sábado, 12 de setembro de 2015

'Perdi tudo, mas salvei um casal com um bebê': brasileiros ficam desabrigados após enchentes no Japão Ewerthon Tobace De Tóquio para a BBC Brasil

(Arquivo pessoal)
Image captionSakaue conta ter perdido lanchonete e restaurante por causa das chuvas torrenciais
As fortes chuvas no Japão, que causaram transbordamentos de rios, enchentes e deslizamentos de terra na região nordeste do país, afetaram também a comunidade brasileira. Muitas famílias relatam ter perdido tudo e agora contam com a ajuda do governo e de conterrâneos para recomeçar a vida.
"Perdi todo o investimento de anos de trabalho", desabafa Alex Yoshinori Sakaue, 34, que tinha uma lanchonete e restaurante há 16 anos no centro de Joso, uma das cidades mais afetadas pelas tempestades e que concentra um grande número de brasileiros.
"Os carros sendo arrastados e a correnteza forte no meio da rua me lembraram as cenas do tsunami de 2011."
Sakaue contou à BBC Brasil que, durante a manhã de quinta-feira, mesmo com a chuva forte, abriu as portas do estabelecimento para mais um dia normal de trabalho.
"A rua começou a encher de água e, de repente, do nada, em questão de minutos, alagou tudo. Fechamos a lanchonete, fomos para casa e tentamos subir para o andar de cima o que dava e ficamos esperando o resgate", lembra o brasileiro, que mora ao lado do próprio negócio, numa casa de dois andares.
Da janela da casa, viu a frota de carros da família, que também mantém uma escola brasileira, sumir na água.
"No meio do desespero, vi um casal japonês com um bebê de três meses encurralado pela enchente. Desci, pulei na água, que já estava na altura do queixo, e conseguimos levá-los para dentro de casa", conta Alex.
"Agora só resta descansar um pouco e recomeçar a vida", resume.

Tsunami

(Arquivo pessoal)Image copyrightArquivo pessoal
Image captionSakaue mora há 16 anos no Japão
O Japão acordou nesta sexta-feira ainda em choque com os efeitos das chuvas torrenciais que forçaram mais de 90 mil pessoas a abandonar suas casas.
As imagens captadas pelas TVs japonesas realmente lembraram o tsunami que varreu o litoral da mesma região em 2011.
Cenas de casas e carros arrastados pela força das águas e famílias resgatadas de helicóptero foram mostradas ao vivo durante toda a quinta-feira. Nesta sexta-feira, a imprensa japonesa continua a falar sobre a tragédia.
Até agora, três mortes foram confirmadas e cerca de 25 pessoas continuam desaparecidas.
De acordo com a Agência Meteorológica do Japão, as fortes chuvas foram causadas pela passagem do tufão número 18, que fez chover, em apenas um dia, mais do que o dobro do previsto para todo o mês de setembro.

Desespero

Outro brasileiro que perdeu tudo o que tinha em Joso foi Ussuy Egyro, 38. Há 14 anos no Japão, ele conta que chegou a tempo de ver as conquistas de anos de trabalho em fábrica serem tragadas pelas águas, que invadiram seu apartamento.
"O mais caro eram os equipamentos de filmagem. Foram seis câmeras fotográficas e filmadoras", lamenta ele, que postou um vídeo no perfil dele no Facebook, no qual aparece chorando de desespero ao chegar perto do apartamento. "Só queria salvar minhas cachorras que estavam lá dentro", explicou.
Além dos cães (que estavam em cima da cama e do tatame, que flutuaram), tudo o que conseguiu retirar do apartamento foram dois travesseiros, um pacote de pão e um cacho de banana.
"Não me importo com os bens materiais. Agora vou trabalhar para comprar tudo de novo", garantiu o brasileiro, que ainda ajudou outros colegas que tiveram casas e apartamentos inundados.
"Fui ao abrigo e a situação está complicada, pois as pessoas estão dormindo em papelão e não têm água para tomar banho nem roupa para trocar", contou.
A região de Ibaraki e de Tochigi, as províncias mais afetadas, concentra uma grande comunidade brasileira. Cerca de 1,5 mil brasileiros moram somente em Joso.
Segundo informações do Consulado-Geral do Brasil em Tóquio, cerca de 200 brasileiros estão em abrigos do governo. Outras centenas foram para casas de parentes e amigos e alguns continuam ilhados em suas casas, aguardando resgate.
Milena Ishikawa, 39, é outra que perdeu tudo o que tinha na casa. Ela e a família viram a água subir muito rapidamente e só tiveram tempo de sair e ir para um hotel próximo da estação.
"Agora estamos ilhados, esperando a água baixar para ir para um abrigo", contou, por telefone, à BBC Brasil.
Há 12 anos no Japão, Milena disse que esta foi a primeira vez que viu uma enchente desta proporção. "Assim que for possível, vou voltar para casa para ver se tem como salvar alguma coisa."

Ajuda

(AFP)Image copyrightAFP
Image captionTsunami arrasou litoral nordeste do Japão em 2011
Diversas organizações sem fins lucrativos e grupos espalhados pelo Japão iniciaram campanhas para ajudar os decasséguis que perderam tudo com as enchentes.
"Estamos recolhendo roupas, fraldas e leite em pó, principalmente", contou Patrícia Hiromi Agostinho Komatsu, uma das que tem ajudado os desalojados.
O consulado do Brasil em Tóquio também centraliza uma campanha de arrecadação de roupas e mantimentos.
De acordo com o ministro Marco Farani, cônsul-geral do Brasil em Tóquio, mais de 3 mil e-mails foram enviados para brasileiros que vivem naquela região.
"Perguntamos se estavam bem e se precisavam de alguma coisa", detalha o diplomata, que deixou a repartição em estado de alerta para eventuais casos urgentes.
"Na semana que vem, uma missão consular vai verificar in loco a situação dos brasileiros. Vamos levar também uma psicóloga e um médico brasileiro", detalhou.

Suicídio assitido: que países permitem ajuda para morrer? Valeria Perasso Repórter especial do Serviço Mundial

GettyImage copyrightGetty
Image captionProposta de suicídio assistido foi rejeitada pelo Parlamento do Reino Unido
A proposta de que o suicídio assistido seja legal na Inglaterra e no País de Gales foi rejeitada na quinta-feira por parlamentares britânicos, na primeira votação sobre o assunto em quase 20 anos.
O projeto para permitir que adultos com doenças em estágio terminal pudessem dar fim a sua vida com supervisão médica recebeu 330 votos contra e apenas 118 a favor.
A votação foi acompanha por um debate acalorado, em que os defensores do chamado suicídio assistido argumentaram que a nova legislação permitiria uma "morte digna e pacífica", enquanto opositores a consideraram "totalmente inaceitável"e que poderia dar margem para abusos.
A proposta determinava que pessoas com uma expectativa de vida de menos de seis meses poderiam pedir uma prescrição médica para uma dose letal de medicamentos, que seria administrada por elas mesmas.
GettyImage copyrightGetty
Image captionTema foi alvo de protestos e divide a opinião pública no Reino Unido
Esta foi a primeira vez desde 1997 que os parlamentares votaram sobre o suicídio assistido, tema que vem dividindo a opinião pública no Reino Unido.
A rejeição do projeto significa que a lista de países onde o "direito de morrer" é garantido permanece ainda bastante restrita.
Apenas cinco em todo o mundo permitem o suicídio assistido, em que pacientes aplicam as drogas em si mesmos.
E, em um número menor (quatro), a eutanásia, quando o coquetel é aplicado no paciente por médicos, é descriminalizada em circunstâncias especiais.
_________________________________________________________________

⃝ Holanda

Em abril de 2002, a Holanda tornou-se o primeiro país do mundo a legalizar a eutanásia e também descriminalizou o suicídio assistido.
O país impôs, no entanto, uma série de condições: é preciso que a doença diagnosticada seja incurável e que o paciente esteja sofrendo de uma dor "insuportável", sem perspectiva de melhora.
O paciente ainda deve fazer o pedido de auxílio para morrer estando ainda "totalmente consciente" e manter este desejo ao longo do tempo.
A parte mais controversa da nova norma é provavelmente a previsão da idade para a prática, sendo permitida para pacientes a partir dos 12 anos, apesar de que aqueles com até 16 anos precisam ter a autorização dos seus responsáveis legais.
Membros da Associação Médica Cristã afirmam que a legislação saiu de controle desde então, com um aumento de 15% dos casos em 2014, para 5 mil suicídios assistidos.
Mas um estudo publicado no periódico científico The Lancet em 2012 contradiz esta crença, ao afirmar que o número de pessoas que morreram com eutanásia ou suicídio assistido não aumentou depois da lei.
_________________________________________________________________

⃝ Suíça

BBC
É talvez o país mais conhecido por sua permissão legal ao direito à morte.
Isso se deve em parte à famosa clínica Dignitas, que oferece este tipo de serviço e tem sido muito procurada por pacientes terminais que viajam para a Suíça para dar fim a suas vidas.
A lei do país permite o suicídio assistido, desde que não seja por "motivos egoístas", como para evitar pagar pelo apoio necessário ao paciente, por exemplo, ou antecipar o recebimento de uma herança.
Tal transgressão é prevista como crime pelo Código Penal suíço. Para evitar uma condenação, quem prestou o auxílio deve provar que o paciente sabia o que estava sendo feito e que tenha feito um pedido "sincero" para que fosse dado fim à vida ao longo de um período de tempo.
Por sua vez, a eutanásia é considerada um crime.
_________________________________________________________________

⃝ Bélgica

A Bélgica descriminalizou a eutanásia em 2002. Foi o segundo país a fazer isso, depois da Holanda.
Médicos podem auxiliar pacientes em sua morte desde que haja um longo histórico entre as duas partes. Ambos devem ser belgas e residir permanentemente no país.
Os pacientes devem ter uma condição médica irreversível e estar passando por um "sofrimento mental ou físico constante que não pode ser aliviado".
Eles só podem sofrer eutanásia se tiverem manifestado desejo para tal antes de ingressar em um estado vegetativo. E o médico deve estar presente no momento da morte.
Em fevereiro de 2010, o país tornou-se o primeiro a legalizar a eutanásia também para crianças.
_________________________________________________________________

⃝ Estados Unidos

BBC
No país, a decisão sobre a legalidade do suicídio assistido cabe a cada Estado, sendo permitida em cinco deles (Washington, Oregon, Vermont, New Mexico e Montana) enquanto a eutanásia ainda é ilegal em todo os Estados Unidos.
No Oregon, o primeiro Estado a legalizar o suicídio assistido, é permitido desde 1997 que médicos prescrevam coquetéis de droga em doses letais para pacientes terminais.
Os pacientes devem ter mais de 18 anos, estarem conscientes do que estão fazendo e terem menos de seis meses de vida. Ainda é necessário fazer dois pedidos verbalmente e um por escrito, diante de uma testemunha.
Em 2014, os Estados de Washington, Vermont e Montana aprovaram legislações nos moldes do Oregon.
_________________________________________________________________

⃝ Outros países

Luxemburgo têm leis para eutanásia e suicídio assistido desde 2009, similares às da Bélgica e baseadas no princípio de "liberdade de consciência" dos médicos.
Na Colômbia, o primeiro caso de suicídio assistido foi autorizado pelo ministério da Saúde em julho. Ovidio González, de 79 anos, sofria de câncer em estágio terminal.
Na Alemanha, é permitido que um médico prescreva um coquetel letal a pedido do paciente. O tema está sendo debatido no Legislativo, que pode estabelecer novas regras sobre o suicídio assistido até novembro.
O mesmo vem ocorrendo na Província de Quebec, no Canadá, onde já foi aprovada uma lei que prevê uma sedação paliativa e auxílio médico para morrer. A legislação entrará em vigor em dezembro.
_________________________________________________________________

⃝ E no Brasil?

As duas práticas são proibidas no Brasil. O Código Penal classifica o suicídio assistido como um crime contra a vida por meio de seu artigo 122, que veta o ato de "induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar auxílio para que o faça".
O crime é passível de pena de dois a seis anos de prisão quando o suicídio é consumado, ou de um a três anos caso isso não ocorra, mas resulte em lesão corporal grave.
A pena pode ser duplicada caso o ato seja praticado por "motivo egoísta" ou se a vítima for menor de idade ou tiver sua "capacidade de resistir diminuída".
A eutanásia é considerada um homicídio simples, por meio da combinação do artigo 121, que trata do ato de "matar alguém", e do artigo 29, que estende a culpabilidade e as penas aplicadas a um crime a "quem, de qualquer modo, concorre" para ele.
Desde 2006, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autoriza por meio de uma resolução que médicos interrompam o tratamento de um doente terminal, se este fosse o desejo do paciente, uma prática conhecida como ortotanásia.
A medida foi suspensa em 2007 por liminar da Justiça Federal emitida a pedido do Ministério Público Federal (MPF), para o qual tal prática só poderia ser autorizada por meio de lei.
No entanto, em 2010, a liminar foi anulada pela Justiça a pedido do próprio MPF após o órgão mudar de opinião quanto ao tema.

ESTATUTO DO DESARMAMENTO » Bancada da bala propõe liberar porte de armas nas ruas de todo o país. "Muita falta de bom senso! Deveriam considerar regras e costumes a determinadas realidades, considerando as consequências e assim poder fazer bons julgamentos com respeito a todas as formas de vida."

O deputado Laudivio apresenta seu relatório. / L. BERNARDO JUNIOR (AG. CÂMARA
A bancada da bala da Câmara está um passo mais perto de conseguir liberar o porte de armas para a população brasileira. Na quinta-feira o deputado Laudivio Carvalho (PMDB-MG), relator da comissão especial da Câmara que analisa um projeto de lei que acaba com o Estatuto do Desarmamento - que de acordo com estudossalvou mais de 160.000 vidas - apresentou seu parecer. Na prática, caso o documento do parlamentar seja aprovado, as pessoas poderão andar armadas pelas ruas, dentro de seus carros, em bares, restaurantes, escolas e supermercados. E o processo para conseguir os documentos que autorizam o porte será mais simples do que para tirar carteira de motorista.
Desde que o Estatuto do Desarmamento foi sancionado, o porte de armas é proibido para civis, e apenas categorias profissionais que trabalham com segurança pública ou defesa nacional (polícias, forças armadas e guardas) têm autorização para andarem armadas nas ruas. Atualmente, a posse de armas em residências é permitida apenas em situações excepcionais, ponto que o novo texto da comissão também altera, retirando entraves para a compra e manutenção dos artefatos de fogo - basta atender aos requisitos necessários para o porte, citados acima. Se aprovado o texto do relator, cada pessoa poderá ter até seis armas em casa.O texto elaborado prevê que qualquer pessoa possa solicitar o porte de armas de fogo permitidas, desde que atenda a algumas condições. É preciso ter mais de 21 anos, não ter nenhuma condenação por crime doloso, ser aprovado em um exame psicotécnico e fazer um curso com carga horária de 10 horas para se familiarizar com o manejo da arma. Para efeito de comparação, a obtenção da carteira nacional de habilitação depende da realização de um curso teórico com carga horária de 45 horas/aula, e mais 25 horas de aulas práticas. Segundo o texto, o porte de arma em locais públicos só será proibido onde "houver aglomeração de pessoas em virtude de eventos tais como espetáculos artísticos, comícios e reuniões em logradouros públicos, estádios desportivos e clubes".
Além de facilitar o porte para a população em geral, o texto de Laudivio garante que algumas categorias profissionais, como taxistas e caminhoneiros, poderão ter armas em seus veículos sem precisar solicitar o porte, apenas com os documentos de registro da arma – mais fáceis de se obter. O porte funcional, concedido a algumas categorias profissionais, também foi ampliado. Guardas de trânsito – os amarelinhos -, deputados, senadores, vereadores, oficiais de Justiça, fiscais do Ibama e fiscais do trabalho terão autorização para andar com arma à vista em qualquer local.
Bruno Langeani, coordenador do Instituto Sou da Paz, afirma que “o projeto vende a ilusão da legítima defesa”, mas que em uma sociedade que já é violenta, “as pessoas ao invés de sair no tapa, sairão no tiro”. Segundo ele, o texto de Laudivio é “um passo atrás, é voltar para o cada um por si, é desistir das instituições e apostar em soluções que não funcionam”. Ele traça um cenário sombrio caso o relatório seja aprovado. “A perspectiva, com base nas pesquisas, é de que aumente o número de homicídios e de latrocínios”, diz, citando estudos que apontam que em apenas 18% dos casos onde a pessoa armada reage a assaltos existe sucesso na reação. “É uma falsa esperança de que as pessoas vão colocar em pratica a auto defesa”, afirma.
“Relatório é um passo atrás, é voltar para o cada um por si, é desistir das instituições e apostar em soluções que não funcionam”
O texto de Laudivio deve ser votado na comissão especial na semana que vem, e depois segue para o plenário. A expectativa de grupos que atuam com controle de armas é de que o relatório do deputado seja aprovado sem dificuldades na comissão, integrada por vários parlamentares que receberam doações de companhias do setor de armas e membros da bancada da bala. O presidente da comissão, Marcos Montes (PSD-MG), que teve campanhas eleitorais financiadas por empresas de armamentos, declarou em junho que “95% dos integrantes da comissão querem reestudar a lei, compartilho a opinião de que é preciso adequá-la”.
No plenário da Câmara o relatório deve encontrar uma oposição mais ferrenha. Deputados contrários às alterações no Estatuto já se mobilizaram e criaram a Frente Parlamentar pelo Controle de Armas, pela Vida e Paz. Cerca de 230 parlamentares assinaram o documento, de um total de 513 deputados. Resta saber se a bancada da bala conseguirá arregimentar um número maior de deputados como foi feito na votação que reduziu a maioridade penal para crimes hediondos.
A reportagem tentou sem sucesso entrar em contato com o deputado Laudivio desde quinta-feira.
  • Enviar para LinkedIn0

Cerveró diz ao MP que contrato em Pasadena rendeu propina à campanha de Lula O ex-diretor da Petrobras revela, em proposta de delação premiada, como negociou pedágio de R$ 4 milhões com a Odebrecht para a campanha de Lula em 2006 THIAGO BRONZATTO COM ALANA RIZZO, RICARDO DELLA COLETTA E FILIPE COUTINHO 12/09/2015 - 00h03 - Atualizado 12/09/2015 00h11

(Versão reduzida da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana)
À mesa de um restaurante decorado com lustres de cristal, obras de arte contemporânea e castiçais dourados, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, três diretores da Petrobras e dois executivos do grupo Odebrecht almoçavam reservadamente às vésperas daseleições de 2006. Era um encontro de homens de negócios. Do lado da petroleira, estavam lá os diretores Nestor CerveróPaulo Roberto Costa e Renato Duque; do lado da maior construtora do país, Márcio Faria e Rogério Araújo. Os cinco não falavam apenas de negócios. Falavam também de política. Nos tempos de petrolão, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, falar de negócios na Petrobras exigia falar de política: contratos com a estatal, conforme demonstram as provas da Lava Jato, eram frequentemente fechados somente mediantepagamento de propina a políticos do PT, do PMDB e do PP, a depender da diretoria. Hoje, a maioria dos cinco comensais está presa em Curitiba, acusada de participação destacada no petrolão.

Nos idos de 2006, quando transcorreu o almoço, os cinco, seja por dentro, seja por fora, mandavam muito na Petrobras. Renato Duque, diretor de Serviços, era homem do PT. Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento, do PP. E Nestor Cerveró, diretor internacional, do PT e do PMDB. Naquele almoço, Cerveró era o homem de negócios mais importante. Discutiam-se as obras para modernizar a refinaria dePasadena, no Texas, Estados Unidos, cuja metade das ações fora comprada pela Petrobras meses antes. No jargão do mundo do petróleo, essas obras são conhecidas como “revamp”.

E que revamp. No almoço, estimou-­se que ele custaria até R$ 4 bilhões. A refinaria de Pasadena, cuja operação de compra era conhecida dentro da Petrobras pelo codinome projeto Mangueira, não tinha o apelido de “ruivinha” fortuitamente. Era um novelo de dutos enferrujados, de aparência avermelhada provocada pela oxidação dos metais. Se a Petrobras fizera um péssimo negócio ao comprar Pasadena, como veio a se confirmar nos anos seguintes, a Odebrecht estava prestes a faturar mais um formidável contrato. Decidia-se ali, no restaurante na Praia do Flamengo, que a construtora ganharia o contrato de R$ 4 bilhões. Em troca, os executivos da Odebrecht se comprometiam a pagar propina adiantada de R$ 4 milhões à campanha à reeleição de Lula – o mesmo Lula que, conforme revelou ÉPOCA em seu site na sexta-feira, dia 11, passou a ser considerado pela Polícia Federal oficialmentesuspeito no petrolão. O mensalão nem esfriara, e o PT, liderando o consórcio de partidos, já encontrava no petrolão um substituto mais lucrativo para os negócios da alta política brasileira. 
>> EXCLUSIVO: Lula é suspeito de ter se beneficiado do petrolão, diz PF

A reunião no Rio e o acerto dos R$ 4 milhões foram revelados oficialmente à força-tarefa da Lava Jato pelo protagonista dessa operação: Nestor Cerveró. As informações estão registradas na mais recente proposta de delação premiada de Cerveró, em posse dos procuradores da Lava Jato e obtida por ÉPOCA. Trata-se de relatos pormenorizados de Cerveró sobre os negócios corruptos que tocaram primeiro na Diretoria Internacional da Petrobras, sob ordens do PT e do PMDB, e, a partir de 2008, na Diretoria Financeira da BR Distribuidora, sob ordens do PT e do senador Fernando Collor, do PTB(leia os resumos dos relatos abaixo). Neles, Cerveró afirma que a compra de Pasadena rendeu US$ 15 milhões em propina. E envolve no esquema a área internacional, além de outros funcionários da Petrobras, senadores como Delcídio Amaral, do PT, líder do governo no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros, e Jader Barbalho, ambos do PMDB.

Para enviar os relatos aos procuradores, Cerveró trabalhou durante quatro dias. Reuniu histórias, resgatou datas de reuniões e valores das operações registradas em documentos e anotações que guarda em sua cela. Para corroborar as acusações, a família de Cerveró pretende recorrer a uma pilha de agendas de suas viagens e reuniões realizadas entre 2003 e 2008, período em que ocupou o cargo de diretor internacional da petroleira. Esses documentos estão guardados num cofre, à espera de uma resposta positiva dos procuradores da Lava Jato. “Do jeito que Cerveró está desesperado, ele entrega até a própria mulher”, diz um agente da Polícia Federal em Curitiba que tem contato com Cerveró.

Condenado a 17 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, preso há dez meses, Cerveró tenta a delação desde julho. É uma negociação difícil e lenta. Envolve os procuradores da força-tarefa em Curitiba e da equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Como Cerveró pode entregar políticos com foro no Supremo Tribunal Federal, caso de Delcídio, Renan e Jader, as duas frentes de investigação – Curitiba e Brasília – precisam se convencer da conveniência da delação do ex-diretor. Há hesitação em ambas. Apesar dos relatos agora revelados por ÉPOCA, os procuradores esperam – exigem – mais de Cerveró. “Ele(Cerveró) continua oferecendo muito pouco perto da gravidade dos crimes que cometeu”, diz um dos investigadores de Curitiba. “A delação de Cerveró, para valer a pena, precisa de tempo. Ele ainda promete menos do que sabe”, afirma um procurador da equipe de Janot.

A situação de Cerveró ficou ainda mais difícil depois de a PGR fechar, na semana passada, o esperado acordo de delação com o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, operador das bancadas do PMDB no Senado e, em menor grau, na Câmara. O operador do PMDB, condenado a 15 anos de prisão, deve entregar as contas que foram irrigadas com pixulecos de Pasadena e das sondas contratadas pela área internacional da Petrobras, sob a responsabilidade de Cerveró. Eles atuavam juntos. Segundo Cerveró relatou aos procuradores, Baiano representou a bancada do PMDB no Senado no reparte da propina na Diretoria Internacional da Petrobras – e o dinheiro, ao menos US$ 2 milhões, foi parar nas mãos de Renan e de Jader Barbalho em 2006. Baiano já admitiu aos procuradores que intermediou propina para os senadores do PMDBem contratos na área internacional – a área do parceiro Cerveró. A delação de Baiano, que prometeu entregar comprovantes bancários das propinas, exigirá ainda mais de Cerveró. Ele fechará a delação somente se falar muito.

Nos relatos aos procuradores, porém, Cerveró já indicou o caminho da propina ao PMDB. Segundo ele, o dinheiro foi repassado a Baiano, que, por sua vez, intermediou pagamentos a outro lobista ligado ao PMDB. Esse lobista, de acordo com Cerveró, Baiano e um operador do PMDB, ouvido por ÉPOCA, repassou a propina a Renan e a Jader. Surpresa: esse lobista, cujo nome ainda não pode ser revelado por razões de segurança, também passou a negociar uma delação com os procuradores. A questão na Lava Jato parece ser: quem sobrará para fazer delação?
Capa edição 901 - A propina de Pasadena (Foto: Revista ÉPOCA/Divulgação)
Outro lado

O senador Jader Barbalho nega que tenha recebido propinas de contratos para a Petrobras. “Nunca nem ouvi falar (sobre os navios-sondas)”, diz ele. O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, afirma que jamais fez reunião com diretores da Petrobras junto com o empresário Ricardo Pessôa, da UTC, e nega que recebeu propinasda Petrobras. 

Odebrecht diz que “de fato foi consultada, formalmente e não em nenhum tipo de evento social, sobre a possibilidade de formar consórcio com outras construtoras brasileiras para disputar contrato para eventual modernização da refinaria de Pasadena”. ‎A companhia diz que tais obras, porém, nunca foram realizadas. “Tal convite, por parte da Petrobras, não tem qualquer relação com doações eleitorais que a empresa faz”, diz a nota. A companhia ainda esclarece que o contrato assinado em 2010 sofreu alteração no valor “em função única e exclusivamente da alienação, por parte da Petrobras”. A empresa diz que todos os questionamentos feitos sobre esse acordo foram esclarecidos. Também procurado por ÉPOCA, Lula não retornou as ligações.
2006 - A parceria entre Lula e a Odebrecht (Foto: Marcos Brindicci/Reuters)
2007 - O cachê  do pmdb pelo cargo de diretor (Foto: Arquivo/correio do Estado)
2009 - A fatia de Collor na Petrobras (Foto: AP)

Dono da UTC diz que começou a pagar propina ao PT em 2004 O Jornal Nacional teve acesso com exclusividade a uma parte do depoimento de delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa.

O Jornal Nacional teve acesso com exclusividade a uma parte do depoimento de delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa.
Ricardo Pessoa prestou depoimentos da delação premiada durante vários meses, em Brasília. O documento ao qual o Jornal Nacional teve acesso é de maio. Nele, Pessoa afirmou que começou a pagar propina ao PT em 2004. E que só em 2008 funcionários da Petrobras passaram também a cobrar valores.
Em outros depoimentos ele já tinha dito que pagava propina ao ex-diretor Renato Duque a ao ex-gerente Pedro Barusco.
Em maio, Ricardo Pessoa disse que quem indicou Renato Duque para a diretoria da Petrobras foi o ex-ministro José Dirceu. E que Duque era funcionário de carreira e foi pulando cargos até chegar à Diretoria de Serviços.
Sobre os pagamentos ao PT, Pessoa afirmou que deixava algum saldo de propina para perto da campanha porque já sabia que nessa época cresciam sempre as solicitações por parte do PT.
Pessoa disse ainda que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto já ia conversar sobre os pagamentos com o conhecimento completo da situação, tendo detalhes da obra, do valor e tendo conhecimento que a UTC havia vencido o contrato.
E que, às vezes, Vaccari pedia dinheiro em espécie por fora. Mas não soube dizer os motivos. No depoimento, Pessoa disse ainda que Vaccari era “PT na testa, sindicalista, um soldado do partido que queria manter o PT no poder”.

No depoimento a que o Jornal Nacional teve acesso, o dono da UTC fez um balanço da propina paga ao Partido dos Trabalhadores de 2004 até o ano passado. Ele disse na delação que nesses dez anos pagou entre doações oficiais e entregas de dinheiro vivo mais de R$ 20,5 milhões.
A defesa de José Dirceu reafirmou que ele não foi responsável pela indicação de Renato Duque à diretoria da Petrobras. A defesa disse ainda que isso já foi dito publicamente pelo próprio Duque.
O PT reafirmou que todas as doações foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral.
A defesa de João Vaccari Neto disse que as afirmações de Ricardo Pessoa não são verdadeiras. E reafirmou que João Vaccari jamais recebeu ou pediu dinheiro vindo de propina. A defesa disse que todas as solicitações de doações ao partido feitas por Vaccari foram legais, com depósitos na conta bancária do PT e declaradas às autoridades.
Pedro Barusco tem dito que confirma todas as declarações da delação premiada.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com o advogado de Renato Duque.

Cão é resgatado por soldados após inundação de rio no Japão Enchentes foram causadas pelo tufão Etau. Equipes de resgate trabalham para socorrer sobreviventes.

Cão é resgatado por soldados após inundação de rio no Japão (Foto: REUTERS/Issei Kato)Cão é resgatado por soldados após inundação de rio no Japão (Foto: REUTERS/Issei Kato)
Um cão de estimação foi resgatado de barco por soldados do primeiro regimento de infantaria de auto-defesa japonês, em uma área residencial inundada pelo rio Kinugawa, em Joso, Ibaraki,Japão, neste sábado (12). A enchente foi causada pelo tufão Etau.
As chuvas provocaram a cheia de outro rio nesta sexta e uma cidade mais ao norte também ficou inundada.Equipes de resgate trabalham para socorrer centenas de pessoas bloqueadas na cidade japonesa de Joso após a cheia do rio, provocada pelas chuvas torrenciais da semana, que deixaram pelo menos três mortos e 26 desaparecidos.
As autoridades mobilizaram quase 5.800 soldados, policiais e bombeiros nas áreas inundadas. Em Joso, os helicópteros dos bombeiros, da polícia, do exército e dos canais de televisão sobrevoavam o rio Kinugawa, que registrou uma intensa cheia na quinta-feira e inundou parte da cidade de 65.000 habitantes, que fica 60 km ao norte de Tóquio.
O alerta de nível máximo segue em vigor nas regiões, que foram muito afetadas pelo tsunami de 11 de março de 2011. O tufão Etau, que atingiu o Japão na quarta-feira, se deslocou para o Mar do Japão, mas as chuvas intensas persistem no arquipélago.
Cão é resgatado por soldados após inundação de rio no Japão (Foto: REUTERS/Issei Kato)Cão é resgatado por soldados após inundação de rio no Japão (Foto: REUTERS/Issei Kato)

França suspende consulesa honorária na Turquia que vendia botes a migrantes

PARIS (Reuters) - O governo francês suspendeu a sua consulesa honorária na cidade costeira de Bodrum, na Turquia, depois que ela foi gravada por uma câmera dizendo que a loja que ela dirige vendia botes infláveis usados por potenciais migrantes.
As imagens da TV France 2 de uma câmera escondida foram ao ar na sexta-feira, mostram a mulher, com o rosto borrado, reconhecendo que vender os botes era o mesmo que a consulesa honorária da França ajudar a alimentar o tráfico de pessoas.
"(O ministro das Relações Exteriores) Laurent Fabius ordenou que a consulesa honorária de Bodrum seja suspensa em razão da gravidade das atividades que foram atribuídas a ela", disse o porta-voz do ministério Romain Nadal, em sua conta no Twitter.
Cônsules honorários da França são autorizados a ter um emprego remunerado além de representar o país em cidades secundárias como voluntários, de acordo com o ministério.
"Se pararmos de vender (os botes), a loja ao lado vai, a seguinte irá. Não vai mudar nada", disse ela, acrescentando que as autoridades locais e o capitão do porto estavam ajudando tráfico de pessoas, deixando-a acontecer. "Estamos em falta."
(Reportagem de Chine Labbe)