grupo mais conservador e não me parece que a Olimpíada seja uma questão para esse grupo. A bandeira deles é a ética na política e o antipetismo.
As ruas também estão ocupadas pelos apoiadores do governo Dilma. Então nesse Fla x Flu de PT e anti-PT, talvez a Olimpíada passe desapercebida como foco de manifestação.