sexta-feira, 19 de setembro de 2014

19/09/2014 18h21 - Atualizado em 19/09/2014 18h21

Presa por suposto desvio tinha 'sala de beleza' e academia na CNT; vídeo

Espaços funcionam ao lado de escritório no 10º andar do prédio da CNT.
Tapete persa de R$ 8 mil decora sala de massagem e drenagem linfática.

Do G1 DF
A ex-diretora executiva do Serviço Social do Transporte (Sest) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) Maria Pantoja mantinha em seu escritório, no décimo andar do prédio da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), em Brasília, salas com mesa para massagem, aparelho de drenagem linfática e academia privativa, segundo a polícia. A funcionária está entre as pessoas presas nesta sexta-feira (19) pela Polícia Civil do Distrito Federal, durante a Operação São Cristóvão.
G1 tentou contato com a CNT durante toda esta sexta-feira, mas a assessoria não atendeu às ligações.

Maria Pantoja, que atualmente ocupa a diretoria do Instituto de Tranportes e Logísticas da CNT, é apontada como uma das integrantes do suposto esquema de desvio de recursos do sistema Sest/Senat repassados pela União para a realização de cursos profissonalizantes. O total desviado pode ter chegado a R$ 70 milhões, de acordo com as investigações.
Imagens feitas pela reportagem do G1 na sede da entidade mostram que os espaços de lazer e beleza funcionavam junto aos escritórios corporativos. As imagens foram feitas durante o cumprimento de um dos mandados de busca e apreensão da operação.
Na sala apontada pela polícia como sendo de Maria Pantoja, a reportagem do G1 fotografou uma caixa de esmaltes e maquiagens de marcas famosas, como Dior e Chanel, além de macas para massagem, aparelhos para tratamento estético, equipamentos de áudio e vídeo e armário com roupas e sapatos de grife.
Academia de ginástica privativa no prédio da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), em Brasília (Foto: Dayane Oliveira/G1)Academia de ginástica privativa no prédio da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), em Brasília (Foto: Dayane Oliveira/G1)
Em um dos cômodos reservados para os equipamentos de beleza, há um tapete persa de 8 metros quadrados. A etiqueta em francês diz que o produto é autêntico e feito à mão. Uma loja do DF especializada nesse tipo de peça informou que o tapete tem valor estimado em R$ 8 mil.
O prédio de escritórios da CNT também abriga uma academia de ginástica completa, com esteiras, bicicletas ergométricas e outros aparelhos. A porta que dá acesso à academia tem fechadura eletrônica, só aberta por senha, o que indica um acesso restrito a poucos funcionários da entidade.
Etiqueta de tapete persa encontrado em sala de massagem no prédio da Confederação Nacional dos Transportes, em Brasília (Foto: Dayane Oliveira/G1)Etiqueta de tapete persa encontrado em sala
no prédio da CNT(Foto: Dayane Oliveira/G1)
Desvio milionário
O suposto esquema de desvio de verbas do Sest/Senat investigado pelas polícias do Distrito Federal e de Minas Gerais pode ter movimentado até R$ 70 milhões, segundo o delegado-adjunto da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Luiz Fernando Cocito, de Brasília.
Segundo ele, os desvios se davam pela contratação de serviços de pequenas empresas por valores altos e pelo pagamento de gratificações elevadas a diretores das entidades. Um lava-jato, por exemplo, recebeu mais de R$ 2 milhões em um ano, de acordo com as investigações.
De acordo com a investigação, Maria Pantoja recebia R$ 26 mil por 22 horas semanais de trabalho no Sest e outros R$ 26 mil por 22 horas no Senat, mas movimentou R$ 1,5 milhão em um ano, quase duas vezes mais do que o total de rendimentos declarados por ela. Outras funcionárias da entidade foram presas sob acusações semelhantes.
Bens apreendidos
Durante a entrevista coletiva na qual a Polícia Civil detalhava a operação realizada nesta sexta, o delegado Fábio Souza informou que os agentes encontraram R$ 180 mil em espécie na residência de um dos envolvidos no suposto esquema.
Além disso, um cofre também foi apreendido no local – até a publicação desta reportagem, a Polícia Civil ainda não havia concluído a contagem dos valores apreendidos. Souza disse ainda que outro cofre foi apreendido em outra residência.
Com os suspeitos, a polícia apreendeu ainda 16 veículos. Os suspeitos viviam em casas de luxo em Brasília – o valor de uma delas foi estimado pela polícia em R$ 4 milhões (veja vídeo ao lado).
"Eles passaram a ostentar muito, e isso facilitou muito a nossa vida. Não se contentaram com uma única mansão, compraram duas, três. Não se contentaram com um carro de luxo, compraram quatro, cinco, seis. O patrimônio das quatro pessoas presas, somados, somam algo em torno de R$ 35 milhões", declarou Cocito.
(Colaboraram Gabriel Luiz e Dayane Oliveira)

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