domingo, 23 de novembro de 2014

Agricultura de SP pode ter maior prejuízo em 50 anos devido à seca.

22/11/2014 08h15 - Atualizado em 22/11/2014 09h47

Agricultura de SP pode ter maior prejuízo em 50 anos devido à seca

Culturas como a do café, cana, milho, feijão e frutas cítricas tiveram perdas.
Estiagem na agricultura foi a pior desde 1963, segundo órgão do governo.

Eduardo CarvalhoDo G1, em São Paulo
Estiagem foi o estopim da crise no setor sucroalcooleiro (Foto: Cláudio Nascimento/ TV TEM)Estiagem foi o estopim da crise no setor sucroalcooleiro (Foto: Cláudio Nascimento/ TV TEM)
A agricultura paulista pode registrar em 2014 o maior prejuízo em pouco mais de 50 anos devido a pior seca registrada em 80 anos, segundo o Instituto de Economia Agrícola, ligado ao governo do estado. Culturas como a do café, cana-de-açúcar, milho e feijão foram afetadas diretamente pelo calor excessivo e ausência de chuvas em grande parte de São Paulo, o que pode acarretar em perdas milionárias, ainda não calculadas por órgãos oficiais.

Celso Vegro, engenheiro agrônomo e coordenador de um estudo feito pelo instituto, afirma que é possível dizer que na atual geração de produtores agrícolas, nenhum evento climático foi tão severo ou teve um impacto tão generalizado quanto à seca de 2014. “Quem tem menos de 50 anos, nunca viu uma anomalia climática tão grave”, disse ele ao G1.
As perdas de colheitas são mais evidentes nas lavouras consideradas permanentes, como café, cana-de-açúcar e laranja, pois o plantio acontece uma vez ao ano. O período seco e quente ocasionou grande estresse para as fases vegetativas e reprodutivas dessas plantas.
De acordo com o IEA, o último período de estiagem grave sentido pela agricultura foi em 1963, mas, naquela época, a diversidade de cultivos era menor (o café predominava, além das pastagens).

Café
A estiagem sentida durante o verão impactou negativamente o tamanho dos frutos, que ficaram menores e “chochos” em decorrência da má formação das sementes. Nos principais cinturões cafeeiros de São Paulo, lavouras consideradas novas, plantadas entre 2012 e 2013, perderam quase todos os seus frutos pelo estresse das plantas. “É possível que venhamos a colher a safra do grão arábica abaixo das 28 milhões de sacas, quando o esperado seria acima de 32 milhões de sacas”, explica Vegro.
Cana
Principal commodity paulista, foi a que mais sentiu a seca. Usinas espalhadas pelo estado pararam de trabalhar um mês antes do esperado e o segmento, segundo a Secretaria de Agricultura do estado, deve puxar para baixo o valor da produção agrícola paulista, cujo cálculo definitivo será realizado em fevereiro do próximo ano.
Segundo a última previsão do IEA, a colheita deverá alcançar 402,6 milhões de toneladas no estado na safra 2014/15, 9,4% a menos que em 2013/14. De acordo com relatório da União da Indústria da Cana-de-Açúcar, a Unica, há expectativa de quebra da safra 2015 de até 11,7% em relação à safra passada.
Produtores do Noroeste do estado já contabilizam prejuízos. “Esse ano foi muito complicado. A gente espera que a chuva volte e nos ajude para esta safra [2015], pelo menos para conseguirmos pagar o prejuízo que tivemos até agora”, explica Juliano Maset, que tem uma propriedade em Monte Aprazível, a 484 km de São Paulo.

Feijão, milho e soja
Luís Carlos e o pecuarista Paulo Andrade acompanham a produção (Foto: Ana Carolina Levorato/G1)Produtores de milho já contabilizam prejuízo na região de Promissão, a 450 km de São Paulo (Foto: Ana Carolina Levorato/G1)
De acordo com IEA, a produção paulista de feijão, safra 2013/2014 , equivalente a 210 mil toneladas é 9,5% menor em comparação com o total obtido na safra anterior e 17,6% menor se comparada à produção média dos últimos cinco anos.
O cultivo do milho no estado teve retração 25,8% devido à anomalia climática. Em algumas regiões do estado, como no município de Promissão, 450 km distante da capital, as altas temperaturas prejudicaram mais de 70% da produção na cidade, com perdas estimadas em R$ 16 milhões para mais de mil agricultores, de acordo com a Secretaria de Agricultura local.

“Você consegue imaginar ficar praticamente um ano sem ver a água cair com força do céu? Eu vi isso”, afirma Luís Carlos Yogui, produtor de milho há mais de 30 anos e que vai tentar apagar 2014 da memória como um dos anos mais difíceis para se trabalhar.

A colheita paulista de soja entre 2013/2014 teve queda de 17%. Mas a disponibilidade do produto não deverá ser afetada, já que outros estados conseguirão suprir as perdas.

Na atual safra de citros, categoria que inclui a laranja, o limão e a tangerina, a maioria das frutas se apresentou "murcha", perdendo valor de mercado.

Nova realidade?
Mapa do estado de São Paulo em tons rosados, indicando baixos níveis de chuvas ao longo do mês de outubro (Foto: Reprodução/Agritempo/Cepagri)Mapa do estado de São Paulo em tons rosados, indicando baixos níveis de chuvas ao longo do mês de outubro (Foto: Reprodução/Agritempo/Cepagri)
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, apontaram que o Sudeste apresentou os menores índices de chuva do país e, em alguns pontos, a precipitação foi 80% menor do que a média histórica. Segundo a meteorologia, a estiagem se explica pela predominância de uma massa de ar seco sobre a região, impedindo a chegada de frentes frias que vêm do Sul - principais responsáveis pelas chuvas na região.
Hilton Silveira, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura, o Cepagri, afirma que o mês de outubro deste ano foi o segundo mais seco desde 1989, perdendo apenas para 2002. Na região de CampinasJundiaíPiracicabaLimeiraMogi das Cruzes eRibeirão Preto, choveu aproximadamente 26 milímetros em 31 dias. Em um mês considerado normal, a média é de 120 milímetros.
De acordo com Eduardo Assad, pesquisador da área de mudanças climáticas na agricultura da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, o que aconteceu em 2014 deve se agravar nos próximos anos devido à elevação da temperatura global. “É preciso trabalhar para que sistemas de manejo e plantio tolerem mais os eventos extremos”, explica.
Relatório divulgado em 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), que realizou previsões científicas sobre o impacto da mudança climática no país, prevê redução na produtividade de quase todas as culturas agrícolas existentes e perdas econômicas causadas por geadas e secas na agricultura em torno de R$ 7 bilhões anuais até 2020.
Além disso, se nada for feito para frear os efeitos das alterações do clima – como cortar as emissões de gases e reduzir o desmatamento nos principais biomas brasileiros, como a Amazônia – os cientistas estimam que até 2050 o clima influencie na perda de 10% de tudo o que for plantado no país.

Anúncio oficial da futura equipe econômica do governo é adiado.

21/11/2014 17h54 - Atualizado em 21/11/2014 22h47

Anúncio oficial da futura equipe econômica do governo é adiado

Expectativa do mercado era conhecer nesta sexta novo ministro da Fazenda.
Provável ministro é Joaquim Levy, com Nelson Barbosa no Planejamento.

Do G1, em Brasília
A presidente Dilma Rousseff decidiu não mais anunciar nesta sexta-feira (21) os nomes dos ministros que integrarão a futura equipe econômica do governo. Segundo informou o Blog de Cristiana Lôbo, não foram explicadas as razões do adiamento.
O mercado tinha expectativa de que fossem anunciados os postos que deverão ocupar Joaquim Levy, Alexandre Tombini e Nelson Barbosa.
Ex-secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy se tornou a principal opção para o Ministério da Fazenda depois que Luiz Carlos Trabuco, diretor-presidente do Bradesco, declinou do convite para assumir a pasta.
Prováveis ministros do segundo mandato de Dilma (Foto: Editoria de Arte / G1)
Caso isso se confirme, Nelson Barbosa deve assumir o Planejamento e Alexandre Tombinipermanecerá onde está – na presidência do Banco Central.
Todos os três chegaram a ser cogitados para ocupar a Fazenda. Nesta quinta, depois do velório do advogado e ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, Dilma conversou longamente com Nelson Barbosa, informou Cristiana Lôbo. Levy também chegou a ser opção para o Banco Central, numa hipótese em que a Fazenda seria ocupada por Tombini.
De acordo com o Blog, a nomeação de Levy para a Fazenda seria uma sinalização mais forte da presidente Dilma Rousseff de que pretende se descolar, na medida do possível, da imagem de "ministra da Fazenda". Durante todo o primeiro mandato, sempre se disse que Dilma foi, de fato, a "ministra" da Fazenda. Na campanha eleitoral, ela anunciou que Guido Mantega deixaria o posto no segundo mandato – de acordo com a presidente, por razões de ordem pessoal.
Para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a presidente convidou o senador do Armando Monteiro Neto (PTB-PE), candidato derrotado a governador de Pernambuco e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria. Segundo informou o Blog do Camarotti, ele aceitou.
Dilma também convidou a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), para ocupar o Ministério da Agricultura, de acordo com o Blog do Camarotti. A senadora sinalizou positivamente ao convite, informou o Blog, e passou a consultar lideranças do partido.

Ministro suspende autorização de Dirceu para viajar de Brasília a SP.

22/11/2014 11h36 - Atualizado em 22/11/2014 13h07

Ministro suspende autorização de Dirceu para viajar de Brasília a SP

Luís Roberto Barroso, do STF, revogou decisão de juiz do Distrito Federal.
Dirceu, condenado no mensalão, cumpre prisão no regime aberto.

Do G1, em Brasília
O ministro do Supremo Tribunal FederalLuís Roberto Barroso, revogou, em despacho deste sábado (22), decisão da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal que havia permitido o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a viajar de Brasília a São Paulo. A autorização havia sido concedida pela Vara de Execuções Penais do Distrito Federal. Dirceu, condenado no julgamento do mensalão, cumpre prisão em regime aberto na capital federal. Ele deve retornar a Brasília assim que for notificado do despacho.
Na decisão, Barroso, que é responsável pelo processo no STF, argumenta que não foi comunicado formalmente pela Vara sobre a autorização para a viagem. Ele ainda pede informações sobre o pedido de Dirceu e suspende a permissão até que possa fazer uma análise sobre a solicitação do ex-ministro.
"Solicitem-se ao Juízo da Vara de Execuções Penais e Medidas Alternativas do Distrito Federal (VEPEMA), com a máxima urgência, informações acerca do pedido, da manifestação do Ministério Público e dos fundamentos da decisão, que deverá ficar suspensa até ulterior deliberação deste relator ou do Supremo Tribunal Federal", escreve Barroso na decisão.
O ministro também cita, em seu texto, que a autorização foi concedida pela Vara apesar de parecer desfavorável do Ministério Público, que havia entendido que Dirceu não poderia fazer a viagem.
A decisão da Vara que autorizou a viagem foi assinada pelo juiz Nelson Ferreira Júnior. Ele argumenta, no texto, que a defesa de Dirceu solicitou a viagem para que o ex-ministro provasse que tem um trabalho e para cuidar de assuntos administrativos de sua empresa, que fica em São Paulo.
"Tenho como suficientemente motivado e justificado o pedido de viagem do Apenado, por ser de conhecimento público o seu desligamento do anterior emprego, mostrando-se necessária a sua ida a São Paulo para tratar de assuntos administrativos da empresa por ele constituída, ou seja, trata-se de viagem a trabalho", escreveu o juiz.
Dirceu também pediu à Vara para passar as festas de Fim de Ano na cidade mineira de Passa Quatro, onde moram sua mãe e familiares. O juiz, no entanto, ainda não emitiu decisão sobre esse pedido.
Regime aberto
Dirceu foi condenado no processo do mensalão a sete anos e 11 meses pelo crime de corrupçao ativa. Ele foi preso em 15 de novembro de 2013. em 4 de novembro de 2014 foi liberado para cumprir o regime aberto, em que deve passar a noite em casa. Nos meses anteriores, ele estava no semiaberto, em que trabalhava durante o dia fora da cadeia e dormia na prisão.

Juiz da Operação Lava Jato divide opiniões de colegas e advogados.

23/11/2014 07h55 - Atualizado em 23/11/2014 08h00

Juiz da Operação Lava Jato divide opiniões de colegas e advogados

Para juízes, Sergio Moro é preparado; defensores falam em viés 'justiceiro'.
Reservado, juiz é elogiado pelos dois lados por não atuar politicamente.

Renan RamalhoDo G1, em Brasília*
O juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal, é o responsável pela Operação Lava Jato (Foto: J.F. Diorio/Estadão Conteúd)O juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal, é o responsável pela Operação Lava Jato (Foto: J.F. Diorio/Estadão Conteúdo)
Se para uns, ele é um juiz reservado, para outros é frio e seco. Se para uns é técnico, para outros, é duro. Assim se dividem as opiniões de magistrados e advogados ouvidos pelo G1 acerca do juiz Sergio Fernando Moro, 42 anos, titular da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba/PR, atualmente à frente daquele que já é considerado um dos maiores casos de corrupção no país: a Operação Lava Jato, que apura suposto cartel entre empreiteiras para fraudar licitações e obter contratos na Petrobras, mediante pagamento de propina a agentes públicos.
Iniciada em 2013, a operação se concentrou inicialmente em movimentações suspeitas de Alberto Youssef, um doleiro que já havia enfrentado Sergio Moro em 2004, na Operação Farol da Colina, que desmontou uma rede composta por mais de 60 doleiros que, segundo a acusação, remetiam dinheiro sujo para os Estados Unidos. A investigação foi um desdobramento do caso Banestado, em que apurou-se a evasão de US$ 30 bilhões de políticos para o exterior entre 1996 e 2002.
Juízes, policiais e procuradores consideram que essa ação anterior foi a preparação de Moro para o atual caso da Petrobras. Se para colegas de profissão, significou uma experiência ousada e inédita no combate à corrupção pela grandeza do esquema – o juiz chegou a decretar a prisão de 123 pessoas de uma vez –  para defensores de acusados, revelou um "justiceiro", que prende suspeitos ainda não condenados atropelando regras processuais.
Os dois lados, porém, reconhecem hoje em Sergio Moro um juiz extremamente capacitado, que alia o conhecimento acadêmico profundo com habilidade técnica e estratégica para conduzir um processo judicial, tentando escapar de erros que podem derrubar uma investigação.
“É absolutamente técnico, com posicionamentos sempre ponderados”, descreve o desembargador federal Fausto De Sanctis, que figura ao lado de Moro como dois dos maiores especialistas no país no combate à lavagem de dinheiro. Ambos participaram ativamente da criação de varas especializadas na Justiça Federal contra crimes financeiros entre 2003 e 2004.
O colega acrescenta que é ele “estudioso e vive se atualizando”, inclusive com cooperação internacional na descoberta de crimes. “É também sério e trata os réus de forma equânime. Tenta materializar a lei, que é formal, dando efetividade à justiça. Tenta fazer o melhor, baseado na doutrina e na experiência”, completa De Sanctis.
Formado pela Universidade Estadual de Maringá em 1995, Moro fez concurso e tornou-se juiz federal um ano depois. Em 1998, cursou programa para instrução de advogados na escola de direito de Harvard, considerada a melhor do mundo.
Mestre e doutor pela Universidade Federal do Paraná – com tese de 2002 sobre o papel de tribunais constitucionais, como o Supremo Tribunal Federal, no regime democrático – foi convidado em 2007 pelo Departamento de Estado americano para visitar agências de combate à lavagem de dinheiro nos Estados Unidos. Hoje dá aulas de processo penal na UFPR.
As coisas são do jeito que ele quer, pega para si um processo, fixa a competência do processo - porque nada indica que a competência seja de Curitiba, mas ele faz assim porque quer o processo para si"
Alberto Toron, advogado
Apesar de considerar Moro “extremamente bem preparado”, o advogado Alberto Zacharias Toron, que defendeu acusados na Farol da Colina, também o vê como um “déspota esclarecido”.
“As coisas são do jeito que ele quer, pega para si um processo, fixa a competência do processo - porque nada indica que a competência seja de Curitiba, mas ele faz assim porque quer o processo para si”, critica Toron, um dos mais famosos criminalistas do país, em relação à atuação nacional do juiz, fora de sua jurisdição. “Decreta prisões a rodo, tratando as pessoas como se fossem presumivelmente culpadas” acrescenta o advogado.
Os meios usados por Moro para obter as provas são motivo de controvérsia no meio jurídico e alguns acabaram sendo derrubados por instâncias superiores. Toron relata que num caso que atuou, Moro mandou um suposto doleiro entregasse uma conta no exterior, sob pena de cometer crime de desobediência. Foi derrotado pelo princípio de que um acusado não pode ser levado a se autoincriminar.
Entre 2004, Moro determinou escutas telefônicas por mais de dois anos em investigação contra donos da fábrica de bicicletas Sundown, suspeitos de sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. A lei manda que o grampo seja por apenas 15 dias, renovável por mais 15. Ao analisar o caso, em 2008, o Superior Tribunal de Justiça derrubou as provas das interceptações e mudou seu entendimento – se antes permitia mais renovações sucessivas, passou a considerar que ela deve ser limitada para não invadir a privacidade dos suspeitos.
Outros exemplos de medidas anuladas foram intimações por telefone e ordens para empresas aéreas localizarem advogados. Amigo desde a juventude, ex-colega de faculdade e revisor dos trabalhos acadêmicos de Moro, o juiz federal Anderson Furlan entende que medidas como essas não são “erros”, mas interpretações diferentes sobre a lei permite ou proíbe que eventualmente prevalecem em tribunais superiores.
Furlan acredita que alguns desses percalços processuais tornaram Moro mais preparado para tocar o processo da Lava Jato sem riscos de anulação da investigação.
Ele está tendo esse cuidado, de instruir regularmente o feito, para evitar que possíveis detalhes anulem qualquer fase do processo"
Antônio César Bochenek, presidente da Ajufe
O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Antônio César Bochenek, concorda com Furlan, mas diz, por outro lado, que juízes federais criminais como Moro são habituados a questionamentos do processo e procuram se precaver no momento de conduzi-lo. “Em regra, os processos criminais são muito detalhados. Em muitas dessas grandes operações, um detalhe processual acaba prevalecendo em um tribunal superior, que acaba acolhendo algumas defesas processuais”.
Apesar de não conhecer o processo da Operação Lava Jato, Bochenek nota, no entanto, que até agora, apesar de vários questionamentos por parte dos advogados dos suspeitos, nenhum ministro do STF ou do STJ anulou qualquer procedimento de Sergio Moro. “Revela que ele está tendo esse cuidado, de instruir regularmente o feito, para evitar que possíveis detalhes anulem qualquer fase do processo”, afirma.
Delação
Na operação atual, ressurgiu no meio jurídico a polêmica sobre o uso da delação premiada, instrumento pelo qual um acusado se compromete a indicar onde e como obter provas contra outros envolvidos em troca da redução da pena. Até onde se sabe, ao menos 9 pessoas, entre doleiros, funcionários públicos e executivos, já aceitaram colaborar no caso da Petrobras.
Na decisão que levou à prisão de 25 executivos de empreiteiras no dia 14 de novembro, Moro rebateu alegações, nunca confirmadas, de que teria forçado depoimentos. “Nunca houve qualquer coação ilegal contra quem quer que seja da parte deste Juízo, do Ministério Público ou da Polícia Federal”, escreveu, acrescentando que as prisões foram realizadas com “boa prova dos crimes e principalmente riscos de reiteração delitiva”. “Jamais se prendeu qualquer pessoa buscando confissão e colaboração”, completou em seguida.
Advogado de investigados da operação, Alberto Toron não é contrário à delação premiada, mas critica a forma como tem sido autorizada na Lava Jato. "É possível sim utilizar-se da delação, mas com todos os cuidados. Muita gente foi presa e acabou sendo solta porque se verificou depois que não tinha nada a ver com o caso. O método que acho mais adequado é, primeiro, chamar, ouvir, e, se for o caso, prender. Aqui não, estão primeiro prendendo, para depois ouvir, o que agride a dignidade da pessoa”, criticou.
Ao justificar o uso da delação, Moro ponderou que os depoimentos devem ser vistos com precaução, por virem de criminosos. Mas ressaltou sua importância para investigar crimes complexos, como os de colarinho branco, desde que as provas confirmem os relatos. Ele diz que sem a colaboração de criminosos, “vários crimes complexos permaneceriam sem elucidação e prova possível”.
Em seguida, citou o juiz americano Stephen S. Trott, em que explica que a máfia e terroristas, por exemplo, usam subordinados para fazer o “trabalho sujo”.
“Para pegar os chefes e arruinar suas organizações, é necessário fazer com que os subordinados virem-se contra os do topo. Sem isso, o grande peixe permanece livre e só o que você consegue são bagrinhos. Há bagrinhos criminosos com certeza, mas uma de suas funções é assistir os grandes tubarões para evitar processos”, diz um trecho do artigo “O uso de um criminoso como testemunha: um problema especial”, usado por Moro na decisão.
Em depoimentos não sigilosos de uma ação penal já em curso no Paraná, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disseram que contratos da Petrobras eram superfaturados para abastecer partidos e “agentes políticos” – autoridades com o chamado foro privilegiado, como deputados, senadores e ministros, que só poderão ser julgados no Supremo Tribunal Federal, fora da alçada de Sergio Moro.
Reservado
Além do cuidado na condução do processo, colegas próximos de Moro afirmam que o jeito reservado, discreto e avesso à fama do juiz colaboram para o sucesso das investigações.
“É uma característica positiva considerando ser juiz federal criminal, que atua em casos de grande repercussão, que exigem que o juiz se concentre no processo, atuando com base nos fatos, nas provas, e de não sair falando, opinando, falando sobre o caso concreto, fazendo ‘publicização’ da decisão para um lado ou outro”, afirma o presidente da Ajufe, Antônio César Bochenek.
Embora seja sério e competente, se sente meio justiceiro. Talvez um juiz apaixonado pelo que faz, e isso não é necessariamente coisa positiva"
Antônio Carlos de Almeida Castro, advogado
Ex-defensor de Alberto Youssef, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, também reconhece em Moro a qualidade de não agir com interesse político ou partidário. Mas, assim como Toron, critica a pretensão do juiz de atuar em todo o país, fora de sua competência, na primeira instância do Paraná.
“Embora seja sério e competente, se sente meio justiceiro. Talvez um juiz apaixonado pelo que faz, e isso não é necessariamente coisa positiva. […] Se apega aos processos, tem certa paixão. E o fato de que é extremamente duro, dá a impressão que acha que através da pena vai mudar o Brasil, isso não é bom”, diz Kakay.
Amigo e colega no Paraná, o juiz Anderson Furlan, rejeita a ideia de um juiz “obstinado”. “Simplesmente faz seu trabalho. Se fosse outro trabalho, faria bem da mesma forma […] É um cara que nunca comprou um CD pirata, e nunca vai comprar. Nunca vai pegar um jornal da caixa postal que não é dele”, afirma.
Juiz e professor
Sergio Moro tornou-se em 2007 professor adjunto da UFPR, com uma carga horária de 20 horas semanais.
A dedicação às aulas chegou a lhe render problemas com a Faculdade de Direito. Em 2012, quando foi chamado pela ministra Rosa Weber para auxiliá-la no processo do mensalão, no STF, o juiz não quis abrir mão de dar aulas para seus alunos de processo penal. Como passava toda a semana em Brasília, ele propôs dar três aulas seguidas nas sextas-feiras, dia livre no STF, e uma quarta aula a combinar com os alunos, aos sábados, por exemplo.
A direção vetou por “motivos pedagógicos”, por causa do tempo excessivo de lições no mesmo dia, sugerindo que Moro se licenciasse, sem receber salários. Com apoio de 50 dos 53 alunos da classe, ele levou o caso à Justiça para poder flexibilizar o horário das aulas, mas teve o pedido negado e acabou afastado da universidade durante o segundo semestre.
No processo, ele protestou, dizendo que sua experiência no STF teria relevância para a faculdade e que dispensa era uma “ofensa ao interesse público do ensino”. Sobre a suspensão dos salários, disse “poder passar muito bem sem a reduzida remuneração” de professor e que dava aulas “por amor à função”.
*Colaborou o G1 PR
VALE ESTE - Arte Lava Jato 7ª fase (Foto: Infográfico elaborado em 15 de novembro de 2014)

Lava Jato presos e soltos 21.11 (Foto: Editoria de Arte/G1)