quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Rainha bate recorde de reinado mais longo; veja 16 curiosidades Luiza Bandeira Da BBC Brasil em Londres

Ela já era a monarca mais velha na história do Reino Unido. A partir de hoje, será também a que reinou por mais tempo: após 63 anos e 216 dias no trono, a rainha Elizabeth 2ª desbancará sua tataravó, rainha Vitória, até então detentora do recorde.
A BBC mostra aqui 16 curiosidade sobre a vida e o reinado dela.

1. A rainha tem dois aniversários

A rainha Elizabeth 2ª comemora dois aniversários: o dia 21 de abril, sua data de nascimento, e a comemoração oficial, em um sábado de junho, quando há mais chances de o tempo britânico - famoso pelos dias chuvosos - estar melhor.
Ela normalmente passa o aniversário de verdade de forma privada, mas a ocasião é marcada por salvas de tiros em diversos locais de Londres.
No aniversário oficial, a rainha e outros membros da família real acompanham uma parada de regimentos das Forças Armadas do país conhecida como "Trooping the Colour".
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Image captionAniversário é comemorado publicamente em junho
Em 1955, não houve festa: uma greve de trens nacional forçou o cancelamento.
A tradição das duas celebrações de aniversário vem de antes. O rei Eduardo 7º, por exemplo, nasceu em 9 de novembro, mas comemorava em maio ou junho.

2. Ela é dona de todas as baleias, golfinhos e cisnes do Reino Unido

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Image captionGolfinhos e baleias são considerados "peixes reais"
Oficialmente, a rainha é dona de todos os golfinhos e baleias em água no entorno do Reino Unido. A regra data do ano de 1324, durante o reinado de Eduardo 2º. Os animais são reconhecidos como "peixes reais" e, quando capturados ou levados para a costa, vivos ou mortos, podem ser reivindicados pela Coroa.
Ela também é dona dos cisnes do país: em 2005, reivindicou posse sob 88 cisnes bebês do rio Tâmisa.

3. Recorde de popularidade

A satisfação com a rainha atingiu seu recorde em 2012, após o nascimento do príncipe George.
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Image captionNascimento de bebê real aumentou popularidade da monarquia
Em pesquisa realizada pelo instituto Ipsos Mori, 90% dos entrevistados afirmaram que estavam satisfeitos com a atuação da rainha.
O apoio à monarquia também está em alta: em 2013, 77% dos britânicos se disseram a favor da manutenção da monarquia. Apenas 17% prefeririam a república.

4. A rainha mandou seu primeiro e-mail em 1976

Muitos antes da internet se tornar popular, em 1976, a rainha enviou seu primeiro e-mail, de um computador em uma base do Exército Britânico.
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Image caption"É um prazer abrir essa mostra", disse rainha no 1º tuíte
A inclusão digital não parou por aí: em 1997, ela lançou o primeiro site oficial do Palácio de Buckingham e, no ano passado, tuitou pela primeira vez em uma mostra no Museu de Ciência, em Londres.

5. Gastos (e ganhos) milionários

A família real é financiada por verbas públicas. Neste ano, eles receberão 40 milhões de libras, o equivalente a cerca de R$ 234 milhões.
É difícil estimar o quanto eles trazem de receita para o país.
Em 2010, uma pesquisa da agência Visit Britain afirmou que a família real gerava 500 milhões de libras (ou cerca de R$ 2,9 bi) com turismo - e os brasileiros, assim como russos e malaios, estavam entre os que mais visitavam atrações reais como o Palácio de Buckingham ou a Torre de Londres.
O nascimento da princesa Charlotte no início do ano, por exemplo, foi um dos fatores que colaboraram na previsão de um recorde de 32 milhões de turistas visitando Londres neste ano.

6. A rainha ganhou duas preguiças de presente quando visitou o Brasil

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Image captionPreguiças que rainha ganhou no Brasil foram para zoo de Londres
Em uma visita oficial de dez dias ao Brasil em 1968, a rainha recebeu duas onças - Aizita e Marquesa de Guará - e duas preguiças de presente, que foram levadas para o zoológico de Londres. Ela também já ganhou dois castores negros do Canadá e diversos outros animais, que costumam ser levados para o Reino Unido ou para zoos dos países de origem.
Ela também já ganhou abacaxis, ovos, caracóis, caranguejo e até um pomar de bordos (árvore da bandeira do Canadá).

7. A rainha inaugurou o Masp e descerrou a placa da obra da ponte Rio-Niterói

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Image captionPlaca de obras Ponte Rio-Niterói foi inaugurada por Elizabeth 2ª
Na visita oficial ao Brasil, em 1968, a rainha descerrou a placa de inauguração do Masp e fez um pequeno discurso em inglês. Ela passou cerca de 30 minutos no local e se surpreendeu com um quadro pintado pela ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill.
No Rio, ela esteve no Caju para inaugurar uma placa que marcava o início das obras da Ponte Rio-Niterói - feita, em parte, com recursos ingleses.

8. Reina, mas não governa

Ao contrário da tataravó Vitória, a rainha Elizabeth é chefe de Estado, mas não chefe de governo.
Isso significa que ela não tem um papel político ou executivo como o dos presidentes do Brasil - que ocupam, ao mesmo tempo, as funções de chefe de Estado e de governo.
No Reino Unido, a função de chefe de governo fica com o primeiro-ministro. A rainha tem um papel mais institucional e representa o país no exterior e em recepções.
Mas ela também tem o poder de dissolver o Parlamento e de nomear o primeiro-ministro - indicado pelo Parlamento.
A rainha também é, oficialmente, líder das Forças Armadas e da Igreja Anglicana.

9. Ela não é rainha só no Reino Unido

Além de monarca do Reino Unido, é soberana em 15 países da Commonwealth - entre eles Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Jamaica.
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Image captionMonarca durante cerimônia na Nova Zelândia
Ela também é a líder do Commonwealth, a Comunidade Britânica, grupo que reúne 53 países, a maioria ex-colônias britânicas.

10. Teve vários cães

A rainha teve mais de 30 cães da raça corgi durante seu reinado. A primeira cadela da raça que ela teve foi Susan, que ganhou ao completar 18 anos, em 1944. Grande parte dos outros cães eram descendentes de Susan.
Ela também introduziu um novo cruzamento conhecido como "dorgi", quando seus corgi cruzaram com um dachshund da princesa Margaret.
Elizabeth 2ª também teve labradores e cocker spaniels.

11. Visitas históricas

Em 1982, a rainha recebeu o papa João Paulo 2º em uma visita histórica: foi a primeira vez que um papa visitou o Reino Unido em 450 anos. A rainha, chefe da Igreja Anglicana, recebeu o pontífice no palácio de Buckingham.
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Image captionJoão Paulo 2º foi primeiro papa a ir no Reino Unido em 450 anos
Entre outros compromissos históricos, foi o primeiro monarca em visita de Estado durante seu reino à China, em 1986; ela recebeu a primeira mulher primeira-ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher, no Palácio de Buckingham, em 1979; fez a primeira visita à Alemanha em 52 anos, em 1965; e, nos anos 1990, visitou vários países do leste europeu, como Hungria, Rússia, Polônia e República Checa.

12. A rainha já mandou mais de 110 mil telegramas a centenários

A rainha envia telegramas de parabéns a cidadãos do Reino Unido e do Commonwealth que completam cem anos. Em seu reinado, já foram mais de 110 mil telegramas.
Quando ela assumiu o trono, em 1952, menos de 3 mil mensagens de parabéns foram enviadas. Em 2011, porém, foram 9.736 - e mais funcionários tiveram que ser contratados só para enviar as cartas.
Ela também mandou mais de 520 mil telegramas para casais celebrando bodas de diamante (60 anos de casados).

13. Mensagem na lua

A rainha mandou mensagem de parabéns a astronautas do Apollo 11 pelo primeiro pouso na Lua, em 1969. A mensagem foi microfilmada e depositada na Lua em um contêiner de metal.
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Image captionMensagem da rainha foi parar na Lua
Ela também recebeu astronautas no palácio: o primeiro astronauta a ir ao espaço, o russo Yuri Gagarin; a primeira mulher a ir para o espaço, Valentina Tereschkova, e o primeiro homem a pisar na Lua, Neil Armstrong.

14. Um estranho no quarto da rainha

Em 1982, um homem invadiu o Palácio de Buckingham e entrou no quarto da rainha, onde ficou por cerca de dez minutos conversando com a monarca até a chegada da segurança.
A rainha só conseguiu chamar os guardas quando o invasor, Michael Fagan, pediu um cigarro a ela.
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Image captionPalácio já teve diversas falhas de segurança
Não foi a primeira falha de segurança no palácio: um ano antes, três turistas alemães acamparam do lado de fora do palácio achando que estavam no Hyde Park.

15. Guerra levou à mudança de nome da família

A rainha Elizabeth 2ª é descendente da Casa dos Saxe-Coburg and Gotha, dinastia que mudou o nome para Casa de Windsor durante a Primeira Guerra Mundial.
O nome de origem alemã foi descartado como resultado de um sentimento antigermânico surgido durante a guerra.
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Image captionEm 1957, após o primeiro discurso de Natal televisionado para a nação
Em 1917, o rei George 5º, avô da rainha, mudou o nome da família para Windsor.

16. Seu reinado durou muito mais do que o governo da maioria dos líderes mundiais...

Liberar porte de drogas sem diferenciar traficante e usuário pode gerar injustiça, diz ativista Thiago Guimarães Da BBC Brasil em Londres

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Image captionPlenário do STF em julgamento sobre porte de drogas para consumo pessoal, em 20 de agosto; sessão é retomada nesta quarta-feira
O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma nesta quarta-feira o julgamento sobre a posse de drogas para uso pessoal. Em pauta, o artigo 28 da Lei Antidrogas, de 2006, que define como crime adquirir, guardar ou portar drogas para si.
Embora a lei tenha abrandado as punições para a posse, quem é flagrado com drogas para consumo pessoal ainda está sujeito a penas alternativas, como prestação de serviços comunitários. E fica sujeito ao crivo de autoridades policiais e judiciárias, que acabam fixando a diferença entre usuário e traficante, pois a lei é omissa nesse sentido.
Em meio a especulações sobre a opinião dos ministros - o relator do caso, Gilmar Mendes, votou pela descriminalização antes de o julgamento ser suspenso -, um ativista pró-descriminalização dá uma opinião que foge do senso comum: mesmo uma liberação pode ter consequências negativas.
Para o jornalista e documentarista Tarso Araújo, os desdobramentos do julgamento dependerão, sobretudo, dos critérios de distinção entre usuário e traficante a serem estabelecidos pelo STF.
De passagem por Londres, o autor de Almanaque das Drogas (Editora Leya, 2012) e diretor do filme Ilegal (2014), sobre a luta de mães no Brasil pela legalização de remédios derivados da maconha, conversou com a BBC Brasil sobre os possíveis cenários após o julgamento no STF e aspectos da política de drogas no Brasil e no mundo.
BBC Brasil - Quais serão os impactos jurídicos e sociais de uma eventual decisão do STF pela descriminalização do porte de drogas para uso pessoal?
Tarso Araújo - Não acho que devamos esperar um súbito aumento do consumo, porque a experiência de outros países que já adotaram essa medida, como Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, República Tcheca, entre outros, mostra que não há um efeito significativo sobre o uso.
Podemos esperar mais usuários "saindo do armário", pois o estigma sobre o uso se reduz.
Juridicamente, pode haver um número alto de pedidos de revisões de casos, porque a maioria das pessoas presas nos últimos anos por crimes de drogas foram detidas com pequenas quantidades, mas enquadradas como traficantes.
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Image captionAtivistas pró-legalização da maconha em marcha no Rio de Janeiro em maio de 2015; descriminalização do porte de drogas para uso pessoal é outra demanda do movimento
Essas consequências podem mudar dependendo de como a descriminalização for implementada. Descriminalizar por si só não quer dizer muita coisa. É preciso ver o que o STF usará como critério para distinguir usuário de traficante. (Não há, contudo, garantia de que o STF apontará, no julgamento, os critérios de distinção entre usuários e traficantes. Alguns ministros já afirmaram que haverá dificuldades para fixar parâmetros objetivos e defenderam que isso continue sendo analisado caso a caso por juízes).
Por exemplo: se será a quantidade (de drogas que porta quando flagrado), se estabelecerão penas, ainda que alternativas - podem inclusive manter punições vigentes hoje, o que continuará submetendo o usuário a uma espécie de prisão.
Outro ponto muito importante é o que irão definir sobre quem decidirá, afinal, a distinção entre usuário e traficante. Dependendo da combinação desses fatores, podemos ter resultados positivos e até negativos para a sociedade.
Um exemplo: em 2006, a lei de drogas brasileira mudou para tirar a prisão da relação de penas previstas para o usuário. A ideia era reduzir o número de pessoas que entravam no sistema carcerário, mas o que aconteceu foi: na dúvida, o policial trata os usuários como traficantes, e na dúvida, promotor e juiz acatam essa determinação. E houve uma escalada no número de presos por crimes de drogas no Brasil.
BBC Brasil - E qual será o cenário caso a descriminalização não passe?
Araújo - Iremos continuar sobrecarregando a polícia e o Judiciário com casos de drogas de pequena importância. E continuaremos a sobrecarregar o sistema penitenciário - hoje, por exemplo, mais de 60% das mulheres presas no Brasil são detidas por crimes de drogas, em geral pequenas quantidades que levavam para dentro da cadeia.
Se a lei não mudar ou se a mudança não for bem implementada, continuaremos tratando como criminosos pessoas que precisam, no máximo, em caso de dependência, de ajuda.
Vamos continuar cometendo um erro que até os EUA estão percebendo que precisa ser revertido, e eles são nossa grande referência em política de drogas.
BBC Brasil - O debate sobre a questão no STF está sendo uma boa oportunidade para o país discutir o assunto ou estamos vendo apenas cada grupo em sua trincheira defendendo sua posição, sem abertura para mudanças de opinião?
Araújo - O nível do debate foi muito superficial. O tempo foi curto, e na verdade só começou depois que a votação começou no STF. E o lado contra a descriminalização só começou a se manifestar de fato após o início da análise da questão.
E nessas últimas semanas o que vimos de argumentos do grupo contrário foi o mesmo de sempre: argumentos equivocados, baseados em informações falsas e superficiais, como a ideia de que o consumo irá aumentar com essa medida.
BBC Brasil - Você esteve recentemente no Colorado, Estado americano que regulamentou o comércio de maconha. Quais são os resultados dessa medida após um ano de vigência, não há uma explosão perigosa da indústria?
Araújo - O Colorado aumentou muito a arrecadação com taxas e impostos e economizou com a polícia, que passou a se dedicar a crimes de maior relevância. A indústria da maconha está crescendo, mas até agora tem sido positivo, pois tem gerado arrecadação e empregos. E há um controle de qualidade maior sobre o que os usuários estão usando.
O turismo da maconha aumentou, mas ainda é principalmente interestadual e pequeno, sobretudo porque no Colorado não há clubes, você não pode fumar na rua. O consumo aumentou pouco entre adultos e chegou a diminuir entre menores de idade. Mas um ano não é suficiente para avaliar o impacto de uma política como essa.
Image copyrightBBC World Service
Image captionLoja de comércio de maconha no Colorado, nos EUA; Estado foi a primeira jurisdição no mundo a regulamentar venda
BBC Brasil - Você esteve à frente de uma campanha informativa sobre maconha medicinal que acabou levando o governo a autorizar a importação do CBD (canabidiol, um composto da maconha) para uso médico. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) começou a liberar pedidos de importação, mas há pouco informou que só liberará para casos de epilepsia. Como avaliou a campanha em geral e esse novo posicionamento da Anvisa?
Araújo - Acho que a campanha foi um grande avanço. No início de 2014 o público em geral sequer sabia que a maconha poderia ser usada com fins terapêuticos, e hoje a população não apenas sabe como também está a favor da regulamentação desse uso.
Infelizmente as autoridades brasileiras não compreenderam a importância dessa regulamentação.
Parece que criaram um conjunto de regras para calar a boca das pessoas que demandavam tratamento, mais especificamente das mães de crianças que precisam de tratamento. Porque nenhuma das regulamentações, nem do CFM (Conselho Federal de Medicina) nem da Anvisa, atende a demanda da maioria dos pacientes que podem se beneficiar do uso terapêutico da maconha, que são aqueles que dependem de THC (princípio ativo da maconha) para dores crônicas, esclerose múltipla.
E não chegaram nem perto de entender que a própria erva pode ser usada com sucesso em muitos casos. Esse recuo da Anvisa só confirma essa impressão.
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Image captionImagem do documentário "Ilegal" (2014), de Tarso Araújo e Raphael Ericksen, que impulsionou a luta de famílias pela importação de compostos medicinais derivados da maconha
BBC Brasil - Fala-se muito na existência de uma "epidemia de crack" no Brasil. Você concorda com essa avaliação?
Araújo - O maior estudo sobre o consumo de crack feito no Brasil diz que temos cerca de 370 mil usuários nas capitais, o que corresponde a 0,8% da população dessas cidades. É claro que se trata de um problema. Mas o levantamento sobre padrões de consumo de álcool na população brasileira feito pela Secretaria Nacional de Drogas em 2007 mostrava que a dependência de álcool atinge 9% da população adulta brasileira.
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Image captionTarso Araújo: 'Falar em epidemia de crack cria pânico social e estigma sobre usuário'
São milhões e milhões de pessoas, e ninguém fala em epidemia de álcool. Ou seja, o consumo de álcool representa um problema de saúde pública muito importante, sobre o qual nem a mídia nem o governo dão importância. Falar em crack virou uma forma de vender jornais e de ganhar votos, mas cria um ambiente exagerado de pânico social que desvia nossa atenção do consumo problemático de álcool, que certamente é o nosso principal problema de drogas no país.
É uma contradição em termos de política pública. O fato de a venda de álcool ser lícita não diminui de modo algum o custo social dessa droga, que também produz muito dano aos usuários crônicos. Fala-se muito em cirrose, mas o álcool é um dos principais fatores de risco para doenças mentais, câncer e doenças cardiovasculares, sem falar nos acidentes e na violência que ele costuma provocar.
O termo epidemia também cria um estigma sobre os usuários, dando a ideia que devem ser isolados, quando na verdade são pessoas muito vulneráveis que precisam é de proximidade das pessoas e dos serviços de saúde.

Brasil tem IR menor que o da OCDE, mas carga tributária total maior Levy comparou Brasil com outros países dizer que governo estuda IR maior. Carga tributária alcançou 35,9% do PIB, ante média de 34,1% na OCDE.


Os brasileiros pagam menos imposto sobre  renda que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Enquanto aqui a alíquota máxima é de 27,5%, nos 30 países que fazem parte da organização – a maioria considerados desenvolvidos – a média é de 41,58%. Levantamento da consultoria KPMG mostra que o país cobra também menos que a média da América Latina (31,87%), União Europeia (33,78%) e América do Norte (34,3%).
Esses dados foram usados na quinta-feira (8) pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para sugerir que uma elevação na cobrança do Imposto de Renda brasileiro "pode ser um caminho" para ajudar a equilibrar o orçamento do governo.
PESO DOS IMPOSTOS
IR em % da renda; carga em % do PIB
27,541,5835,9534,1Brasil IROCDE IRBrasil carga tributáriaOCDE carga tributária01020304050
Fontes: Receita Federal e OCDE
Mas a carga tributária no país – a soma de todos os impostos pagos pelos cidadãos e empresas em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB) – segue há anos acima da média da OCDE e de diversos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Isso porque o  Brasil tem uma carga maior de impostos indiretos, ou seja, embutidos nos produtos ou serviços.
Segundo os dados da Receita Federal, de toda a riqueza produzida no Brasil, 35,95% foram pagos em impostos em 2013 (último dado divulgado), um novo recorde. No mesmo ano, a carga tributária média nos países da OCDE foi de 34,1% do PIB.
O percentual de impostos pagos pelos brasileiros sobre o total da economia supera o que é pago por países como Estados Unidos (25,4%), Reino Unido (32,9%), Japão (24,3%), Turquia (29,3%), Canadá (30,6%) e Chile (29,3%). A carga tributária do Brasil perde apenas para a de países altamente desenvolvidos e que oferecem serviços públicos de elevada qualidade como Suécia (42,8%), Finlândia (44%), Bélgica (44%), França (45%) e Dinamarca (48,6%). Veja comparativo entre países da OCDE
Reforma tributária
Especialistas em tributação ouvidos pelo G1 criticaram a proposta de um aumento do imposto de renda desatrelada de uma discussão sobre todo o sistema tributário brasileiro.
“Há alíquotas maiores de imposto de renda em outros países. Ocorre que lá fora a possibilidade de deduções é bem maior. Então, não dá para fazer uma comparação só em termos de alíquotas. Falar só em aumentar o imposto de renda sem haver uma reestruturação dele não irá trazer justiça tributária”, diz o advogado tributarista Gilberto Luiz do Amaral, presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
“Nos posicionamos contra qualquer tipo de aumento de tributo sem que haja uma revisão completa do sistema tributário brasileiro, uma vez que ao longo dos anos a carga tributária vem subindo e atingindo recordes”, acrescenta.
O tributarista diz ainda que não é possível comparar somente as cargas tributárias dos países sem analisar também a qualidade dos serviços públicos oferecidos. Há 5 anos, o Brasil aparece naúltima colocação do ranking feito pelo IBPT que mede o retorno oferecido à população em relação ao que o contribuinte paga em impostos nos 30 países com as maiores cargas de tributos.
Para José Roberto Rodrigues Afonso, pesquisador do do IBRE/FGV e professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), uma mudança no IR só faria sentido dentro de uma reforma tributária mais ampla.
“Quem seriam os candidatos a suportar mais carga tributária: pessoas físicas ou jurídicas?”, questiona o economista. “Em tese, teria que mexer no imposto de renda das empresas e dos indivíduos de forma consistente e conjunta. Não é uma empreitada fácil e nem para curto prazo”, destaca.
Ele observa ainda que, se por um lado, as alíquotas de IR para pessoa física não estão entre as mais altas, no sentido inverso, as alíquotas para pessoa jurídica estão entre as mais altas do mundo.
“Ao contrário do resto do mundo, uma parcela crescente e já importante de trabalhadores no Brasil não é mais pessoa física, não tem emprego com carteira assinada”, afirma, citando os casos de microempresas e dos microempreendedores individuais. “Se aumentar a alíquota do IRPF vai empurrar os que ainda seguem como celetista para se transformarem em empresas individuais. Só vai sobrar na alíquota mais alta os servidores públicos e os funcionários de empresas estatais, pois só no setor público não se pode fazer essa migração”, alerta.
Empresários e agentes do mercado financeiro têm defendido uma maior redução dos gastos do governo no lugar da elevação da arrecadação como instrumento de controle das contas públicas.
“O ajuste fiscal tem que ser baseado na redução do gasto e redução do tamanho do estado, e não em aumento de imposto. A carga tributária do Brasil é maior do que a média da OCDE e a segunda maior da América Latina”, afirma Gesner Oliveira, sócio da consultoria GO Associados, que defende inclusive o lançamento de privatizações. “Não precisa ser nada selvagem. Vende alguns ativos, abate a dívida, reduz o gasto com juros e isso irá permitir melhorar o superávit”, sugere.