quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Preocupação maior hoje deve ser com a crise política, diz FHC Ele ponderou que crises econômicas são cíclicas, ou seja, são graves, mas tem uma condução de certa forma independente. Já a crise política exige que se ache uma saída

Em palestra que adotou um tom mais ameno com relação à crise política do País, chamando a um senso de responsabilidade coletiva da sociedade, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a preocupação maior hoje deve ser com a crise política. Ele ponderou que crises econômicas são cíclicas, ou seja, são graves, mas tem uma condução de certa forma independente. Já a crise política exige que se ache uma saída. O tucano não deu uma resposta, mas em discurso conciliatório disse que "vozes em conjunto" chegarão a uma solução. "Acho que vai chegar um momento em que isso vai acontecer (as vozes se juntarem), vai ter que criar uma força política suficiente para ter um plano crível", afirmou.

O ex-presidente tucano relatou um episódio de 2013, quando esteve em um mesmo avião com os ex-presidentes José Sarney, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor. Segundo FHC, na ocasião, ele compartilhou com eles seu diagnóstico de que "o sistema político brasileiro faliu". FHC reclamou de a petista não ter dado atenção à sua colocação naquele momento, mas usou o episódio para reforçar o discurso de que quadros de crise não são responsabilidade de um, mas de todos. "Nós somos todos responsáveis, não vamos discutir quem é mais, mas o fato é que não deu certo. Está na hora de nós nos juntarmos", relatou ter dito aos colegas.

Fernando Henrique avaliou que os próximos meses serão muito difíceis tanto na economia como na política, mas que isso é uma oportunidade para o País. Apesar da mudança de tom em relação à semana passada, quando pressionou pela renúncia de Dilma, o tucano também não defendeu sua permanência. Disse que não se sabe ainda quem "negociará uma saída" para o País.

Reforma ministerial

O ex-presidente comentou brevemente, em sua palestra, que o governo já deveria ter cortado ministérios, pois o Estado e a sociedade não têm mais recursos para bancar o custeio da máquina pública mais os programas sociais. "Já deveria ter diminuído há muito tempo", afirmou. Ele avaliou que a condição orçamentária hoje é "gravíssima", como se pode ver na tentativa do governo de atrasar o pagamento do 13º de aposentados. "Não é da boca pra fora, é porque não tem dinheiro mesmo", observou.

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Fernando Henrique avaliou que há hoje um "desregramento muito grande" na economia - em referência ao aumento do endividamento e às pedaladas fiscais. "Vamos ter que discutir nos próximos anos como se resolve isso", disse citando como exemplo a previdência social, cujo custo sobe em descompasso com as receitas do Estado.

O tucano fez uma autocrítica ao que chamou de clima "Fla-Flu" que se instala no Congresso, onde deputados muitas vezes votam contra o governo sem avaliar a importância da pauta para o País. Fernando Henrique incluiu na crítica parlamentares do PSDB que, por exemplo, votaram pela queda do fator previdenciário. "Certas questões têm impacto no futuro do País, não se pode votar contra só porque se quer. Achei um erro alguns dos deputados do PSDB votarem contra (o fator).
"

Um dos 'heróis' do trem receberá 'Medalha do Soldado' nos EUA


Alek Skarlatos, um dos soldados americanos que neutralizaram um atirador em um trem de alta velocidade entre Amsterdã e Paris,
Um dos três americanos que dominaram um atirador em um trem de alta velocidade entre Amsterdã e Paris receberá a Medalha do Soldado (Soldier's Medal), a maior condecoração do Exército americano para uma situação fora de conflito.
Alek Skarlatos, 22 anos, integrante da Guarda Nacional e que acaba de cumprir uma missão de nove meses no Afeganistão, receberá a Medalha do Soldado "por heroísmo extraordinário muito além do dever", informou o Exército nesta terça-feira.
"Sua ação ilustra perfeitamente o que é um soldado de caráter, que vive sob um código pessoal no qual à devoção ao dever e a ajuda aos demais são sagrados", disse o secretário do Exército, John McHugh, em um comunicado.
O gesto de Skarlatos "salvou centenas de vidas", destacou no mesmo comunicado o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior do Exército.
Spencer Stone, soldado da Força Aérea americana, receberá a mais alta condecoração da arma, a Medalha do Aviador, "por seu ato de valentia fora de situação de combate", anunciou o Pentágono na véspera.
Skarlatos, Stone, o também americano Anthony Sadler e o britânico Chris Norman foram condecorados na segunda-feira com a Legião de Honra da França por terem evitado o ataque contra o trem lotado de passageiros.

Homens com uniforme do exército afegão matam soldados da Otan


(Arquivo) Soldados afegãos na província de Helmand em 13 de maio
Dois homens com uniformes do exército afegão mataram nesta quarta-feira dois soldados da Otan na região sudoeste do país, informou a Aliança Atlântica.
Os dois homens abriram fogo contra um veículo de soldados da Otan em uma base do exército afegão na província de Helmand, um reduto dos talibãs.
Dois soldados da Aliança Atlântica, que não tiveram as nacionalidades reveladas, morreram no ataque. Os dois criminosos morreram na resposta dos militares, segundo a Otan.
Este tipo de ataque, com soldados afegãos ou insurgentes vestidos como militares afegão abrindo fogo contra integrantes da coalizão internacional, se tornou uma das principais ameaças nos últimos anos contra as forças da Otan, que têm a missão de apoiar o governo de Cabul no combate à insurreição talibã.
O ataque desta quarta-feira, o primeiro incidente deste tipo desde abril, demonstra a desconfiança entre as tropas afegãs e os militares estrangeiros.
A coalizão não informou se os atiradores eram soldados afegãos ou integrantes de um comando suicida de insurgentes infiltrados no exército do Afeganistão para matar soldados estrangeiros.
Desde o fim de sua missão de combate em dezembro do ano passado, a Otan dispõe de 13.000 soldados no Afeganistão, responsáveis pelo treinamento das tropas afegãs na luta contra os talibãs, que intensificaram os ataques nos últimos meses.

Por lobby religioso, São Paulo aprova plano de educação mais conservador Lei, que havia excluído termo 'gênero', tirou menção ao Plano Nacional de Direitos Humanos Católicos e evangélicos em cruzada contra a palavra gênero na educação


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Religiosa reza em frente à Câmara durante votação do plano. / FABIO BRAGA (FOLHAPRESS)
Por pressão religiosa, os vereadores de São Paulo aprovaram nesta terça-feira um Plano de Educação ainda mais conservador do que o que estava sendo discutido na Casa e já recebia críticas por grande parte dos educadores. Não apenas se retirou a palavra “gênero” de todo o texto, como católicos e evangélicos pediam desde o final do semestre passado, como também foi excluída a menção ao Plano Nacional de Direitos Humanos, de 2010, que fazia referência à palavra, e à Lei Orgânica do Município, que falava sobre "estereótipos sexuais".
“Gênero” tem enfrentado resistência na discussão dos planos de educação de diversos Estados e municípios. O argumento dos religiosos é que a inclusão da palavra é uma questão “ideológica” —a chamada “ideologia de gênero”, que pressupõe que cada indivíduo tem o direito de escolher o próprio gênero, sem ser definido, necessariamente, pelo sexo biológico, afirmam. Com esse argumento, já conseguiram retirar a palavra do Plano Nacional de Educação, no ano passado. Também conseguiram que ela fosse retirada do Plano Municipal de Educação de São Paulo, em uma discussão na Comissão de Finanças, no final do semestre passado. E conseguiram que esse texto, com as alterações, fosse aprovado na Câmara Municipal no último dia 11, em primeira votação.
Entre as alterações, estava a mudança no item 3.13, um dos que ainda enfrentava grande polêmica. Ele previa implementar as ações educacionais previstas no Programa Nacional de Direitos Humanos e no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. O plano, aprovado em 2010, traz uma ampla série de menções à palavra “gênero”. Entre elas, a meta de “aperfeiçoar o programa de saúde para adolescentes, especificamente quanto à saúde de gênero, à educação sexual e reprodutiva e à saúde mental”.Nesta terça, quando ocorreu a votação final, o plano sofreu novas baixas. Para conseguir garantir que ele fosse votado, a base governista e o PT se articularam com vereadores de outras legendas para apresentar um texto substitutivo ao projeto aprovado no dia 11.
Outra mudança feita no substitutivo foi na meta 1, que previa ampliar o investimento público em educação para atender ao disposto no artigo 203 da Lei Orgânica do Município de São Paulo. A lei prevê, entre outras coisas, que é dever do município a educação “igualitária, desenvolvendo o espírito crítico em relação a estereótipos sexuais”.
No substitutivo, a referência ao plano de direitos humanos foi substituída pela menção ao Plano Nacional de Educação, o mesmo que no ano passado já havia perdido a palavra “gênero”. Com isso, a citação indireta à palavra desapareceu. A menção à lei orgânica também foi completamente retirada.

O que mudou

META 1
Como era:  Ampliar o investimento público em educação incorporando por acréscimo, quando da regulamentação federal, os recursos provenientes da previsão do financiamento da Educação determinado na Meta 20 do Plano Nacional de Educação, objetivando o atendimento ao disposto no artigo 203 da Lei Orgânica do Município de São Paulo.
Como ficou: Ampliar o investimento público em educação, aplicando no mínimo 33% (trinta e três por cento) da receita resultante de impostos em manutenção e desenvolvimento do ensino e em educação inclusiva.
O que mudou: Retirou a referência ao artigo 203 da Lei Orgânica do Município de São Paulo, que diz o seguinte: "É dever do Município garantir a educação igualitária, desenvolvendo o espírito crítico em relação a estereótipos sexuais, raciais e sociais das aulas, cursos, livros didáticos, manuais escolares e literatura"
META 3.13
Como era: Implementar a Educação em Direitos Humanos na Educação Básica e as ações educacionais previstas no Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3 e no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, observando as diretrizes curriculares nacionais.
Como ficou:  Implementar a Educação em Direitos Humanos na Educação Básica, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação e preconceito, em consonância com o inciso III do art. 2º do Plano Nacional de Educação, aprovado na forma da Lei Federal nº 13.005, de 25 de junho de 2014
O que mudou: Retirou a menção ao Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3 e no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, que traziam a palavra gênero e colocou a referência ao Plano Nacional de Educação, que não traz a palavra

Protestos

A polarização sobre o tema marcou a discussão do plano até o final. Na galeria do plenário, grupos favoráveis à inclusão do gênero gritavam: “Se Jesus estivesse aqui, estava do lado das travestis”. E ouviam como resposta dos religiosos: “Respeito, sim! Gênero, não!”.
Do lado de fora, desde as 11h dois carros de som disputavam a atenção, separados por um cordão e vigiados pela Guarda Civil Metropolitana. Um, formado por militantes da Marcha das Mulheres, da Frente Nacional contra a Redução da Idade Penal e da Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), gritava palavras em prol da educação inclusiva. Outro, formado por diversos fiéis, especialmente de igrejas católicas, pedia respeito à família, e trazia performances de padres e freiras franciscanos que formavam uma banda.
Apesar de já aprovado em primeira votação, o plano ainda poderia sofrer alterações na segunda votação, ocorrida nesta terça-feira. Militantes pró-gênero tinham esperança de que mesmo com a aprovação desse substitutivo, emendas a ele, apresentadas pela vereadora Juliana Cardoso (PT) que traziam a palavra de volta fossem aprovadas, mas a pressão da igreja foi maior e mesmo isso foi rejeitado.
Ao menos quatro religiosos haviam se manifestado contra a “ideologia de gênero” publicamente neste ano. "Os que adotam o termo gênero não estão querendo combater a discriminação, mas sim desconstruir a família (...) e, deste modo, fomentam um estilo de vida que incentiva todas as formas de experimentação sexual desde a mais tenra idade ", afirmou Dom Fernando Arêas Rifan, bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (Rio de Janeiro), em uma nota publicadapela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “O cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, divulgou uma nota, em que disse que "as consequências de tal distorção antropológica na educação poderão ser graves". "Os legisladores [devem evitar] a ingerência do Estado no direito e dever dos pais e das famílias de escolherem o tipo de educação dos filhos", completou.
Na tarde desta terça, vereadores reclamaram que a discussão sobre gênero ofuscou outros pontos importantes do novo plano de educação.
O novo substitutivo, aprovado na votação, aumentou a verba destinada para a educação no município para 33%, cerca de 700 milhões de reais a mais do que o Orçamento atual, e determinou que o número máximo de alunos por sala no ensino infantil é de 25.

Confiança da indústria cai 1,6% e volta à mínima histórica, diz FGV

SÃO PAULO (Reuters) - O Índice de Confiança da Indústria (ICI) recuou 1,6 por cento em agosto sobre o final do mês anterior, voltando a renovar a mínima histórica após dar um respiro no mês passado, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) nesta quarta-feira.
O índice passou a 68,0 pontos em agosto, contra 69,1 pontos no mês anterior. Em julho, o índice havia subido 1,5 por cento, interrompendo série de cinco quedas consecutivas.
Segundo a instituição, o recuo foi motivado pela deterioração tanto das avaliações sobre o momento presente quanto das expectativas futuras.
"A queda do ICI em agosto sugere que a alta do mês passado teria sido um evento passageiro. Fatores desfavoráveis, como os estoques excessivos e a demanda interna fraca, ainda predominam amplamente sobre os favoráveis, como a desvalorização cambial, na construção de expectativas em relação aos próximos meses", afirmou, em nota, o superintendente adjunto para ciclos econômicos da FGV/Ibre, Aloisio Campelo Jr.
O Índice da Situação Atual (ISA) recuou 1,6 por cento, para 69,2 pontos, segundo menor nível da série histórica, apenas maior que a leitura para outubro de 1998. O Índice de Expectativas (IE) também caiu 1,6 por cento, sendo também o segundo menor dado da série.
O Nível de Utilização da Capacidade Instalada alcançou 77,77 por cento em agosto, ante 78,2 por cento em julho.
A indústria vem sendo uma das maiores vítimas da crise econômica por que passa o Brasil, em um quadro de contração da atividade e inflação elevada, e dados recentes têm reforçado que a recuperação do setor ainda está distante.
(Por Bruno Federowski)

Presidente se assustou com crise por 'falta de contato com a sociedade', diz ministro do TCU Jefferson Puff - @_jeffersonpuff Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

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Image captionMinistro Augusto Nardes é relator do processo do TCU que analisa contas de Dilma Rouseff
No dia em que o Tribunal de Contas da União (TCU) decide se aceita a solicitação do governo federal por mais 15 dias de prazo para dar explicações sobre as contas públicas, o relator do processo, o ministro Augusto Nardes, disse, em entrevista à BBC Brasil, ser contra a extensão, além de apontar a "falta de contato com a sociedade" como um dos problemas que levou ao agravamento da crise do governo da presidente Dilma Rousseff.
Para Nardes, o prazo dado pelo TCU para o recebimento de maiores esclarecimentos, que vence na próxima quinta-feira (27), já seria suficiente. "Eu em princípio sou contra aumentar o prazo, mas vou consultar os demais ministros. Tenho um papel preponderante nesta questão, porque é uma decisão do relator, mas por ser uma decisão muito importante, eu tenho procurado sempre dividir com os ministros", disse.
Os esclarecimentos dizem respeito a novas irregularidades nas contas do governo referentes ao ano de 2014, e incluem as chamadas "pedaladas fiscais", manobras contábeis que envolveriam o uso de recursos de bancos federais para maquiar o orçamento federal.
O governo já entregou uma parte da defesa, mas, no último dia 12 de agosto, o TCU solicitou novas explicações. Além das pedaladas, o órgão preocupa-se com o fato de as supostas irregularidades terem ocorrido num ano eleitoral, e aponta para a demora do governo em tomar medidas de contingência da crise – algo sobre o qual o tribunal teria lançado alertas, diz Nardes.
Questionado sobre as declarações da presidente a jornais na terça-feira, quando disse que o governo tomou um "susto" e que não esperava uma crise com tamanha gravidade, o que ajudaria a explicar a demora em adotar medidas de contingência, como redução de gastos e ajustes fiscais, Nardes atribuiu a "surpresa" de Dilma a uma "falta de contato com a sociedade".
O parecer do TCU sobre as contas do governo federal referentes ao ano de 2014 é aguardado com expectativa, já que uma eventual reprovação pode servir de argumento para um pedido de impeachment da presidente. Indagado sobre pressões e o impacto da decisão em meio à crise política, o ministro disse que cabe ao Congresso entrar neste mérito.
"As nações fracassam quando as instituições deixam de cumprir a sua função. E a minha função é cuidar das contas junto com os auditores do tribunal. Eu me restrinjo a fazer o meu trabalho. Quanto ao procedimento de impeachment, não cabe a mim discutir isso, mas sim ao Congresso Nacional", avaliou.
Veja os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil – O governo federal pediu mais 15 dias de prazo para apresentar explicações adicionais ao TCU sobre supostas irregularidades nas contas públicas. Como os ministros devem se posicionar?
Ministro Augusto Nardes – Eu estou examinando a solicitação, e devo tomar uma decisão junto com os ministros, que deve ser anunciada nesta quarta-feira. Eu em princípio sou contra aumentar o prazo, mas vou consultar os demais ministros. Tenho um papel preponderante nesta questão, porque é uma decisão do relator, mas por ser uma decisão muito importante, eu tenho procurado sempre dividir com os ministros.
BBC Brasil – O senhor se disse pessoalmente contrário à solicitação de aumentar o prazo para o governo dar explicações sobre as contas públicas. Na sua visão, já houve tempo suficiente para elaborar os esclarecimentos?
Nardes – No total já se somam 64 dias (desde o primeiro prazo e a primeira extensão) e tem toda uma questão de rito que tem que ser feita no tribunal, da equipe técnica. Como é um processo que envolve a presidente da República e as contas da República, eu acho que é importante a gente ouvir os demais ministros sobre esta decisão.
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Image captionGoverno da presidente Dilma Rousseff passa por crise política e de baixa popularidade
BBC Brasil – Sabe-se que as pedaladas configuram manobras fiscais que também foram usadas por outros governos, até estaduais e municipais, mas em avaliações passadas o TCU optou pela "aprovação com ressalvas", orientando a uma melhoria de procedimentos nas contas públicas. Agora, a que se deve esse maior escrutínio, bem mais rigoroso?
Nardes – Não se trata da mesma situação. O que fica evidente é que os valores de 2014 são bastante robustos. Além disso o tribunal está em permanente evolução, e a jurisprudência também. Nós fizemos um treinamento dos nossos auditores da área financeira, e muitas coisas que nós não conseguimos enxergar lá atrás, hoje estamos enxergando com muito mais clareza. Houve a evolução do tribunal e as informações que eu tenho em relação à situação anterior são de que já haviam sido feitos alguns alertas.
Eu mesmo alertei a presidente no ano passado sobre R$ 2,3 trilhões que não estavam contabilizados, da chamada previdência atuarial, que ela passou a contabilizar. Contabilizou uma parte no ano passado e eu já registrei isso nas contas deste ano. O tribunal já vinha alertando sobre essas situações, mas o que ocorreu é que em 2014 os valores foram bastante robustos.
BBC Brasil – Se as chamadas "pedaladas fiscais" ocorrem há anos em diversos governos, o TCU não estaria enviando a mensagem de que se um crime for cometido com menor intensidade, será aceitável, mas se o volume aumentar, será punido? Não há um problema de critérios?
Nardes – A questão é que o tribunal faz alertas e o tribunal já vinha fazendo alertas. Eu não era o relator, eram outros ministros, então eu não posso falar por eles. Minha decisão, no entanto, é de que estamos diante de uma situação diferente em 2014 porque há haviam sido feitos alertas e não foram tomadas providências.
BBC Brasil – O TCU fez alertas específicos sobre as "pedaladas fiscais"?
Nardes – Aí teria que fazer uma análise lá atrás, eu não posso confirmar. Mas eu, como relator, e considerando que cada ministro é independente, entendi que tinha que fazer um contraditório para evitar que aconteça no Brasil o que aconteceu com a Grécia, Espanha e Portugal, de cortar 50% dos salários, por exemplo. O meu dever como magistrado neste caso é fazer o alerta, para que sejam tomadas as providências, para que nós não passemos o vexame pelo qual está passando a Grécia, até porque não temos a Europa para socorrer a gente.
BBC Brasil – Um dos argumentos que o governo tem usado para explicar as "pedaladas" é a comparação com o cheque especial, alegando que os recursos dos bancos públicos teriam sido usados por muito pouco tempo, que se referiam a contratos já fixados, e não configurariam empréstimos. Quanto a isso, qual é o entendimento do TCU?
Nardes – Em alguns casos o dinheiro dos bancos públicos foi utilizado por três ou quatro meses. Eles estão nos respondendo sobre isso, mas somando o total de tempo utilizado chega próximo de anos. Não posso entrar muito neste mérito porque é justamente o que está sob análise neste momento.
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Image captionPresidente Dilma Rousseff participa de cerimônia de entrega de casas populares
BBC Brasil – O processo de análise das contas do governo e das pedaladas fiscais acabou tomando grande relevância no país e é sem dúvida uma decisão aguardada por toda a população. Há pressão sobre o senhor, como relator, e sobre os outros ministros?
Nardes – Isso faz parte do jogo democrático. O país é uma democracia e a pressão contra ou a favor é parte desses pilares importantes para a democracia brasileira. Eu não me assusto com isso. Fico tranquilo, e estou tentando conduzir da forma mais equilibrada possível, dando todo e amplo direito de defesa para o governo, ouvindo todo o governo, para que a gente possa conduzir de forma harmônica essa questão.
Eu mesmo recebi 13 mil e-mails até agora, de diversas origens. Muito mais a favor do TCU do que contra. Eu diria que 85% são favoráveis ao trabalho que o TCU está fazendo. Nós estamos mudando uma história de 80 anos que sempre optava pela aprovação com ressalva.
BBC Brasil – O TCU analisa as contas do governo em meio a uma grave crise política. Como é coordenar este trabalho ciente de que os resultados podem ter papel crucial num eventual processo de impeachment contra a presidente?
Nardes – Esta análise eu não faço, porque não cabe a mim este procedimento, cabe ao Congresso Nacional. As nações fracassam quando as instituições deixam de cumprir a sua função. E a minha função é cuidar das contas junto com os auditores do tribunal. Eu me restrinjo a fazer o meu trabalho. Quanto ao procedimento de impeachment, não cabe a mim discutir isso, mas sim ao Congresso Nacional.
BBC Brasil – Na opinião do senhor, a falta de contingenciamento, ou seja, de reduzir gastos e executar medidas de ajustes, foi tão grave quanto as pedaladas?
Nardes – Mais grave.
BBC Brasil – Como o senhor recebeu as declarações da presidente Dilma Rousseff a jornais nesta terça-feira, quando disse que a gravidade da crise foi "um susto" para o governo e que por isso teria havido a demora em executar medidas de contingência?
Nardes – É falta de contato com a sociedade, porque eu já venho falando há dois anos, alertando sobre essa questão da Petrobras há sete, oito anos, sobre o que estava acontecendo na empresa. Mostramos nas nossas auditorias, o Congresso foi avisado, recomendamos ao Congresso que não repassasse mais verbas para a refinaria Abreu e Lima, e o ex-presidente Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) vetou, liberando as verbas, e ocorreu todo esse escândalo da operação lava jato. Se tivessem escutado o TCU sete anos atrás, muito do que está ocorrendo poderia ter sido evitado. Nós fizemos a nossa parte.
BBC Brasil – Os alertas do TCU poderiam ter evitado ou ao menos reduzido os estragos causados pelas irregularidades deflagradas na Operação Lava Jato?
Nardes – A Polícia Federal até já declarou que se baseou nas auditorias do TCU para fazer a operação. A questão é que nós não temos poder de investigação. Nós fazemos uma auditoria e a Polícia Federal é quem investiga. A Polícia Federal comprovou aquilo que nós tínhamos apurado e sobre o qual já tínhamos avisado o governo há muito tempo.
BBC Brasil – E daqui para frente, qual deve ser o papel do TCU? O tribunal deve sair fortalecido desse processo?
Nardes – Eu acho que é como antes e depois de Cristo, o antes e depois das contas. A partir de agora os gestores terão que ter um cuidado muito grande, porque há uma mudança de comportamento e isso faz parte de uma trajetória que nós estabelecemos, transformando o tribunal. Nós temos especialistas em mais de 50 áreas. Temos especialistas em todas as áreas. Eu quando fui presidente propus essa especialização de auditores em setores de saúde, transporte, energia nuclear.

China aprofunda a depreciação do real e de outras moedas da América Latina

O grosso das moedas latino-americanas voltou a sofrer severos empurrões no baile cambial no princípio desta semana, aprofundando uma tendência de baixa que já dura vários meses. O dólar, a moeda de referência, não só aguenta o temporal, mas está cada vez mais fortalecido. O peso mexicano e o colombiano, bem como o real brasileiro, rondam níveis mínimos de mais de uma década em relação às verdinhas. Ao desabamento do preço das matérias-primas e à esperada elevação das taxas de juros nos EUA se somaram agora as turbulências financeiras na China. Diante do nervosismo nos pregões e o aumento da volatilidade, os investidores optam por se refugiar em portos seguros – dólar, euro, dívida europeia –, acentuando ainda mais a debilidade das moedas latino-americanas.

O real cedeu mais de 30% frente ao dólar este ano, o peso mexicano perdeu 20%, o peso argentino, 10%, e o colombiano, mais de 30%. "A percepção de uma maior debilidade da economia chinesa afeta em especial a América Latina. Países como Peru, Brasil e Colômbia basearam grande parte de seu crescimento na exportação de matérias-primas ao país asiático. Esse motor de crescimento já não voltará a se reproduzir, e isso se nota em suas divisas", explica Carlos Serrano, economista-chefe do BBVA Bancomer. O exemplo mais claro é o Brasil, a principal potência da região, de quem se espera uma contração de 2% para este ano. "O Brasil sofre muito as consequências por ter a China como seu principal parceiro comercial. É o maior comprador de commodities", afirma a economista Camila Abdelmalack, da Capital Markets.Todas as bolsas mundiais caíram com força durante a jornada de segunda-feira, arrastadas pelas dúvidas suscitadas pela economia chinesa. A freada da segunda economia do mundo parece que será mais profunda do que o esperado, e a ameaça de uma tripla derrocada chinesa – creditícia, imobiliária e no mercado de ações– está provocando ajustes nas placas tectônicas do mundo financeiro. "A China ainda se encontra longe de uma recessão, mas os mercados de capitais asiáticos já começaram a reagir negativamente às menores expectativas de crescimento. Seus dois principais índices acumulam uma perda mensal de 13% e 19%, respectivamente", alerta a diretora de análises do Banco Base.
O real perdeu mais de 30% frente ao dólar este ano, o peso mexicano perdeu 20%, o peso argentino, outros 10%, e o colombiano, 30%
A forte volatilidade dos mercados financeiros globais fez o dólar renovar sua máxima em 12 anos e fechar, nesta terça-feira, negociado a 3,608 reais na venda. Não bastasse os fatores externos, o noticiário político conturbado também colaborou com a alta de 1,57% da moeda americana.
A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, manifestou, nesta semana, sua preocupação com o futuro da economia brasileira e afirmou que ainda não é possível estimar o impacto da crise chinesa. "Estamos diante de uma retração do mercado internacional da qual não se sabe a dimensão, não se sabe. Vamos ter que lidar com a desaceleração internacional", afirmou em entrevista a jornais brasileiros publicada no O Globo. Nesta terça-feira, a presidente reiterou que não tem como garantir que a situação em 2016 "vai ser maravilhosa". "Não vai ser, muito provavelmente não será", afirmou em entrevista para rádios de Catanduva e Araraquara, no interior de São Paulo.
Os preços das matérias-primas começaram a cair há um ano,precisamente, pela redução do ritmo da demanda chinesa. Aliadas à anemia europeia, as novas dúvidas sobre o apetite do maior dos consumidores levaram o índice que engloba as cotações das principais matérias-primas –ouro, petróleo, milho, cobre, soja e prata – a cair a mínimos de 16 anos atrás. Empurrando com força a balança aparece o petróleo. O barril do Brent e o do Texas, referência na Europa e EUA, estão em patamares de seis anos e meio atrás.
Enquanto isso, a moeda da economia norte-americana, orientada para a recuperação econômica, continua sua trajetória ascendente. "É mais do que uma apreciação. Estamos assistindo a uma apreciação forte do dólar", afirma o diretor de operações da CM Derivados, Julio Chaubet. O índice US dólar index, que estabelece uma comparação com as sete divisas mundiais de referência – entre elas iene, libra e euro– mostra uma alta de 25% no acumulado deste ano.
Os analistas coincidem em que, além dos contratempos na China, a recuperação da locomotiva norte-americana – impulsionada pelas novas técnicas de extração de petróleo, que a deixam praticamente autossuficiente em matéria energética – e a guinada do Federal Reserve–, prevista para setembro ou novembro– representam o maior desafio para as economias emergentes.
Estamos diante de uma retração do mercado internacional da qual não se sabe a dimensão, não se sabe. Vamos ter que lidar com a desaceleração internacional
Dilma Rousseff
Os seis anos de taxas baratas nos EUA serviram de incentivo para a viagem de importantes fluxos de capital rumo a ouros destinos, com suculentas rentabilidades. Mas o dinheiro está há meses fazendo o caminho de volta, e a proverbial suscetibilidade dos investidores disparou agora com as dúvidas na China. "A fuga de capitais tem uma incidência direta sobre o mercado de divisas porque o movimento em direção a ativos livres de risco implica a compra de dólares e uma queda da demanda de divisas locais", observa Siller.
As severas correções das moedas latino-americanas estão alimentando o fantasma da desvalorização, um velho conhecido das economias da região. Os especialistas coincidem em ressaltar as diferenças em relação, por exemplo, com a crise do México nos anos noventa, que incluiu a quebra de bancos. "Agora é diferente. Antes a taxa de câmbio era fixa e se ajustava utilizando reservas, que ao se esgotar provocavam a desvalorização acumulada. Agora é variável, e o mercado a define, corrigindo pouco a pouco o câmbio", diz o economista-chefe do BBVA Bancomer. "Outro fator é a melhora dos dados macroeconômicos. Não existem os desequilíbrios tão graves em conta corrente que havia antes e as dívidas agora não estão tão fincadas no dólar e em prazos tão curtos como antes, o que significaria um incentivo para a fuga de capitais. No México, na realidade, continua entrando capital. Em um mercado tão grande é difícil ver uma desvalorização", conclui.