Geddel diz à Justiça ter sido jogado “em vale dos leprosos” por “amigos de longa data” Mas, e o dinheiro nas malas Geddel, já conseguiu provar que os R$ 51 milhões encontrados no apartamento são lícitos?
Abre o bico
Geddel. Agora ele se diz abandonado, mas todos sabem quais são seus amigos de longa a data, a começar pelo Michel Temer
Por Aguiasemrumo: Romulo Sanches de Oliveira
Os irmãos Geddel
Os irmãos Geddel são três: Geddel, Lúcio e Afrísio.
Intriga-me o esquecimento de Afrísio nas notícias sobre a família. Fala-se até
da mãe, do pai falecido, mas não do terceiro irmão. Pois bem: Afrísio Vieira
Lima Filho é diretor legislativo da Câmara.
Geddel Vieira Lima virou um astro pop às avessas. Sintetiza
como poucos essa geddelização da política brasileira. Com seu olhar meio
assustado. É um corrupto que dá para imaginar no churrasco mais próximo,
quebrando um copo, gargalhando.
Lúcio Vieira Lima, o Bitelo da Odebrecht, opera como
deputado. Condenado a ser o "irmão do Geddel". Esse está enrolado nas
investigações sobre o apartamento dos R$ 51 milhões em Salvador. É uma versão
menos espalhafatosa de Geddel.
E Afrísio?
Afrísio passa batido. Como se não fosse um Afrísio, um
Lúcio, um Geddel. Os três, no entanto, dividem as propriedades rurais da
família. Atuam juntos como pecuaristas e produtores de cacau. Só que ele é
blindado. Por quê?
Afrísio também é um homem público. Repito: é diretor
legislativo da Câmara. Isso significa... poder. Significa que sabe de muita
coisa. Significa que os corredores do Congresso são conhecidos palmo a palmo
pela família Vieira Lima.
Afrísio é tesoureiro da Fundação Ulysses Guimarães.
Presidida por quem? Moreira Franco (PMDB-RJ). Vice-presidida por quem? Eliseu
Padilha (PMDB), ministro-chefe da Casa Civil. Um dos diretores chama-se Romero
Jucá (PMDB-RR).
(E Afrísio é um colecionador de obras de arte. Gostava de
vender seus quadros em pleno espaço da Câmara. Sua mulher trabalhou na primeira
secretaria com o deputado Heráclito Fortes, conhecido na Odebrecht como Boca
Mole.)
A geddelização da política brasileira não é fruto de um
"doente" temperamental e com covinhas. A geddelização é um movimento
racional. A geddelização instala-se. Um é deputado, o outro é um burocrata,
enquanto a matriz dá a cara para bater.
Sim, o poder dos Vieira Lima começa lá atrás. Com o primeiro
Afrísio, também deputado. O problema de tratar esse clã como expressão de uma
única pessoa é que a gente elimina a história. Geddel foi preso, Lúcio talvez o
seja. Afrísio continuará lá.
Ou, em outras palavras: o PMDB continuará lá, com vários pés
em várias canoas. É um polvo. Tem o braço Geddel, o braço Jucá, o braço
Padilha, o estômago Michel, a cabeça Sarney, o intestino Calheiros. Corta-se um
órgão, crescem os outros.
Comparsas são amigos de alguém?